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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

CRÍTICOS E ARTISTAS VÃO DEBATER A ARTE MODERNA - 28 DE JUNHO DE 1982.


SALVADOR, JORNAL A TARDE SEGUNDA-FEIRA, 28 DE JUNHO DE 1982.

CRÍTICOS E ARTISTAS VÃO DEBATER A ARTE MODERNA


Abaporu, de Tarsila do Amaral, 1928
Uma mostra sobre a Semana de Arte Moderna, no Museu de Arte Moderna da Bahia (Solar do Unhão). Um documentário reunindo dezenas de fotografias de trabalhos dos artistas participantes do movimento renovador de 22. É organizada pela Funarte e percorre várias cidades brasileiras. No Rio (onde foi inaugurada, em abril) e em São Paulo esta exposição deu o que falar.
Na Bahia, o MAMB está promovendo um debate amanhã às 16 horas, com artistas e críticos convidados para questionar sobre a repercussão desse movimento.
Esta exposição comemorativa aos 60 anos da Semana de Arte Moderna dá uma visão da produção de artes plásticas, música, literatura, fotografia e arquitetura do primeiro período do modernismo brasileiro, situando-a em seu panorama político, econômico e social. É organizada de forma cronológica, possibilitando ao público um questionamento sobre o que é a modernidade no início da década de 80.
O diretor do MAMB, Chico Liberato, diz que esta exposição tem um significado muito amplo documentando os acontecimentos mais importantes da arte moderna no Brasil: “Nas peças expostas situam-se claramente o pensamento dos conteúdos que motivaram o desencadeamento do processo de atualização da arte brasileira”. Dentro da história brasileira de arte, os artistas enfocados nesta mostra confirmam seus valores.
A mostra enfoca os primeiros tempos modernistas, de 1917 a 1929, caracterizados por influências expressionistas. Nela podem ser vistas reproduções de quadros que não são de fácil acesso ao público comum: “O Homem Amarelo” e “A Boba”, de Anita Malafatti (“Paranóia ou mistificação?”, “Duas Amigas”, de Ismael Nery, “Abaporu”, de Tarsila do Amaral, “O Beijo” e “Cinco moças de Guaratinguetá”, de Di Cavalcanti, “Menino da Floresta” e “Retrato de Mário de Andrade”, de Lasar Segall.
Na literatura, através de painéis fotográficos, textos dos nomes mais representativos que ousaram romper com os academistas: Menotti Del Picchia (“De medalhões estamos fartos”), Mário de Andrade fundando o desvairismo, com sua Paulicéia desvairada (... “e não quero discípulos; em arte, e escola- imbecilidade de muitos para vaidade dum só”), Sérgio Millet, Guilherme de Almeida, Manoel Bandeira (“Estou farto do lirismo comedido”) e o Oswald de Andrade (“Quando o português chegou/ de baixo duma bruta chuva/ vestiu o índio/ Que pena!/ Fosse uma manhã de sol/ o índio tinha despido/ o português”)
Esta mostra é a primeira de uma série de exposições temáticas que a Funarte pretende produzir.
Na Bahia fica até quarta-feira, promoção da Fundação cultural através do MAMB.

HÁ VINTE ANOS MORRIA O PINTOR ALBERTO GUIGNARD

As Gêmeas, de Alberto Guinard
Comemorando o vigésimo aniversário da morte do pintor Alberto da Veiga Guignard, aos dezesseis anos viajou para a Europa em companhia dos seus familiares, tendo estudado pintura e desenho na Real Academia de Belas Artes de Munique, bem como na cidade de Florença Itália. Em 1929, retornou definitivamente ao Brasil, integrando-se aos movimentos artísticos da época, inclusive atuando como professor n antiga Universidade do Distrito Federal e na Fundação Osório, entre 1931 e 1943.
Convidado pelo então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, fundou, em 1943, uma Escola de Arte na capital mineira, influenciando toda uma geração de artistas locais. A paisagem de Minas Gerais, sobretudo das cidades barrocas, foi uma das grandes fontes de inspiração do artista, que a captou em inúmeros e sensíveis trabalhos que estão entre os mias significativos da arte brasileira de todos os tempos.
Na exposição com a qual a galeria comemora os vinte anos do seu desaparecimento fazem parte trabalhos de pinturas e desenhos, de colecionadores e do Banerj,

           FUTEBOL E CARNAVAL

Refletindo sobre fenômenos sociais não podemos esquecer o futebol que é capaz de provocar as mais incríveis manifestações, não apenas no campo das artes como de comportamento. Também o carnaval integra com o futebol a dualidade da fantasia e paixão. E tais fenômenos comportam vários enfoques do ponto de vista sociológico e psicológico e é necessário muito estudo para compreendê-los em toda sua intensidade. Os gritos que ecoam nos estádios servem para aliviar as tensões individuais e coletivas. O xingamento que muitos fazem quando um juiz apita indevidamente uma falta é outra maneira de aliviar tensões, já que os impropérios ditos das arquibancadas, (felizmente não ouvidos pelo juiz0 também servem de válvula de escape. Mas é nas artes visuais que nos interessam a presença destes dois fenômenos. Agora, no Rio de janeiro, está sendo realizado no Museu de Arte moderna a exposição “Universo do Futebol” inde participa um único artista baiano, o arquiteto Almandrade ou Antônio Luiz M. Andrade que criou um trabalho intitulado “Pense o jogo” onde a trave é colocada na linha central do gramado obrigando o espectador a uma série de hipóteses em busca de uma solução. Uma ironia talvez do discutido Almandrade que não mostra as regras do jogo, saído de sua imaginação. No catálogo da exposição pelo cúmulo de azar saiu trocada a legenda do seu trabalho do artista baiano com o de Marcelo Nitsche. Com a disposição de combatividade e de polemizar do Almandrade se isto tivesse acontecido aqui daria “muito pano para manga” ou seja, seria motivo de grande confusão.

Porém, o que realmente importa é que Almandrade está nos representando e aproveito para deixar aqui uma sugestão para o Chico Liberato, diretor do nosso Museu de arte Moderna. Porque não programamos a partir de agora uma grande exposição onde seria tema central o Carnaval? Nós, baianos, temos condições pela própria espontaneidade do Carnaval de salvador de realizar-mos uma exposição sobre seu universo tão importante como esta que o MAM do Rio realiza sobre o futebol. Este cidadão ao lado fez uma aposta no jogo Brasil x Rússia. Perdeu e teve que vestir saia. Em outro momento ele jamais vesteria saia. Ai um bom motivo para estudo de comportamento.
Esta exposição poderia ser programada para uma data mais próxima do Carnaval e desde já poderia ser iniciada a sua organização inclusive incentivando os artistas a trabalharem neste tema. Muita coisa já existe pronta, que bastaria uma coleta (por empréstimo) e assim poderíamos ter uma bonita e importante exposição.
Fica a sugestão.

ARTISTA QUER AJUDAR O MUNICÍPIO

O artista plástico Paulo Vieira está encabeçando o movimento de conscientização do povo de Andaraí para a viabilidade econômica da arte popular. O município, localizado na Chapada Diamantina, conheceu a riqueza do passado devido ao sucesso no garimpo. Resta-lhe ainda muito da natureza exuberante e repleta de materiais que se prestam á feitura de objetos de arte.
Paulo Vieira crê que Andaraí é rico de artistas populares, porém, o povo vê a atividade como coisa feminina. Tal visão se deve à tradição machista da lavra. Ele quer modificar a visão mas encontra dificuldade em explicar que não há nenhum mal em um homem trançar uma renda, um balaio de cipó, valorizando o que a região tem: valiosa matéria prima para alimentar a prática artística.

CENTRO DE ARTE

O artista, filho de tradicional família de Andaraí, acha que o ciclo do garimpo já passou e chegou a hora do  pessoal se conscientizar que existem outras fontes de renda, sendo uma delas o artesanato.
Ele espera que os órgãos oficiais o ajudem a instalar um centro de arte popular no município onde ele iniciaria muitos jovens na prática artística. Pensa, inclusive, apresentar sua idéia a Fernando Sales, conterrâneo e parente, que trabalha no Ministério de Educação e é irmão do escritor Herberto Sales, diretor do Instituto Nacional do Livro.
Por enquanto, Paulo Augusto Moscoso Vieira 37 anos, está ensinando, por conta própria, á alguns interessados.
Utiliza seu próprio atelier, localizado na rua São Salvador, 16, na entrada da cidade, onde também funciona sua loja.
Paulo pinta sobre madeira, entalha, faz arranjos com folhas e flores secas e com raízes e sementes. Seus temas preferidos são pássaros, santos e portas.
Para se ter uma idéia da variedade dos materiais segue uma minilista: sapucaia, mulungu, mangalô, bucho-de-veado, conga –de- macaco, feijão preto, olho-de-boi (sementes), sempre-viva (flor), cabaça, busos de lagoa, capim, enxertos de passarinho, raízes secas, cascas de serra, malacaxeta, cristal, bambu e areias coloridas recolhidas na toca do Urubu. O movimento encabeçado por Paulo pode resultar no aproveitamento criativo de muitos elementos que sobram na natureza do belo território de Andaraí.


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