JORNAL A
TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 29 DE FEVEREIRO DE 1988
QUATRO
ARTISTAS EXPÕEM NO MAM E
NA GALERIA 0 CAVALETE
NA GALERIA 0 CAVALETE
Aprígio, Dina Oliveira, Leonel Mattos e Brito Velho |
“O
Brasil irmanado de norte a sul, pode? Pode, e muito”, quem afirma é Ivo Zanini,
coordenador do Espaço Cultural Cásper Líbero, que faz a apresentação da
exposição, que está percorrendo várias cidades brasileiras, num patrocínio do
Banco Itaú. Portanto, são quatro pintores de estados diferentes que estão
levando suas mensagens aos quatros cantos deste País. Eles nem se conheciam
quando foram convidados a expor juntos. Brito Velho é gaúcho, Dina Oliveira
paraense, Leonel Mattos o baiano do grupo, e Ricardo Aprígio é pernambucano.
Lógico que cada um deles tem sua própria maneira de criar e suas temáticas são
também diferentes.
“O
homem é a meta na obra de Britto Velho, enquanto não cessa a sua pesquisa em
aplicar com rigor, cores fortes nas áreas previamente determinadas. Em seus
quadros predomina uma certa atmosfera satírica humorística do ser humano em
busca do seu destino maior. Ele monta e desmembra a anatomia em contínua
reelaboração, nitidamente de caráter intuitivo.
Nas
telas de Dina Oliveira, a sensibilidade formal é o seu maior atributo. A
artista paraense consegue retrabalhar o clima amazônico-nordestino com grande
fulgor e beleza visual, tanto nas construções bem-estruturadas como na
cromática, e tendo surpreendentes efeitos. Trabalho de muita aplicação, com
efetivos resultados, a evidenciar uma artista prestes a firmar seu nome
nacionalmente.
Obra de Leonel Mattos |
Leonel
Mattos extravasa na pintura o mundo fértil que corre solto na realidade e na
sua imaginação. Figuras com muitos artifícios explodem em suas criativas
composições, em que o simbolismo lírico também é uma constante. Cada obra
resume uma extensa gama de sutis montagens, a fortalecer o formal e o informal
que se conjugam e se interligam.
O
pernambucano Ricardo Aprígio, dedicado a uma composição de expressiva
imagística, reflete em seus quadros a fantasia de acontecimentos de forma livre
e em alguns trabalhos, abstratizante.
Na
riqueza de pormenores concentra-se um dos pontos altos da sua obra. Sempre
cuidadoso na textura que utiliza para compor as pinturas, o artista já
conseguiu marcar a sua obra.
Os
quatro expositores com estas obras resumem a contemporaneidade de um setor da
pintura brasileira, verdadeiro painel caleidoscópio de um País em
transformação, especialmente na abrangência da arte. Que essas mutações não
cessem
ESTE
ESPAÇO ESTÁ ABERTO À CERÂMICA
Recebi
uma carta da ceramista Sônia Costa reclamando da falta de apoio e da
discriminação contra a cerâmica. Diz ela que “ não estou falando das ceramistas
mais abastadas, que têm um oleiro para trabalhar”.
Ela
se refere àqueles ceramistas que lutam contra toda espécie de discriminação em
torno de seu trabalho.
Concordo
com a reclamação de Sônia Costa, ela tem razão. Lembra a artista que ao
organizarem os salões ou exposições esquecem dos ceramistas, e que não há
espaço nas galerias.
Sônia,
esta coluna está aberta à você ou a todo e qualquer ceramista que me procurar.
Não tenha inibição em me telefonar (estou no jornal sempre a partir das 19
horas) que conversaremos sobre o seu trabalho.
Conheço
o processo da cerâmica desde a dificuldade em se conseguir um barro de qualidade,
à necessidade de um bom forno para a queima, e tudo mais. Concordo, dá uma
bonita matéria e estou disposto e elaborar desde que você e seus amigos entrem
em contato comigo.
OSWALDO
PINTA EM CABO FRIO SEM
ESQUECER
A BAHIA QUE LHE ACOLHEU
A BAHIA QUE LHE ACOLHEU
A suavidade é a tônica na obra do sergipano Oswaldo |
Em
1968 chega à Bahia, entrando em contato com outros artistas, participando
ativamente do movimento artístico e cultural da terra. Como nordestino perseverante,
começa a construir seu próprio caminho, evitando atalhos fáceis, com obstinação
e sem recuos, em busca da sua identidade criadora.
A
Bahia, matéria-prima de beleza natural, foi retratada por Oswaldo, num colorido
de sonho e lirismo. As suas manhas são construídas em transparências, com
toques sutis de cores quentes, frias e meios-tons, com esmerado rigor e
equilíbrio nas suas composições.
Como
todo artista, sofre as transmutações da sua realidade existencial, pintando
cristos desvinculados da religião, mas integrados num todo universal. Figuras
humanas, natureza-morta também incluídas em suas criações, mantendo sempre uma
unidade cromática.
Nos
quadros de retirantes, vê-se a dramaticidade pungente, as mãos, os pés
deformados reforçam o sentido expressionista da composição estrutural, sem cair
no apelo panfletário ideológico, mas denunciando uma realidade que deve ser
transformada e que a arte serve como suporte interpretativo desta mancha
social.
Em
1969, é levado ao Rio de Janeiro por Gustavo de Fana. Conhece em seguida Cabo Frio.
A paisagem um toque mágico. A paixão pelo local propicia uma nova fase que transforma
e amadurece sua arte. Inicialmente, ainda mantém-se ligado às influências da
Bahia, mas aos poucos suas marinhas passam a receber delicados foques de
abstrações, sem perder a beleza do seu requinte criador. No seu diálogo com a
natureza fala com sentimento, e nos seus quadros passeando no infinito, como
flocos de sonhos sem destino, criando uma bela linguagem poética.
Integradoem Cabo Frio ,
começa a fundir casas, horizontes, mar e outros elementos, numa estrutura mais
rígida com pinceladas espessas sem perder o equilíbrio expressionista do
produto final.
Integrado
Oswaldo
é um pintor que conseguiu fazer de sua arte uma linguagem amadurecida,
construindo com suas próprias mãos um acúmulo de experiências realizadas com os
instrumentos da sua criatividade . Conforme disse o crítico de Arte Flávio de
Aquino:
“Atualmente,
vendo-se a rota que o artista traçou,
podemos ter certeza de que o que ele fizer sempre o fará após lenta
elaboração. Em arte, Oswaldo é como um artesão consciencioso, um operário
aplicado que coloca, pacientemente, tijolo sobre tijolo até construir uma casa.
È este artesão, em cada obra levantada, em cada tela terminada, acrescenta algo
de seu, de sua criação poética”.
Sua
exposição está aberta permanentemente na Rua Marquês de Monte Santo, 59, AP.204,
no Rio Vermelho. (Jorge Mendes).
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