Depoimento
de Uma Geração 1969-1970 é o título da mostra que a Galeria de Arte Banerj, inaugura amanhã, às 21
horas. Esta mostra, a sétima do “Ciclo de Exposições sobre Arte no Rio de
Janeiro”, reúne trabalhos de 16 artistas atuantes no Rio de Janeiro no período
mais intenso da repressão política e da censura. É a chamada Geração Al-5 , que respondeu ao
autoritarismo com uma arte fortemente política, que assumiu a forma de uma
verdadeira “guerrilha artística”.
De
fato, se os primeiros embates com a censura começaram já no IV Salão de Arte
Moderna de Brasília, em 1967, e prosseguiram na II Bienal da Bahia, em 1968,
fechada no dia seguinte ao de sua inauguração, os problemas se agravaram a
partir do Ato Institucional nº 5, baixado 13 de dezembro de 1968. O Al-5
colocou o Congresso Nacional em recesso, estabeleceu a censura nos meios de
comunicação, suspendeu o habeas corpus e, na seqüência, vieram a cassação de
mandatos legislativos, a aposentadoria compulsória de artistas, professores e
intelectuais, a prisão, tortura e morte de líderes estudantis e militantes
políticos, a invasão de escolas, museus e exposições e a censura às obras de
arte. Impediu ainda a abertura da mostra da representação brasileira à Bienal
de Paris, em 1969, e provocou o êxodo e exílio de artistas e críticos de arte. Os
ativistas políticos responderam às medidas de exceção com seqüestros de
embaixadores e os artistas com o boicote à X Bienal de São Paulo e com
trabalhos que, de forma direta ou metafórica, denunciavam a situação.
O cartaz histórico da mostra Agnus Dei, na Petite Galeria em 1970.
O clima de tensão política, por sua vez, coincidiu com a rápida aceleração dos ismos na década de 60, o que levou, também, à decretação da “morte da pintura”, ou pelo menos do Objeto como nova categoria artística, e, depois, do conceito (arte conceitual) negando a materialidade da obra.
O cartaz histórico da mostra Agnus Dei, na Petite Galeria em 1970.
O clima de tensão política, por sua vez, coincidiu com a rápida aceleração dos ismos na década de 60, o que levou, também, à decretação da “morte da pintura”, ou pelo menos do Objeto como nova categoria artística, e, depois, do conceito (arte conceitual) negando a materialidade da obra.
Foi
também uma época marcada pela presença de inúmeros salões de arte, nos quais os
artistas compareciam, às vezes em grupo, contestando seus regulamentos e
estrutura. Ou então, saiam às ruas ocupando parques, aterros, praças, com
trabalhos agressivos e muitas vezes anônimos.
AS
MAIS RADICAIS
Participam
da mostra os artistas Alfredo José Fontes, Antônio Manuel, Ascânio MMM, Barrio,
Cildo Meireles, Cláudio Paiva, Guilherme Magalhães Vaz, Luiz Alphonsus, Manuel
Messias, Miriam Monteiro, Odila Ferraz, Raymundo Colares, Thereza Simões,
Umberto Costa Barros, Vera Rotiman e Wanda Pimentel. Como nas exposições
anteriores do ciclo, todas as obras expostas são rigorosamente de época e quase
todas foram expostas nas principais mostras e eventos realizados naquele dois
anos difíceis: Salão da Bússola, Pré-Bienal de Paris/MAM-RJ, em 1969, Do Corpo
à Terra e Agnus Dei, em 1970.
Foi
sobretudo na primeira dessas quatro mostras, durante a qual estourou uma bomba
no foyer do Museu de Arte Moderna do Rio
de Janeiro, que se definiu esse grupo ou geração de artistas. Aliás,
esse grupo praticamente instalou um “salão de vanguarda” ou “sala quente”
dentro do Salão maior. Da mesma maneira foi também ele que dominou a mostra Do
Corpo à Terra, realizada no Parque Municipal, em Belo Horizonte.
Como boa parte das obras daquela época foi realizada com
materiais precários e/ou foi destruída, nos próprios eventos, algumas foram
refeitas para esta sua nova apresentação. Ou serão vistas na forma de
documentos fotográficos.
Algumas
dessas obras estão entre as mais radicais da recente História da Arte Brasileira e se constituem mesmo em seus momentos decisivos: as Trouxas Ensangüentadas de Barrio, o desnudamento de Antônio Manuel no vernissage do Salão Nacional de
Arte Moderna em 1970, as inserções em circuitos ideológicos e o
Totem-Monumento de Cildo Meireles, as instalações de precário equilíbrio de
Umberto Costa Barros, Napalm de Luiz Alphonsus etc. Ao lado dessas obras,
outras indicam uma postura neoconstrutiva, como as de Raymundo Colares, recentemente
falecido, Ascânio MMM e Wanda Pimentel, dentre outros.
GUERRILHEIROS
Uma
ampla documentação iconográfica e testual acompanha as obras na exposição e no
catálogo.Neste,
com cerca de 70 páginas, estão reproduzidos o principal texto teórico da época,
de autoria de Frederico Morais, “Contra a Arte Afluente: O Corpo é o Motor da Obra”, um outro, de caráter mais histórico, de Francisco Bittencourt,
depoimento dos artistas participantes e, também, de Maurício Roberto, diretor
executivo do Museu de Arte Moderna-RJ àquela época, e de Aroldo Araújo,
idealizador do Salão da Bússola.
Na
época o crítico Frederico Morais escreveu que o artista, hoje, é uma espécie de
guerrilheiro. A arte, uma forma de emboscada.
Atuando
imprevistamente, onde e quando é menos esperado, de maneira inusitada, o
artista cria um estado permanente de tensão, uma expectativa constante. Tudo
pode transformar-se em arte,mesmo o mais banal evento cotidiano. Vítima
constante da guerrilha artística, o espectador vê-se obrigado a aguçar e ativar
seus sentidos (o olho, o ouvido, o tato e o olfato, agora também mobilizados
pelos artistas plásticos), sobretudo, necessita tomar iniciativas. A tarefa do
artista-guerrilheiro é criar para o espectador (que pode ser qualquer um e não
apenas aquele que freqüenta exposições) situações nebulosas, incomuns,
indefinidas, provocando nele, mais que o estranhamento ou a repulsa, o medo. E
só diante do medo, quanto todos os sentidos são mobilizados, há iniciativa,
isto é, criação.
Nos
depoimentos dos artistas tem-se uma idéia precisa da tensão tem-se uma idéia
precisa da tensão em que todos eles viviam.
“Pelo
rádio ouvi que o governo decretar o Ato Institucional nº 5- conta Barrio, hoje
vivendo na Europa. “A partir daí foi aquela paranóia: Ninguém se sentia mais
seguro. A nossa reação foi radicalizar mais ainda o trabalho, não se deixar
subjugar. Saímos para a rua com os nossos trabalhos, passamos a atuar como se
estivéssemos numa guerrilha artística.
Cláudio
Paiva, que veio de Carangola, Minas Gerais, recorda que foram poucos os
momentos de prazer onde alegria: “Havia muita coisa de infância, anterior à
minha chegada ao Rio, que ajudava a complicar. Acabei sendo internado. Enfim,
agíamos como guerrilheiros, a gente guerrilhava como podia, nos salões, saindo
para a rua”.
Luiz
Alphonsus: “Nossa participação no Salão da Bússola foi um marco, porque
mostrava uma nova concepção de arte, uma coisa da qual se tinha apenas uma
idéia vaga. O evento ‘Do Corpo à Terra’ foi nosso ato de guerrilha. Teve uma
importância fundamental”.
Ou
ainda este depoimento de Umberto Costa Barros: Àquela época, cobrava-se muito
uma posição política da gente. Tudo se dividia assim: Você era reacionário,
isto é, não queria saber do que estava acontecendo. Se não era reacionário,
tinha duas alternativas à sua frente, ia para a guerrilha ou enlouquecia”.
Durante
a mostra serão promovidas conferências e debates por críticos e artistas, e
projetados filmes, slides e audiovisuais. A exposição permanecerá aberta ao
público até o dia 13 de setembro.
ARTISTAS
AMERICANOS SÃO LEMBRADOS COM MEDALHAS
Ao lado uma bela obra de Kooning. |
A
criação da medalha foi proposta em 1983, e o Congresso aprovou, no ano
seguinte, legislação pertinente para homenagear pessoas e apoiar grupos
“merecedores de reconhecimento especial” por “contribuições relevantes à
qualidade, expansão, apoio e disponibilidade das artes nos Estados Unidos”. Os
agraciados com as medalhas, este ano, foram:-Marian
Anderson, um dos maiores contraltos do mundo, atualmente com 84 anos de idade e
que, na década de 30, realizou uma “tournée” triunfal pela Europa e Estados
Unidos.
Frank
Capra, diretor cinematográfico nascido na Itália, de 89 anos de idade, que
conquistou três Oscars e é considerado um dos principais pioneiros da arte
cinematográfica. Aaron Copiand, compositor, 85 anos de idade, responsável por
grandes sucessos como “El Salón Mexicano”, “Retrato de Lincoln”, Billy the Kid”,
“Rodeo” e “Appalachian Spring”.
Willien
de Kooning, cujos controvertidos trabalhos em pintura abstrato-expressionista
estão espalhados pelos principais museus dos Estados Unidos e Europa.Nascido na
Holanda em 1904 pagou sua viagem para os Estados Unidos com seu trabalho nas
caldeiras de um navio aos 22 anos de idade. Atualmente com 82, ainda pinta oito
horas por dia e, segundo as palavras de um crítico Kooning alterou a percepção do que a pintura
representa.
Dominique de Menil , francesa de nascimento e
responsável por uma das melhores coleções
particulares do mundo. Patrocinou a primeira exposição individual de Max
Ernst, e após sua chegada aos Estados Unidos em 1941, criou e financiou museus.
Agnes
Demille , bailarina e coreógrafa de 77 anos de idade, que levou o balé clássico
para os palcos da Brodway.
A
Exxon Corporation , há 40 anos, vem prestando grande apoio as artes cênicas . É
um dos patronos do Carnagie Hall e do Centro Lincoln Para as Artes Cênicas,
ambos em Nova Iorque.
Seiymour
Knox , denominado “ o Deão dos patronos da arte norteamericana”, que apoiou e
patrocinou alguns dos melhores artistas do século XX – William De Kooning,
Jackson Pollack , Mark Rothko, Ashile, Gorki, entre outros. Atualmente com 88
anos de idade foi também um destacado jogador de pólo e autor.
Eva
Le Gallienne , atriz de 87 anos, que estreou no palco em Londres em 1915, e em Nova Iorque , no ano
seguinte. Seus principais desempenhos foram em “ The Corn Is Green “, “Mary
Stuart”, e “The Madwoman of Charllot”.
Lewis
Monford , um dos maiores críticos e profetas de cidade do mundo, em livros,
desde “Sticks and Stones”, publicado em 1926, “Architecture as the Home of Man”, A Arquitetura como Lar do Homem, publicado em
1975.
Alan
Lomax , de 71 anos, que já circundou o mundo colecionando música folclórica.
Suas fitas magnéticas formam a coluna dorsal de muitos países e sociedades.
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