JORNAL A TARDE, SALVADOR,
SEGUNDA-FEIRA, 02 DE MAIO DE 1988
UM ÍNDIO, UM MULATO E UMA
AMERICANA
DEIXAM SAUDADES
Três
mortes me tocaram de perto.
DEIXAM SAUDADES
Isaías batalhou muito pela vida |
Eram
três pessoas completamente diferenciadas. Isaías Silva, um índio da tribo
Timbira, do Maranhão, Carlo Barbosa, um mulato feirense; Lygia Clark, americana.
Isaías aqui apareceu mostrando uma pintura simples, como foi sua própria vida,
como descendente direto de uma tribo indígena. Traduzia as cores fortes
encontradas na natureza e tinha a cidade de Fortaleza como sua base. De lá
andava pelo Norte e Nordeste mostrando seus trabalhos onde a flora e a fauna
tropical explodiam em suas cores cruas. Era simples no falar, manso, gentil e
na tez revelava a sua descendência. Fui surpreendido com sua morte através de
um pequeno telegrama, de pouco mais de dez linhas, onde a agência de noticias
informava que Isaías morreu de AIDS. Era casado com uma artista cearense e não
tive noticias durante sua existência que fosse homossexual. Recentemente fiz
uma apresentação, que foi solicitada por ele do Ceará, a qual enviei através
dos Correios. E, só agora recebo noticias do Isaías, quando não estava mais
aqui.
O artista Carlo Barbosa que morreu de Aids |
Lygia
Clark marcou sua existência pela ousadia. Era uma artista de ponta, de sair na
frente com suas formas que deixavam qualquer espectador inquieto. Sua vida ela
definia como um processo de continua reconstrução. Em 1963 chegou a abandonar a
carreira.Com Hélio Oiticica fez grandes manifestações que hoje fazem parte da
história da arte brasileira. Isto aconteceu quando ela retornou de Paris e aqui
encontrou um grupo Frente, que tinha partido dos problemas de geometria e da
matemática, provenientes da obra de Max Bill. Começou, como uma forma de expressão muito geométrica- aliás, as formas
geométricas são uma marca presente na maioria da sua produção.
O corpo também sempre motivou a sua arte como como ela acreditasse que a arte precisava de um mote vivo para que fosse compreendida. Sempre havia algum relacionamento de sua obra com as pessoas. Tanto nos trabalhos onde utilizou a terapêutica, como em outros onde os volumes eram desfeitos ao bel prazer do espectador.
Lygia Clark deixa legado |
O corpo também sempre motivou a sua arte como como ela acreditasse que a arte precisava de um mote vivo para que fosse compreendida. Sempre havia algum relacionamento de sua obra com as pessoas. Tanto nos trabalhos onde utilizou a terapêutica, como em outros onde os volumes eram desfeitos ao bel prazer do espectador.
Ela
declarou em 1980 que gostava de fazer um filme que teria este título. As coisas
que acabaram, mas que continuam existindo, e colocaria neste filme os museus,
as igrejas e os divãs dos psicanalistas. O certo é que esta visão de Lygia
parece se enquadrar com os nossos museus que já morreram e não sabem
especialmente os baianos.
A
ARQUITETURA FANTÁSTICA DE GAUDI
SERÁ APRESENTADA AQUI
SERÁ APRESENTADA AQUI
Sagrada Família, Porta Del Rosário |
Demonstrou
total desinteresse pela tradição arquitetônica de sua época em obras como a
Casa de Mila, de Barcelona, e, sem dúvida, é um dos inovadores da arquitetura
do século. Sua obra- prima e o celebre Templo Expiatório da Sagrada Família, em
Barcelona (1883-1926), Gaudi morreu em 1926 deixando a posteridade obras que
inquietam estudiosos e principalmente os arquitetos.
Aqui vemos a grandiosidade de sua arquitetura |
Alguns
criticam as suas obras pelo antifuncionalismo, porém, ultimamente vem
despertando grande interesse pelo clima fantástico de torres que assemelham-se
a grandes árvores petrificadas antecipando-se aos grandes arranha-céus, que
mais parecem, quando alinhados, florestas de concreto armado.
Para
nossa alegria o governo espanhol fará uma grande exposição da obra de Gaudi na
Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia em junho próximo,
quando teremos oportunidade de conhecer melhor a sua importância como
arquiteto. Sabemos que a arquitetura sempre muda seus objetivos de acordo com a
própria evolução do homem.
Desenho do arquiteto feito por Opisso |
No
Egito se prestou para perpetuar a imortalidade dos faraós em Roma para mostrar
a grandeza do Império, na Idade Média a aproximação do Reino de Deus, já os
barrocos exaltavam a monarquia. Nas democracias os arquitetos buscam assegurar
melhores condições de vida. Com isto, surgem discussões ideológicas como a
existente a respeito da arquitetura de Oscar Niemeyer que alguns classificam de
monumental, sem uma preocupação com o homem, que deve ser seu objetivo básico.
Discussões à parte, o que importa é que a arquitetura de Gaudi se aproxima da
natureza, que sempre foi o centro de inspiração dos arquitetos no decorrer dos
séculos. A geometria com suas formas essenciais como o círculo, linha reta,
cubos, planos, triângulos e retângulos são utilizados pelos arquitetos para
suas concepções. Só que Gaudi se aproximou mais ainda da natureza produzindo
trabalhos que hoje causam espanto com formas mais complexas. Cronologicamente
ele estaria no tempo dos estilos ecléticos, como a da art nouveau, porém sua
personalidade original volta-se para um estilo pessoal e invulgar.
Do
grande livro da natureza extraiu os modelos da geometria, deixando as formas
essenciais que tanto são utilizadas pelos seus colegas arquitetos para adotar
formas mais ousadas. Os animais e vegetais são utilizados para ornamentar os
seus prédios.
Ele
estudou alguns anos na Escola de Arquitetura de Barcelona, exatamente de 1870 a 1878, inspirando-se
inicialmente na arquitetura espanhola, mas logo depois abandonou e criou novas
formas. Precisamente no Templo da Sagrada Família pode mostrar sua
personalidade destoante e seus cálculos empíricos que levaram a utilizar
colunas inclinadas, arcos parabólicos e outros elementos hiberboloides. O Parque
Guel, que construiu de 1900 a
1914 é uma obra importante, mas a que lhe absorveu foi a da Sagrada Família,
que não chegou a concluir.
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