JORNAL A TARDE,SALVADOR, 10 DE AGOSTO DE 1981
I ENCONTRO DE ARTISTAS PLÁSTICOS
DO NORDESTE
Estão
abertas no Museu de Arte Moderna da Bahia, Solar do Unhão, as inscrições para o
I Encontro de Artistas Plásticos do Nordeste; que se realiza de 25 a 27 deste, no MAMB. O
Encontro tem como objetivo discutir as principais questões das Artes Visuais e
a integração entre os artistas do Nordeste.
Estarão
participando do evento artistas de toda a região, além dos delegados do MEC em
cada estado e diretores de projetos da Funarte, ligados às Artes Plásticas.
O
tema básico do encontro é a problemática da Centralização e Descentralização do Mercado da Arte, uma visão crítica do sistema de produção, distribuição e
circulação da arte no Brasil.
Além
desse serão discutidos mais dois outros temas:
Estratégias
para viabilização de novas manifestações artísticas, onde serão propostos
vários subtemas, e o problema da Categoria do Ensino das Artes Plásticas no
Nordeste. Esses dois temas deverão ser enriquecidos com subtemas provenientes
das sugestões que cada estado apresentará. Para um melhor enriquecimento dos
debates, todos os participantes poderão
contribuir com sugestões, o que deverá ser feito juntamente com as inscrições.
As
pessoas interessadas, nos assuntos e problemáticas que envolvem as Artes
Plásticas, estão convidadas a participar do encontro. Para isso deverão
dirigir-se ao Museu de Arte Moderna, que fica situado na Avenida do Contorno
s/n, no Solar do Unhão, no horário das 9 às 12 e das 14h30min às 17.
SÉRGIO
RABINOVITZ FOI PREMIADO EM CURITIBA
Sérgio numa foto de Mário Cravo Neto em seu atelier |
Vindo
de duas exposições com bastante sucesso de crítica e público, Museu de Arte do
Estado da Bahia/1980 e Galeria Paulo Figueiredo/1981, São Paulo, Sérgio iniciou
a sua criação autodidaticamente em gravura, estimulado pelo gravador Calasans
Neto. Nos primeiros anos da década de setenta passou a trabalhar no atelier do
escultor Mário Cravo Jr., fazendo uso de equipamentos ali existentes para a
prática da gravura.
Durante
este período, veio a desenvolver um extenso material em xilogravura, que
conseguem despertar grande interesse local e vem a lhe valer a nomeação para
uma bolsa de estudos em arte, nos Estados Unidos, patrocinada pelo Instituto
Internacional de Educação de Educação e Comissão Fulbight.
Desta
viagem para os Estados Unidos em 1975, estuda na Universidade de Wesleyan, em
Connecticut, e na Cooper Union Art School de Nova Iorque, onde gradua-se
bacharel em Artes Plásticas.
Sua residência, em Nova Iorque , vai até 1979, mantendo intensa
atividade criativa e profissional, além de prosseguir suas pesquisas nas mais
diversas maneiras de gravura, desenvolvendo extensamente seu vocabulário
gestual em desenho e pintura, o que desde então constituem-se os seus
principais meios de expressão.
UMA
CARTA DE PRINCÍPIOS EM FAVOR DA CULTURA
DA BAHIA
DA BAHIA
Recebi
nova correspondência de Célia Martins de Azevedo dando conta de sua luta pela
arte baiana. Fico contente em saber que outras pessoas começam a incentivá-la
para que continue trabalhando e ela me envia a carta de princípios em favor da
cultura baiana, a qual transcrevo na íntegra para que as pessoas envolvidas com
a problemática da arte, em nossa terra, discutam e analisem esta carta que pode
ser um ponto de partida para outras discussões. É preciso apoiar a Célia para
que possamos discutir abertamente todas as manifestações que estão em nossa
volta para que consigamos um resultado que engrandeça a nossa arte. Eis o
documento:
CARTA
DE PRINCÍPIOS EM FAVOR DA CULTURA
BAIANA
(Destinada à todos aqueles que de algum modo participam do processo cultural em nosso
meio)
PRESSUPOSTOS
TEÓRICOS
1- A cultura, conjunto de bens culturais de um país,
expressão de toda uma sociedade, deverá estar voltada para o estímulo da
comunidade e para a incorporação da diversidade regional do país, e como tal,
para a Cultura enquanto vivência e não como instrumento de estocagem de
conhecimento (interação Arte e Comunidade).
2-
Por serem todos
componentes sociais participantes da Cultura, esta deveria alcançar toda a
realidade brasileira, contribuindo para evitar a defasagem da informação que
mal-distribuída, desinforma a realidade assim como a cristalização dos círculos
viciosos e os desníveis regionais, as chamadas ilhas culturais. (Estudos quanto
a evolução futura das atividades artísticas nas regiões que não são núcleos de
concentração espontânea).
3-
Que o estado
possibilite condições para que a Cultura se desenvolva fomentando seu
desenvolvimento sem que a aplicação desses recursos geram paternalismo ou
dirigismo cultural, pois a Cultura, sinônimo de liberdade, a ela deverá ser reconhecida a autonomia do
fenômeno cultural já que sendo anterior ao estado é o elemento formador de nacionalidade.
ANÁLISE
DA REALIDADE
1- Dois aspectos devem ser preliminarmente focalizados
e levados em consideração, a estrutura social do país, isto é, sua estrutura
sócio-econômica e que a sociedade se articula em formas regionais extremamente
diferenciadas. A partir de uma estrutura global, nacional e local, a arte brasileira
demonstra na capacidade de consumir sem digerir, estruturas tecnológicas
inteiras. A causa: uma industrialização importada e não planificada, uma arte
que adotara as sequências bastardas legadas pelos grandes centros
civilizatórios em escandaloso anacronismo com a realidade vigente, um design
indiferente a cristalização dos círculos viciosos de nossa economia e uma
crítica que vive a perplexidade da dualidade do desafio e recusa do julgamento
estético além de uma vanguarda institucionalizada como academia e seus artistas
aburguesados mesmo por que, consumidos pelo Mercado de Arte.
2-
Uma informação visual
defasada em relação ao que se processa em outros Estados ,
fragmentação da pesquisa, o isolamento do artista em relação aos seus colegas.
3-
A inexistência, na
Bahia, de documentação relacionada com a Arte Brasileira Pós-Moderna (não
catalogada) que venha satisfazer aos anseios dos artistas, historiadores e as
pesquisas de estudiosos pois o acervo que temos limita-se apenas a jornais e
catálogos além da defasagem dos próprios currículos e publicações sobre arte
com a realidade nacional.
4-
Relacionamento
povo/cultura. Democratização e interiorização do fato cultural.
PROPOSIÇÕES
1- Um diálogo maior entre Poder Constituído e a
comunidade cultural.
2-
Quanto as áreas, que
estas sejam selecionadas e definidas gradativamente principalmente aquelas de
concentração espontânea mas que encontram-se desativadas na área experimental
(reorganização do espaço estadual situando- a partir de uma coesão com ás áreas
de produção artística de tendência centralizadora.
3-
Canais de
comunicações alternativos. Estímulo de novos meios expressionais com o objetivo
de um maior aprofundamento dos valores culturais de cada região.
4-
Planejamento
integrado do seu desenvolvimento, definição das linhas de ação específica para
cada caso e os objetivos programáticos cujas diretrizes serão analisadas em
relação á obra segundo os valores éticos, políticos, econômicos e sociais
(segundo a cultura estudada), consolidados por outros programas de apoio.
5-
É essa conjuntura que
vai marcar e definir a linha de ação, os objetivos programáticos
consubstanciados nas seguintes diretrizes: seleção das áreas representativas
da arte brasileira de produção sistemática e estratégia de desenvolvimento
social no sentido de fomentar uma filosofia de transformação social (pedagogia
da criatividade). Ação específica em função da possibilidade de seu
desenvolvimento.
RAÍZES-
A Época Galeria de Arte, Rua João Gomes 246, Rio Vermelho e o marchand Luiz
Caetano Queiroz vão homenagear o grupo Raízes que teve, enquanto viveu, a
liderança de Heitor dos Prazeres, com uma exposição no dia 13 do corrente
naquela galeria.
Trata-se,
na verdade, de uma homenagem a uma das mais autênticas figuras da música
popular brasileira e da pintura primitiva, Heitor dos Prazeres, ressaltando por
esse modo sua valorosa contribuição à cultura popular do nosso país.
Além
de 12 quadros inéditos do artista, que nunca foram mostrados ao público, por
pertencerem ao acervo da família, a mostra inclui ainda obras dos integrantes
do Grupo Raízes, Heitor dos Prazeres Filho, Roberto Oswaldo, Vidal e
Gildemberg, que apesar do nome é um baiano de Itabuna há tempos radicado no
Rio.
DEODATO-
O Cavalete Galeria de Arte do Clube Bahiano de Tênis está promovendo até o dia
17 do corrente a exposição de esculturas sacras e vitrais do artista Deodato.
DIPLOMATA E PINTOR- O embaixador da Áustria na Argentina, Gerhard Gmoser, apresentou, recentemente,
CARLÍNIO-
De 14 a
27/8/81, o jovem artista baiano Carlínio estará expondo na Eucatexpo Galeria de
Arte (Av. Sete de Setembro, 285- Edf. Sândalo,Campo Grande), apresentando ao
público a sua Coleção Pindorama, fruto de mais de seis meses de pesquisas sobre
os primórdios da civilização brasileira, suas gentes, suas crenças, suas
lendas, seus símbolos, agora trazidos ao público através da visão e do
sentimento estético de Carlínio.
A
Coleção Pindorama é composta de trinta trabalhos em técnica-mista (pastel-seco-nanquim-vernizes)
e traz na sua forma imagens gráficas dos símbolos ligados ás origens da
civilização brasileira e latino-americana, com o enriquecimento lírico de pássaros
nativos, geralmente tucanos, araras e papagaios, numa alusão forte ao elemento
vivo, vibrante e excessivamente colorido da fauna brasileira, o que pode ser um
sinal de alerta que Carlínio dá, em defesa dos verdadeiros valores culturais da
gente brasileira.
Coleção
Pindorama, e no dizer do marchand Eduardo José Souza Evangelista (que faz a
apresentação de Carlínio ao público) uma visão critica do mundo, sobretudo da
latino-americanidade.
Tem
uma mensagem artística que transcende o Brasil,porque impregnada de uma
linguagem universal, mas com o toque de singularidade de Carlínio, que
apresenta, nesta primeira individual, um
trabalho amadurecido, tecnicamente perfeito e esteticamente agradável.
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