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sábado, 16 de fevereiro de 2013

SALÃO DE ARTES VAI REUNIR 54 ARTISTAS NO SOLAR DO UNHÃO - 19 DE DEZEMBRO DE 1988


JORNAL A TARDE,SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 19 DE DEZEMBRO DE 1988

SALÃO DE ARTES VAI REUNIR 54 ARTISTAS NO 
Pintura de Maurício Arraes,artista convidado de Pernambuco
SOLAR DO UNHÃO
Finalmente vamos ter oportunidade de conhecer as obras que foram selecionadas para participarem do
I Salão Baiano de Artes Plásticas, cuja abertura será na próxima quarta-feira, às 20 horas, no Solar do Unhão. Neste dia será lançado um catálogo reunindo os artistas da Bahia e de outros estados, com um total de 56 reproduções em policromia. Tive uma participação de certa forma ativa para a concretização deste salão dando todo apoio necessário a Zivé Giudice, do Departamento de Artes Plásticas, da Fundação cultural do Estado, que vem contando com apoio do presidente do órgão Florisvaldo Mattos. Depois da exposição Geração 70 que organizamos não aconteceu nada de grandioso nas artes plásticas baianas. Portanto, estou aguardando com muita expectativa e torcendo para que este salão seja mais uma marca relevante na história das artes plásticas da Bahia. Os mais antigos lembram da Bienal de Artes Plásticas, realizada na segunda metade dos anos 60, porém, um evento que a maioria dos que participam deste salão não teve oportunidade de ver, por razões óbvias.
Não acredito que este salão nos transporte de imediato a uma participação cada vez maior no circuito nacional, mas é um passo a mais que a gente tenta dar, porque pretendemos ocupar espaço. Não poderemos ficar no marasmo ou dependendo de iniciativa de um outro artista mais corajoso que coloca o trabalho debaixo do braço e ganha a estrada em busca de um reconhecimento no Sul do País. Mas o que importa é que este salão mostra quanto pulsante é a arte feita na Bahia e acho mesmo que a falta de informação de alguns e devido a individualidade em que estão mergulhados. Ficam trancados, envolvidos por elogios gratuitos e prejudiciais, sem procurar renovar sua linguagem expressiva, sem contato com informações dos grandes centros produtores e, principalmente, andando à margem da sua própria cultura. Por isto são vitimas do distanciamento, da total incapacidade de produzir uma arte renovadora e que traga no seu bojo elementos da contemporaneidade da criação plástica.
Sei que este salão é uma etapa para a realização da I Bienal Latino-Americana de Artes Plásticas da Bahia, que é um projeto até certo ponto ambicioso e que já tramita nos birôs da Fundação Cultural da Bahia, envolvendo não somente artistas brasileiros, mas de toda a América Latina.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A IMPORTÂNCIA DESTE NOVO EVENTO

Obra em técnica mista do artista Ayrson Heráclito,da Bahia
Quando terminamos a seleção e o julgamento para a premiação das obras do salão resolvemos escrever este texto que serve como uma nota explicativa para definir algumas dúvidas dos que ficaram de fora e também para uma compreensão e reflexão em torno do que essas pessoas estão produzindo ou mesmo do que mandaram para ser apreciado. Digo isto porque venho acompanhando a produção de alguns artistas há alguns anos e tenho plena convicção que alguns fazem um trabalho bem melhor do que mandaram para o salão, resultando na recusa. Quando as reações embrutecidas e imaturas demonstram exatamente no anonimato. Mas a falei sobre isto. Vale a pena ler este texto. Vejamos.
Todos ainda se lembram do momento em que a Bahia, através da realização da Bienal, esteve no primeiro plano nacional das artes plásticas. Mas eram tempos difíceis, aqueles- a 2º metade dos anos 60, e a Bienal, como outras manifestações culturais do país, estiolou. De lá para cá, manda a verdade que se diga algo que provavelmente não agradaria aos baianos. Tanto no âmbito da produção quanto no do consumo (o que não se significa posse individual, aquisição, colecionismo), a Bahia saiu da ribalta das artes plásticas brasileiras.
Não nos passaria pela cabeça negar a existência de talentos surgidos na Bahia, ao longo de um período tão extenso. Podem-se citar, por exemplo. Emanoel Araújo como o mais ilustre deles, bem como Mário Cravo Neto, certamente o mais inquieto. Por outro lado, A Velha Guarda que continuou morando na Bahia-Mário Cravo Júnior, caribe, Jenner Augusto, todo o grupo famoso-também continuo a produzir. Mas esse grupo usando de um direito legítimo optou por um tipo de arte pouco questionador.
E por causa deste quadro complexo que a realização deste
I Salão de Artes Plásticas nos parece tão importante não perca este tempo discutindo o número um: é claro que este não é o primeiro salão que se faz na Bahia; é o primeiro com esse nome, e depois de um silêncio prolongado), Os salões continuam sendo, a nosso ver, o meio mais eficaz de dinamizar a arte a explosão de talentos, de agitar, de fazer circular informação etc. E verdade que as grandes exposições museológicas também cumprem todos esses papeis, até um nível mais profundo. Mas o fazem em mão única. E nos salões que o jovem artista tem feed bac”e pode aferir o significado real de sua obra, através da aceitação ou do corte, e da posterior comparação com os demais aceitos.
Os critérios que norteiam os trabalhos do júri desse salão poderiam ser resumidos numa palavra só. Qualidade. Mas isso é muito simplista. O que  entendemos por qualidade? É uma grandeza absolutamente objetiva? Pode-se medir com precisão? Com que instrumentos?
Tríptico do artista e ilustrador Carlos Rodrigues,
referência especial.
A resposta, todos sabemos, é que não há medida precisa para esse valor estético. Por qualidade, no julgamento de salões, costuma-se entender, portanto, um conjunto de elementos sensíveis, que o olho treinado de um júri pode apreender com extrema rapidez. Assim também um médico, após muitos anos de clínica, pode diagnosticar certas doenças pela simples cor da pele do doente. Um júri de salão é um grupo de profissionais do olhar e do sentir- mas não é, diga-se de passagem um magote de verdugos contra alguma coisa. Cumpre sua função distinguindo os tais elementos sensíveis.

Entre eles, poderíamos citar:
a)      A adequação entre a forma apresentada pela obra e a intenção que dela se depreende (harmonia entre linguagem e conteúdo, conceitos que colocamos entre aspas porque só são dissossiáveis didaticamente);
b)      Habitação técnica suficiente pelo menos para que o autor expresse sua intenção um grande talento inteiramente cru não se deixa ainda perceber.
c)       Um pouco que seja de originalidade, já que, evidentemente, só os gênios são capazes de uma originalidade radical.
d)      A o mesmo tempo, sintonia com o que se anda tentando fazer em todo o mundo, neste instante, embora com pluralidade de tendências. Um júri correto não privilegia nenhuma tendência abstrata, geométrica, figurativa, fantástica etc.; procura garimpar o que aconteceu de melhor, entre os trabalhos enviados, em cada uma delas.
Tudo o que consta desse texto, esperamos poderá ainda ser debatido pelos artistas e intelectuais baianos  com o júri, que irá a salvador para esse fim.
Comissão de Seleção.
Marc Bercowitz - presidente, Olívio Tavares de Araújo - relator, Ivo Vellame, Raul Córdula Filho e Reynivaldo Brito.


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