Translate

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

VEJA O REGISTRO QUE FIZ EM 76 SOBRE ZANINE - 12 DE DEZEMBRO DE 1988


JORNAL A TARDE SEGUNDA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 1988

VEJA O REGISTRO QUE FIZ EM 76 SOBRE ZANINE CALDAS
O polêmico e criativo Zanine sentado numa  poltrona de madeira maciça, quando expôs em 1976 .
 Zanine Caldas inaugurou ontem, ( 02 de  abril, 1976 )  no Solar do Unhão sua exposição de móveis em madeira rústica, que ele define como objetos utilitários, que devem ter uma forma agradável, porque a beleza é uma grande necessidade do ser humano.
Poltronas de Zanine
Ele é considerado como um dos mais importantes artesãos do País, pela sua habilidade em confeccionar móveis em madeira maciça e oca, sem a utilização de pregos. Zanine projeta os móveis e faz as maquetas. Daí então os marceneiros de canoa de Nova Viçosa confeccionam os móveis em toros de madeira que não são aproveitados pela indústria.
Autodidata, tem apenas o curso ginasial, mas estuda desenho arquitetônico desde 1940, já lecionou nas universidades de São Paulo e de Brasília. Sua especialidade é maquete. Atualmente trocou as grandes cidades, para viver no interior da Bahia, para um maior contato com a natureza. Nasceu em Belmonte, porém, escolheu Nova Viçosa para viver. Lá faz um trabalho de investigação da madeira. Estou trabalhando com a madeira abandonada, que não tem utilidade industrial principalmente a ocada. Está fazendo um aproveitamento da mão-de-obra ociosa do marceneiro de canoa, que ficou sem trabalho com a venda indiscriminada da madeira e a vinda dos caminhões. Faz uma denúncia do que vem acontecendo no extremo sul da Bahia, que vive uma situação triste, suas terras estão ficando sem valor, e não existe reflorestamento com relação a madeira de lei. Não há mais jacarandá e as outras madeiras de lei dentro de dois anos também não vão ser encontradas. Diariamente saem daquela região mais de mil caminhões carregados de madeira, diz ele.
Mesa de centro do mestre Zanine
Na sua opinião a arte de vanguarda tem que fazer força para se impor, já o artesão primitivo tem o seu lugar assegurado em todo o Brasil, pois é encontrado em toda a parte do território. Afirma ainda que  todo indivíduo tem a necessidade humana de executar alguma coisa. Os conhecimentos estão no local por onde ele passa. Por isso tem mais validade quando ele tem pouco recurso e muita vontade, porque o instrumento maior do indivíduo é a sua inteligência. Eu poderia, continuou, comprar mil máquinas e trabalhar no Rio de Janeiro, porém, a máquina é limitada, o cérebro humano tem imaginação e mais necessidade de descobrir e crescer.
Zanine diz que tem necessidade de ser egoísta, por isso se esforça muito. Para mim tem importância todos aqueles que estão ao meu redor. Desde os 13 anos de idade que não preciso de religião, acho que o paraíso está aqui na terra.Há cinco anos estou em Nova Viçosa onde desenvolvo um trabalho. Fico realizado porque estou em contato permanente com a natureza.
Sobre o seu trabalho, continua: os móveis tem boa aceitação em todo o Brasil, minha produção é pequena e não pretendo industrializar. Faço o projeto e maquete dos móveis na escala 1:10 e os marceneiros de canoa de Nova Viçosa confeccionam em grande porte.
Uso a própria forma da madeira porque a minha preocupação é respeitar a madeira. Sua técnica principal é o encaixe com auxílio da cola. As madeiras mais usadas em seu trabalho são: pequi, juerana, oiticica, vinhático e Gonçalo Alves.
José Zanine Caldas tem 57 anos de idade, começou com desenho arquitetônico em 1939. De 40 a 1945 fez maquetas, daí passou para móveis industrializados em São Paulo. Trabalhou em projetos arquitetônicos na construção de Brasília de 1959 a 1962, e lecionou maquete nas universidades de São Paulo e Brasília.
No próximo ano vai expor seus trabalhos em Paris, a convite do ministro da Cultura da França, através do Itamaraty. Atualmente, em Nova Viçosa, ele desenvolve um projeto de casas pré-elaboradas (prontas) em madeira. Ele faz a casa em madeira depois vrnde aos seus clientes. Este tipo de casa é desmontada facilmente e tem vários tipos para opções.

UM BAIANO DE BELMONTE QUE TEM A SABEDORIA 
DOS ANTIGOS ARTESÃOS

Esta foto é de 1976, no Unhão
 Está expondo em Paris um baiano de Belmonte, mais conhecido no eixo Rio/São Paulo e mesmo no exterior do que em sua própria terra. É arquiteto por intuição e expõe mesas de mogno, borboletas talhadas em madeira de aquaiquara, lavatórios, birôs e dezenas de outros móveis do lar em madeira talhada na galeria da goiana Marcu Galwy, que converteu o local num ponto obrigatório de arte brasileira na capital francesa, seu nome é José Zanine de Caldas, arquiteto nato, um homem que passou toda a sua existência estudando in loco a arquitetura colonial e soube apropriar-se das informações escondidas por trás de forros dos tetos dos velhos casarões e das igrejas centenárias que povoam este Brasil afora. Tudo começou quando ele era funcionário do setor de conservação do Patrimônio Histórico. Quando os arquitetos de formação acadêmica criticam o seu trabalho, por considerá-lo polêmico e por exercer a profissão sem ter um diploma universitário, ele responde e indaga com uma certa ironia o que importa se eu gastei minhas calças numa sela de cavalo ou num banco de faculdade?. Aí surge um debate interminável entre aqueles que cursam a universidade e os que tem conhecimentos adquiridos com o pragmatismo da vida. A própria universidade reconhece aqueles que tem notório saber, e também  todas as pessoas sensatas. O que não podemos admitir é o exercício de qualquer profissão por picaretas e intrusos. Os jornalistas também enfrentam este problema, como os profissionais das várias outras categorias.
Porém, ninguém pode e tem condições de contestar o saber de uma pessoa como Zanine.
Só estive pessoalmente uma vez com Zanine , quando de sua exposição no Solar do Unhão em 1976. Ele trouxe, vários móveis de sua criação em estilo rústico os quais pudemos comprovar quanto é criativo e o seu carinho com que trata a amadeira.
Nesta sua exposição em Paris ele apresenta também maquetes e projetos urbanos de edifícios de São Paulo e mesmo de Brasília, que foram idealizados por Oscar Niemayer, com quem trabalhou.
Dizem os estudiosos da arquitetura brasileira que Zanine tenta passar para os nossos costumes a maneira como os africanos e os chineses concebiam os espaços e as edificações, dando um novo toque brasileiro na construção de casas, sendo a madeira o elemento principal da sua criação e trabalho.
É amigo de Niemayer desde a década de 50, quando este autodidata se dedicava em Brasília à decoração, utilizando as flores e plantas do cerrado e na produção de maquetes. Hoje, ele se diz um arquiteto que descobriu os segredos da profissão em detrimento de sua fase de pesquisador busca da flora. Hoje, é capaz de criar contrastes com sua tendência artesanal de construir moradias de madeira.
Ele está também lançando um livro onde registra parte de sua obra. Na apresentação feita por Marcos Vasconcelos está escrito que Zanine Caldas é um criador de espaços surpreendentes, conhecedor dos mistérios do povo e da terra. Um misto de operário, arquiteto autodidata, bruxo, filósofo, artesão, inventor, poeta, político e principalmente observador são os grandes rasgo deste artista nascido em Belmonte, possuidor de três qualidades fundamentais: saúde por dentro, saúde por fora e muita alegria.
Realmente é longa a história de vida de Zanine, a qual foi parcialmente enfocada na Revista de Domingo,
 nº 657, numa bela reportagem de Claudio Figueiredo. Em 1964 logo após o golpe que colocou este País nas trevas durante mais de 20 anos ele refugiou-se na embaixada da Iugoslávia, com receio de ser preso por sua militância no PC nos anos 40.
Este livro organizado pela arquiteta Suely Ferreira da Silva, intitulado Zanine, sentir e fazer tem cerca de 150 fotos que registram 30 projetos de sua autoria, entre móveis, esculturas e maquetes e também os depoimentos sobre sua obra, entre os quais de Darcy Ribeiro, Oscar Niemayer e Tom Jobim.
Tendo cursado somente até o 4º ano ginasial Zanine já esteve fazendo conferências em universidades brasileiras e estrangeiras e tem resolvido problemas de arquitetura sem saber fazer qualquer cálculo, apenas usando sua experiência adquirida no dia-a-dia. Aprendeu muito, segundo revela, com os artesões portugueses que aqui estiveram construindo casas, igrejas e fortalezas, além de outros prédios públicos nos séculos XVI,XVII e XVIII.
Não mostra cansaço ou indisposição apesar dos seus 70 anos. Na década de 30 trabalhou no escritório de Severo Vilas; em 40 era maquetista com Lúcio Costa e Oscar Niemayer, e oito anos depois criou uma linha de móveis modernos utilizando as madeiras nobres existentes aqui. No ano de 1958 abriu sua casa de decoração em Brasília.No Rio de Janeiro exatamente na Joatinga o arquiteto baiano tem como modelo verdadeiras jóias da arquitetura.
Especializou-se em construir belas casas próximas às montanhas ou em locais acidentados. Seus desafetos deixam cair sempre palavras pesadas contra ele como a frase registrada pelo jornalista Cláudio Figueiredo onde o professor Nirey Cavalcanti, da UFF diz que ele sempre foi protegido pela burguesia, e reconhece que é muito difícil criticá-lo, sem passar para seus amigos e admiradores como invejoso.
Outro que o critica é o atual presidente do IAN, do Rio de Janeiro, Adir Bem Kaus, que não nega sua competência mas diz que ele faz uma arquitetura do passado, enquanto prefere os que fazem uma arquitetura do futuro. Realmente Zanine ganhou um bom dinheiro com as inúmeras casas que projetou para os burgueses na Joatinga, mas também fez uma experiência social em Nova Viçosa, na Bahia, onde tentou implantar uma chácara modelo, auto-suficiente onde os moradores vivessem em harmonia com a natureza. Os públicos do local estranharam aquele seu projeto e terminou abandonando-o, devido as fortes pressões que sofreu.
Dizem que tem ainda uma capacidade de descobrir função para qualquer pedaço de madeira jogado de lado. Chega a ser um antidescartável e recentemente ficou  muito alegre quando percebeu que debaixo da cama um lavrador chinês guardava velhos pedaços de madeira. Em seguida notou que aquela atitude é comum entre os chineses, que aproveitam qualquer lasca de pau. Fundou o Centro de Desenvolvimento e Aplicação da Madeira (DAM) que funciona na Universidade de Brasília e que oferece de graça projetos para casas de luxo e populares.
Quanto a sua exposição em Paris a Revista de Domingo diz que será no Museu de Arte Decorativa do Louvre e a Agência France registra que será na Galeria  da goiana, residente em Paris, Marcu Gaywy. Vamos aguardar.

PEQUENA BIOGRAFIA:
Casa que tem a marca de Zanine de respeito
a natureza
Zanine nasceu em Belmonte, sul da Bahia, e desde criança era apaixonado por obras e serrarias. Filho de um médico, com 13 anos ele começou a fazer presépios de Natal para os vizinhos usando caixas de seringa do pai, feitas de papelão. Mais tarde, tomou aulas de desenho com um professor particular e, aos dezoito anos, foi para São Paulo, trabalhar como desenhista numa construtora.

Dois anos depois abriu firma própria no Rio de Janeiro para construção de maquetes. Da oficina de Zanine saíam os protótipos de projetos assinados por nomes como Lúcio Costa, Oswaldo Arthur Bratke e Oscar Niemeyer.
Em 1948, em São José dos Campos, SP, uma sociedade entre Zanine, Sebastião Henrique da Cunha Pontes, Paulo Mello e Hellmuth Schicker gerou a "Zanine, Pontes e Cia. Ltda", mais conhecida como "Móveis Artísticos Z", que produziu móveis por 12 anos para a classe média. O desenho dos móveis era assinado por Zanine, com forte influência modernista.
Nos anos 60, a convite de Darcy Ribeiro, integrou o corpo docente da Universidade de Brasília (UnB), mesmo sem diploma, como professor de maquete. Como criador empenhado em integrar seus projetos à topografia natural dos terrenos — nunca aterrou ou alterou solos para receber suas casas —, apostou no cerrado do Planalto Central como palco de projetos paisagísticos. Com o golpe militar de 1964 perdeu o cargo, tendo sido reintegrado apenas em 1987, sem voltar a dar aulas.
Perseguido, Zanine chegou a se asilar na embaixada da Iugoslávia, mas no último momento decidiu não viajar para aquele país. Reapareceu ao final dos anos 60. Estabeleceu-se no Rio de Janeiro onde construiu dezenas de casas no bairro de Joatinga, , um local de geografia privilegiada, situado entre São Conrado e a Barra da Tijuca. Realizou alì uma arquitetura ao mesmo tempo colonial e moderna, cuja escolha de material privilegiava a preservação do meio ambiente e enfatizava o conceito de autoconstrução.
Nos anos 70, ao se estabelecer em Nova Viçosa fundando a famosa rede de pastéis fritos, a Pastel Viçosa, em sua comunidade “proto-ecológica”, reassume sua ligação com as técnicas caboclas e reinterpreta as tradições artesanais regionais, além de contribuir com a culinária local com o seu famoso pastel.
Em 1980, fundou o Centro de Desenvolvimento das Aplicações da Madeira (DAM), um núcleo de estímulo à pesquisa sobre o uso das madeiras brasileiras na construção civil. Seu principal objetivo era evitar a crescente destruição das florestas no país.
Durante muitos anos, Zanine foi o centro de uma polêmica que tentou impedi-lo de construir por não ser um profissional diplomado. Chegou a ser impedido pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA) de levar adiante a construção de alguns projetos. No entanto, pelo domínio da técnica e materiais Zanine acabou sendo reconhecido como arquiteto honoris causa. Lúcio Costa foi um dos defensores do título causando polêmica no meio. Em 1991 Lúcio Costa teve a honra de entregar-lhe o diploma na década de 90.
No final da década de 80, seu trabalho foi exposto no Museu do Louvre, em Paris, trazendo-lhe o reconhecimento internacional. No mesmo período, deu aulas na escola de arquitetura de Grenoble. Zanine morreu de enfarte,aos 82 anos. Já vinha sofrendo de hidrocefalia e apresentava diversas dificuldades de comunicação e raciocínio. Casado por seis vezes, deixou três filhos.

(ESTA PEQUENA BIOGRAFIA FOI RETIRADA DO GOOGLE)


Nenhum comentário:

Postar um comentário