A arte reflete a sociedade e se a sociedade está em crise sua arte também
entra neste processo. Se fizermos um exame da arte pré-colombiana, da arte
renascentista e assim por diante chegaremos a arte contemporânea com expressões
abstratas, cibernéticas e eletrônicas. Daí, não concordar com algumas idéias
de acerbados e descontentes críticos de
arte do Sul do País de que a Bienal deve acabar, por que não tem mais
significado. Esta postura mostra apenas opiniões apaixonadas que não suportam
uma análise mais profunda. São trinta anos de Bienal e só assim tivemos
oportunidade de conhecer obras e artistas contemporâneos dos mais longínquos
países e avaliar a nossa arte através deste caleidoscópio da arte universal.
Muitos
gostam de aparecer criticando por criticar. Acho que a Bienal é polêmica e
indispensável. Polêmica porque suscita
controvérsias toda vez que o homem inova e no campo da criação a presença do
subjetivo fortalece as discussões, que a meu ver devem existir e se esgotar
para daí aparecerem as soluções, no caso, plásticas ou mesmo administrativas
que venham enriquecer mais ainda futuras bienais.
A
Bienal é indispensável e nenhuma outra manifestação plástica da América Latina
é tão reconhecida no mundo como a Bienal de São Paulo.
Erros
existem, muitos já corrigidos e outros continuam como disse recentemente Ivo
Zanini num artigo. Sei que existem obras selecionadas e indicadas de qualidades
duvidosas e algumas ausências inconcebíveis. Mas tudo isto não representa um
somatório que venha determinar a extinção da promoção. Lembro quando estive na
última Bienal do número significativo de jovens, de estudantes que em grupo
tinham reações as mais diversas em frente a obras de vanguarda. Aquilo que exteriormente
parecia uma brincadeira de adolescente, com suas reações espontâneas, te por
outro lado papel importantíssimo, porque sempre nas suas consciências ficou a
mensagem da inovação e da criação. São Imagens inesquecíveis e que podem
determinar ás vezes até inconscientemente novos criadores. É grande o papel
educacional de uma mostra tão significativa com esta. Ainda não visitei esta
bienal, mas pretendo visitá-la nesta primeira quinzena e tenho lido tudo que
tem sido publicado nos jornais do Sul do país sobre a promoção.
Continuo
defendendo a sua existência como única de forma de nós brasileiros,
principalmente aqueles que não dispõem de condições de girar em torno da Europa
e outros continentes para ver a arte produzida nestas paragens e é exatamente
neste momento, na concretização de uma Bienal que isto é possível. São trinta
países que estão participando e vejam que este ano a arte dos loucos mereceu um
espaço surpreendente e foi batizada de Arte Incomum ou seja, aquela arte que
não pode ser enquadrada em nenhuma das correntes conhecidas. Esta arte emanada
do inconsciente dos que tem distúrbios mentais demonstra uma riqueza
extraordinária e a sensibilidade de quem as realiza. Vamos lutar para que a
Bienal seja cada ano mais fortalecida para que possamos continuar, e da melhor
forma, usufruindo desta panorâmica da arte universal que acontece em São Paulo. E que os trinta anos
de trabalhos dos vários organizadores da Bienal sejam somados a outros tantos e
que cada vez mais sejam engajados, artistas, países e outras pessoas que
militam neste campo. Chega de críticos pueris contra a Bienal, que é a maior
manifestação no campo das artes plásticas na América latina.
O
HIPER-REALISMO DE FERJÓ SERÁ EXPOSTO
EM DEZEMBRO
EM DEZEMBRO
Uma das telas que será exposta por Ferjó na Tereza Galeria de Arte |
Depois
de sete anos nos Estados Unidos está em Salvador o artista Fernando Oliveira,
Ferjó. Aqui trabalhou fazendo retratos e telas com a temática casario. Porém, o
Ferjó que retorna é outro completamente diferente daquele de sete anos atrás.
Agora, com um trabalho de alta qualidade, fruto de estudos na Universidade de
Filadélfia e de um trabalho exaustivo Ferjó é um hiper-realista, que não deve
nada aos grandes e famosos hiper-realistas. São tão perfeitas as suas obras que
se aproximam da fotografia e quando fotografadas dão uma ideia do real.
Chegou
e já tem uma exposição programada em comemoração ao quarto aniversário da
Tereza Galeria de Arte, no Largo da Mariquita, em 1.º de dezembro próximo. Será
uma exposição com grandes painéis pintados pelo artista nos Estados Unidos. É
bom salientar que lá, ele foi um dos primeiros classificados durante os cursos
que fez na Escola de Belas-Artes, da Filadélfia, Fernando conta que sua ida aos
Estados Unidos deu-se por acaso. Trabalhava na secretaria do Planejamento e
precisava comprar um relógio de pulso e foi apresentado ao proprietário da
joalheria que terminou conhecendo os seus quadros e comprou alguns sobre a
temática Pelourinho. É o dono da Rival Jóias, com o qual fez uma grande amizade,
inclusive passou a pintar retratos de boa parte da família do comerciante e
este terminou por apresentar-lhe a José Vaz Espinheira que era o presidente da
Aliança das Cidades de Salvador e Filadélfia.
Este
perguntou-lhe se gostaria de estudar nos Estados Unidos. Não acreditou na
possibilidade, mas respondeu que sim e meses depois voava para o Estado da
Pensilvânia. Estudou quatro anos na Escola de Belas-Artes e tornou-se conhecido
e respeitado como pintor, ficando mais Três anos. Devido a problemas familiares
retorna a Salvador e aqui pretende fixar residência, porém, sem abandonar os
Estados Unidos,onde realmente desenvolveu a sua arte. " Estou lutando para ficar
na Bahia e aqui pretendo ter oportunidade de mostrar a minha arte. Caso não
consiga me estabelecer terei que retornar aos Estados Unidos, onde já tenho um
público certo que conhece o meu trabalho. Mas esta segunda hipótese, espero que
não vire realidade."
MOBILIÁRIO
CONTEMPORÂNEO TEM EXPOSIÇÃO DO MAMB
Adriana Adam e sua cadeira adaptável |
A
exposição conta ainda com cinco moviolas onde serão apresentados os depoimentos
e desenhos de arquitetos, artistas plásticos e intelectuais representativos de
nossa época como Oscar Niemayer, Sérgio Bernardes, Décio Pignatari, Lina Bardi,
Sérgio Rodrigues, Pietro Maria Bardi, Alexandre Woliner, Samuel Szpiegel, entre
outros como Mário Cravo e Caetano Veloso. Consta ainda a apresentação de um filme
sobre Le Corbusier.
Entre
os brasileiros que desenharam os móveis desta mostra encontra-se Adriana Adam
que trabalhou três anos seguidos pesquisando o comportamento do brasileiro
sentado juntamente com médicos e outros especialistas em busca do desenho de
uma cadeira adaptável a várias formas de sentar.
Portanto,
Adriana conseguiu concretizar a sua proposta, e, amanhã, estará expondo entre
os grandes mestres da Bauhaus. Além deste design Adriana tem uma linha de
móveis executivos e dois projetos revolucionários de residências onde explora a
madeira em toda a sua grandiosidade.
Embora
pareça para os apressados uma exposição comercial, pela presença de uma
indústria de móveis na promoção, a mostra é muito didática e representativa.
Temos que aplaudir as empresas que incentivam as artes, pois os artistas estão
necessitando o apoio dos empresários para que levem avante seus projetos.
Defendo que as manifestações de arte não devem esperar apoio apenas do poder
público e que o empresariado tem responsabilidade para com elas, além disto o
governo dá uma série de incentivos a todos aqueles que investem em arte, como
por exemplo, abatimento no Imposto de Renda.
Por
outro lado, não podemos esquecer que desde os primórdios que o mobiliário tem
presença marcante, na vida dos homens, na moradia, nos templos ou nos locais
públicos. Sentar e deitar são necessidades básicas e inerentes ao próprio
organismo do homem.
LEILÃO
DE GASPARETTO- No próximo dia 6 haverá um leilão de obras do médium Luís
Antonio Gasparetto no salão do Clube Espanhol. Serão leiloadas telas pintadas
por Gasparetto sob a influência de Degar, Modigliani, Van Gogg, Lautrec, Da
Vinci, Tissout, Picasso, Portinari e muito outros. O leilão será dirigido por
Orlando Pereira em benefício da Associação Mensageira do Amor Cristão, a qual
mantém 140 criancinhas abandonadas.
JURANDY
E OS ORIXÁS- Desde o curso primário que Jurandy Paulo Carvalho gosta de
desenhar, porém, somente aos 19 anos resolveu partir para divulgar o culto
afro-brasileiro através de sua visão plástica. Em vários terreiros de candomblé
de Salvador encontramos nas paredes os Orixás pintados por Jurandy entre os
quais o Gêge Dahomé Imburacy (Valéria), no terreiro de Ogum (Lauro de Freitas)
no terreiro Boiadeiro (Cidade Nova) no llê Axé Yá-Onim (Uruguai) e em muitos
outros.
Seu
objetivo é criar o Grupo Afro-Orixás Arte Negra-Stúdio.
NORMA
E GLÁUCIA- As artistas Norma Badaró e Gláucia Lemos estão expondo até 14 do
corrente na Galeria do Hotel Meridien.
Norma
revela que sua arte é carregada de emoção, deixando que os fragmentos do seu
interior aflorem espontaneamente. Dentro desta sua verdade transpõe seus
momentos conscientes e inconscientes.
SALÃO
PARANAENSE- O 38º Salão Paranaense tem abertura marcada para o próximo 20 do
corrente na Sala de Exposições do Teatro Guairá, em Curitiba, reunindo artistas
de todo o país. A comissão julgadora é composta de Arcângelo Lanelli (SP), Vera
Chaves Barcellos (RS), Elmer Barbosa (RJ), Eduardo Rocha Virmond(PR) e Aurélio
Benitez (PR).
CAMILO
E NOÉLIA- Os artistas Camilo S. Neto e Noélia de Paula expõem até o dia 24 no
Museu de Arte Moderna da Bahia.
Camilo
é paulista e trabalhou durante vários anos, como cineasta. EM 1976
transferiu-se para a Bahia e fixou residência em Ilhéus onde desenvolveu o seu
Studio de gravura e pintura.
Agora
expõe suas gravuras em metal juntamente com Noélia de Paula, que é baiana e
expõe desde 1968.
INSCRIÇÕES
DE PAUTA- A Funarte comunica que estão abertas as inscrições aos caricaturistas
e desenhistas de humor que desejam expor seus trabalhos, em 82, na Galeria Nair
de Teffé.
As
inscrições podem ser feitas no Escritório Funarte/Brasília, até o dia 30 de
janeiro de 82.
Poderão
inscrever-se artistas novos, de qualquer parte do país, mesmo que não tenham
realizado nenhuma exposição anterior.
A
inscrição será feita em carta dirigida à Funarte Brasília, contendo: a
indicação da época de preferência do artista para a exposição; pequeno texto
explicativo do trabalho. Alguns dados curriculares e fotos de trabalhos do
artista.
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