JORNAL A TARDE SÁBADO, 15 DE
JANEIRO DE 1977
MÁRIO CRAVO JUNIOR
Mário Cravo Junior com uma de suas últimas esculturas |
Sua
crítica é voltada também para as manifestações artísticas populares e cita o
caso do berimbau. Sua função foi desvirtuada passando a um simples objeto de
decoração exibido nas mãos de turistas que aqui aportam.
Dele
só ficou o aspecto de objeto e não o som, que o capoeirista curtia para
produzir o seu ritmo. Até a própria confecção deste instrumento foi
desvirtuada, sendo confeccionado com qualquer madeira. E adianta á medida que
os brasileiros vão ficando mais baianos, os baianos vão ficando menos
brasileiros.
INVASÃO
A
invasão que estamos assistindo da Bahia por milhares de turistas vem criando um
mercado sem qualidade de obras de arte.Existe
uma organizada indústria de casarios e marinhas. A qualidade dessas telas são
duvidosas, ou quase inexiste. Mas, acontece que o turista quer levar um
pedacinho da Bahia, e assim muitos inescrupulosos vão produzindo em série sem a
preocupação em pintara mesma casa de ângulo diferente. Além do problema da
qualidade existe uma repetição e uma falta de criação total. Portanto esta arte
é muito vulnerável sob o ponto de vista crítico e a única vantagem é atender as
pessoas que não tem maiores exigências ou conhecimentos artísticos.
O
escultor Mário Cravo aborda o problema sem o saudosismo tão natural daqueles
que atravessam os 40 anos de idade. Esta industrialização provocada pela
avalanche de turistas que procuram a Bahia vem prejudicando muitos artistas,
que em busca de dinheiro fácil esperdiçam os seus talentos na confecção de uma
arte empobrecida. Ele mesmo diz que muitas vezes as pessoas acham que sou
agressivo ou intolerante. Isto porque firo com meus conceitos essa mística
baiana tão propalada. Existem cidades com muita herança cultural muito mais
rica que Salvador, mas lá eles sabem preservar. Tem cidades que permanecem
quase intactas, mas isto é romantismo, embora tenha seu lado positivo. Outros
acham que nossa cidade tem de passar por essa metamorfose que assistimos ou
seja a sua transformação numa metrópole, levando tudo de roldão. Eu estou do lado
daqueles que acham que Salvador deve mudar, tentando renovar suas reservas, e
heranças na área cultural e sensorial, porque nisto reside a vitalidade de
nossa cultura se bem que o impasse não é um problema exclusivamente baiano, ele
existe universalmente..
Como
todas as pessoas sensatas, Mário Cravo Júnior esclarece que está acima dos
deslumbramentos e ufanismos tão prejudiciais para entendimento de uma cultura,.
E conclui dizendo que o artista tem o que ver é consigo mesmo. O resultado de
sua criação é uma coisa pública posterior, é parte da própria dinâmica da
comunicação.
Estas
observações feitas por Mário Cravo são suficientes para que nós baianos
tenhamos sempre em mente que a invasão é inevitável, mas que devemos tomar
algumas medidas para que não provoque o empobrecimento da arte ou outras
manifestações culturais.
A
MONOTIPIA NA OBRA DE BURCHARD
O Macaco de Saul Steinberg, monotopia de Burchard |
Burchard
nasceu em Berlin em 1920 e seu interesse pela arte remonta a sua juventude.
Formado em Economia pela Universidade de Hamburgo andou por vários países
realizando trabalhos para um grupo industrial de seu país de origem. Em 1952
conhece o Brasil, aqui radicou-se é hoje é naturalizado brasileiro. Desligou-se
das atividades industriais em 1973 para dedicar-se exclusivamente á sua arte.
Possui obras em vários museus de renome internacional.
Quanto
á sua monotipia nasceu essencialmente da gravura, depois da utilização de
várias técnicas. Portanto, num processo inverso que veio ao acaso e não uma
busca da monotipia, como acontece com a maioria dos artistas. Ele é um inquieto
por natureza e contrária o significado rígido de palavra monotipia quando anula
esta limitação aproveitando depois da primeira impressão das cores que ficam
impregnadas nas matrizes. Os recursos por ele utilizados permitem a modificação
de elementos antes concebidos, acrescentando novos, criando dessa forma uma
composição distinta.
Todo
o processamento da monotipia de Burchard é realizado por ele, seja na prensa de
metal ou na de litografia, em seu atelier em Parati no Estado do Rio de
Janeiro. A partir de pigmentos puros, o artista prepara suas próprias tintas.
Em constante pesquisa, Burchard esteve no Pratt Graphic Center e em outras
oficinas gráficas de Nova Iorque e Paris, onde encontrou respostas para muitos
problemas técnicos.
O
artista sempre busca novos caminhos, servindo-se da arte e nela se expressando.Vive
desenhando, e com traços focaliza instantes que interpreta. Podemos dizer que
cadernos são feitos de anotações, em grafismo. Assim consegue manter curiosos
intercâmbios com eventuais modelos surpreendidos ora em aeroportos, ora em um
parque, ou num ônibus.
As
flores, o mar e o céu são significativos na obra de Burchard. Foi um velejador
ativo e o contato com os elemento desafiantes da natureza retirou sua
interpretação de barcos, velas e sintetizou o lirismo do vôo. Servindo-se dos
recursos que a monotipia oferece, a interpretação dos personagens tornou-se uma
constante em seu trabalho, como nas séries Soul, Jimy Hendrix, Lola, a mulher
e Josephine Backer ou a volúpia de ser.
Em
alguns momentos podemos entender a sua arte como cartoon, história em
quadrinhos, não somente pelo sentido de humor e ironia que o artista imprime no
desenho, mas também pela manifestação das experiências vividas; como é o caso
de Ícaro, quando tendo por, inspiração o personagem mitológico cria uma ideia
de vôos bem sucedidos ou não a que cada homem se propõe.
Finalmente
outra característica de Burchard é a metamorfose, cujo desdobramento de uma
ideia e do desenho atinge a uma completa transformação da figura, achando-se
bem evidenciada nas sequências da série Bispos Cusquenhos, ou na experiência
que vem desenvolvendo com retratos não convencionais, quando capta a retratada
e transforma em seu próprio sonho ou no sonho de personagem. Assim é a obra de
Burchard é o homem é a figura central de suas cogitações. Uma arte reflexiva de
uma experiência consciente e crítica, espelho de uma realidade que sendo
conhecida, deve ser discutida.
PAINEL
A ARTE POP - de Simon Wilson e O Cubismo, o Euturismo e o Construtivismo, de J.M.
Nash, da Editorial Labor do Brasil S.A. são dois livros que na devem faltar na
estante daqueles que estudam ou fazem arte.
Além
de um texto informativo e critico trazem reproduções da mais alta qualidade,
inclusive mostrando a importância das telas, esculturas e outros trabalhos ali
incluídos.
Dando
sua definição do que é arte pop diz Simon Wilson logo no início de seu livro: a
expressão Pop Art se refere a um movimento estilístico na arte ocidental que
ocorreu aproximadamente entre 1956 e 1966, na Inglaterra e nos Estados Unidos.
A Pop Art tem três características distintas. Em primeiro lugar é a figurativa
e realista, coisa que nenhuma arte de vanguarda tinha sido desde seus inícios
com o realismo de Courbet
Em
segundo lugar, o ponto de origem da arte Pop foi Nova Iorque e Londres,
portanto, o mundo que ela encara é um mundo muito especial das grandes
metrópoles de meados do século XX. Finalmente, Simon fala da terceira e última
característica que o artista Pop trata esses materiais de modo muito especial.
Por
uma lado insiste em que a história em quadrinhos ou a lata de sopa ou o que
quer que seja é simplesmente um motivo, um pretexto para um quadro, como para
Cézanne uma maçã é uma natureza morta.
Já
Nash fala do Cubismo, Futurismo e o Construtivismo num manifesto publicado em
Milão a 20 de fevereiro de 1909, e o Construtivismo surgiu em Moscou após a
Revolução de 1917. Salienta a inda a existência de muita relação entre eles.
POLÍCIA DA CEIA -Quando a polícia carioca resolveu retirar a fotografia A Penúltima Ceia, do artista Sebastião Barbosa, no princípio desta semana da parede da Galeria Grafitti, em Ipanema todos ficamos perplexos. A subjetividade de uma obra de arte é uma coisa que muita gente não entende...
POLÍCIA DA CEIA -Quando a polícia carioca resolveu retirar a fotografia A Penúltima Ceia, do artista Sebastião Barbosa, no princípio desta semana da parede da Galeria Grafitti, em Ipanema todos ficamos perplexos. A subjetividade de uma obra de arte é uma coisa que muita gente não entende...
PRIMEIRA -
O artista Edson Cezário está expondo pela primeira vez individualmente. A
exposição está montada no Praiamar Hotel.
SOLEDAD -
O pintor Luis Soledad Otero está expondo na Galeria O Cavalete abrindo a
programação de 1977 da referida galeria de arte. Já participou de várias
exposições individuais em galerias estrangeiras e segundo ele minha inspiração
é nutrida pela profunda simplicidade das pequenas pinturas Zen, que exibem o
valor do silêncio nas suas maravilhosas e eloquentes utilizações dos espaços
brancos, onde a linha e a forma exprimem essência pela economia absoluta de
seus elementos.
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