JORNAL A TARDE SEGUNDA-FEIRA,SALVADOR, 18
DE JANEIRO DE 1988
VAMOS MUDAR O MAM ANTES QUE SEU
ACERVO DESAPAREÇA
ACERVO DESAPAREÇA
A ideia pode até parecer insólita, mas na verdade é uma questão discutida em muitos locais onde se reúnem artistas. Uma prova insofismável é que todos evitam programar exposições para lá e alegam que a primeira dificuldade é o acesso. Aliada ao problema da dificuldade em se chegar lá, vem a segurança, porque suas imediações são locais ocupados por muitos marginais. Ainda existe outra forte razão. Localizado à beira mar, com as ondas batendo numa de suas paredes, o majestoso Solar do Unhão é um local que não serve para funcionamento de um museu de Arte Moderna. A conservação das obras torna-se muito onerosa porque o salitre corrói tudo. E, os nossos secretários de Educação, de Cultura, diretores de departamentos culturais e muitos e muitos órgãos que existem por aí, sustentados com o dinheiro do povo, vivem por trás de suas carteiras envernizadas a cultuar ideologias e inimizades. Enquanto isto, o acervo vai se deteriorando e, ainda por cima, não cumpre o seu papel fundamental de estar á disposição do público
Uma das recentes obras da artista Washington ,Despertando a Sensualidade |
Trata-se
do artista plástico Washington Salles que chama o MAM de cemitério da arte.
Para ele quando a conversa gira em torno do museu as pessoas normalmente dizem
“já fui lá, para não voltar nunca mais!”
O
artista tem algumas sugestões que me parecem válidas. Uma delas, a mais
condizente com a arte contemporânea é a instalação do museu onde hoje funciona
a Prefeitura Municipal, que passaria a ocupar o prédio onde hoje está a
Bahiatursa. Desta forma estaria integrado e funcionando num prédio moderno,
evidente com as devidas adaptações que teriam de ser feitas. Outro local que
Washington Salles lembra é um espaço que existe no Dique do Tororó, porém, acho
que haveria alguma dificuldade de acesso.
Se
o povo não pode ir ao Museu por essas e outras dificuldades apontadas, é hora
dos dirigentes do museu procurar fórmulas
de ir ao povo. Procurar a iniciativa privada e através da Lei Sarney
tentar alguma ajuda financeira para tocar alguns projetos. O que não se pode cruzar
os braços na inércia, e lamentar a falta de verbas.
Para
tanto, lembra o artista que os galeristas da Cidade poderiam programar
exposições do acervo do MAMB até que ele tenha uma sede própria e mais
adequada. Garantimos que galerista como Miriam, da Galeria Época, Jacy, da Galeria O
Cavalete e outros, estariam dispostos a colaborar. O próprio foyer do teatro
Castro Alves também seria uma boa opção.
Muitos
artistas estão dispostos a dar as mãos em busca de uma solução para o problema.
Poderiam até pensar num leilão com obras de artistas; numa comissão que se
reuniria e procuraria o Governador Waldir Pires, para mostrar que a Cidade
carece de um Museu de Arte Moderna ou Contemporânea, enfim, as idéias estão ai,
estamos dispostos a colaborar.
O
que é preciso é aglutinar as reclamações que todos fazem e transformá-las em
ações.
MARCOS BUARQUE EXPÕE DIA 21 NA ARTE NATA GALERIA
Marcos com uma das telas onde vemos a influência de Mabe |
O artista Marcos Buarque trilha os caminhos da geometria e da abstração. Ora está voltado para as formas de cubos, retângulos e losângulos com a predominância de cores fortes as quais imediatamente demonstram toda a pulsação de sua juventude. Uma pintura que pode parecer fácil de fazer para um leigo que examine apressadamente, porém , ao contrário, exige muito equilíbrio e criatividade de quem a executa.
Desta
forma ele vai andando por este cipoal de dificuldades procurando apurar cada
vez mais a sua técnica. São peças que se vão formando, se juntando ouse
entrelaçando como um verdadeiro quebra cabeças de infinitas peças, destes que a
gente ganha quando criança e quase se declara impotente para armá-lo. É
exatamente neste mundo de construção que Marcos gravita quando está trabalhando
com a Geometria. Aliado á sua força
criativa ele tem uma disposição muito forte de continuar batalhando as suas
exposições, procurando patrocinadores para seus catálogos, enfrentando com
dignidade as dificuldades que se antepõem para
qualquer pessoa que inicia um trabalho profissional.
Não
podemos deixar de falar de suas abstrações. Só que ainda o que considero
natural, uma forte influência do mestre nipo-brasileiro Manabu Mabe quando joga
suas manchas na tela branca. Uma influência que tende no futuro afastar-se à
medida que for dominando melhor a técnica tanto do desenho como da mistura das
cores.
A´´i
certamente baterá forte a sua própria individualidade, e isto acontecerá no
futuro que espero não custe a chegar. Marcos Buarque não enxerga e não
apresenta apenas do lado superficial das formas. Ele nos permite a leitura de
coisas que nos parecem familiar. As telas são espaço que não conseguem limitar
seu próprio ato de fazer, aquele ato gestual onde o artista dá evasão ao
sentimento de suas emoções, onde o gesto das mãos sobressai sobre o
racional.Mas, por trás deste gesto, no inconsciente está marcado pela presença
de muitas informações que vem acumulando no decorrer da sua existência. Logo,
concluímos que os gestos emocionais e
espontâneos são carregados de outras contribuições do saber. Vejo um futuro
promissor para Marcos, e como esta coluna é antes de tudo um espaço para os
novos artistas, espero que ele, e outros que começam a trabalhar
profissionalmente recebam o incentivo e a contribuição que estou lhe dedicando
neste momento. Ele expõe dia 21 próximo a 12 de fevereiro na Arte Nata Galeria
de Arte, que fica na Rua Visconde de Itaboraí, 438, Amaralina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário