UM ANO DE CRIATIVIDADE
Este
foi um ano importante para as artes plásticas baianas. Começamos com a
participação de Bel Borba no filme A Lenda do Pai Inácio, dirigido por Póla
Ribeiro. De aerógrafo em punho aproveitou as sinuosidades da serra do Sincorá,
na Chapada Diamantina, para dar feições aos entes que habitaram os pesadelos do
Pai Inácio.
FEVEREIRO
Ainda
em fevereiro reclamei da ausência da Bahia na I Bienal Internacional da Gravura
realizada no Museu de Arte Moderna de Campinas, em São Paulo , onde
participaram 76 artistas representando 30 países com 152 obras.
MARÇO
Em
março registrei a volta de Ronny St. Clair, mineiro de São João Del Rey que
vive na Europa, onde estudou comunicação visual e retornou à Bahia expondo suas
obras construtivistas.
Saiu
o catálogo do Salão Metanor/Copenor, que infelizmente, não teve prosseguimento,
por falta de sensibilidade dos dirigentes deste grupo.
Foi
um momento significativo da arte baiana, principalmente porque revelou novos
talentos. Não deram prosseguimento, porque segundo informações os dirigentes
dessas empresas ficaram assustados com o sucesso do evento. É isto mesmo! Parece
mentira, mas não é.
Ainda
em março Leonel Mattos
fez uma exposição na Galeria O Cavalete onde demonstrou que está no caminho
certo. Seu trabalho a cada dia vem recebendo aplausos da crítica do Sul do
País. Está perdendo aquele formalismo do figurativo e partindo para uma
linguagem mais simbólica e rica em interpretações.
Na
Multiplus, quatro artistas num ziguezague de cores reuniram Gabriel Lopes
Pontes, Dílson Midlej, Michael Walker e Regina Rodrigues Costa.
ABRIL
Em
abril tivemos a grata oportunidade de conhecer através de reproduções o segundo
módulo do Projeto Arte Brasileira que o Instituto Nacional de Artes Plásticas
numa exposição que foi montada no Museu de Arte Moderna da Bahia, no Solar do
Unhão. A exposição foi apresentada em painéis ilustrativos e textos
críticos-conceituais de cada obra, oferecendo ao visitante os exemplos mais
significativos da arte brasileira. Um destaque foram as obras de Almeida
Junior, um acadêmico paulista de grande talento.
A
nossa melhor pintora primitiva baiana Ivonete foi à Brasília mostrar sua arte
ingênua, cheia de cores enfocando o dia -a -dia da gente sofrida do Nordeste.
Todos estão a trabalhar as mulheres costurando, acendendo o fogão de lenha,
lavando num riacho, os homens na sua labuta na roça, enfim, uma multidão
anônima que teima em viver numa região semidesértica e esquecida pelos poderosos.
Aliás, em época de eleições as suas visitas são pródigas e quase sempre
barulhentas.
No
ICBA foi feita uma exposição da gravura alemã em madeira; acompanhada de um
belo catálogo explicativo. Sabemos que a gravura em madeira, como técnica de
impressão, começou no sul da Alemanha, há cerca de 600 anos atrás.
MAIO
Os
artistas da nova geração retornaram ao mural no Rio Vermelho, aquele que fica
na curva da Mariquita. Pela quarta vez em cinco anos eles pintaram o muro e
desta vez com alguns que não participaram das manifestações anteriores. Ângela
Cunha, Bel Borba, Chico Diabo, Flori, Guache, Leo Celuque, Luiz Tourinho, Maso,
Miguel Cordeiro, Murilo, Otávio Filho, Zivé e Hans Peter estão contribuindo
para melhorar o visual desta cidade, que vem sendo dilapidada pelos insensatos.
Ângela Cunha , a força da emoção. |
Outra
mostra importante no ICBA. Trata-se das caricaturas do Século XIX na Alemanha.
Um registro, é que desde àquela época que as mulheres lutavam por seus
direitos, sempre negados, pelos machistas. Foi a primeira experiência editorial
feita por intelectuais unindo a arte e a literatura.
Uma
das poucas joalheiras deste País, a baiana Iza Guimarães veio a público mostrar
suas últimas criações. Sua exposição foi na Época Galeria de Arte, onde revelou
sua habilidade em peças que hoje ornamentam a mulher baiana.
Não
satisfeito em pintar o muro do Rio Vermelho, Bel Borba vai à Alemanha e
conseguiu com muita dificuldade uma grande escada e fez o seu protesto contra a
divisão de Berlim. O horror da guerra e, da repressão foi denunciado neste seu
trabalho, que já deve ter sido visto por milhares de pessoas, indignadas com o
muro de Berlim.
Sérgio
Rabinovitz expõe na Multiplus suas
últimas criações marcadas pela força do gesto. Foi um levantamento da sua
produção nos últimos anos, numa fusão do minimalismo e o conceitual, com a
explosão da cor num equilíbrio entre o visual, o estético, o conceitual e a
razão.
JUNHO
O
Dique do Tororó amanheceu colorido. Foram metros e metros de tubos inflados de
várias cores que andavam e pulavam ao sabor dos ventos. Na beira do lago o
autor da obra, o controvertido Washington Santana, armou uma tenda e de lá
comandava um grupo de pessoas que o ajudava a encher os tubos e, também, a
vigiá-los, porque não faltaram depredadores interessados em retirá-los do Dique.
Um projeto que foi realizado graças à disposição de algumas empresas do Pólo Petroquímico
em ceder o material. Foram nada menos que dois mil tubos de 11 metros por 60 de
largura que coloriram o Dique.
Os
20 anos de arte de Carlo Barbosa foram comemorados em grande estilo em Feira de
Santana, sua terra natal. Carlo chegou a determinados momentos a sentir um
certo desânimo, mas sua garra foi mais forte e ele pôde mostrar aos conterrâneos a sua evolução. Carlo queixou-se
de algumas incompreensões, porém, disse-lhe que isto ocorre em todas as
atividades onde está envolvido o ser humano.
Ângelo
Roberto anunciou a sua exposição, mas não cumpriu. Coisas do artista.
JULHO
Retorna
a Salvador, Ferjó que vive há vários anos na Filadélfia, nos Estados Unidos.
Com sua obra hiperrealista Ferjó impressiona pela aproximação com a fotografia.
O desenho é perfeito e as situações que ele cria são envolventes. Ele expôs na Galeria
O Cavalete.
O
Modernismo baixou no Solar do Unhão. Foi um dos módulos do projeto Axé
Brasileira. Tratou do movimento artístico que marcou as décadas de 20 e 30. E,
entre os baianos que participaram deste
movimento podemos citar o Mário Cravo Júnior, Rubem Valentim, José Tertuliano
Guimarães, Antonio Rebouças, Carlos Bastos, Lygia Sampaio (que precisa pintar
mais) Genaro de Carvalho e Jenner Augusto.
Aílton
Lima expôs no Restaurante Bom Vivant, seus trabalhos carregados de lirismo. As
figuras são quase angelicais e as pombas parecem vir de um local onde reina o
celestial.
AGOSTO
Finalmente,
Ângelo Roberto, graças ao trabalho de seu amigo Franco, aquele do Bar Quintal
consegue reunir as obras do artista e expô-las na Galeria Canizares.
Porém,
certamente a melhor exposição do mês foi a que a Época Galeria de Arte realizou
trazendo o transvanguardista Victor Arruda. O mato-grossense é uma das
expressões da transvanguarda no País. Ele trouxe para nos mostrar os signos
estereotipados da sociedade industrial, os clichês com suas ideologias
estampadas.
SETEMBRO
As
ruas da cidade, especialmente, a Avenida Garibaldi foram invadidas por
out-doors que anunciavam o aniversário de uma casa comercial. As obras foram
feitas por amigos da dona da loja entre eles Carybé, Carlos Bastos, Floriano
Teixeira, Calasans Neto, Sante Scaldaferri e Mirabeau Sampaio.
OUTUBRO
O
inquieto Bel Borba voltou para Nova Iorque e consegue pintar um painel num
tapume de um velho prédio abandonado. Neste painel ele denuncia o horror da
discriminação racial, principalmente na África do Sul. Esta disposição em
deixar registrado o seu protesto contra as injustiças é uma marca deste
artista.
NOVEMBRO
Surge
a Anarte uma galeria que abre mais espaço para a arte baiana.
Doze
artistas participaram da coletiva que abriu a galeria, e logo em seguida Calazans
Neto mostrava seus trabalhos.
A
seguir assistimos a outro momento grandioso com a exposição de Aldemir Martins
apresentando 23 telas enfocando uma temática brasileira. Este cearense de
Ingazeiras é realmente surpreendente. A exposição foi no Escritório de Arte da
Bahia.
Também
foi esta galeria que trouxe as gravuras em metal de Tomie Ohtake. Foram 16
gravuras disputadas por colecionadores. Esta mostra integrou um círculo que
inclui sete capitais.
DEZEMBRO
A exposição de Abelleira com sua arte
hiperrealista. Sua obra lembra a realizada pelo Maso. A temática é bem
semelhante, porém eles diferenciam no tratamento e também na maneira de pintar.
Não existe qualquer demérito de um ou de outro. Diria que eles se completam.Sua
exposição foi na Telebahia.
Carlo Barbosa, 20 anos de uma arte promissora |
O
Manoel Jerônimo apertou com suas manchas poéticas, onde régua a natureza
dando-lhe grandiosidade. Um trabalho próximo da abstração, mas rico na
composição e na mistura das tintas.
Edsoleda também realizou uma bela exposição dos seus desenhos.É uma artista que vem trabalhando muitas vezes no silêncio do seu atelier. Finalmente. Sonia encontrou seu lado lúdico, e 11 artistas aproveitaram o espaço oferecido pelo Bar Black Jack e mandaram muita cor, entre eles o Mário Sanche, Ângela Cunha dentre outros.
Edsoleda também realizou uma bela exposição dos seus desenhos.É uma artista que vem trabalhando muitas vezes no silêncio do seu atelier. Finalmente. Sonia encontrou seu lado lúdico, e 11 artistas aproveitaram o espaço oferecido pelo Bar Black Jack e mandaram muita cor, entre eles o Mário Sanche, Ângela Cunha dentre outros.
Evidente
que aqui não pude registrar todas as exposições. A retrospectiva foi feita em
cima das exposições que este colunista registrou no decorrer deste ano. Aqueles
que por acaso tenham ficado de fora, são também importantes. Perdoem-me o lugar
comum, tudo é uma questão de espaço. Quero agradecer inúmeras mensagens
natalinas que recebi e daqui mandar um abraço a todos os amigos e aos artistas
fazendo votos que continuem em busca de novas formas de expressão. Feliz 1988.
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