JORNAL A TARDE,SALVADOR,SEGUNDA-FEIRA ,17 DE OUTUBRO DE 1988.
A INQUIETAÇÃO DE LULA NO ESCRITÓRIO DE ARTE, DIA 18
A Inquietação
é uma saga dos Queiroz, uma família de artistas onde desponta um compositor
como Waltinho, uma competente dançarina como Bethânia, o nosso inconfundível Lula Queiroz e, no cimo de tudo uma grande mulher que é D. Luz Queiroz. Do alto
ela vai iluminando o caminho de seus filhos-artistas. Reunindo num só espaço
eles são capazes de fazer um bom espetáculo. A cantoria criativa do Waltinho,
este batalhador incansável, os gestos ora suaves ora bruscos da Bethania e a
sinfonia de cores do Lula. Mas, agora quero falar de Lula, que há cinco anos
não expõe em Salvador e retorna bem mais solto, livrando-se da figura definida
através de traços densos que sugerem as formas. Noto que sua preocupação no
jogo de cores e composições onde elementos estáticos são misturados com peixes
em tonalidades variadas de azul. Lula está a refletir sobre os aspectos formais
da pintura. “Este meu trabalho discute problemas formais da pintura. Este meu
trabalho discute problemas formais da pintura. Esta mostra, é sobre objetos
transparentes, naturezas vivas, robôs que lembram Picasso e tocam música,
garrafas que enlouqueceram e resolveram bailar, passeios sobre a obra de artistas
que já pintaram esses temas, enfim, a visão pós-moderna dessa cultura que tanto
incendiou e incendiará o Brasil.
Seu
catálogo traz algumas apresentações mais recentes e outras de exposições
anteriores.
Todas,
unânimes em afirmar que Lula Queiroz é um artista promissor e inquieto. Ele
quer pintar e discutir e chega a falar um pouco da critica e em certo trecho
diz...
“Vejo
a função da critica como meramente de interpretação. O critico faz uma leitura
mais assimilável pela média. Só que, às vezes, em lugar de facilitar, complica. Isto decorre da
vocação literária de cada um”. Realmente Lula mexe numa coisa que merece alguma
reflexão. O papel da critica não é só de interpretação, de leitura da obra de
arte. Ela tem o papel de educar, de incentivar, de separar o joio do trigo, de
questionar, de mostrar o novo e mesmo apontar caminhos. É verdade que alguns
complicam, porque querem mostrar erudição. Outros trabalham com enciclopédias e
livros do lado para fazerem criações e passarem uma falsa ideia de competência.
Outros
são rudes, trabalham na calada da noite com telefonemas infindáveis, com
fofocas enquanto bebericam, enfim, existem muitas posturas a depender do
indivíduo, uns tem grandeza, outros pequenês. E, eles sabem colocar as
carapuças nas próprias cabeças.
Mas
este é outro papo...
Vejo
a pintura de Lula como um gesto de liberdade, uma liberdade necessária e que
está ligada com a própria contemporaneidade. São telas de formas bem
equilibradas tanto no desenho como o uso de cores, deixando que o espectador se
delicie com cada elemento para que seja capaz de completar através sua intuição
e conhecimento.
Concordo
quando ele afirma que é estranho. Estranho somos todo nós que vivemos neste
munido de contradições, onde o difícil é enfrentar a nossa própria condição de
animal para sobreviver numa guerra onde a gente nem conhece direito os
inimigos, e olhe que são muitos! Assim vai Lula entre seus elementos
geométricos, suas cores líricas numa sinfonia de alegria de viver.
O
SALÃO UNIVERSITÁRO
Será realizado em Salvador de 8 a 27 de novembro O Salão
Universitário de Artes Visuais, uma promoção da Reitoria da Universidade
Federal da Bahia, com o objetivo de apresentar ao público uma visão ampla e
representativa da arte feita pelos universitários baianos. O Salão contará com
trabalhos. O Salão contará com trabalhos em cerâmica, desenho, tapeçaria,
escultura, pintura, fotografia, gravura, objeto, super-8, instalações, projetos
arquitetônicos, arte ecológica, conceitual, o muro como suporte de obras, arte
não-catalogada e poderá aplicar conceitos tais como : apropriação e
interferência e outros oriundos da arte atual.
A
organização do Salão está a cargo do professor Ivo Vellame, que é assessor do
reitor para Assuntos de Extensão, e, só poderão participar do Salão estudantes
universitários regulamente matriculados em instituições de ensino superior em
nosso estado. Os interessados poderão concorrer nas categorias de cerâmica,
desenho, escultura, pintura, fotografia, gravura, objeto e tapeçaria com no
máximo três trabalhos. Quanto ás demais modalidades previstas no regulamento do
Salão, somente poderão concorrer com uma única proposta, realizada
individualmente ou em equipe, inscrevendo-se, neste caso, todos os estudantes
que a integram.
ONDE
ENTREGAR
Os
trabalhos poderão ser entregues, acompanhados das fichas de inscrição na Pró-
Reitoria da Extensão da UfBa., que funciona na Avenida Araújo Pinho, 32,
Canela, até as 17 horas do dia 20 de outubro, devidamente montados e
emoldurados.
De
acordo com o Regulamento as obras que exigem grandes espaços para serem
expostas, ou cuja montagem deva ser produzida no próprio local da mostra, será
suficiente no ato da mostra, será suficiente n ato da inscrição a apresentação
de informações descritivas em forma de projetos, todos ou outros, que
possibilitem a devida apreciação pela comissão incumbida da seleção dos
trabalhos.
O
júri presidido pelo Coordenador do Salão, com direito a voto, e integrado por
mas quatro membros, dois críticos de arte e dois artistas plásticos,
selecionará os trabalhos e indicará os artistas premiados. As decisões do júri
são soberanas e irrecorríveis.
PRÊMIOS
São CZ$300 mil em prêmios e uma passagem de
ida e volta a Recife, um final de semana no Hotel Canto do Mar e uma passagem
de ida e volta ao Rio de Janeiro.
O
Prêmio Universitário Federal da Bahia será conferido no valor de CZ$100 mil,
Prêmio Desenbanco no valor de CZ$ 100 mil, Prêmio Associação Cultural
Brasil-Estados Unidos, de CZ50 mil;Prêmio Jornal A Tarde será uma passagem
aérea de ida e volta à Recife; Prêmio Tribuna da Bahia, um final de semana no
Hotel Canto do Mar;Prêmio Câmara Municipal de Salvador de CZ50 mil e Prêmio
Jornal da Bahia uma passagem aérea de ida e volta ao Rio de Janeiro.
Na
comunicação que me enviou o professor Ivo Vellame salienta a honra de convidar
V. As. Para partic ipar da Comissão de Júri , de salões sobre minha
coordenação. A seriedade de V. As., no exercício da crítica justifica a sua
participação nos eventos artísticos culturais da nossa terra. Diz ainda que
venho através desta coluna contribuindo pelo desenvolvimento das artes
plásticas baianas. Os outros eventos que participei na condição de jurado, a
que se refere Ivo Vellame foram: Salão Nordestino de Artes Plásticas, em 1977;
I Salão Universitário de Artes Visuais, 1978; Arte Universitária Hoje, 1978 e o
VI Salão Nacional de Artes Plásticas, em 1980.
VI Salão Nacional de Artes Plásticas, em 1980.
A
CERÂMICA DE ZILDA MOTTA
Nos 20 anos dedicados à cerâmica artística Zilda Motta realizou vários exposições. A IX começa amanhã no Edifício Serra de Ondina, reunindo peças suas e de seu Grupo de Trabalho formado nos últimos 15 anos. Neste período, a ceramista teve o maior momento de alegria quando conseguiu formar seu próprio barro misturando a plástica, argila baiana com elementos industriais corretivos, única maneira de se conseguir uniformidade de queima e esmaltação.
Embora
ela não despreze a surpresa do forno às vezes o mestre inesperado , confessa
que o conhecimento técnico de material cerâmico abre possibilidades para um
planejamento firme na escolha dos esmaltes, que prefere fosco e das cores que
se inclinam para os ocres.
Nesta
mostra Zilda Motta inclui modelagem de torno com formas puras,elegantes e de
perfis comportados, modelagem manual desenhando figuras humanas, volumes
arquitetados na escultura, modelagem mista, torno em mão, esmaltação com óxidos
e azulejaria.
As
peças de superfícies amplas mesclam volumes polidos no caulim usado como
esqueleto e faíscam nos resíduos dos vidros coloridos, explorados nas texturas
de gramas às vezes suaves, outras tantas, dramáticas.
Na
fase atual a ceramista ainda não sabe o caminho a seguir, porque manuseando uma
arte com mais de 5 mil anos, considerada a arte da transformação, o mais
sensato é não fazer afirmações, é ficar
na pedagogia da pergunta.As respostas são do fogo, da terra, da água e do ar.
FERJÓ EXPONDO NA GALERIA O CAVALETE
Está de volta à Bahia o artista Ferjó, natural de Caculé, que foi para os Estados Unidos graças a uma bolsa de estudos na Pensylvania Academy of The Fine Arts e que resultou numa completa transformação da arte que ele fazia. De um simples pintor de casario e da paisagem baiana Ferjó desenvolveu o seu talento, adquiriu uma excepcional técnica de pintura, mudou sua trajetória em busca de uma nosa temática, e , agora, nos brinda com mais uma exposição, desta vez na Galeria O Cavalete, onde está brincando com a tal famosa tela da Mona Lisa. Ele veste a personagem de várias formas, coloca um vistoso biquíni, roupas sensuais, introduz elementos tropicalistas como araras e papagaios, enfim, é um processo lúdico onde podemos destacar exatamente a qualidade e a grande habilidade pictórica deste artista.
Outra
coisa que marca Ferjó é a sua delicadeza, o seu cuidado em tratar as pessoas
que visitam sua exposição, procurando dar explicações, num tom quase fraternal,
sobre a técnica que usa, como consegue àquelas cores, falando do desenho,enfim
mostrando satisfação em ajudar as pessoas leigas a decodificarem suas obras.
Este
é o Ferjó que conheço desde que era funcionário da então Seplantec, inclusive
possuo uma pequena tela de sua autoria daquela época, que me permite confrontar
o que ele fazia e o que faz agora.
Certamente
que depois de tantos anos Ferjó é um baiano americano, acho mesmo que
dificilmente ele se acostumaria a viver aqui, mesmo porque l[á ele já tem um
mercado garantido, inclusive como excelente retratista que é. De quando em vez
vem nos brindar com uma bela exposição porque, afinal de contas, a ligação com
esta terra ensolarada é muito forte e ele não quer de forma alguma perder ou
esquecer as suas raízes culturais.
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