JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 22 DE FEVEREIRO DE
1988
AS IMAGENS QUE FICARAM DO
CARNAVAL QUE PASSOU
A beleza do totem criado pelo mestre Didi,simbolizando o Pelourinho |
Seguramente
o carnaval é uma das coisas sérias deste país. Na Bahia está entre as primeiras
coisas sérias e boas que acontecem. Sou um carnavalesco nato. Destes que gostam
de ver os blocos passarem, que curtem as fantasias e com um olhar clínico
observam os foliões mais desinibidos. Não corro atrás do trio elétrico, é verdade.
Também, não tenho mais idade para tanto. Mas, confesso que fico emocionado com
o som que os trios derramam no asfalto e com a energia desprendida pelos
foliões anônimos que surgem nas ruas e praças dos mais longínquos lugares.
Examinando os elementos da Praça Castro Alves, pudemos constatar que são pobres. Lembramos que aí foi onde ficou a maior concentração deles. |
Admiro, principalmente a plasticidade da festa.Por falar em plasticidade, este ano brilharam os blocos afros e os afoxés. Coincidiu com o centenário da Abolição. Só que eles desfilaram em horas bem avançadas e muita gente não pode ver a beleza de suas danças e trajes. Se em alguns deles destacamos a plasticidade, a criatividade , em outros reinou a pobreza. Afirmo que nem mesmo mereciam figurar entre os que integravam a programação oficial do carnaval. Era tão pequenos em número de figurantes, tão insignificantes em termos de som e plástica que poderiam sair anonimamente por ai. Acho que os blocos afro poderiam sair entre 10 e 14 horas de domingo e segunda-feira,quando o carnaval está um pouco desanimado para que eles pudessem animar o folião e serem melhor visto. Seria uma forma de engordar mais o Carnaval durante o dia, pois durante as noites fica completamente engarrafado. É hora de repensar. Os blocos afros e afoxés precisam ser melhor vistos. É apenas uma sugestão, entre tantas outras que existem.
Achei pobre em sua grande maioria, as roupas e adereços dos blocos afros e afoxés.Eles poderiam ter explorado melhor as temáticas que escolheram,principalmente porque a cultura negra é muito rica em máscaras e outros adereços dos blocos afros e afoxés. E a pintura africana tem formas geometrizadas que permitem a utilização de cores muito fortes e vibrantes. O que é preciso, é um pouco de pesquisa, uma conversa com pessoas que estudam a cultura negra, uma ida ao Centro de Estudos Afro Orientais da Universidade Federal da Bahia , que fica ali na Rua Leovigildo Filgueiras, no bairro do Garcia.Enfim, conversar com os professores Guilherme e Ieda Castro, com o querido Climério,com Waldeloir Rego e outras pessoas que conhecem melhor a cultura negra.
A decoração mais uma vez decepcionou. Escolheram uma temática válida que foi mal resolvida. Os elementos não chamaram a atenção, como deveriam. As formas foram pobres, com exceção do totem que o mestre Didi fez e que foi colocado no Largo do Pelourinho. Deviam retirá-lo e preservá-lo no Museu do Negro que funciona no velho prédio da Faculdade de Medicina no terreiro de Jesus.
A utilização de fitas plásticas, como se fossem folhas de palmeiras, funcionou mal. Não entendi a falta de grandes elementos nas praças Municipal, Castro Alves e na Barra.Confesso que achei mais pobre que a do ano passado. É preciso repensar, não apenas em cima do dinheiro, mas adequar o dinheiro à temática. Poderiam ter feito uma decoração barata utilizando grandes elementos, trabalhando diretamente com pessoas da Prefeitura, Escola de Belas Artes, com uma coordenação mais aberta a várias tendências da arte feita na Bahia.Sou a favor de concurso público.Agora, com regras estabelecidas, para que seja barateado o custo e que a Prefeitura envolva também a Bahiatursa, já que o Estado é um grande beneficiado com os impostos que são cobrados com a circulação de mercadorias.
Lembro que em outros tempos a Bahiatursa teve uma participação efetiva e que seu atual presidente certamente está disposto a prestar uma grande colaboração.
Tenho conhecimento do descontentamento de alguns artistas pela forma de condução da decoração. Isto é normal. Não se pode contentar a todos. Mas temos que procurar o consenso, o diálogo, como a forma mais civilizada de se chegar a um objetivo.
A decoração poderia ter sido a mais bonita do País se fossem explorados, com categoria, os elementos africanos, os totens, as máscaras e as formas geometrizadas em toda sua grandiosidade. Falhou pesquisa, criatividade e acima de tudo democracia. O explosivo Waly Salomão, que conheço desde os velhos tempos da antiga Faculdade de Filosofia, da Avenida Joana Angélica, precisa abrir mão um pouco de seu poder como Coordenador Geral do Carnaval para que outras pessoas respirem e pensem. Não é possível que uma ou duas pessoas cuidem de tudo e centralizem tudo. Vamos dividir espaços e poderes, porque muita gente pensando sempre se alcança os objetivos buscados com mais competência.
A decoração mais uma vez decepcionou. Escolheram uma temática válida que foi mal resolvida. Os elementos não chamaram a atenção, como deveriam. As formas foram pobres, com exceção do totem que o mestre Didi fez e que foi colocado no Largo do Pelourinho. Deviam retirá-lo e preservá-lo no Museu do Negro que funciona no velho prédio da Faculdade de Medicina no terreiro de Jesus.
A utilização de fitas plásticas, como se fossem folhas de palmeiras, funcionou mal. Não entendi a falta de grandes elementos nas praças Municipal, Castro Alves e na Barra.Confesso que achei mais pobre que a do ano passado. É preciso repensar, não apenas em cima do dinheiro, mas adequar o dinheiro à temática. Poderiam ter feito uma decoração barata utilizando grandes elementos, trabalhando diretamente com pessoas da Prefeitura, Escola de Belas Artes, com uma coordenação mais aberta a várias tendências da arte feita na Bahia.Sou a favor de concurso público.Agora, com regras estabelecidas, para que seja barateado o custo e que a Prefeitura envolva também a Bahiatursa, já que o Estado é um grande beneficiado com os impostos que são cobrados com a circulação de mercadorias.
Lembro que em outros tempos a Bahiatursa teve uma participação efetiva e que seu atual presidente certamente está disposto a prestar uma grande colaboração.
Tenho conhecimento do descontentamento de alguns artistas pela forma de condução da decoração. Isto é normal. Não se pode contentar a todos. Mas temos que procurar o consenso, o diálogo, como a forma mais civilizada de se chegar a um objetivo.
A decoração poderia ter sido a mais bonita do País se fossem explorados, com categoria, os elementos africanos, os totens, as máscaras e as formas geometrizadas em toda sua grandiosidade. Falhou pesquisa, criatividade e acima de tudo democracia. O explosivo Waly Salomão, que conheço desde os velhos tempos da antiga Faculdade de Filosofia, da Avenida Joana Angélica, precisa abrir mão um pouco de seu poder como Coordenador Geral do Carnaval para que outras pessoas respirem e pensem. Não é possível que uma ou duas pessoas cuidem de tudo e centralizem tudo. Vamos dividir espaços e poderes, porque muita gente pensando sempre se alcança os objetivos buscados com mais competência.
Mas
valeu. O reinado de Momo foi grandioso, como deve ser. Não porque a decoração
foi boa ou conseguiram organizar o carnaval porque o baiano sabe brincar o
Carnaval. Sabe sozinho fazer o seu Carnaval. E o que vimos na avenida foi o explodir de emoções, foram cores
cintilantes, mulheres bonitas e muito som balançando a massa. Precisamos
enfeitar as ruas à altura do publico que acorre para fazer a festa.
As ruas ficaram com uma boa iluminação. Á noite o visual era melhor |
O Carnaval passou e certamente deixou marcas de alianças e até mesmo de desavenças entre as pessoas.Os que não brincaram perderam mais uma grande oportunidade de deixar cair as máscaras que vestem durante o ano inteiro. Os que brincaram, extravasaram as frustrações, que carregam neste País de incertezas e que chegam até dizer que não é sério.
Seguramente
o carnaval é uma das coisas sérias deste País. Na Bahia está entre as primeiras
coisas sérias e boas que acontecem. Sou um carnavalesco nato. Destes que gostam
de ver os blocos passarem, que curtem as fantasias e com um olhar clínico
observam os foliões mais desinibidos. Não corro atrás do trio elétrico, é verdade.
Também, não tenho mais idade para tanto. Mas, confesso que fico emocionado com
o som que os trios derramam no asfalto e com a energia desprendida pelos
foliões anônimos que surgem nas ruas e praças dos mais longínquos lugares.
Admiro,
principalmente a plasticidade da festa.
Por
falar em plasticidade, este ano brilharam os blocos afros e os afoxés.
Coincidiu com o centenário da Abolição. Só que eles desfilaram em horas bem
avançadas e muita gente não pode ver a beleza de suas danças e trajes. Se em alguns
deles destacamos a plasticidade, a criatividade , em outros reinou a pobreza. Afirmo que nem
mesmo mereciam figurar entre os que integravam a programação oficial do
carnaval. Era tão pequenos em número de figurantes, tão insignificantes em
termos de som e plástica que poderiam sair anonimamente por ai. Acho que os
blocos afro poderiam sair entre 10 e 14 horas de domingo e segunda-feira,quando
o carnaval está um pouco desanimado para que eles pudessem animar o folião e
serem melhor visto. Seria uma forma de engordar mais o Carnaval durante o dia,
pois durante as noites fica completamente engarrafado. É hora de repensar. Os
blocos afros e afoxés precisam ser melhor vistos. É apenas uma sugestão, entre
tantas outras que existem.
Mas
valeu. O reinado de Momo foi grandioso, como deve ser. Não porque a decoração
foi boa ou conseguiram organizar o carnaval porque o baiano sabe brincar o
Carnaval. Sabe sozinho fazer o seu Carnaval. E o que vimos na avenida foi o explodir de emoções, foram cores
cintilantes, mulheres bonitas e muito som balançando a massa. Precisamos
enfeitar as ruas à altura do publico que acorre para fazer a festa.
Vamos
enfeitar melhor este grande baile que ocupa várias praças e ruas da cidade.
Vamos reunir os blocos de negros, brancos e mulatos para discutir suas
fantasias, seus adereços e enriquecer visualmente o Carnaval da Bahia. Vamos
padronizar as coberturas das barracas que ficam na Praça Castro Alves, para que
as fotos e tomadas feitas do alto pelos fotógrafos e cinegrafistas tenham uma
melhor plasticidade. É hora de se começar a pensar no Carnaval de 89.
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