HÉLIO BASTO ESTÁ DOENTE E
AFASTADO DAS GALERIAS
Esta bela mulata pintada por Helio Basto |
Afastado
das galerias de arte desde 77, Hélio Basto dedica-se atualmente a realizar
trabalhos para clientes, depois de passar por um período difícil, em que esteve
doente. O pintor vive hoje num apartamento alugado de um único vão em São Pedro , no centro da
cidade, cercado de tintas, pincéis, telas e muitos discos. Nas paredes úmidas
devido à infiltração de água, apenas três de seus quadros. Poucos móveis
compõem o ambiente.
O
artista revelou, no entanto, que sua situação atual não é circunstância, e sim
opção: “dá para sobreviver, não tenho ambição de dinheiro. O apartamento é
alugado propositalmente. Já tive um próprio, mas não gostei da idéia e me
desfiz. Os pintores preferem ostentar status, e eu sempre gostei de morar em oficinas,
de viver autenticamente como um artista”. A não ser quando não está
trabalhando, o que faz até altas horas, raramente sai de casa. Disse se sentir
recompensado, sobrevivendo a 25 anos da profissão, embora não se considere
realizado, “porque um homem nunca se realiza”.
FASE SURREALISTA
Hélio
Basto nasceu em Salvador em 1934. Começou a dar os primeiros traços aos 16
anos. Freqüentou a Escola de Belas Artes da UFBa., a qual não chegou a concluir
por não achar o ensino satisfatório. Em 56, participou da mostra Artistas
Modernos da Bahia, na Galeria Oxumaré, que renovou totalmente a pintura
acadêmica baiana. Era o auge do movimento cultural na Bahia, sob o incentivo
constante de Edgard Santos. Apesar do movimento já ter acontecido em São Paulo na Semana de
22, os baianos não aceitaram a pintura moderna, a ponto de rasgar quadros na
exposição. Como não era uma pessoa polêmica, Hélio preferiu se isolar, seguindo
para o Sul, onde seria aceito.
Na
capital paulista fez cursos no Museu de Arte Moderna com os professores Walter
Levy e Berko Udler, desenvolvendo uma fase surrealista-existencialista entre
56/60. Nesta época, seus quadros retratavam a atmosfera de sofrimento
silencioso e a devastação da morte, com uma significação densa e profunda. A
revista Habitat, sobre pintura e arquitetura, escreveu: “a série de quadros
surrealistas que ele realizou achamos importantíssima e significativa, mesmo
para a História da América Latina e Católica”. Desta fase possui dois quadros
no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, que pertenceram ao
crítico de arte Theon Spanudis. São eles: Ruínas (55) e Busto (57).
FASE
RETRATISTA
Seguiu-se
de 60 a 63 a sua fase retratista,
sobre a qual discorreu Jorge Amado no livro Baía de Todo os Santos: “seu mundo
é poético, quase irreal, mundo de criança desabrochada em espanto diante da
vida. No silêncio translúcido, Hélio Basto traz uma flor na mão, sobrevoa um
velho quarteirão da cidade”.
Nesse
período, realizou uma mostra individual no Museu de Arte Moderna do Texas, nos
Estados Unidos, em 61, e Grandes da Bahia, em 69, no Rio. De passagem pela
Bahia, o famoso Arthur Hailler, autor da série de livros e filmes Aeroporto adquiriu dês de seus trabalhos. Fez um retrato de manequim Veruska, que possui
25 quadros de sua estória em sua casa de Roma.
Realizou
ao todo 28 exposições, a última na Galeria Credicard, em 77. Interrompeu a fase
de retratista evoluindo para uma pintura interessada pela forma, cor e ritmo.
Hélio Basto com um gato e duas telas de sua fase surrealista |
ARTISTA
INDEPENDENTE
A
importância da presença de Hélio Basto nas artes baianas está sendo resgatada
pela professora de História da Arte da UFBa,. Vânia Carvalho, que prepara um
livro sobre vida e obra do pintor. No seu entender, “trata-se de um artista
independente. Não está ligado a grupo ou tendência, mostrando uma coerência
incrível. Sentimos sua evolução dentro da linha de continuidade. Ele sempre se
manteve da arte com dignidade, sem fazer concessões”. Informou que Hélio é um
nome conhecido nacional e internacionalmente, tendo iniciado o modernismo
juntamente com Carlos Bastos, Mário Cravo, José Pedreira e o pessoal que
freqüentava a boate Anjo Azul, na Rua do Cabeça.
Segundo
Vânia Carvalho, o trabalho do artista hoje mostra um grau de maturidade onde se
caracteriza uma tendência construtiva com certo geometrismo, inclusive com
relação a espaço e forma. Tudo harmonicamente equilibrado com o colorido das
linhas.
Como
homem, ela acredita que o pintor “se sente meio desambientado da Bahia de hoje,
angustiado com a imagem de sua terra que não é a mesma de tempos passados. Como
se a Bahia tivesse perdendo a sua alma."
Como
artista sensível, ele se preocupa e ao mesmo tempo é vítima da nossa realidade
desumana. “Nessa desumanidade, a Bahia não reconhece seus verdadeiros valores”.
Para
a artista plástica Yedamaria, uma de suas grandes alegrias é ter um retrato seu
pintado por Hélio, há 20 anos, “uma pessoa que estimo e admiro por seu trabalho
coeso”.
Afirmou
que depois do modernismo, nada mais aconteceu em termos de respeito aos
artistas que foram surgindo. Na sua opinião, “isso dificulta o aparecimento de
novos valores. As pessoas saem da cidade para fazer respeitar o seu trabalho”
(Colaboração de Eduardo Jasmim Tawil.)
UMA
EXPOSIÇÃO DA INFLUÊNCIA PORTUGUESA
Para
organizar os seis grupos de estudos que vão fazer a pré-seleção das obras de
artes brasileiras a serem incluídas na exposição Circulação das Formas na Arquitetura dos Países de Expressão Portuguesa, no período de 1557 a 1816, promovida pelo
Ministério da Cultura da França, esteve no Brasil o professor Pierre
Leglise-Costa, catedrático da História da Arte do Brasil e de Portugal.
Antes
de viajar a Paris, Leglise-Costa, um francês, filho de brasileiro, que morou em
Portugal 15 anos e atualmente radicado na França, explicou que em nosso país
foram criados grupos de estudos em
São Paulo , no Rio, em São Luiz , em Salvador e em Belo Horizonte que
vão apontar os objetivos, as peças artísticas, as maquetes, as fotografias e o
material iconográfico que junto com os de Portugal, da África, da Índia, da
China e da Malásia vão reconstituir a história da dominação portuguesa do
século XIV ao XVI.
“A
nossa idéia”- acrescentou, é a de mostrarmos ao público francês uma noção exata
do que foi a denominação de Portugal e a influência que este país teve em
séculos passados, assunto, que sabemos, é completamente desconhecido dos
estudantes e até de alguns estudiosos franceses. “A exposição, que deverá ser
itinerante vai ser montada, primeiro, na capela de Salpetriere, uma construção
do século XVII, em Paris”.
Segundo
ele, a exposição vai mostrar, também, a influência do mundo ocidental no
oriental e vice-versa: “Escolhemos 1557 porque a partir deste ano, que coincide
com a fundação de Macau e com a morte do rei D. João III, o império português
já estava consolidado e sua cultura influenciava decisivamente todas as
colônias. E resolvemos abranger o período até 1816, que é o ano da chegada ao
Rio da Missão Francesa e o da morte de D. Maria I”.
A
exposição, que vai se tornar possível graças a uma proposta apresentada pela Associação para o Desenvolvimento de Estudos e da Cultura de Portugal e do
Brasil, em França.
OBRAS
DE JEAN COCTEAU SÃO EXPOSTAS EM PARIS
Paris
(AFP) - Execrado em vida pelos mais intransigentes “enciclopedistas” do momento,
Jean Cocteau, uma das grandes figuras do parnasianismo francês deste século,
renasce das suas cinzas em Paris com uma exposição gráfica de suas obras que é,
ao mesmo tempo, uma original e desconhecida visão do mundo das artes e das
letras.
Auto-retrato de Jean Cocteau |
E
quando, por exemplo, Cocteau dedica-se a poesia, ao jornalismo a edição e a
música, freqüenta Catulo Mendes, Apollinaire e Max Jacob e, dispensado pelo
exército na Primeira Guerra Mundial, escreve O Discurso do Grande Sonho fundando com Paul Iribe a revista A Palavra, onde assina seus desenhos e
cartuns com os pseudônimos de Japh e Jim. Cronologicamente, Cocteau nasce antes
para o desenho do que para a poesia, apesar de em suas primeiras obras o peso
específico da prosa ou dos poemas parecer desbancar o desenho. “Os poetas,
dizia em álbum intitulado exatamente Desenho, não desenham, desatam a escrita
para em seguida reatá-la de forma diferente”.
Em
Ópio, relato ilustrado de uma de suas curas de desintoxicação, ele confirma a
sua notória pré-disposição pelo desenho e pelo expressionismo e seu marcantes
gosto pelo insólito e pelo fantástico, muito antes de abordar a arte mural que
será finalmente a expressão plástica dos últimos 15 anos de sua vida. Édipo e
Orfeu são as duas maiores figuras de sua mitologia pessoal, não é provavelmente
por influência da Grécia do que da do surrealista italiano Giorgio de Chirico,
mas são indubitavelmente os seus desenhos eróticos os que mais impressionam e
atraem o público, notoriamente interessado no lado pecaminoso de sua vida.
Durante
12 anos, de 1951 até a sua morte no dia 11 de outubro de 1963, Cocteau escreveu
o dia-à-dia de sua vida, que festivamente chamou O Passado Definido. Antes,
num relato autobiográfico que escreveu sem maiores pudores, embora não o tenha
assinado, o autor de O Sangue dos Poetas, assumiu perante si e a sociedade a
sua condição de homossexual.
sALVE rEY, POR ONDE ANDA O Helio Basto? carlos perktold - perktold@terra.com.br grato pelo retorno.
ResponderExcluir