JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 27 DE JUNHO DE 1988
JURACY DÓREA E JOSÉ RESENDE REPRESENTAM O PAÍS
EM VENEZA
EM VENEZA
Uma escultura feita de couro cru e varas. |
Entre
os artistas brasileiros, apenas dois foram convidados a participar da Bienal de
Veneza. O baiano, de Feira de Santana, Juracy Dórea e José Resende, de São
Paulo. Ele é o autor do muro inclinado e suspenso por barras de ferro que foi
instalado na Praça da Sé na capital paulista. Os artistas não estão agrupados
por temas, mas individualmente. E, quem dá explicação para esta mudança
significativa de postura é o diretor da exposição Giovanni Carandente. Nos anos
passados a Bienal perdeu credibilidade exatamente porque foi transformada numa
manifestação ideológica, representada mais por ensaios críticos que por obras.
Como vemos a ideologia misturada com a arte prejudica a criatividade porque condiciona
a parâmetros e elementos que de certa forma limitam o próprio pensamento.
Quatro
exposições abrigam as obras individuais.
Sertanejos ao lado de uma obra de Juracy Dórea feita em plena Caatinga |
A
Bienal distribuirá três grandes prêmios. O prêmio internacional que é um Leão
de Ouro, dado ao artista vivo que participa em qualquer uma das exposições e
que for escolhido pelo júri composto do italiano Maurizio Calvesi, o americano
Tom Messes, o francês Pierre Restanay, o alemão ocidental Werner Schmalenbach,
o polonês Ruzard Stanislawski, o inglês Davi Sylvester e o escritor mexicano
Octávio Paz. Haverá ainda Prêmio Duemila, o equivalente a 20 mil dólares, ao
melhor artista jovem com menos de 40 anos.
Informa
a curadora responsável pela escolha de José Resende e Juracy Dórea que eles
foram escolhidos exatamente pela dessemelhança de suas obras. A curadora Leila
Coelho Frota justifica esta diferenciação como razão da escolha dos dois
artistas. Juracy participou no ano passado da Bienal de São Paulo, quando tive
oportunidade de dizer que sua obra ficou deslocada do ambiente onde funciona ou
seja na caatinga, numa encruzilhada do sertão. Agora leio um artigo de Alberto
Tassinari na Folha de São Paulo onde ele faz uma observação bem semelhante ao
que fiz naquela época. A obra de Juracy Dórea também se enfrenta com a
natureza, mas de uma forma até aqui mais literária e visual.
São
as fotos das suas esculturas feitas do entrecruzamento de paus e couro sobre o
fundo do sertão baiano que carregam um certo encanto. Elas mesmas, como
aparecem na última Bienal de São Paulo, ficam estáticas quando deixam de ser um
marco visual no meio da paisagem.
Em
Veneza, o Projeto Terra (1981-1988) está sendo apresentado por documentação
fotográfica e vídeo. Painéis fotográficos representando a construção de
esculturas em vários pontos do sertão baiano. A maior parte destas obras foi
inserida na região de Canudos, tendo como público o homem do campo. As
fotografias de Juracy Dórea, José Carlos Teixeira e Ana Rosário, ampliadas
nesses painéis, vêm precedidas de marcas da região, e representam os seguintes
momentos do projeto: a construção de uma escultura, Tapera, 1987; Escultura da
Lagoa das Bestas, 1984; Escultura do Raso da Catarina, 1984; Escultura de
Canudos, 1984; escultura do Cumbe, 1985; Mural da Casa de Edwirges,
1984;Exposições itinerantes no sertão, 1985; textos que reproduzem as
interpretações e comentários dos sertanejos sobre a arte pública de Juracy
Dórea acompanham os painéis fotográficos, duas esculturas dos Jardins de
Veneza, em couro e madeira, 3,60x3.00x3.00. Vídeos sobre a obra de Juracy Dórea
que serão apresentados na Exposição do Pavilhão Brasileiro: “Terra”, 1982, transcrito
do Super 8, fotografia de Robinson Roberto, e Escultura de tapera, imagens de
Dimas Oliveira e Juracy Dórea, texto de Antônio Brasileiro, assistência de Ana
Rosário, edição de Amadeu Campos e Dimas de Oliveira, músicas de Elomar e Fábio
Paes, transcodificação pela Embratel. A exposição do Pavilhão Brasileiro na
Bienal de Veneza tem como órgão responsável o Departamento Cultural do
Ministério das Relações Exteriores do Brasil e a curadoria de Leila Coelho
Frota.
LICURGO
EXPÕE NO RIO DE JANEIRO
O
baiano Licurgo está no Rio de Janeiro, onde tem participado de várias coletivas
e individuais. Embora esteja longe, o artista sempre nos escreve dando noticias
de sua atuação. Para satisfação de seus amigos baianos, sua arte vem crescendo
e ganhando mais expressividade, talvez frutos de novas experiências e
observações. É um frequentador assíduo das galerias , onde pode
constatar o que está sendo feito no sul maravilha. Aqui, ele parece com uma
pequena tela intitulada Mulher da
Glória, onde sobressai o ar triste de suas figuras humanas, o colorido de suas
tintas e a exuberância tropical aparece com muita luminosidade. O traço é
firme, delineando os volumes, que são visivelmente definidos. Uma pintura limpa
e acima de tudo feita com sensibilidade de um artista que também gosta de se
comunicar.
SÉRGIO
RABINOVITZ NA GALERIA SERENDIPITY
Sérgio
Rabinovitz, baiano da Pituba, da mesma geração de outros dois artistas criados
no mesmo bairro. Carlos Alberto Quirino, músico que não esquece Smetak, e
Claudius Portugal, poeta do verso que diz que o
homem não espera seu tempo fruta
na fruteira, concluiu exposição na Serendipity, a galeria paulista da Avenida
paulista Horácio Lafer, no Itaim.
Sérgio
expôs 11 quadros onde utilizou a técnica do vinil sobre tela, nos quais mantém
a linha de trabalhos anteriores, criando novas conjunções ao meu ver, do
desenho moderno, nervoso, firme com a pintura rupestre guardada no mais
recôndito do ser humano.
A
abertura da exposição foi no dia 4 passado, da qual participou, prestigiando o
evento, outro artista da jovem geração baiana Bel Borba.O
trabalho de Sérgio que fica bem nas paredes de Yuppies ou não, provocou a
curiosidade de marchands. Marjory Alves de A Galeria depois de examinar
cuidadosamente os quadros deixou no livro de visitantes sua impressão Lindos (Luís Guilherme).
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