JORNAL A TARDE,SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 24 DE OUTUBRO DE 1988.
AS MARIAS-FUMAÇAS DE ALMIRO BORGES
Com
os olhos voltados para o passado, Almiro Borges teima em colocar nos trilhões
as velhas e saudosas marias-fumaças que percorriam as terras áridas do sertão
baiano, deixando para trás um rastro de cinza, saindo das chaminés. O apoio era
inconfundível e servia para chamar a atenção da molecada, dos aposentados e de
outras pessoas que dispunham de tempo para ver quem estava chegando ou saindo
para a capital. Era o tempo do Pirulito, que fazia o percurso entre
Alagoinhas e Bonfim, do Mochila, que ligava Alagoinhas a Aramari, ainda
existia o Operário e, depois, foi o tempo do Martha Rocha, bem mais
confortável, e que já usava a energia para andar por cima dos trilhos.
O
Almiro Borges, morador de Alagoinhas,acostumou-se com o barulho das
marias-fumaças e com o apito rouco que tanta gente atraía. E isto ocorreu nas
décadas de 40 e 50 e ele tem certeza que elas eram bem mais eficientes que os
ônibus que as substituem. Para relembrar está época ele vai montar uma
exposição, a partir do próximo dia 8 de novembro, quando mostrará 20 telas,
todas de marias-fumaças e as pessoas que nelas ganhavam com tanta alegria. A
exposição será aberta no dia 8, às 20 horas, no Centro de Cultura de
Alagoinhas, abrindo ali uma série de exposições. Ele faz questão de registrar o
apoio que vem recebendo do Secretário de Cultura, Carlos Capinan, e do prefeito
de Alagoinhas, Judélio Carmo.
SAEM
ESTA SEMANA PRÊMIOS DO SALÃO UNIVERSITÁRIO DE ARTES VISUAIS
SUAV - SALÃO UNIVERSITÁRIO DE ARTES VISUAIS |
Também
já foi definido o júri que se encarregará da seleção e premiação dos artistas:
Reynivaldo Brito, Juarez Paraíso, César Romero, Juracy Dórea e Ivo Vellame. O
Salão deverá ser aberto no dia 8 de novembro no Foyer do Teatro Castro Alves.
Quando
escrevo sobre os salões promovidos por Ivo Vellame me vem à mente a figura
singular do professor Clarival Prado Valadares, que com a sua sabedoria
contribuía para a maior grandeza dos eventos. O que ficou gravado realmente foi
s sua simplicidade com que examinava as obras de artistas que iniciavam seus
primeiros passos em busca de um reconhecimento. O mestre Clarival, que conhecia
tão bem como um verdadeiro estudioso da arte brasileira, se prendia a detalhe e
a defender seus pontos de vista. Esperamos, que inspirados no mestre, possamos
julgar as obras, como já procuramos fazer, com muita serenidade e
imparcialidade.
CARMEM
PENIDO NA PENSYLVÂNIA
A
artista Carmem Penido vai expor seus trabalhos na Muse Gallery de Filadélfia,
na Pensylvânia sob o patrocínio dos Companheiros das Américas, Comitê Bahia, e
USIA- Unite States Information Agency. A exposição incluirá também os trabalhos
de Maria Adair, Jussara e Yedamaria.
Camem
Penido também fará palestras sobre a arte contemporânea na Bahia. A exposição
será aberta no dia 4 de novembro e se estenderá até o dia 10. Ao examinar uma
obra de Carmem notamos uma evolução em relação á temática Álbum de Família. É
um trabalho quase com um enquadramento fotográfico, só que agora está
apresentando uma textura mais densa com uso de tinta acrílica e uma presença de
movimentos. Antes, suas figuras pareciam posar para o clic de uma máquina
fotográfica e, agora, estão sendo invisível da artista. Assim estão mais
soltas, mais á vontade porque o elemento movimento se fez presente. Também
surgiram outras cores, em vez do preto e branco de antes, vieram o azul, a magenta
e o verde. Suas telas aumentaram de tamanho porque a artista sentiu a
necessidade de mais espaço para expressar-se e com isto as figuras ganharam
mais leveza. Acredito mesmo que esta disposição aliada ao talento de Carmem
Penido vão determinar uma obra madura, dentro de alguns anos.
TERMINA
HOJE EXPOSIÇÃO DE RENER NA
GALERIA DO ALUNO
GALERIA DO ALUNO
O
artista Rener expõe hoje na Galeria do Aluno, da Escola de Belas-Artes, os seus
últimos trabalhos. Ele está cursando o segundo ano de Artes Plásticas e há
algum tempo que vem trabalhando com nanquim sobre papel, onde demonstra um
desenho com certa criatividade e movimentos precisos. Sua exposição intitulada
Arame Farpado tem um forte apelo porque nos transporta à falta de liberdade e a
outras atrocidades que aconteceram ou estão acontecendo por este mundo afora.
Na ocasião da abertura da mostra a banda instrumental Modus Operandi deu um
show w foi muito aplaudida.
Com
tamanhos médios de 70x60 cm, os 12 trabalhos tem como tema o homem dos nossos
dias, entremeado de problemas, êxtases e doses extremados. A representação de
tal cenário, longe de ser uma mostra de vícios e expiações humanas, é feito
pelo artista com grande dramaticidade, especialmente, quando lança mão do seu
traço trêmulo e dos contrastes de preto e branco, transformando personagens, às
vezes quase estáticos, em seres explosivos. A propósito, essa relação artista
realidade atual, e o seu resultado é a responsável pelo título. “Arame
Farpado”, mais passivo de captação intuitiva do que intelectual. Arame farpado
surge como símbolo dessa relação por ser algo que arranha, fere enfiam, marca,
diz Rener.
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