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domingo, 24 de fevereiro de 2013

QUARENTA E DOIS ANOS DEPOIS - 14 DE SETEMBRO DE 1981.

JORNAL A TARDE, SALVADOR, 14 DE SETEMBRO DE 1981.

      QUARENTA E DOIS ANOS DEPOIS

Quarenta e dois anos depois chega a Espanha Guernica , o mais importante quadro pintado por Picasso e talvez a obra de mais significação deste século. O quadro foi pintado em 1937, portanto, um ano depois de iniciada a Guerra Civil da Espanha e representa a indignação do artista contra a violência das tropas alemãs que apoiaram o governo Franco e arrasaram a localidade de Guernica. Uma violência que, passados estes 42 anos , podemos ver com os olhos no horizonte do mundo a destruição de vilas em Angola, no Oriente Médio ou em muitos outros locais.
Não estou aqui falando da coloração das lutas em prol de independência de países ou nações, mas simplesmente da violência que mutila e mata. Guernica, com suas cores branca e cinza estampadas nos seus 7,50 x 3,30 m é o símbolo da sensatez contra a agressão aos povos indefesos sob qualquer pretexto. Da indignação de Picasso muitos pacifistas fazem  sua bandeira, e o que podemos fazer é denunciar as injustiças, a violência e toda força que venha impedir a livre manifestação e a sobrevivência  digna. Picasso enquanto viveu não permitiu que a obra fosse transferida para a Espanha. |Sua condição era que a mesma só voltaria com seu País livre da ditadura de Franco. Seu desejo foi agora atendido e depois de marchas e contra marchas o símbolo da resistência contra a violência chega e é recebido por um forte esquema de segurança com utilização de cachorros policiais e até helicóptero. Avaliada em cerca de 40 milhões de dólares, na realidade esta obra não tem preço, e não pertence somente a Espanha porque é um patrimônio universal, pelo que representa para todos nós.
Vemos ainda outro aspecto interessante: é que Guernica é, acima de tudo, uma obra política. E, isto me vem a mente as discussões em torno da arte engajada com a realidade. Muitos acham que o artista deve se despojar de ideologias e outros defendem o engajamento. Guernica sempre foi e sempre será uma obra política e talvez por esta razão tenha assumido no panorama das artes a importância e o prestígio que desfruta.
Agora o imponente Museu do Prado vai mostrar ao seu imenso público da Guernica vitoriosa e guardada por um imenso vidro a prova de bala e um perfeito sistema interno de televisão . É preciso muito cuidado com Guernica, pelo que a mesma representa poderá sofrer atentados quer de direita quer de esquerda. Guernica embora seja o símbolo da violência , não está imune a insensatez.

   DEZ GRAVADORES VIRÃO A SALVADOR EM DEZEMBRO

Água-forte, água-tinta e ponta seca utilizados
 nesta gravura de Evandro Jardim
Dez dos maiores gravadores contemporâneos  estarão na exposição Destaques Hilton de Gravura, que , a partir de do dia 21 de setembro,começando em São Paulo, no Museu de Arte Moderna , se estendendo até março de 1982, percorrerá várias capitais do país. A exposição terá trabalhos de Arthur Piza, de São Paulo;Ana Letycia , do Rio de Janeiro; Evandro Jardim, de São Paulo; Fayga Ostrower, Rio de Janeiro;Franz Krajberg, do Rio de Janeiro; Gilvan Samico, de Pernambuco;Lívio Abramo,de São Paulo;Lótus Lobo, de Minas Gerais, e Marcello Grassmann, de São Paulo.
Indicados por uma Comissão Especial de críticos e historiadores de arte estes artistas foram considerados os gravadores que mais contribuíram e se destacaram na Gravura Brasileira Contemporânea .

DESTAQUES HILTON
Gravura em metal de Anna Letycia,
numa tiragem apenas de dez cópias.
Destaques Hilton de Gravura é um projeto cultural patrocinado pela Companhia Souza Cruz, com apoio da Funarte que foi criado com o objetivo de difundir as artes plásticas brasileiras, estimular os artistas e enriquecer o acervo de nossos museus.
 A empresa fará a doação de uma tiragem especial de gravuras dos artistas indicados a vários museus e entidades culturais. Começando em 1980, quando foram laureados dez grandes pintores brasileiros, o Projeto Destaques Hilton de Gravura vem procurando desenvolver uma política de estímulo às artes plásticas através de patrocínio da empresa privada.
A Comissão Especial de Críticos e Historiadores que indicou os dez grandes gravadores contemporâneos foi composta dos seguintes nomes: Marck Berkowit, do Rio de Janeiro; Casemiro Xavier de Mendonça, de São Paulo; Carmem Portinho, do Rio de Janeiro; Márcio Sampaio, de Minas Gerais; João Câmara, de Pernambuco, Frederico Morais, do Rio de Janeiro; Olívio Tavares, de São Paulo; Wilson Coutinho, do Rio de Janeiro; Ennio Marques Ferreira, do Paraná e Antonio Bento, do Rio de Janeiro.
A exposição  Destaques Hilton de Gravura tem o seguinte calendário: São Paulo, de 21 a 30 de setembro, no Museu de Arte Moderna; Curitiba, de 6 a 15 de outubro, na Casa da Gravura; Brasília, de 26 de outubro a 4 de novembro, na ECT Galeria de Arte; Belo Horizonte, de 12 a 21 de novembro, no Palácio das Artes; Recife, de 30 de novembro a 5 de dezembro, no Museu de Arte Contemporânea; Salvador, de 9 a 14 de dezembro, no Teatro Castro Alves; Rio de Janeiro, de 21 a 31 de dezembro, no Museu de Arte Moderna; Florianópolis, de 12 a 26 de janeiro de 1982, no Museu de Arte de Santa Catarina; Porto Alegre, de de 8 a 17 de março de 1982, no Museu de Arte do Rio Grande do sul.

RUBEM VALENTIM CONFIANTE NO RESULTADO 
DO ENCONTRO
Rubem Valentim e suas raízes

Depois de tomar parte no 1º Encontro de Artistas Plásticos do Nordeste realizado recentemente em Salvador, o escultor baiano Rubem Valentim ,atualmente radicado em Brasília, garantiu estar muito empenhado na divulgação da arte produzida nesta região. Para ele, o eixo Rio/São Paulo vem mantendo um monopólio informativo no setor das artes plásticas, e torna-se necessário a estruturação dos artistas nordestinos para lutar por uma valorização de seus trabalhos.
Considerado pelos críticos um dos mais importantes artistas do Brasil, Valentim está em Brasília já 14 anos, depois de morar algum tempo no Rio de Janeiro, São Paulo e algumas capitais européias. Sua arte está profundamente relacionada aos valores da cultura afro-brasileira, onde a religiosidade é uma constante.

MANIFESTO
Ao falar  sobre o 1º Encontro de Artistas Plásticos do Nordeste, no qual teve uma participação bastante ativa, Valentim revelou que representantes de todo o Nordeste brasileiro estiveram reunidos, chegando à conclusão que “ devemos trabalhar para valorizar a arte produzida na região, divulgando-a para o resto do País, inclusive o eixo Rio/São Paulo, atualmente detentor de uma hegemonia informativa”.
Para isto ele afirma que é necessário a estruturação dos artistas, em torno do que seria uma arte, um produto autêntico do Nordeste. Além disto, ele crê serem necessários encontros mais freqüentes entre os artistas, para um maior intercâmbio cultural , inclusive com representantes de cidade do interior.
Valentim é autor de um manifesto, que ele considera definir muito bem esta luta pela valorização e divulgação da arte nordestina. Diz ele: Minha linguagem plástico-visual está ligada aos valores míticos de uma cultura afro-brasileira. Com o peso da Bahia sobre mim, busco uma linguagem plástica poética, contemporânea e universal. Um caminho voltado  para a realidade cultural do Brasil – para as suas raízes – mas sem desconhecer tudo o que se faz no mundo, sendo isso por certo impossível com os meios de comunicação de que já dispomos. É o caminho para a criação de uma autêntica linguagem brasileira de arte. O sentir brasileiro. Uma linguagem universal, mas de caráter brasileiro, com elementos signicos”.


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