Translate

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

UM ANO DE CRIATIVIDADE - 28 DE DEZEMBRO DE 1987.

JORNAL A TARDE SEGUNDA-FEIRA, 28 DE DEZEMBRO DE 1987.

               UM ANO DE CRIATIVIDADE

A exposição de Victor Arruda foi um dos pontos anos deste ano que findou.

JANEIRO
Este foi um ano importante para as artes plásticas baianas. Começamos com a participação de Bel Borba no filme A Lenda do Pai Inácio, dirigido por Póla Ribeiro. De aerógrafo em punho aproveitou as sinuosidades da serra do Sincorá, na Chapada Diamantina, para dar feições aos entes que habitaram os pesadelos do Pai Inácio.
FEVEREIRO
Ainda em fevereiro reclamei da ausência da Bahia na I Bienal Internacional da Gravura realizada no Museu de Arte Moderna de Campinas, em São Paulo, onde participaram 76 artistas representando 30 países com 152 obras.
MARÇO
Em março registrei a volta de Ronny St. Clair, mineiro de São João Del Rey que vive na Europa, onde estudou comunicação visual e retornou à Bahia expondo suas obras construtivistas.
Saiu o catálogo do Salão Metanor/Copenor, que infelizmente, não teve prosseguimento, por falta de sensibilidade dos dirigentes deste grupo.
Foi um momento significativo da arte baiana, principalmente porque revelou novos talentos. Não deram prosseguimento, porque segundo informações os dirigentes dessas empresas ficaram assustados com o sucesso do evento. É isto mesmo! Parece mentira, mas não é.
Ainda em março Leonel Mattos fez uma exposição na Galeria O Cavalete onde demonstrou que está no caminho certo. Seu trabalho a cada dia vem recebendo aplausos da crítica do Sul do País. Está perdendo aquele formalismo do figurativo e partindo para uma linguagem mais simbólica e rica em interpretações.
Na Multiplus, quatro artistas num ziguezague de cores reuniram Gabriel Lopes Pontes, Dílson Midlej, Michael Walker e Regina Rodrigues Costa.
ABRIL
Em abril tivemos a grata oportunidade de conhecer através de reproduções o segundo módulo do Projeto Arte Brasileira que o Instituto Nacional de Artes Plásticas numa exposição que foi montada no Museu de Arte Moderna da Bahia, no Solar do Unhão. A exposição foi apresentada em painéis ilustrativos e textos críticos-conceituais de cada obra, oferecendo ao visitante os exemplos mais significativos da arte brasileira. Um destaque foram as obras de Almeida Junior, um acadêmico paulista de grande talento.
A nossa melhor pintora primitiva baiana Ivonete foi à Brasília mostrar sua arte ingênua, cheia de cores enfocando o dia -a -dia da gente sofrida do Nordeste. Todos estão a trabalhar as mulheres costurando, acendendo o fogão de lenha, lavando num riacho, os homens na sua labuta na roça, enfim, uma multidão anônima que teima em viver numa região semidesértica e esquecida pelos poderosos. Aliás, em época de eleições as suas visitas são pródigas e quase sempre barulhentas.
No ICBA foi feita uma exposição da gravura alemã em madeira; acompanhada de um belo catálogo explicativo. Sabemos que a gravura em madeira, como técnica de impressão, começou no sul da Alemanha, há cerca de 600 anos atrás.
MAIO
Os artistas da nova geração retornaram ao mural no Rio Vermelho, aquele que fica na curva da Mariquita. Pela quarta vez em cinco anos eles pintaram o muro e desta vez com alguns que não participaram das manifestações anteriores. Ângela Cunha, Bel Borba, Chico Diabo, Flori, Guache, Leo Celuque, Luiz Tourinho, Maso, Miguel Cordeiro, Murilo, Otávio Filho, Zivé e Hans Peter estão contribuindo para melhorar o visual desta cidade, que vem sendo dilapidada pelos insensatos.
                     Ângela Cunha , a força da emoção.
Outra mostra importante no ICBA. Trata-se das caricaturas do Século XIX na Alemanha. Um registro, é que desde àquela época que as mulheres lutavam por seus direitos, sempre negados, pelos machistas. Foi a primeira experiência editorial feita por intelectuais unindo a arte e a literatura.
Uma das poucas joalheiras deste País, a baiana Iza Guimarães veio a público mostrar suas últimas criações. Sua exposição foi na Época Galeria de Arte, onde revelou sua habilidade em peças que hoje ornamentam a mulher baiana.
Não satisfeito em pintar o muro do Rio Vermelho, Bel Borba vai à Alemanha e conseguiu com muita dificuldade uma grande escada e fez o seu protesto contra a divisão de Berlim. O horror da guerra e, da repressão foi denunciado neste seu trabalho, que já deve ter sido visto por milhares de pessoas, indignadas com o muro de Berlim.
Sérgio Rabinovitz  expõe na Multiplus suas últimas criações marcadas pela força do gesto. Foi um levantamento da sua produção nos últimos anos, numa fusão do minimalismo e o conceitual, com a explosão da cor num equilíbrio entre o visual, o estético, o conceitual e a razão.
JUNHO
O Dique do Tororó amanheceu colorido. Foram metros e metros de tubos inflados de várias cores que andavam e pulavam ao sabor dos ventos. Na beira do lago o autor da obra, o controvertido Washington Santana, armou uma tenda e de lá comandava um grupo de pessoas que o ajudava a encher os tubos e, também, a vigiá-los, porque não faltaram depredadores interessados em retirá-los do Dique. Um projeto que foi realizado graças à disposição de algumas empresas do Pólo Petroquímico em ceder o material. Foram nada menos que dois mil tubos de 11 metros por 60 de largura que coloriram o Dique.
Os 20 anos de arte de Carlo Barbosa foram comemorados em grande estilo em Feira de Santana, sua terra natal. Carlo chegou a determinados momentos a sentir um certo desânimo, mas sua garra foi mais forte e ele pôde mostrar aos  conterrâneos a sua evolução. Carlo queixou-se de algumas incompreensões, porém, disse-lhe que isto ocorre em todas as atividades onde está envolvido o ser humano.
Ângelo Roberto anunciou a sua exposição, mas não cumpriu. Coisas do artista.
JULHO
Retorna a Salvador, Ferjó que vive há vários anos na Filadélfia, nos Estados Unidos. Com sua obra hiperrealista Ferjó impressiona pela aproximação com a fotografia. O desenho é perfeito e as situações que ele cria são envolventes. Ele expôs na Galeria O Cavalete.
O Modernismo baixou no Solar do Unhão. Foi um dos módulos do projeto Axé Brasileira. Tratou do movimento artístico que marcou as décadas de 20 e 30. E, entre os baianos que participaram  deste movimento podemos citar o Mário Cravo Júnior, Rubem Valentim, José Tertuliano Guimarães, Antonio Rebouças, Carlos Bastos, Lygia Sampaio (que precisa pintar mais) Genaro de Carvalho e Jenner Augusto.
Aílton Lima expôs no Restaurante Bom Vivant, seus trabalhos carregados de lirismo. As figuras são quase angelicais e as pombas parecem vir de um local onde reina o celestial.
AGOSTO
Finalmente, Ângelo Roberto, graças ao trabalho de seu amigo Franco, aquele do Bar Quintal consegue reunir as obras do artista e expô-las na Galeria Canizares.
Porém, certamente a melhor exposição do mês foi a que a Época Galeria de Arte realizou trazendo o transvanguardista Victor Arruda. O mato-grossense é uma das expressões da transvanguarda no País. Ele trouxe para nos mostrar os signos estereotipados da sociedade industrial, os clichês com suas ideologias estampadas.
SETEMBRO
As ruas da cidade, especialmente, a Avenida Garibaldi foram invadidas por out-doors que anunciavam o aniversário de uma casa comercial. As obras foram feitas por amigos da dona da loja entre eles Carybé, Carlos Bastos, Floriano Teixeira, Calasans Neto, Sante Scaldaferri e Mirabeau Sampaio.
OUTUBRO
O inquieto Bel Borba voltou para Nova Iorque e consegue pintar um painel num tapume de um velho prédio abandonado. Neste painel ele denuncia o horror da discriminação racial, principalmente na África do Sul. Esta disposição em deixar registrado o seu protesto contra as injustiças é uma marca deste artista.
NOVEMBRO
Surge a Anarte uma galeria que abre mais espaço para a arte baiana.
Doze artistas participaram da coletiva que abriu a galeria, e logo em seguida Calazans Neto mostrava seus trabalhos.
A seguir assistimos a outro momento grandioso com a exposição de Aldemir Martins apresentando 23 telas enfocando uma temática brasileira. Este cearense de Ingazeiras é realmente surpreendente. A exposição foi no Escritório de Arte da Bahia.
Também foi esta galeria que trouxe as gravuras em metal de Tomie Ohtake. Foram 16 gravuras disputadas por colecionadores. Esta mostra integrou um círculo que inclui sete capitais.
DEZEMBRO
A exposição de Abelleira com sua arte hiperrealista. Sua obra lembra a realizada pelo Maso. A temática é bem semelhante, porém eles diferenciam no tratamento e também na maneira de pintar. Não existe qualquer demérito de um ou de outro. Diria que eles se completam.Sua exposição foi na Telebahia.
O Manoel Jerônimo apertou com suas manchas poéticas, onde régua a natureza dando-lhe grandiosidade. Um trabalho próximo da abstração, mas rico na composição e na mistura das tintas.
Carlo Barbosa, 20 anos de uma arte promissora.
Edsoleda também realizou uma bela exposição dos seus desenhos.É uma artista que vem trabalhando muitas vezes no silêncio do seu atelier. Finalmente. Sonia encontrou seu lado lúdico, e 11 artistas aproveitaram o espaço oferecido pelo Bar Black Jack e mandaram muita cor, entre eles o Mário Sanche, Ângela Cunha dentre outros.
Evidente que aqui não pude registrar todas as exposições. A retrospectiva foi feita em cima das exposições que este colunista registrou no decorrer deste ano. Aqueles que por acaso tenham ficado de fora, são também importantes. Perdoem-me o lugar comum, tudo é uma questão de espaço. Quero agradecer inúmeras mensagens natalinas que recebi e daqui mandar um abraço a todos os amigos e aos artistas fazendo votos que continuem em busca de novas formas de expressão. Feliz 1988.









Nenhum comentário:

Postar um comentário