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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

UM SALÃO DESTINADO AOS NOVOS TALENTOS BAIANOS - 21 DE JULHO DE 1986

JORNAL A TARDE SALVADOR, 21 DE JULHO DE 1986.

UM SALÃO DESTINADO AOS NOVOS TALENTOS BAIANOS

Duas empresas do Pólo Petroquímico estão dispostas a realizar um salão de artes plásticas. Esta foi a primeira noticia que recebi e fiquei realmente entusiasmado pela ideia, mesmo porque ela antecedia a chamada Lei Sarney que, dá incentivos fiscais às empresas ou pessoas físicas que ajudaram a cultura. Dias depois fui convidado para participar de uma reunião com outras pessoas ligadas a arte, quando muita coisa foi discutida sem, no entanto chegar a um denominador comum.
Confesso que sai da tal reunião aborrecido, porque tinha perdido o meu tempo e as pessoas que fizeram o convite, até aquele momento, não me conheciam bastante. A imagem de conjunto que ficou não foi boa.
A única coisa que ficou amarrada nesta fatídica reunião foi que seria feito um esboço do regulamento e que o mesmo retornaria para que fizéssemos algumas sugestões. Eu não recebi o esboço! Um mês depois chega às minhas mãos o regulamento já pronto com data, local e tudo mais definidos.
Convocado para outra reunião com as pessoas encarregadas da organização do Salão fui novamente surpreendido com a presença várias pessoas completamente alheias ao movimento de arte. Considerações sem qualquer sentido dominaram a reunião. Permaneci completamente calado, exatamente para evitar polêmicas vazias, como as que se estabeleceram. Isto porque o regulamento já está pronto, impresso nada daquilo pode mais ser mudado. Foi decisão das empresas que vão patrocinar, e também da que está cuidando da organização do evento. Agora só tem duas posturas, ou você concorda com o Salão e seu regulamento como está elaborado ou boicota o Salão. Evidente, que esta segunda opção seria uma atitude burra, inclusive porque você poderia afastar as empresas que se dispõem a realizar o Salão em prejuízo para a própria atividade cultural. Então o que temos de fazer é tocar para frente no sentido de apoiar a Metanor e a Copenor que estão investindo nos novos talentos, e em seguida, lutar para que no ano seguinte o regulamento sofra algumas alterações para que, ao lado dos talentos desconhecidos, possam também figurar outros  artistas que estão aí disputando o mercado, mas que ainda não alcançaram o patamar dos “medalhões”. Estes últimos sim, não mais necessitam de salões ou outras promoções deste tipo, muito embora empresas de porte continuem insistindo nesta mesma tecla.

O SALÃO

Acredito que o I Salão Metanor/Copenor será um grande evento. As inscrições já estão abertas e pode participar todo artista que nunca tenha realizado alguma exposição individual, aí compreendido em galeria e ou em museus, e que seja baiano ou residente na Bahia. É claro que este critério do inédito, em termos de individual, deverá ser um pouco flexível porque será muito difícil encontrar artistas completamente virgens em termos de exposição.
O Salão será realizado no Museu de Arte da Bahia ,nos dias 2 a 12 de outubro e as obras serão analisadas por júris, compostos de cinco críticos de arte, sendo três baianos e dois virão do Rio de Janeiro e São Paulo. Apresenta ainda uma novidade, é que os visitantes vão poder votar nas melhores obras.
Esta participação democrática pode parecer demagógica, mas é importante porque você vincula a visita a uma participação maior no próprio espírito do evento.
Cada artista pode inscrever três obras. As inscrições estão sendo realizadas na Escola de Belas Artes, na Avenida Araújo Pinho, 212, ou no Museu de Arte da Bahia, no Corredor da Vitória, até o dia 20 de agosto. Publico na íntegra o Regulamento para facilitar os artistas que desejam inscrever-se. É hora de dar força a I Salão de Metanor/Copenor de Artes Visuais da Bahia faço aqui um apelo para que outras empresas do pólo também invistam nas artes visuais. Eis o regulamento.

TÍTULO I-DA INSTITUIÇÃO E DA FINALIDADE

ART.1º-Fica instituído o I Salão Metanor/Copenor de Artes Visuais da Bahia, por decisão da Metanor S/A- Metanol do Nordeste e da Copenor- Companhia Petroquímica do Nordeste.
Único- A finalidade do Salão é contribuir para o desenvolvimento das artes visuais na Bahia, incentivando artistas baianos com ênfase aos talentos.

TÍTULO II-DO APOIO

ART.2º- O I Salão Metanor/Copenor de Artes Visuais da Bahia conta com o apoio da Fundação Cultural do Estado a Bahia/DEMAP/Museu de Arte da Bahia; da Escola de Belas da Universidade Federal a Bahia e da Associação dos Artistas Plásticos Modernos da Bahia.

TÍTULO III-DAS INSCRIÇÕES E CONDIÇÕES

ART.3º- Poderão participar do I Salão Metanol/Copenor de Artes Visuais da Bahia, artistas que apresentem trabalhos na área de pintura, mediante o preenchimento da ficha de inscrição gratuita.

ART.4º- As inscrições poderão ser feitas de 15 de julho a 20 de agosto, sendo que o último dia para entrega dos trabalhos será 20 de agosto impreterivelmente.

ART.5º- Somente serão aceitas as inscrições de artistas nascidos na Bahia ou com residência fixa nesse estado, desde que comprovada.
Único- Somente poderão participar artistas que não tenham realizado nenhuma exposição individual.

ART.6º- As obras (três por artistas) deverão ser apresentadas juntamente com a ficha de inscrição, no período previsto neste regulamento, na Escola de Belas Artes, na AV. Araújo Pinho nº212 ou no Museu de Arte da Bahia, na Avenida 7 de setembro Nº 2340.
Primeiro- As obras deverão ser entregues com moldura e identificadas com nome do artista, título, técnica e preço de venda.
Segundo- Uma vez inscritos os trabalhos e iniciado o Salão, o artista não poderá retirá-los antes do encerramento da exposição, mesmo em caso de venda.

ART.7º- Será confeccionado um Catálogo do Salão. Portanto é da maior importância, o preenchimento correto e completo da ficha de inscrição.

TÍTULO IV- DOS JÚRIS

ART. 8º- Caso o número de obras inscritas ultrapasse o espaço físico do Museu de Arte da Bahia, será feita uma pré-seleção de todos os trabalhos.

ART. 9º- Serão formados quatro júris, a saber: o Júri Especializado que será composto por cinco críticos de arte escolhidos da seguinte forma três da Bahia, mais votados pelos inscritos que terão espaço na ficha de inscrição; um de São Paulo e outro do Rio de Janeiro, convidados pelos patrocinadores. O outro Júri será composto por quatro nomes do Pólo Petroquímico de Camaçari, a serem também convidados pelas empresas patrocinadoras, além de um diretor da Metanor/Copenor.
Primeiro- Cada Júri mencionado neste artigo escolherá um trabalho vencedor. Além disso, haverá um Júri Popular, composto por pessoas que visitarem o Salão.
Segundo- Os resultados dos Júris Especializado, do Pólo Petroquímico e do Popular, só serão divulgados no último dia da exposição.

TÍTULO V-DA EXPOSIÇÃO

 ART.10º- Todas as obras serão apresentadas em vernissage aberto em Salvador, no Museu de Arte da Bahia- MAB- onde ficarão expostas pelo período de 2 a 12 de outubro de 1986.
TÍTULO VI- DOS PRÊMIOS

ART.11º- Os primeiros colocados dos Júris especializado, do Pólo Petroquímico e Popular terão sua obra adquirida pelas empresas patrocinadoras. O primeiro colocado do Júri Especializado terá sua obra reproduzida e distribuída aos seus clientes no Brasil e no exterior.

ART. 12º- Serão entregues Menções Honrosas do 2º ao 5º colocados, além de diploma de participação a todos os inscritos.
Único- A entrega dos prêmios será feita em cerimônia especial em local, data e horário a ser comunicado oportunamente.

ART. 13º- Será feita divulgação à imprensa em caráter nacional, através de material elaborado especialmente.
Único- No Catálogo do Salão, constarão com destaque as obras escolhidas pelos júris.

TÍTULO VII-DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

ART. 14º- A Metanor/Copenor, empresas patrocinadoras, têm prioridade pela aquisição das obras premiadas pelos três júris.
Único- A comercialização das obras expostas só poderá ser feita da seguinte forma: o artista fará uma reserva de venda às pessoas interessadas em adquirir seus quadros, porém a efetivação da venda só poderá ser realizada após o encerramento do Salão e depois da divulgação dos trabalhos vencedores. Caso as obras não sejam uma das premiadas, o artista estará liberado para comercializar as pessoas interessadas.

ART. 15º- Os casos omissos serão resolvidos pela Comissão organizadora e pelas empresas patrocinadoras.

BELGA FALA DA OBRA DE CALASANS NETO


O jornalista Jean Kestergat escreveu um longo texto sobre a obra de Calasans Neto quando de sua exposição realizada recentemente na Bélgica, no Jornal “Libre Belgique”. Aqui selecionei alguns trechos do texto. Vejamos;

O BRASIL EM LOUVAIN-LA-NEUVE

"Monsenhor Massaux inaugurou uma Sede da Sabedoria com baleia, abacaxis e orquídeas do pintor Calasans Neto.
Ao lado o artista Calasans Neto em sua exposição na Béligica.
Inaugurou-se outro dia em Louvain-La-Neuve uma nova representação da Virgem Sedes Sapientiae, a padroeira do Universo Católico da qual, claro, a estátua original reside em Louvain, Monsenhor Massaux sonhava antes de terminar seu mandato, de dotar o novo Campus de uma Sedes Sapientiae, absolutamente moderna e orientada para o mundo exterior. O ano passado, viajando em companhia do professor Michel Schooyans, fervendo de brasilidade, ele encontrou na Bahia o pintor Calasans Neto, visitou seu atelier e ficou seduzido pelas luzes faiscantes de sua obra e propõe ao artista realizar uma Sedes Sapientiae à maneira brasileira, o pintor aceitou.E eis aí a obra que Calasans mesmo veio trazer.
É um quadro que surpreenderá, pois toda a sabedoria brasileira (feita de alegria, risos e nostalgia) contorna o rosto sereno de uma virgem vestida de linho branco. Esplendor tropical de abacaxis e orquídeas, poder e majestade das baleias, esperança e inquietude dos homens. Calasans Neto, logo é a primeira obra de caráter religioso, a saber, misturar na sua tela a doçura virginal e a violência discreta dos temas ecológicos.
Para mim - disse Calasans - foi um desafio, eu queria por em relevo e fazer um quadro que fosse como uma prece do mundo moderno. Não sei se serei compreendido, mas pra mim isto foi uma revelação, eu acredito que vou continuar neste novo caminho.
No seu quadro ele introduziu obsessões que aparecem em toda a sua obra. A baleia rainha dos mares sempre perseguida. A cabra símbolo de evasão e liberdade. As metamorfoses enfim que nascem das baleias-aves com figuras humanas simbolizando, sem dúvida, a unidade da criação.
No fundo três céus, Calasans explica:
Um céu vermelho. É o que eu vi em Bruges à tarde do meu primeiro dia na Bélgica, 15 de agosto de 1974 e o céu de Bruges estava misturado de uma púrpura fantástica como eu nunca tinha visto.
Quando eu penso na Bélgica é este céu que me vem ao espírito, mas, eu coloquei também um céu cinzento para que a Virgem se lembre do clima belga na sua viagem para o Brasil, enfim o céu esmeralda, o nosso que quer exprimir todos os esplendores para acolher a padroeira da Universidade de Louvain. Eis aí, pelo menos, quais foram meus passos e minha interpretação. Cada um é livre para encontrar a sua própria, pois o papel do artista é dar um suporte ao sonho de cada um.

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