JORNAL A TARDE,SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 31 DE OUTUBRO DE 1988
SALÃO UNIVERSITÁRIO DIVULGA NOMES
DOS
ARTISTAS PREMIADOS
ARTISTAS PREMIADOS
A Comissão Julgadora examinas trabalhos inscritos por uma centena de artistas de várias tendências |
Detectou
os diversos caminhos e linguagens da arte produzida pelos estudantes e procurou
mediante um criterioso processo de seleção e premiação exemplificar com o que
considerou de mais significativo entre as obras inscritas. Para tanto levou em
consideração a técnica, o sentido de contemporaneidade e a criatividade. Foram
examinadas um total de 281 obras de 109 artistas universitários.
Notou
ainda a má qualidade das esculturas apresentadas, sendo que nenhuma delas foi
selecionada para participar do Salão e a sua grande maioria tem uma técnica má
desenvolvida e total falta de criatividade. Eram, na realidade exercícios de
salas de aulas, demonstrando falta de orientação das pessoas encarregadas de sua
formação acadêmica. Também quero chamar a atenção que a Bahia já foi
importante, senão o mais importante, centro da gravura brasileira, e, hoje este
segmento da arte não vem recebendo a atenção desejada. Para nossa surpresa um
dos premiados - Joselma de Rosário Souza - apresentou três xilos de qualidade
porém, as demais gravuras eram
primárias, com exceção de duas feitas por Crispim, que sinalizam uma certa
qualidade, principalmente pelos cortes, quase cinematográficos figuras.
OS
PREMIADOS
Entre
as 281 obras inscritas por 109 artistas foram premiadas pela Comissão composta
de Reynivaldo Brito, Ivo Vellame, Juarez Paraíso, César Romero e Juracy Dórea.
Eis os premiados: Prêmio Universidade Federal da Bahia, no valor de CZ$
100.000,00 concedido a Joselma do Rosário Souza, por suas três
xilogravuras; a Dílson Fernandes de Oliveira por suas duas pinturas e a
Alessandro César Pereira dos Santos por suas duas pinturas. Prêmio Desenbanco,
no valor de CZ$ 100.000,00
a Wildvan Luiz da Costa por suas pinturas; Prêmio Associação Cultural Brasil-Estados Unidos-ACBEU, no valor de CZ$ 50.000,00 a Gabriel Moreira Lopes Fontes, com
suas três obras em técnica mista; Prêmio Câmara Municipal do Salvador, no valor
de CZ$50.000,00 a Valéria Leite Simões pelos seus três cartemas Prêmio Jornal
da Bahia, passagem aérea, ida e volta ao Rio de Janeiro, a Simone de Almeida
Bezerra com suas duas pinturas; Prêmio Tribuna da Bahia, um fim de semana no
Hotel Canto do Mar, a Francisco de Assis Vieira Macedo com suas duas pinturas;
Prêmio Jornal A TARDE, passagem aérea ida e volta para Recife a Sílvio Vianna
da Silva com suas duas pinturas.
OS
SELECIONADOS
Faço
questão de registrar os nomes dos 45 artistas que apresentaram trabalhos e
foram selecionados totalizando 81 obras, vejamos: Carlos Alberto Mascarenhas,
Eriel de Araújo Santos, Edgard Oliveira, Valmir Lemos Cirne, Antônio José de
Oliveira Filho, Sebastião Edson de Jesus Crispim, Roseana Penalva Sampaio, Ginalva
Amorim de Carvalho, Dílson Fernandes de Oliveira, Edson santos Sodré, Sílvio
Vianna da Silva, Alfredo Gama, Rubem Dário Rojas Vegas, Gilmar Silva Gama,
Joselma do Rosário Souza, Álvaro Fernandes Santos, Humberto Luís Gonzaga,
Gabriel Lopes Pontes, Valéria Simões,
Alessandro César, Luís Claudio Brito, Júlio César Garrido Mais, Isa Maria Moniz
A. Faria, Andréa Way, Jaime Andrade, João Carlos Veloso dos Santos, Maria do
Rosário Seabra, Helena Concentino, Francisco de Assis Macedo, Edson Fernandes
Pereira, Wildvan Luiz Marques da Costa, Elder Carvalho, Larry Wellace, Simone
A. Bezerra, Burity, Reiner José Ramos Anselmo, Eduardo Tadeu, Rui Andrade, Edy
Mabel, Aparecida Zacconi, Rosana de Assis, Fernando Freitas, João Alberto
Silva, Manoel dos Santos Filho e Alexandre Luís Filho.
O
reaparecimento do Salão Universitário deve ser visto como uma retomada
importante para a arte praticada no âmbito a Universidade porque possibilita ao
artista universitário expor os seus trabalhos, a sua produção como se fosse
mais uma manifestação do talento em formação do que uma presença no mercado de
arte. Este aparente não-compromisso deixa o artista mais a vontade para ousar,
porque ele sabe que ainda tem muita terra pela frente e, que, por isto, pode se
dá ao luxo de questionar e inovar com mais espontaneidade. Também sua
importância é fundamental na formação de profissionais dentro de uma
concorrência salutar e que só merece aplauso por sua concretização.
Defendo
os salões, bienais e outras manifestações do gênero por entender que nesses
momentos podemos confrontar a arte feira por várias pessoas, em circunstâncias
e até, em culturas diferentes, o que sempre resulta no reconhecimento público
de novos talentos. Lembro-me que a História da Arte registra importantes
momentos que surgiram e se perpetuaram depois da realização de mostras
coletivas. Defendo, também, que mesmo os artistas mais consagrados devem
participar desses eventos porque é uma oportunidade de esquecer os elogios
repetitivos e partir para checar como anda a sua obra em relação aos novos
tempos.
Voltando
ao Salão Universitário de Artes Visuais, promovido pela Universidade Federal da
Bahia e organizado pelo professor Ivo Vellame, devo dizer que me manifestei
contra o seu desaparecimento. Lembro-me do mestre Clarival Prado Valadares que
por diversas vezes, juntamente com críticos de outros estados, vinham a
Salvador participar do Salão, e do seu entusiasmo, quando descobria entre
aqueles jovens artistas, um talento. O mestre ficava entusiasmado e sempre
tinha palavras elogiosas, pronunciadas com a segurança de quem conheça o
traçado. Assim, depois de vários anos, o professor Ivo Vellame consegue
resgatar esta dívida da Universidade para com seus artistas, cuja produção está
sendo apresentada ao foyer do Teatro Castro Alves. Esse evento já tem um pouco
de história, inclusive lembro-me que, durante a realização de um desses salões,
alguns artistas tiveram suas obras recusadas, as quais foram arrumadas provisoriamente
num barracão da Escola e Belas Artes e, na noite de abertura do salão, o
barracão foi destruído por um incêndio.
Ninguém
sabe se o incêndio foi criminoso, mas o
certo e que os que tiveram suas obras resusadas fizeram protestos e se
manifestaram com muita veemência.
Uma
posição até certo ponto compreensível. Melhor seria se tivessem trabalhado
com mais afinco para ganhar o espaço sem
a necessidade de protestos.
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