JORNAL A TARDE, SALVADOR, 28 DE SETEMBRO DE 1981
O REALCE DA IGNORÂNCIA
Washington , vítima da ignorância alheia |
Somado
a arbitrariedade o Sr. Tiago ainda declarou a um jornal local que em lugar de
nos procurar para explicações, Washington preferiu falar a imprensa e tentar
escandalizar o fato. Ora, Sr. Tiago, tenha paciência, suas afirmações são
piores que a atitude. Não existe justificativa para tal arbitrariedade, que
certamente foi tomada de comum acordo com seus superiores e subordinados. O que
demonstrou foi insensatez, ignorância e falta de respeito para com o artista.
Posso
dizer ainda que suas preferências estéticas são duvidosas e não representam as
preferências dos membros de nossa comunidade. O realce que você buscou não
poderia encontrar porque não conhece e não tem sensibilidade para julgar ou
entender uma obra de arte. Tratou uma escultura como quem pega uma mala e
retira de um lugar para outro sem ao menos ter o cuidado de não danificar.
Mas,
infelizmente estas atitudes a gente encontra, até ás vezes, dentro de museus.
Lembro agora que uma escultura de Mário Cravo estava apodrecendo no Museu de
Arte Moderna e precisou que Jorge Amado escrevesse uma carta para que a peça
fosse colocada num lugar apropriado. Não sei no entanto, se já recuperaram a
escultura como prometeram na ocasião. Porém, este é mais um exemplo. E,
aconselho ao Sr. Tiago que antes de procurar o realce leia sobre estética e
aprenda a respeitar uma artista e sua obra de arte.
O
que não realça é que pessoas desinformadas sejam escolhidas para lidar com
artistas sensíveis e criativos.Espero
que Washington não esmoreça com este tipo de atitude, que ainda existem em
muitos setores de nossa administração. Se duvidar dê uma olhada no Parque
Metropolitano de Pituaçu, que você encontra uma escultura de Juarez Paraíso
abandonada, suja e rodeada de materiais imprestáveis. A escultura custou caro
ao estado e foi adquirida com dinheiro do povo e lá está á espera que acabem as
divergências entre administradores e que deem continuidade a instalação dos
equipamentos que ainda faltam do
referido parque.
21
BAIANOS PARTICIPAM DO IV SALÃO NACIONAL
Num
clima de expectativa, foi divulgada a relação com os nomes dos 28 artistas
nordestinos (21 baianos), cujos trabalhos foram classificados para o IV Salão
Nacional de Artes Plásticas, a ser realizado em novembro, no Rio de Janeiro. A
recomendação do júri que preferiu que o resultado fosse dado através da
Secretaria do Museu de Arte Moderna da Bahia, foi no sentido de que os artistas
plásticos só tivessem acesso ás informações, após a publicação pela imprensa.
O
júri nacional que havia convocado entrevista coletiva com a imprensa no mesmo
momento em que debateria com os artistas plásticos ou critérios do julgamento e
a necessidade de reformulação do salão, ao que parece, temeu dar o resultado
para, assim, evitar que os ânimos se acirrassem. Antes, porém, todos os
integrantes do júri confessaram que não podemos eliminar os critérios
subjetivos do julgamento, revelando ainda que já discutimos bastante e até
tomamos tranquilizantes.
Do
Nordeste inscreveram-se 104 artistas, representando os estados do Rio Grande do
Norte, Paraíba, Alagoas, Pernambuco e Bahia, cada um com três trabalhos. O
percentual da seleção foi de 25 por cento, índice bastante superior ao do Rio
de Janeiro e São Paulo, segundo Aracy Amaral, integrante do júri.
A
Bahia, dos estados do Nordeste que se inscreveram, foi o que apresentou maior
número de vencedores: Juarez Paraíso (escultura); Pedro Amado de Souza
(pintura); Gustavo Ubeda (pintura), Sante Scaldaferri (pintura), Eudes Mota
(pintura); Juracy Dórea (pintura), Francisco Liberato (pintura); Emma Valle
(pintura); Murilo (pintura); Araripe (proposta); Grupo Posição (proposta)
Florival Oliveira (gravura); Bel Borba (desenho); Márcia Magno (gravura); Paulo
Serra (desenho); Bartira Silva ( Desenho);Sérgio Rabinovitz (gravura); Vaulúzio Bezerra (pintura); Rino
Marconi ( fotografia); Juarez Paraíso(fotografia) e Antônio Luiz Morais de
Andrade (proposta).
De
Pernambuco foram classificados Francisca Silva (escultura); José Barbosa
(desenho); Justino Marinho (desenho); Ricardo Aprígio (pintura); da Paraíba,
Frederico Svendensen (pintura) e José Crisólogo da Costa (PB) e de Alagoas,
Sílvio Márcio Paiva (pintura).
CONSCIÊNCIA
DO IMPASSE
Frederico
Morais, um dos integrantes do júri disse que temos absoluta consciência do
impasse do Salão Nacional de Artes Plásticas, explicando que os custos são
muito altos para a rentabilidade cultura que se consegue. Justificou ainda que
parcela muito poderosa da arte brasileira não está presente no salão, que, por
conseguinte, não representa a arte brasileira. E um dos motivos que ele cita
para que nomes expressivos não estejam representados, é o valor do prêmio que
vem caindo significativamente.
Outro
membro do júri nacional que abordou a questão foi Aracy Amaral que definiu o
trabalho como muito difícil e muito duro, acrescentando que os critérios de
julgamento são subjetivos, o que torna difícil a aproximação da nossa visão de
mundo, da nossa realidade com a do artista.
O
ideal, defendeu Amílcar de Castro, seria um salão aberto onde a arte e o
artesanato estivessem presente. Mas como não há aparelhos científicos para
julgar as obras de arte, o júri ainda é a melhor forma (Ana Maria).
SEIS
ARTISTAS EXPONDO NA GALERIA LA
MAISON
FRANÇAISE
Avelar
Rodrigues, Eduardo, Eduardo Gomes, Iraquitam, Isaías, José Raimundo, Ubiraci e Tia Dadi. Um sergipano, um maranhense e cinco baianos dão início, hoje, ás 21
horas, na La Maison Française ,
a uma mostra coletiva que ficará aberta até o dia 6 de outubro. Com essa mostra
de pintura, La Maison Française ,
segundo uma das suas diretoras, Diomida Rossi Jesuíno, dá o primeiro passo para
se transformar num centro cultural voltado para a comunidade da Pituba, onde
está localizada na Rua Sergipe, número 4.
Dos
pintores, dois estarão estreando nessa coletiva, Eduardo e Ubiraci, ambos
baianos, sendo que dos demais, o maranhense Isaías, mestiço da tribo Timbira é
o que traz uma maior bagagem artística, já tendo participado de várias
exposições coletivas em seu estado, em São Paulo , Rio de Janeiro, Brasília e Fortaleza,
além de algumas individuais, possuindo, ainda, quadros em acervos particulares
europeus. Eduardo Gomes é baiano e foi um dos componentes da equipe de Juarez
Paraíso, responsável pela decoração da cidade em 1978; Iraquitam, também
baiano, trabalha com vários materiais; José Raimundo, de Santo Amaro, já
participou de outras coletivas, o mesmo acontecendo com Tia Dadi, que é baiana
e Avelar Rodrigues, sergipano que se dedica também ao teatro e outras
manifestações culturais.
O
QUE É LA MAISON
Atualmente,
além do curso de Francês, La
Maison já oferece um curso de Literatura Brasileira e
proximamente deverá ser iniciado um curso de artesanato com a utilização de
vários materiais. O objetivo, segundo Diomida, é transformar o local no centro
cultural dirigido à comunidade da Pituba. As atividades foram iniciadas em
março e o balanço só poderá ser feito após o encerramento do curso mas, segundo
ela, a priori, a receptividade está sendo boa contando a escola com 16 turmas
de francês. As aulas são dadas duas vezes por semana durante uma hora e meia,
pela manhã, à tarde e à noite, sendo que para as pessoas que não podem assistir
aulas em nenhum horário foi criado um grupo especial aos sábados pela manhã.
A
Maison conta com cinco professores, sendo três deles franceses. Os cursos estão
divididos em iniciante, básico e conversação e na aplicação das aulas são
utilizados instrumentos de audiovisual, revistas e livros didáticos trazidos da
França. A intenção maior da escola, segundo Diomida, é crescer em qualidade.
A
força interior de Francisco Santos é notável e ganha relevo a cada investida
sua no meio artístico. Seu nome não é estranho a muitos e não poucos admiram o
traço e a cor com que revela o movimento da dança e a beleza das vestes do
candomblé. Seu trabalho figurativo é bonito e é documental e o seu propósito de
agora é mostrar as coisas que ainda estão cobertas no candomblé. O Instituto do
Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia organizou a exposição de Francisco
Santos porque reconhece o seu talento e porque o artista é ex-aluno do seu
programa educacional. Foi no Setor de Treinamento e Produção Artesanal -Serpa,
órgão do IPAC, onde Francisco aprendeu desenho e pintura. Seu Valor foi logo
notado e em pouco tempo ele se tornava monitor da turma, recebia bolsa de
estudo para o curso de xilogravura da Escola de Belas Artes, oferecida pelo
IPAC, cuja confiança no artista fez com que o incluísse na equipe que restaurou
a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.
Francisco
nasceu na zona rural do município de Amélia Rodrigues, em 10 de outubro de 1955
e viveu na roça do pai até completar 10 anos. Filho do carpinteiro e lavrador
José Bispo dos Santos e da bordadeira Maria Oliveira Bispo, Francisco tem oito
irmãos e é o penúltimo filho do casal. Diz que seus primeiros desenhos foram
feitos nas paredes da casa do pai. Tinha então sete anos. Ele chegou a Salvador
em 1965, para viver com o irmão mais velho, Manoel, camelô que morava com a
vendedora de churrasquinho Lourdes Ferreira, na Rua João de Deus, 20, no
Maciel. Aqui sua força o encaminhou no sentido da educação.
Com
a morte de seu pai, em 1967,
a família toda veio morar na capital e Francisco voltou
a viver junto com sua mãe numa pequena casa de Avenida na Rua Eudalto Silva
Lima, 25-E, na Fazenda Grande do Retiro.
EMMA
VALLE EXPÕE EM ITABUNA
Com
uma boa aceitação, vem sendo realizada pelo PACCE (Projeto de Atividades
Culturais Cacau), em Itabuna, uma exposição de artista plástica Emma Valle, a
qual permanecerá até o próximo dia 08 de outubro, no saguão do CCPC. A
população tem demonstrado interesse em adquirir algumas obras de Emma.
Integram
a exposição 41 trabalhos em guache, pastel, pintura a óleo (tela e Eucatex),
além de gravuras coloridas em lápis cera e conchas de praia pintadas a óleo (em
bico-de-pena). Um quadro medindo 1x60 por 1 metro , com moldura em
homenagem à Cidade de Itabuna vem chamando atenção de todos os visitantes pela
sua composição que mostra três fases da Bahia: a escravidão, colônia e
contemporânea.
A
artista Emma Valle é uma das participantes do IV Encontro Nacional de Artistas
Plásticos do Rio de Janeiro, cuja seleção realizada em Salvador, no Solar do
Unhão.
Além
disso, integrou o I Encontro de Artes do Nordeste, promovido pela Fundação
Cultural do Estado da Bahia, no último mês de agosto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário