JORNAL A ATARDE,SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 3 DE OUTUBRO DE 1988.
ARTISTA BAIANO FAZ RELEITURA DA OBRA DO HOLANDÊS VAN GOGH
O Painel de Fernando Oberlaender tem 1,80m x 4m e mostra parte da obra do mestre Van Gogh |
Esta
exposição é, baseada em vinte estudos, os quais serviram para a feitura de um painel
onde Van Gogh e seus personagens aparecem em cores, traços e composições
semelhantes àqueles feitos pelo mestre do Expressionismo.
Sabemos
que Van Gogh era um arrebatador, um homem que tinha a pintura como uma tábua de
salvação para seus próprios conflitos de personalidade. Entre os personagens do
painel feito por Fernando aparece o indefectível carteiro Joseph Roulin com
suas longas barbas ruivas e sua farda de botões dourados, de cor azul. É
portanto, uma releitura da obra do artista Van Gogh, uma postura que está sendo
assumida por muitos artistas no mundo inteiro. Os mestres sempre são fontes
inesgotáveis de saber e cada olhada, numa tela nos permite muitas releituras e
ensinamentos. E isto que o Fernando acaba de “descobrir”
Esta
reflexão tocou de perto Fernando, talvez devido a maneira romanceada com que
Irving Stone conta a vida do artista.
"Quando
pinto um sol, quero fazer as pessoas sentirem que gira a uma velocidade
vertiginosa, irradiando ondas de luz e calor, de uma força tremenda. Quando
pinto um milharal, quero que as pessoas sintam a seiva pressionando contra a
casca, as semente no centro empurrando para fora, em busca da própria ", escreve
Irving Stone. Mas segundo Fernando caso essas palavras não tenham saído do
artista pouco me importa. O que realmente me interessa é que “Sede de Viver”
consegue transmitir para o mundo ideal de um verdadeiro artista. Um homem que
teve sua arte como única razão de viver, e que não se preocupa em apenas
registrar e sim pintar a alma do que via.
O
artista baiano ficou entusiasmado e partiu para retratar a estória contada no
romance com seu próprio trabalho.
Não
teve-segundo faz questão de salientar, intenção de criar uma nova visão da obra
de Van Gogh, mesmo porque seria impossível, pois acredito que o pintor holandês,
apesar de já ter morrido há quase um século, pode ser considerado mais
contemporâneo que muitos artistas de nossa época. Apenas quero chamar a atenção
das pessoas para ele “Não precisava, porque tanto a obra do holandês quando sua
vida rocambolesca são presenças em todos os meios artísticos do mundo." Mas, de
qualquer sorte, este chamamento do Fernando serve também como um exercício de memória e também de aprendizado.
CERAMISTAS
BRASILEIROS COM EXPOSIÇÃO NA EUROPA
Recebi
da ceramista Grace Gradin um catálogo sobre uma importante exposição de
cerâmica que está sendo realizada na Europa. Dia 5 a 8 de outubro estará no
Instituto Ítalo Latino Americano, depois vai para Madri para o Centro Cultural
Conde Duque, segue para Lisboa e finalmente para Barcelona. A apresentação é do
legendário Pietro Maria Bardi que diz: “Eis uma exposição de cerâmica que vem
do Brasil, um país notável por esta arte do fogo, pelo quanto fizeram as
povoações nativas. É um produto que depois da conquista colonial foi cultivado
no Brasil, usando técnicas e formas apropriadas à vida popular e, mais
recentemente, passando a ser considerada como motivação de arte. O grupo aqui
reunido pode ser considerado como um dos mais representativos do Brasil, a
ponto de mostrar sua produção no exterior.
Como
o visitante poderá constatar, entusiasmo, labor e procura de novidades estão
aqui reunidos.
Realmente
o velho Pietro diz tudo nesta sua apresentação. São cerâmicas que dão uma idéia
da grandiosidade dessa arte que é praticada no Brasil. Basta citar a obra de
Maurício Chaer, de Uberaba, Minas Gerais, atualmente trabalhando em Mogi das
Cruzes, em São Paulo. Esta
peça chama-se Figura de Pernas Cruzadas, tem 55,5x 27 cm . Modelada em esmalte
saturado em ferro, forno nodorigama a lenha.
JOSÉ
TIAGO VAI EXPOR NA GALERIA MALHOA
O artista José Tiago com uma tela que exporá |
Pinto
há mais de 20 anos mas, mesmo morando em Salvador há 35 anos, trabalho no eixo
Rio/São Paulo, em galerias especializadas.
Por
intermédio dessas galerias é que participa
de exposições no exterior, como em Nápoles, Marselha, Gênova e Madri.
Considera, no entanto, a mais importante de sua carreira a que fez em Roma, a
convite de um colecionador italiano. Já participou de vários salões nacionais e
ganhou uma medalha de prata no salão da Paisagem, promoção da Sociedade
Brasileira de Belas Artes.
Tiago
é mais um dos bons primitivos que estão aí neste mercado muito disputado. Gosto
dos primitivos porque eles mostram com ingenuidade um pouco da nossa gente
simples do interior ou mesmo cenas urbanas de grande significação. Falta-lhes a
técnica apurada, a ideia de espaço, de luz e sombra, perspectiva e até mesmo um
desenho apurado. Mas suas composições são enriquecidas pelas cores fortes e
quentes do tropicalismo brasileiro e, também, pelas imagens rurais e urbanas
que registram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário