JORNAL A TARDE SALVADOR, 11 DE
AGOSTO, DE 1986.
VIENA: 1900, REVELA COMO SENSUALISMO VENCEU TABUS
Nova Iorque (UPI)- Uma mostra artística que provavelmente lidera a
lista dos grandes eventos de verão nos Estados Unidos é a exposição Viena:1900, no Museu de Arte Moderna, que conta em detalhes como um novo
sensualismo venceu velhos tabus no crepúsculo do império.
A
capital austríaca na virada do século era uma combinação de pompa vazia emanada
da corte do imperador Francisco José e do nervoso liberalismo ameaçado por
crescente anti-semitismo, enquanto o fermento intelectual fomentava o espírito
criativo de Sigmund Freud, Ludwig Wittengenstein, Theodor Herzi, Karl Kraus e
Arnold Schoenberg.
Viena:1900 tem como centro as extraordinárias décadas entre 1898, quando a imperatriz
Isabel foi assassinada por um anarquista, e 1918, que marcou a queda dos
Habsburgos. É a primeira exposição de seu gênero nos Estados Unidos e consiste
de 700 objetos.
Destaca-se
na mostra uma série de telas de Gustave Klimt-, líder do movimento radical
artístico, emprestadas pelo governo austríaco, que inicialmente relutou em cedê-las. A exposição
vai até 21 de outubro.
As
principais personalidades em torno das quais gira a mostra são os artistas
Klimt, Egon Schiele e Oscar Kokoschka e os arquitetos Otto Wagner, Joseph Hoffmann e Adolf Loos.
À diferença da maioria dos artistas europeus, os vienenses tinham olhos para o
Oriente e pendor pelo requinte bizantino partilhado apenas pelos venezianos.
Há
também uma extensa série de objetos funcionais, desde aparelhos de chá e taças
de vinho e carteiras de couro, confeccionados por artistas e projetistas do
Wiener Wekstatte, fundado por Hoffmann e o projetista Koloman Moser,
influenciado pelo movimento inglês de artes e ofícios.
O
maior triunfo de Hoffmann em matéria de fusão harmoniosa de arquitetura,
desenho interior e mobiliário, uma mansão em Bruxelas conhecida como Palais Stoclet, merece especial destaque devido a sua influência sobre o maior
arquiteto dos Estados Unidos, Frank Lloyd Wright.
Para
complementar a exposição, o Museu de Arte Moderna construiu um café vienense,
situado num plano que domina o jardim de esculturas. Nesse inesperado café
vienense, são servidas guloseimas folhadas e café em bandejas num modelo do
Werkstatte.
Há
também ali uma coleção de objetos de um café vienense projetado por Hoffmann,
que poderia ser batizado por Richard Strauss com o nome de Kabarett
Fledermaus.
O
começo do século, os vienenses tentaram livrar-se do estilo arrebicado, mas o
excesso de ornatos jamais foi completamente suprimido e voltou a impor-se em
1908.
Essa
tendência está melhor representada nas mulheres eróticas, quase sempre do tipo
fatal, de Klimt.
As
figuras são dominadas por traços densos e as formas e o primeiro plano se
fundem num desenho em duas dimensões que reluzem com aplicações douradas de
brocado metálico.O
estímulo sensorial daí resultante da obra de Klimt o impacto de um artista de
grandes recursos, o que ele não foi.
No
entanto, suas telas produzem imagens mentais tão fortes quanto aos dos antigos
mestres, cujos temas por vezes Gustav Klimt copia(1862-19180) .
Schiele,
que morreu aos 28 anos, estava menos interessado na forma do que no agressivo
comentário sexual vinculado ao terror e ao sofrimento.
Ele é um artista muito
mais profundo que Klimt, e tela como Abraço, ( Foto ao lado) A Morte e a Moça e Família transmitem um sentido de alta dramaticidade e compaixão.
Kokoschka,
que morreu em 1980, é o artista vienense mais conhecido nos Estados Unidos. Foi
um expressionista convencional cujos retratos ornamentados e torturados são
fascinantes estudos psicológicos.
Os
testemunhos, desenhos e fotos de obras de arquitetura, bem como os exemplos de
decoração interior, vêm a ser uma mostra dentro da mostra.
A
obra de Wagner combina a nova tecnologia com familiares construções despidas de
ornatos. Loos referiu-se a suas fachadas planas como “janelas sem sobrancelhas”.
HOLOGRAFIA
TEM MUSEU E ASSUSTA
Paris (AFP)
Apóstolos da imagem total, os hológrafos parecem-se com membros de uma seita
misteriosa, donos de poderes só ao alcance de seres excepcionais. Pelo menos é
esta a impressão que produzem em seu reduto, no já famoso Fórum Dês Halles,
onde está montado o Museu de Holografia.
Primeiro
impacto sobre o não iniciado, o museu é uma proposta dinâmica que dá volta a
todos os conceitos, como se as imagens que atingem o visitante fizessem parte
do misterioso princípio que lhes dá origem: são algo como as fotos do vazio
criado pela única existência dos objetos, que assim são representados pela
omissão da imagem. Os que preferem simplificar costumam conformar-se com a
aparência forma das holografias, espécies de foto em relevo onde formas e cores
teimam em perseguir os intrusos.
Caçador-caçado,
o observador vê-se preso e submetido a um conjunto de leis que escapam da sua
compreensão, onde a aparência é estritamente contrária a tudo o que
experimentou, e viu, até o momento. O fato de um olho implacável, que muda de
ângulo e de cor em função de deslocamentos alheios, vigie permanentemente o
visitante, é apenas um ingrediente a mais num mar de tranqüilidade
Atrás
desta guinada fundamental está o laser, um elemento já comum da nova
iconografia das ciências e técnicas atuais, palavra que define pela função
(outra primícia) o aparelho capaz de “ampliar a luz por emissão estimulada da
radiação”. Chave indispensável para abrir a caixa do futuro, situada no limiar
de uma ciência que assume sem rodeios o papel principal do progresso (e também
a quota de fantasia e de horror que lhe cabem) o laser é no entanto um artefato
anódino, que só emite ondas luminosas coerentes e monocromáticas.
Certamente,
que atrás do laser está o homem, que o aponta para uma nave espacial a fim de
dar o primeiro passo de guerra nas estrelas, mas que também o usa para
deslumbrar os seus semelhantes com a exploração de outros tipos de beleza. O Museu da Holografia, com a sua selva de imagens indescritíveis, mostra um
deslumbrante caminho estético em cujo extremo estão amanhecer do futuro.
Formas, cores e movimentos encarregam-se por si só de explicar este mundo
alucinante; janela aberta sobre a geometria e a imaginação, a holografia, uma
das aplicações do misterioso laser, simultaneamente raio da vida e da morte,
invade também a imaginação do ser humano, até levá-lo a refletir sobre limites,
destinos e naturezas.
ZALUAR
ESCOLHE SERIGRAFIA PARA SOCIALIZAR SUA ARTE
O
artista Abelardo Zaluar é um defensor da serigrafia. Ele diz que aderiu a
serigrafia pela adequação da linguagem, uma técnica com dinâmica maior que a do
quadro, já que, por ser uma edição seriada, pode estar presente em várias
partes ao mesmo tempo. É uma técnica mais socializante da arte, no sentido de
que mais pessoas podem ver e inclusive possuir a obra”. Zaluar, artista de
renome internacional e professor Emérito da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, diz que a serigrafia reflete sua pintura, seu trabalho com linguagem
abstrata, construído ao longo de um extenso currículo durante grande parte dos
62 anos de vida. Zaluar fala das vantagens da técnica da serigrafia.
Para
Zaluar que esteve recentemente expondo em São João Del Rei, na Oficina de
Aprofundamento, “o professor precisa, urgentemente, eliminar a ideia de
ensinar”. Por isso mesmo, ele viu aquele festival como “um encontro, em que a
relação professor aluno é a de troca de idéias, na qual o professor é o artista
mais experiente e que nesse intercâmbio com os jovens, sai também com lucro”.
Mas
o festival não é só um momento de se fazer cursos; é, muito mais, “uma
oportunidade de balanço, de uma aferição dos rumos e tendências da arte no
momento, momento este em que parece caber tudo. As linguagens estão sendo
ressuscitadas, refundidas, no momento atual. Parece existir um desejo de fixar
momentos do passado um pouco fugazes, de certas escolas da arte do século XX”.
Em
168, momentos tensos no País e sobretudo para quem militava em Diretório Acadêmico ;
para se distensionar, o mineiro Rubem Grilo, estudante de agronomia, ficava esculpindo
com gilete umas cabeças em pedaços de caixote de maça. Daí começou um trabalho
que hoje é exponencial na xilogravura brasileira. “Comecei a desenhar aos 23
anos, de maneira compulsiva; o trabalho com a arte, com a gravura, tem para mim
um sentido de vida. Fazer xilogravura veio naturalmente; para mim, trabalhar
com as mãos é importante para a cabeça”. Esse artistas sem formação acadêmica
começou a mostrar seu trabalho por uma via pouco comum, a da imprensa. Ao lado uma bela serigrafia de Zaluar.
Colaborou
com os principais jornais do país; “mesmo correndo o risco da perda de uma
leitura mais específica em relação à obra”. Grilo considera o caminho da
imprensa menos elitista, permitindo pelo menos que a obra atinja maior público,
que mesmo assim “é muito pequeno em um país como o nosso”. A experiência com a
imprensa levou o artista é uma objetividade e temática; assim, suas gravuras
falam de questões relevantes para as pessoas.
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