JORNAL A TARDE, SALVADOR, 14 DE
MARÇO DE 1988
CARAS ANÔNIMAS ESTÃO NA EXPOSIÇÃO
DE JÔ BARRETO
Jô Barreto pintando em seu atelier as Caras anônimas |
Por
outro lado, ela demonstra que seu tema é atual e trata do cotidiano das
pessoas. Diz mesmo que sua arte traz uma preocupação com a ânsia de liberdade.
Recife, ainda, a sua preocupação com o momento político, social e econômico e
existencial do País. “Há uma descrença geral. Uma falta de caras. Com a pintura
pago para ver, pois visualizo a arte como um registro de um instante histórico
de um povo. Pintar é o meu ato de refletir e questionar”.
São
caras anônimas que saem às ruas para mostrar a inquietação, as incertezas que
ora rodeiam a sociedade brasileira.São
nossas caras em plena multidão dos comícios, nas arquibancadas da passarela do
samba ou mesmo nos estádios de futebol. Elas estão onde existem aglomerações e
também entre as quatro paredes de uma sala.São
caras que ora assumem postura de ternura, de revolta, da ansiedade, enfim,
caras que refletem as nossas emoções.
A
LUTA DE UMA BOA CERAMISTA
Forte
e vibrante. Tudo começa com sua ida à Feira de São Joaquim onde compra os
fardos de barro que vem de Aratuípe, os quais são vendidos pelo velho oleiro de
Maragogipinho, Vitorino. Cada fardo custa em torno de CZ$500,00. “Dá para
trabalhar um mês”, diz rapidamente Sônia Costa.
Este barro já pode ser utilizado quase direto da confecção de esculturas.Porém,
quando se trata de peças menores, mais finas, ela tem que lavar e coar para
retirar o excesso de areia.
Suas
esculturas são ocas. É um trabalho muito cuidadoso. Depois de modelar a
escultura num bloco de barro ela corta ao meio com instrumentos especiais e
cava com esteca para que a peça ganhe leveza.
Em
seguida, com a goma que retira do próprio barro, que chama de barbotina,
consegue unir as duas partes da escultura e com uma pequena colher inoxidável
dá a lisura necessária. Diz Sônia Costa que depois de cavada a peça fica com
1,5cm a 2cm de espessura. Sônia revela que o ato de burnir, de alisar a peça,
com uma colher e um ato muito sensitivo. Porém, quando vou esmaltar não preciso
burnir. Leva a peça ao forno onde pode atingir até mil graus. Sônia Costa conta
rindo que muitas vezes o artista não percebe que a peça tem uma bolha de ar e
quando abre o forno a peça está quebrada. “Esta quebra é terrível porque a
gente tem que desmanchar tudo”
Nem
tudo se perde. Ela quebra em pedacinhos e transforma no chamote, que é o
resíduo formado pelo barro cozido que é misturado com o barro novo, dando maior
fortaleza à peça. São segredos e mais segredos que Sônia Costa vai destilando
como um verdadeiro rosário.
CARTOZE
MULHERES REUNIDAS NUMA MOSTRA
Núbia mostra garra e sua arte vem crescendo |
Esta
é a 1ª Expo-Mulher e reúne trabalhos de Betty, Celsina, Cristina Petitinga,
Dirajara, Elys Rosa, Evanilde Pereira, Gote, Haydée Freixá, Inalda Peixoto,
Laninia Gondim, Maria José Cunha, Maria Assunçção, Núbia Cerqueira e Zélia
Couto.
Como
podemos notar são 14 mulheres que variam de nível de conhecimentos. São
mulheres que pintam com temáticas variadas e também que estão trilhando este
tortuoso caminho da profissionalização.
Destaco,
por uma questão de maior convivência e até mesmo afetividade, Núbia Cerqueira,
que trabalha aqui mesmo em A
TARDE , há muitos anos, e que é um exemplo de persistência, de
abnegação. Muitas vezes trabalha varando a madrugada para concluir as suas
obras, porque durante o dia está diagramado as páginas do jornal. Núbia é
exatamente um exemplo que deve ser seguido pelos que iniciam a jornada, porque
tem uma dedicação ferra. Vem melhorando sensivelmente a qualidade técnica dos
seus trabalhos e o colorido está proporcionando composições caprichadas. A
exposição está aberta até o próximo dia 24 e a galeria fica na Avenida
salvador, n.25, Baixa do Bonfim.
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