JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA,
26 DE SETEMBRO DE 1988
SALÃO ABRE NO DIA 10 COM 300
ARTISTAS E 900 OBRAS
Nasce
vitorioso o I Salão Baiano de Artes Plásticas com quase trezentos artistas
inscritos e 900 obras das mais variadas tendências, técnicas e qualidade. Os organizadores estão neste momento
trabalhando na separação das peças que serão examinadas pelo júri composto de
Ivo Vellame, Reynivaldo Brito, ambos da Bahia, e Marc Berkovitz, de Rio de
Janeiro, e Olívio Tavares de Araújo e Cassimiro Xavier de Mendonça, de São
Paulo.
O
calendário sofreu uma pequena alteração diante de algumas dificuldades
operacionais, porém o júri estará escolhendo os trabalhos nos dias 6,7 e 8 de
outubro e o resultado final será conhecido no dia 10. Realmente os jurados
terão muito trabalho porque durante três dias vão examinar nada menos que
novecentas obras, as quais já se encontram no Solar do Unhão.
IMPORTÂNCIA
Sempre
defendi a importância do salões, embora advogasse que os mesmos devem sofrer
mudanças para acompanhar a própria modernidade que é um fator determinante na
criação. Muitas vezes me coloquei contra alguns artistas mais radicais que
trabalham sempre contra os salões e bienais. Na verdade a não participação ou
tentativa de boicote de alguns no fundo é uma demonstração de covardia, de
falta de espírito democrático em não se expor. Assim estariam concorrendo nas
mesmas condições. E os medalhões não admitem concorrência. Preferem ser
convidados ou mesmo ganhar concorrências daquelas maneiras que todos nós
conhecemos. O Salão é importante porque estimula o mercado de arte. Proporciona
o aparecimento de novos artistas porque coloca em confronto novas técnicas e os
talentos.
Além
do mais uma grande quantidade de pessoas visita o Salão e muitas delas nunca
tiveram contato maior com obra de arte e às vezes despertam.
O
Diretor do Departamento de Artes Plásticas, da Fundação Cultura e artista
plástico Zivé Giudice está satisfeito com a participação dos artistas baianos e
disse que o número de inscritos superou todas as expectativas dos
organizadores. Ele entende que este Salão tem alguns aspectos muito
interessantes. Além do confronto das gerações vai possibilitar uma integração
entre os artistas já conhecidos e os emergentes. É um espaço imprescindível
dentro de nosso meio porque vai permitir o surgimento de muitos valores que
estavam ai, meio escondidos. Vamos também retomar o diálogo entre a arte
produzida aqui na Bahia e o mercado de arte do sul do País. Foi com este
objetivo que convidamos dois críticos baianos e mais três do sul do país, sendo
dois de São Paulo e um do Rio de Janeiro. Vamos agora aguardar a abertura e
posteriormente o julgamento para se fazer uma avaliação melhor do Salão.
GIL MÁRIO EXPÔE NA GALERIA O CAVALETE
O
artista feirense Gil Mário caminha por uma estrada silenciosa, por onde não
andam carros poluindo a atmosfera com seus motores de explosão e as fábricas
não despejam seus detritos químicos. É um mundo à parte longe do vanguardismo e
de outros ismos, tão comuns nos dias de hoje. Mas, nem por isto, sua arte deixa
de ser atual, pois os movimentos de suas figuras demonstram uma busca constante
em combinação com as cores suaves que são preferidas. Diria mesmo que existe
uma grande harmonia deste seu mundo silencioso com a arte que ele produz.
Consegue bons efeitos superpondo elementos e com transparências ritmadas que
elavam o espectador observar cada detalhe numa obra de sua autoria. Os
pássaros., principalmente as garças, de elegância invulgar são os mais
presentes em, sua obra. Eles se prestam a uma figuração de grande beleza
plástica. Mesmo quando trabalha com a figura humana existe um tom muito pessoal
de Gil Mário. Ele está expondo na Galeria O cavalete até o próximo dia 30 do
corrente ,mês.
MUDANÇA
TOTAL NA OBRA DE ABELLEIRA
O artista Abelleira entre duas obras de sua fase onde utilizou sua nova ferramenta que é a espátula |
Tem
talento e muita disposição para trabalhar. Sempre está enfocando suas mulheres,
onde surgem rostos expressivos ou mesmo detalhes do corpo. O jogo de claro e
escuro , entre a sombra e a luz, a definição dos volumes são muito mais
difíceis de serem concebidos com o uso da espátula.
Mas
Abelleira é um vencedor e vai em
frente. Ele está preparando uma nova exposição. Aguardem.
GRAVURA
E DESENHOS DE MARIA ADAIR
Gravuras
e Desenhos de Maria Adair estarão expostos a partir do dia 30 deste mês a 10 de
outubro sob o título A Grande Viagem, na Galeria Prova do Artista. Explica
Adair que são pinturas tecidas de linhas, cores e formas , evocando emoções
vividas em pontos específicos da América, Europa e África. No pouso em
Marrakech tive que descortinar um visual novo. A terra
quase nua de vegetação, cheia de calor, seco e brilhante , num panorama
quente , exótico e bonito. Foram três meses fora do Brasil e esta experiência
do Marrocos encheu meus olhos de brilho, deslumbramento e fascínio. Espetacular
a exuberância na arquitetura das formas , na riqueza de concepção e material. A
partir disto ao visitar outros lugares despertei interesse para formas
específicas. Ai está o ponto de partida para o fazer de agora.
Maria
Adair nasceu em Itiruçu,Bahia. Com Licenciatura em Desenho e Plástica pela
Universidade Federal da Bahia, desde 1965. Já participou de exposições
coletivas na Bahia, Goiás, São Paulo, Paris, Pittsburgh, Iowa City e Nova
Iorque. Com 15 mostras individuais no Brasil e nos Estados Unidos, neste país
obteve o Mestrado em Arte pela Universidade de Iowa. Seus trabalhos , hoje,
encontram-se em coleções nos Estados Unidos, França, Turquia, Panamá, Venezuela
e Japão, ressalvando-se deste o que se encontra na Embaixada Brasileira em
Washington, D.C. e na sede do Brazilian Cultural Institute, também nesta mesma
cidade.
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