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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O ENIGMA DA VISIBILIDADE E A PINTURA DE ROGÉRIA MATTOS -7 DE MARÇO DE 1988


JORNAL A TARDE SEGUNDA-FEIRA, 7 DE MARÇO DE 1988

O ENIGMA DA VISIBILIDADE E A PINTURA DE 
ROGÉRIA MATTOS

É com satisfação que abro espaço nesta coluna para publicar um artigo do querido Wilson Rocha, falando
 a respeito da artista Rogéria Mattos, que também, é esposa de meu amigo Leonel Mattos. Vejamos:
Rogéria Mattos em seu atelier na capital paulista
“A pintura atual exibe polaridades que são características da nossa cultura e refletem a mudança do clima artístico da década de 80. O gesto e a cor, os universos formais, os fragmentos do mundo visual e certamente a ansiedade da passagem para o século XXI parecem reger o comportamento e a visão da Pintura Jovem, esse vigoroso e quase universal movimento pictórico dos nossos dias, portador da fome de cores de uma arte onívora, a dos pintores veementes da Escandinávia, dos novos-selvagens da Alemanha ocidental ou da transvanguarda italiana - correntes de tendência da Nova imagem originária de Nova Iorque e distribuída pelos países centro-europeus, Espanha e América Latina. Os próprios artistas não consideram o resultado de seu empenho uma extensão da  história da arte, tão mitificada no nosso século. As imagens estão esvaziadas de referência e não se baseiam em princípios. Apenas uma realidade pictórica de longínquo vestígio humano.
A Pintura Jovem, como síntese, nasce do homem pós-moderno absorvido pelas diferentes idades, culturais, situações estéticas experimentadas ao longo da História, no decurso de uma vivencialidade milenária, assumindo uma posição totalmente nova em termos de pintura, contrapondo-se às virtualidades exasperantes do experimentalismo e à estratégia das vanguardas. Os debates exaustivos sobre os modos alternativos da pintura do século XX haveriam de esbarrar no fim do experimentalismo. Herdeira da origem urbana e internacional de manifestações independentes, do gesto livre dos grafiteiros, a Pintura Jovem surge da transformação da cultura nos dias que vivemos e consequentemente da afirmação cada dia mais vigorosa e mais ampla das culturas de juventude impetuosamente ativas e produtivas em termos de criação artística , sinalizando uma revolução no tempo visual, uma virada de conjuntura,onde a pintura experimenta uma nova qualidade existencial ao assumir uma situação de perene disponibilidade, a enfrentar a História e a Academia, passando a viver como um organismo vivo, respirando e testemunhando sua época. Pintura que simula em vez de representar.
A sistematização das categorias da forma na pintura, o enigma da visibilidade – que aparece sob a forma de uma energia extraordinária e não devidamente especificada, a da interioridade da pintura, oriunda talvez do inconsciente, ou de uma consciência visual que sintetiza os meios sensitivos,os modos operacionais sobre a realidade s significa uma continuidade de expressão do artista. – instituiu no século XIX , na Alemanha,a chamada Teoria da Visibilidade Pura, que deu origem ao nascimento e à moderna atitude Lingüística atual graças aos seus iniciadores e continuadores: Fledler, Rielg,Wolffin,Jakobson, Focillonn,Cassirer, Merleau-Ponty e outros. Afirmando a autonomia da forma como linguagem na pintura, a obra de arte, para Jacobson, entre outras coisas, tem a função de refletir sobre a sua própria forma.No raciocínio de Merleau-Ponty “ em qualquer civilização em que surja , de qualquer crença, motivo ou pensamento, quaisquer que sejam as cerimônias a envolvê-la, de Lascaux a nossos dias, pura ou impura, figurativa ou não, a pintura não celebra outro enigma que o da visibilidade”.
Refletir sobre a visibilidade da pintura é considerar  a essência da matéria pictórica, energia, o impulso e o vigor do gesto, da cor e da forma e o pensar dos signos perceptivos, as sugestões de uma figuração vibrante e inesperada, o desmembramento do real que penetra a imagem e domina o impacto emocional de cores delirantes na inusitada aventura visual da Pintura Jovem, de uma presença já tão forte e significativa no ambiente nacional.
Nos últimos anos viu-se surgir em São Paulo com as novas levas de pintores de juventude, uma geração de choque formada de jovens artistas vindos de vários estados brasileiros e de alguns países, quando logo se destacou o nome de uma jovem pintora vinda da Bahia, Rogéria Mattos , pelo sucesso imediato obtido pela surpresa e o impacto de sua pintura que ao estrear conquistou dois prêmios de uma vez em um certame da maior importância nacional , o Prêmio da Pintura e o Prêmio Especial Medalha Pietro Maria Bardi do II Prêmio Pirelli Pintura Jovem, no Museu de Arte de São Paulo, em 1985, segundo de brilhantes e sucessivas atuações em salões de São Paulo, Paraná e outros estados,participando com êxito no Salão Paulista de Arte e recentemente premiada no XIX Salão Nacional de Belo Horizonte, dois salões de maior prestígio atualmente no País pelo critério rigoroso e inteligente adotado na organização de suas comissões de seleção do júri.
Há na obra inicial da pintora Rogéria Mattos a expressão direta das experiências acumuladas em sua diária vivência psíquica, os dados perceptivos expressivos de um grau de unidade da personalidade, algo como identificar uma fonte de significados de uma realidade pictórica. Eis então as composições arbitrárias plenas de visões e intuições e a inserção de cores ativas em sua pintura estruturada e vigorosa.O problemas central de sua pintura – que é um prodígio de vitalidade, que privilegia a ação, que adquire a dimensão, a energia de uma força orgânica e onde as formas involuntariamente são transformadas em símbolos – é a exploração da cor como meio expressivo fundamental. Pintura densa e lúdica, de organização dinâmica da forma e da cor. Um universo revisto e recriado numa exuberância cromática pelo gesto, os modos, os hábitos da pintura. A qualidade da cor e da textura se entrelaçam numa unidade refletida na liberdade de expressão de uma jovem artista que surpreende, que está ocupando um lugar singular na pintura brasileira dos anos 89 e, contudo , tímida e afastada das conveniências comerciáveis como poucos entre os nosso mais capacitados pintores.
É sobre um limite bidimensional que o trabalho pictórico ganha os seus valores espaciais e cromáticos. Na pintura de Rogéria Mattos a organização base desses sinais transformados, individualizados, mantém, desde as suas primeiras experiências,grande unidade e pressupõe globalmente, organizando um sistema de distensão ondulatória e sobrecarga de cores, duas soluções :a a representação  de uma trama cerrada ou a representação de uma trama aberta sobrepondo-se em simultaneidade numa constante e obstinada recorrência à textura contínua de uma composição intrincada. A trama cerrada pressupõe uma cerração de elementos que enriquece matericamente a superfície e torna mais sutis as tensões espaciais, porque transfere os valores das situações de maior amplitude e clareza para registros onde as superfícies tendem a subdividir-se em inúmeras zonas, também ondulatórias, de contínua alteração e em função da densidade das cores, da pulsação da pintura, da força e espessura do gesto, do peso ou leveza das massas cromáticas. Pelo que já nos mostrou, esta artista promete algo de muito importante para acontecer, assim possamos ir acompanhando a trajetória de um dos mais originais talentos que a nossa cena artística tem visto aparecer . Rogéria pinta  as suas telas com uma determinação rara e para ela a pintura, mais do que um meio de operar, é um instrumento de liberação, um documento,grito vibrante de uma fascinante expressão”.

ARGENTINO HECTOR VALDEZ REPASSANDO EXPERIÊNCIAS

Uma aquarela da aluna Yara,que Valdez mostra orgulhoso
Depois de trabalhar vários anos em agências de publicidade empregando o seu talento no anonimato, o argentino Hector Valdez  resolveu passar suas experiências para todas as pessoas que possuem uma pendência para as artes plásticas. Assim,em apenas poucos meses de curso, o novo futuro artista já conhece um pouco de algumas técnicas e pode dar os primeiros passos em busca de uma provável profissionalização. Este despertar de talentos deve ser incentivado por todos nós, porque muitas vezes as pessoas crescem do ponto de vista psicológico. É como um encontro com seu próprio eu. Acontece que este encontro deve acontecer com certa dose de autocrítica para não imaginar de repente que já é um artista pronto. Nada disto! É apenas uma gota d”água num imenso lado, alguns centímetros de uma grande caminhada ou um tenro arbusto numa imensa floresta.
 Como todo estrangeiro que aqui aporta e fica encantado com esta bagunça que é a Bahia, o argentino Hector Valdez gosta de dizer que está completamente integrado à maneira de viver do baiano. Diz mais: ai à Argentina mostrar as coisas da Bahia. No seu entender é preciso divulgar as coisas que se faz aqui e ele, particularmente, pretende mostrar aos patrícios os últimos trabalhos, que trazem a marca das tradições e da cultura baianas. Ele domina muitas técnicas: lápis, carvão,lápis de cor, guache,aquarela,aerógrafo,pastel e óleo. Tem um jeito fácil de se comunicar e isto é um ponto positivo para quem se propõe a repassar experiências.

ORGULHOSO

Ciente da qualidade de alguns trabalhos elaborados ´por seus alunos, num período de curso de apenas três meses, ele foi às redações dos jornais levando debaixo do braço a prova do aprendizado. Trabalhos de iniciantes, é verdade, mas que deixam transparecer que seus autores têm realmente grande chance de uma profissionalização. Uns mais que outros, o que é perfeitamente compreensível.
Animado com o sucesso do seu primeiro curso, Valdez começa no dia 15 com outro grupo de pessoas . Lembra que, ainda adolescente em Buenos Aires, despertou para a arte. Isto naquela época  era coisa de vagabundo. Valdez resistiu e, hoje, é um artista respeitado.
Valdez, tendo à sua frente
um trabalho de um aluno.
Está na Bahia há 15 anos.Aqui chegou por um acaso. Estava esquiando em Mendonza quando percebeu que um senhor teimava em ficar em pé com os esquis e não conseguia. Aproximou-se e, no primeiro contato, imaginou que fosse um americano. Era brasileiro, exatamente um publicitário paulista. Dali nasceu um bom relacionamento. Valdez enfrentava alguns problemas familiares, pois estava se separando de sua primeira mulher, e recebeu um convite para trabalhar no Brasil. O publicitário retornou à São Paulo e meses depois Valdez  telefonou disposto a vir para cá. Já se vão 15 anos. Espalhou sua produção de norte a sul deste País. Os que não conhecem aqui suas obras lembrem-se da campanha publicitária da Casa Forte.
Diz  que ensina o pulo do gato. Isto é, não esconde o jogo. Repassa para seus alunos tudo que aprendeu durante este tempo mexendo com arte plástica. Sua ex-aluna Luciana Pereira comprova : “O que Valdez sente ele passa pra gente”. Vai orientando desde o desenho, que é uma base primordial para que deseja dedicar-se à arte, até as manhas das várias técnicas. Que domina. Ele mesmo adverte: “Quem não sabe desenhar, não aprende a pintar”. Portanto, tudo deve começar na base, no desenho. Valdez fica na Rua Santa Rita de Cássia, 38 no bairro da Graça, e lá continua ensinando tudo que aprendeu.

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