JORNAL A TARDE, SALVADOR, 27 DE JULHO DE 1981
BRASILEIROS INFLUENCIAM
ARQUITETURA DA NIGÉRIA
Na tentativa de mostrar a influência brasileira na arquitetura nigeriana, amanhã, ás 17:00h, no andar térreo da antiga Faculdade de Medicina, no Terreiro de Jesus, o Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBa., abre a exposição de fotografias Da Senzala ao Sobrado, arquitetura brasileira na Nigéria e na República Popular do Benim.
A
mostra consta de trinta e seis fotografias do etnólogo francês Pierre Verger,
medindo 1m de altura por 1,20 de largura enfocando as diversas influências da
arte arquitetônica brasileira em construções nigerianas em termos de
arquitetura religiosa ou sacra, fúnebre e residencial.
Com
relação a arquitetura religiosa as fotos mostram igrejas católicas com
construções e acabamentos tipicamente luso-brasileiros.
A
construção fúnebre apresenta imensos mausoléus trabalhados pertencentes a
famílias nigerianas de descendência brasileira e a residência, inúmeros
sobrados com varandas que atestam a riqueza e o poderio das famílias
afro-brasileiras.
O
material é parte integrante de um conjunto amplo de documentos coletados na
Nigéria e na República Popular do Benim durante dois anos de pesquisas. Tal
material servirá de base para estudos sobre a contribuição afro-cultural dos
ex-escravos afro-brasileiros que, voltando á terra ancestral introduziram
elementos da cultura brasileiras que lá se arraigaram a religião e a culinária
baiana, danças dramáticos (O Bumba meu Boi e o Cavalo Marinho), e a arquitetura
colonial. É nesta última que se concentra a exposição, documentando a
implantação e a expansão da arquitetura brasileira na África Ocidental assim
como as comunidades em quase originou.
As
fotografias de grupos foram reproduzidas das coleções das famílias Anthonio, de
Oshogbô, da Rocha Thomas, Mendes e Martins de Lagos, Fragoso-Alakija e Suberu
de Idadan, bem como dos arquivos da Societé des Missions Africanes (SMA) de
Roma, graças à colaboração do PE. N. Douau. As fotos de arquitetura são de
Pierre Verger, do Centre National de La Recherche Scientifique, atualmente
professor visitante na Universidade de Ifé que, com elas, colaborou na pesquisa
de Marianno Carneiro da Cunha, do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP e
Manuela Carneiro da Cunha, do Conjunto de Antropologia da Unicamp.
Desta
exposição realizada aos noventa anos da abolição da escravidão no Brasil,
participam o Museu de Arqueologia e Etnologia da USP através da pesquisa
realizada, a Divisão de Preservação do Departamento do Patrimônio Histórico, na
sua organização e montagem e o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand,
cedendo o local para a sua apresentação.
COMUNIDADES
BRASILEIRAS
Do
começo do século XIX, após as revoltas as Bahia, e até o fim do século XIX
deu-se um movimento de retorno de escravos libertos, africanos ou nascidos no
Brasil, para terras da África Ocidental. Os de origem yorubá ou nagô, fon e
gêgêmahi voltaram para as regiões que hoje constituem a Nigéria Ocidental e a
República Popular do Benim (ex-Daomé). Estabeleceram-se principalmente nas
cidades costeiras onde se localizavam os entrepostos comerciais europeus e aí
formaram comunidades de artesãos e de comerciantes. Já nas gerações seguintes
constituíam-se na primeira burguesia africana da África Ocidental.
Como
comerciantes, esses brasileiros tentavam se apropriar do papel de
intermediários com os mercados interioranos.Mantiveram
também até o fim do século XIX, fortes laços comerciais com a Bahia. Importavam
desde a carne seca e aguardente até móveis e carruagens do Brasil, e exportavam
para a Bahia quantidades consideráveis de panos da costa, nozes de Kola, palha
e sabão da costa.
Enquanto
artesãos, levaram para a África Ocidental suas habilidades de carpinteiros,
marceneiros, alfaiates, pedreiros e construtores.
Assim
surgiram em Lagos, Uidá, Badagry e Ágüe bairros inteiros cuja arquitetura se
inspirava diretamente da colonial brasileira. Como no Brasil, os sobrados
atestavam a fortuna de seus proprietários.
SUCESSO
Hoje
a chamada arquitetura brasileira predomina em toda a região yorubá do sudoeste
da Nigéria, da República Popular do Benim e do Togo. Essa extraordinária
expansão, que se iniciou no último quartel do século XIX,não se deveu apenas ao
prestígio que essas casas conferiam a seus donos, enquanto símbolos de ocidentalização:
por uma feliz convergência, o espaço da casa colonial de plano simétrico foi
funcional para a conservação da organização social yorubá.
Esta
se fundava em famílias poligâmicas, onde as várias esposas do chefe de família,
seus filhos e suas noras cooperavam. Dipunham-se especialmente em unidades
residenciais distribuídas em torno de um pátio, em torno do qual corria uma
varanda, e que era o foco privilegiado da vida e do lazer comunitários. Esse
udo do espaço perdurou na casa brasileira, através da valorização do corredor
central, que passou a fazer as vezes a arquitetura brasileira se tenha colocado
como uma etapa do próprio processo arquitetônico yorubá, ao qual veio prestar
forma.
A
PLASTICIDADE SENSUAL NA CRIAÇÃO DE DICINHO
Dicinho é um criador de visual que agrada olhos e espíritos, além de despertar as pessoas para a sensualidade.
Nesta
sua segunda exposição em Salvador, são 25 quadros que mostram uma plasticidade
com máscaras de mulheres, um cangaceiro e um astronauta, mais uma variedade de
elementos inspirados em evidências da atualidade.
Não
é sem razão que o título desta sua mostra é Namorados, Amantes, Amigos: a
sensualidade das cores fica claro no trabalho de Dicinho, que passou muito
tempo pesquisando a possibilidade de transformar o amarelo na cor de fundo
predominante em quase todos os 25 quadros.
O
artista esclarece: Trata-se de uma coleção fragmentada, ligada a acontecimentos
do mundo, como voar em Asa
Delta , por exemplo. A plasticidade do surf e do Wind Surf,
dos patins e do próprio corpo nu das pessoas. Tudo isto induziu Dicinho a fazer
de sua pintura uma coisa sensual.
A
técnica de Dicinho é a peneira substituindo o areógrafo e envolvendo um treino
que já dura seis anos, cujos efeitos proporcionam uma diversidade de visual que
cerca, em figurativo e abstrato, o mineirismo, o dengo e a cor de praia, faz
questão de observar o artista, que veio de Jequié, morou seis anos em São Paulo , onde fez
cinco exposições, mas gosta de viver na Bahia.
Casou
com Soninha, modelo fotográfico e professora de inglês, sua companheira que,
lhe de um casal de filhos, Du e Carolina.
Simultaneamente
à técnica antiga de peneirar as tintas, desenvolve algumas técnicas com
bico-de-pena, spray, além de desenhar com a técnica de jato e pintar com tinta
acrílica sobre acetato. Sua intenção é passar com a sua pintura, todas as
coisas ligadas ao prazer, porque tem plasticidade sensual e cativante, com esta
exposição que fica até o próximo dia 5, junto com as araras, no hall central do
Hotel Meridien, Dicinho espera estar possibilitando um voo visual de Asa Delta
como sensação primeira para o público. É ele quem arremata, falando da visão do
artista diante do seu trabalho: "A
feminilidade impera junto a masculinidade do sol, do cangaceiro e do
astronauta."Vejam
que vale a pena. As formas alongadas das personagens de seus quadros lembram
Modiglianni.
COLETIVA-
A Galeria Le Dome está com uma coletiva reunindo obras de Célia Maria Guimarães
da Silva, Fransouder, José Francisco Pinheiro e Juraci Grisi. São cerca de
trinta trabalhos, sendo que é a primeira vez que Célia Maria expõe.
MÁVIS-
Há seis anos residindo em Salvador a
jovem Mávis Dill Kaipper realiza sua primeira individual na Galeria do Praiamar
Hotel. Ela expõe 20 trabalhos e está disposta a continuar pintando, tendo
inclusive abandonado um emprego para dedicar-se em tempo integral. A
apresentação é do professor Carlos Eduardo da Rocha que afirma entre outras
coisas que foi das que mais se destacava e muito cedo se afirmou como artista
de apreciáveis recursos e criatividade.
LICURGO -
Costumes e manifestações do povo brasileiro, especialmente negro, é o enfoque
central da exposição de 25 trabalhos em óleo sobre tela que Licurgo está
apresentando em
Brasília Eucatextpo. Atualmente ele está
preocupado com as manifestações populares. Retrato o povo sofrido do Nordeste,
essa gente mais discriminada de todo o país.
Descrevo
o menino sofrido e catador de detritos que pode virar um marginal (foto).
LEO
KOCINAS- São Paulo Sociedade Anônima é o nome da exposição de fotografias que
Leo Kocinas apresentará no Museu da Imagem e do Som até 23 de agosto. Natural
de São Paulo e com 22 anos, Léo é um fotógrafo independente e membro da atual
diretoria da União dos Fotógrafos do estado de São Paulo. Ele interrompeu os
estudos do curso de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas no
terceiro ano para se dedicar a fotografia.
CLUBE
COMERCIAL- No próximo dia 21 de agosto será realizada a primeira exposição de
artes promovida pelo Clube Comercial em sua sede na Avenida Sete de Setembro.
Segundo seu presidente Theodomiro Baptista Filho, está sendo programado um
atraente espetáculo artístico na data da abertura da mostra, que contará com
trabalhos em porcelana, óleo, tapeçaria criados pelos sócios e amigos do clube.
Nenhum comentário:
Postar um comentário