JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA 15 DE AGOSTO DE 1988
AYRSON FAZ UMA RELEITURA DAS
OBRAS RENASCENTISTAS
Dos artistas jovens que estão no mercado Ayrson Heráclito é um dos que mais questionam temas da atualidade. Ganhou o Primeiro Prêmio no Salão da Metanor do qual fui Coordenador, e agora realiza sua primeira mostra individual em Salvador, na Capela do Solar do Unhão. Ele acha importante o estudo da História da Arte para situar o artista no seu próprio fazer. Ayrson não se propõe a realizar uma paródia ou sacrilizar a obra de arte do passado. Mas tento expor a outra possível a partir de uma releitura.
Não
só o passado, mas em outras obras como as de Duchamp e outros artistas
modernos. O artista questiona esta postura de classificar o novo e o mais
velho. O velho é visto com uma roupagem nova, sem qualquer conotação ou
alinhamento a movimentos já estabelecidos.
Está
empenhado em pesquisas sobre a pintura renascentista, aprendendo-segundo diz,
seus eleitos, resgatando elementos fundamentais da sua estética e mesclando-os
com questionamentos filosóficos existenciais do seu próprio universo de
conhecimento.
Escolheu a Capela do Solar do Unhão para expor
por entender que sua obra naquele ambiente encontra a harmonia desejada. O
estilo arquitetônico, bem como o espaço externo em que está inserida, propícia
o clima necessário para a releitura que ele imaginou.
RÁPIDAS
NOTAS
Num
pequeno texto que escreveu e denominou de Rápidas Notas Sobre a Atual Fase do Artista” Ayrson mostra sua preocupação não só com a obra plástica
renascentista, mas também com a poesia e principalmente com a com a consciência
que tem com a modernidade, do ponto de vista das permanências estruturais de
determinados elementos da produção pictórica ocidental, motivo que o levou a
tal investigação.
Veja
algumas idéias do artista:
A
arte, como tradução das estruturas mentais, e , portanto, com um tempo completamente lento e com ritmo
diverso dos outros tempos sociais, permite ao artista percorrer determinadas
permanências do imaginário ocidental, bem como as representações arquépticas e
simbólicas que estão mergulhadas no inconsciente coletivo.
A
tradução técnica se dá com a incorporação de valores táteis, manifesto na
sensualidade cromática onde a transparência atmosférica diluída em uma
luminosidade se impõe como renascente na pintura, particularmente da Escola
Veneziana dos séculos XV e XVII.
Dentre
os artistas pesquisados encontram-se: Giorgone com a sua iluminação
sobrenatural; Ticiano particularmente em sua segunda fase – da velhice -, com
as agitações das suas composições, propondo dramáticos contrastes de claro e
escuro, revelando um dinamismo de formas que é prenunciador do barroco;
Tintoretto com a sua exasperação
dramática mais acentuada, entre outros.
O
artista pinça como características maiores desta escola estudada, um predomínio
da cor sobre o desenho e a linha. A luminosidade e as transparências e,
principalmente, a opção por um resultado estético bem mais sensorial.
Sua
primeira participação em eventos foi em 86 no Salão dos Novos Artistas
Copene/Metanor , onde obteve o primeiro lugar com o trabalho Jesus no Monte das
Oliveiras, e Menção Honrosa com outros dois trabalhos inscritos. Naquela fase
Ayrson estava envolvido com um tema Unground e mesclava elementos existenciais e
filosóficos da condição marginal. E confessa: Eu me lembro bem, estava
influenciado por Michael Foucault do ponto de vista da arqueologia e genealogia
do poder. O ano passado Ayrson expôs em Vitória da Conquista sob o título Nós.
Os trabalhos eram quase um apêndice da fase do Salão, onde usou e abusou do
lado cênico, definindo a pintura como uma representação distorcida do real.
Este
ano como diz, seu trabalho está sofrendo nítida influência da Transvanguarda
Italiana. É um sentimento quase coletivo que está surgindo nos artistas da
década de 80 , devido a um fenômeno de anulação que ocorreu na arte desde o
Dadaísmo no início do século, até o final da década de 60, com o movimento Anti
Arte.
ARQUITETURA
TERÁ PRÊMIO CONHECIDO HOJE
EM
SÃO PAULO
A
Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura – ABEA, a Revista Projeto e a
Fademac S.A. vão anunciar oficialmente hoje, às 15 horas, na FAU – Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, da Universidade de São Paulo, USP, no campus da Cidade
Universitária, em São Paulo
a criação do concurso Ópera Prima para os projetos de graduação de todas as
instituições brasileiras de ensino superior de arquitetura em 1988 e do Prêmio
Paviflex de Arquitetura, a ser concedido a autor e ao professor orientador do
melhor trabalho apresentado ao concurso.
O
Prêmio Paviflex de Arquitetura representará o grau máximo de uma série de
premiações que distribuirá 1.300 OTNs, cerca de CZ 2 milhões e 600 mil em
agosto, sendo 400 OTNs ao Primeiro Colocado, 300 OTNs ao Segundo, 250 OTNs ao
Terceiro, 200 OTNs ao Quarto e 150 OTNs ao Quinto.
A
participação será aberta a todos os formandos em arquitetura no Brasil, segundo
o professor Carlos Fayet, Presidente da Associação brasileira de Ensino de
Arquitetura, ABEA. Eles concorrerão com seus trabalhos de graduação realizados
no ano letivo de 1988, incluindo-se os arquitetos graduados no primeiro
semestre.
Os
trabalhos acrescenta o arquiteto José Carlos de Almeida, consultor do concurso
Ópera Prima poderão ser desenvolvidos individualmente ou em equipes, de acordo
com a orientação didática de cada escola. E os temas serão livres, obedecendo
apenas as características e orientação didática de cada curso.
Seleção
e Julgamento
Cada
escola selecionará internamente e de acordo com critérios próprios um trabalho
para cada grupo de 10 formandos e fração, independente de a sua execução ser
individual ou em equipe, explica Salvatore Privitera . Diretor de Marketing da
Fademac.Assim uma escola com 42 formandos poderá apresentar cinco trabalhos.
Para
julgamento, os trabalhos selecionados pelas escolas serão divididos em cinco
grupos de acordo com as seguintes regiões: 1) Paraná, Rio Grande do Sul e
Santana Catarina 2) São Paulo 3) Rio de Janeiro, 4) Alagoas, Bahia,Ceará,Paraíba,Pernambuco
e Rio Grande do Norte 5) Brasília, Espírito Santo, Goiás,Mato Grosso do
Sul,Minas Gerais e Pará.
Em
cada uma das cinco regiões serão selecionados cinco trabalhos . Ai, estes 25
serão submetidos a um Júri Nacional, que escolherá os cinco melhores,
classificando-os de Primeiro ao Quinto lugares.
JAMISON
PEDRA ESTÁ EXPONDO NA AM NIEMAYER
ARTE GALERIA
ARTE GALERIA
Está
expondo na AM Niemayer Arte Galeria, no Rio de Janeiro, o artista Jamison
Pedra. Vejo em sua obra o rigor dos traços, uma preocupação com a estética e
com a forma.
O
artista trabalha seguindo a própria consciência determinada por seus valores e
elementos estéticos que manipula e sabe usá-los no momento e no lugar certo.
Não temos um artista fortuito ou espontâneo, que não sabe o que vai surgir. Ele
cria seguindo uma meta visando alcançar aquele ponto determinado. Sabe das nuances
que busca neste jogo geométrico. Entra no jogo sabendo que vai acertar. Tudo é
preciso e seu senso estético está acima de tudo na medida que ele determina os
caminhos para alcançar o objetivo desejado. È uma pintura limpíssima, quase
impossível de a gente imaginar que por trás daquelas cores tem uma pessoa com o
pincel nas mãos.
Como
arquiteto que é estrutura sua tela como se estivesse concebendo os detalhes de
um desenho arquitetônico. Tudo é detalhado, tudo acéptico porque este é o seu próprio
modo de ver e se expressar através da arte. Assim vai ocupando seus espaços com
uma organização sem precedentes.
Nasceu
em Valença, Bahia, em 1938. Formou-se em Arquitetura pela Universidade Federal
da Bahia em 1965. Cursou Mestrado em Artes Plásticas na School Of Design Art And
Architecture , da Universidade de Cincinnati, em Ohio, Estados Unidos em 1983.
É Professor Assistente da Escola de Belas Artes da Ufba, desde 1970, tendo
lecionado também a disciplina Composição de Arquitetura na Faculdade de
Arquitetura da Ufba, de 1965
a 1970. Em 1963 expõe pela primeira vez, na Galeria
Bazarte, em Salvador, tendo tido destacada participação no movimento cultural
que envolveu vários artistas nesta época em Salvador. Participou
desde então de diversas exposições individuais e coletivas destacando-se: Museu
de Arte Moderna da Bahia, 1965; Primeira Bienal de Artes Plásticas da Bahia,
1966; IX Bienal de São Paulo, 1967; II Bienal de Artes Plásticas da Bahia, 1968
; Galeria Círculo, Salvador, 1972; Cem Anos de Pintura Baiana, no Museu de Arte
Moderna da Bahia, 1973; XII Bienal de São Paulo, 1973; Artistas Baianos no
Senegal – homenagem a Jorge Amado, no Senegal, África, 1980;Galeria da
Universidade de Toledo, Ohio, Estados Unidos da América, 1981; Galeria da
Universidade de Cinciannati, School Of Design Art Amnd Architeture, Ohio,
Estados Unidos, 1983; Boulevard Galeria, Salvador, 1984 e Desenbanco,
Universidade Federal do Ceará 1984. Produziu também painéis para o Banco do
Estado da Bahia, Banco Econômico e para o Fórum de Feira de Santana. Possui
esculturas em diversos locais de Salvador, e participou de diversas mostras de
fotografia e cinema. Recebeu ainda vários prêmios, como o I Prêmio de
Fotografia no I Salão Baiano de Fotografia, 1968; O VI Prêmio de Curta Metragem
, do Jornal do Brasil, 1969. V Prêmio de Desenho, Homenagem a Albrecht Dürer,
do Instituto Cultural Brasil Alemanha, 1972; III e o I Prêmios do Concurso de
Fotografia da Revista Realidade, da Editora Abril, 1971 a 1975 e o I Prêmio de
Escultura Ambiental, do Governo do Estado da Bahia, 1979.
LÍCIA
MARGARIDA MOSTRA AS MANIFESTAÇÕES NEGRAS
Entre
os expositores do Salão de Arte Contemporânea Euler Cardoso realizado recentemente na Panorama Galeria de Arte
estava Lícia Margarida que integrou as comemorações do XXI Aniversário da
Galeria. Há três anos que Lícia vem pintando, inclusive sua temática tem focado
muito as manifestações do negro baiano. É a terceira mostra que ela participa.
Começa desta forma a percorrer um novo caminho em busca da profissionalização e
do reconhecimento público. Muita coisa ainda terá que realizar para melhorar
cada vez mais a qualidade da sua obra, que tende a tornar-se menos figurativa
na medida em que for dominando com mais segurança o desenho.,Vontade não lhe falta
em criar. Tem
o estímulo das pessoas queridas que lhe cercam e uma curiosidade em ver e participar dos movimentos de arte. É um aprendizado
necessário para quem se propõe a abraçar a profissão de artista.
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