JORNAL A TARDE SALVADOR, 15 DE
SETEMBRO DE 1986.
PREMIADOS OS ARTISTAS DO I SALÃO
METANOR /COPENOR
O I Salão Metanor/Copenor de Artes Plásticas já é um sucesso garantido pela participação de 287 inscritos que apresentaram mais de oitocentas obras nas variadas tendências e técnicas. Foi um verdadeiro festival plástico, onde desfilaram aos olhos atentos de Ivo Vellame, Juarez Paraíso, Aylton Lima e depois Ana Maria, Frederico de Morais e Olney Kruze obras que demonstram, pela técnica e temática, o nível de conhecimento dos artistas que as trouxeram para exame do júri encarregado da pré-seleção e depois da premiação. Fiquei surpreso, na qualidade de curador do salão, com algumas obras de nível e também com a má qualidade de muitas que foram eliminadas.
O jornalista Reynivaldo Brito, e os críticos Olney Kruse, Frederico de Morais, os professores Ana Maria Villar e Juarez Paraíso examinando as obras inscritas.
Basta dizer que o júri encarregado da pré-seleção, composto dos baianos Ivo Vellame , Juarez Paraíso e Aylton Lima , todos professores da Escola de Belas Artes, teve um trabalho exaustivo durante dois dias separando o joio do trigo. Finalmente, depois de muito trabalho eles puderam discutir em condições de igualdade com júri composto de Frederico, do Jornal o Globo, do Rio de Janeiro, e Olney Kruze, do Jornal da Tarde, de São Paulo. Fiquei muito satisfeito com a determinação, principalmente de Ivo Vellame e Juarez Paraíso em defesa de suas idéias, mostrando que realmente, nós baianos temos condições e capacidade para sustentar uma discussão em alto nível em defesa daquilo que acreditamos. Também quero daqui ressaltar o espírito democrático do júri, e de Frederico de Moraes e Olney Kruze, que souberam entender as limitações dos inscritos no Salão, porque a premissa básica exigida é de que não poderia ter feito uma exposição individual. Não são necessariamente jovens porque entre os inscritos estão pessoas de até 60 anos de idade.
A Diretora da Escola de Belas Artes, Ana Maria Villar , que está em São Paulo tomando um
curso de restauração de obras de arte em papel, veio especialmente para
participar do júri e, na ocasião, ressaltou a importância do Salão e justificou
o grande número de inscritos dizendo que
todos os artistas, principalmente os que estão iniciando a profissionalização
estavam ávidos em expor os seus trabalhos. Precisamos de novos eventos para
incentivar os artistas e movimentar o mercado de arte”.
Frederico
de Morais, por sua vez, ressaltou: “Quem realmente pode dar uma contribuição
neste campo é a iniciativa privada que está menos comprometida com o
apadrinhamento, ou seja, menos viciada que os órgãos oficiais”.
CRITÉRIOS
Os
critérios de julgamento utilizados foram fundamentados em parâmetros universais
de criatividade, originalidade e técnica. Todos estavam conscientes que era um
salão de iniciantes, e por isto não poderia ser visto com o mesmo rigor de um
Salão Nacional ou mesmo de uma Bienal paulista.
Basta
dizer que muitas obras proviam de cidades do interior da Bahia, onde as
dificuldades de informação e material são bem maiores que nas metrópoles.
Mas
para surpresa geral foram encontradas algumas obras com uma linguagem
universal, contemporânea, o que de certa forma demonstra que seus autores são
pessoas informadas e com bom potencial. Mas para os críticos o que deve
prevalecer, e foi o que prevaleceu, é o produto final. Não adianta a gente
imaginar a potencialidade de prever o futuro porque está sujeito a muitas
circunstâncias. Daí o julgamento de todos foi em cima do que estava ali
apresentando nas três obras. Foi aí que a gente pôde sentir a dificuldade de
alguns que só apresentaram uma ou duas obras e outros que trouxeram três,
completamente desencontradas, sem qualquer unidade o que não deixa de ser uma demonstração
de falta de informação. O desencontro em alguns era tamanho que o júri ficava
em dúvida se as obras eram do mesmo autor.
Ao lado o crítico Olney Kruse, um amante do Kitsch.
Ao lado o crítico Olney Kruse, um amante do Kitsch.
Em
seguida ouve o encontro das opiniões e o júri decidiu dar o primeiro lugar para
duas pessoas. Um por coincidência é aluno da Escola de Belas Artes e outro é
completamente desconhecido de todos os presentes. Também foram concedidas 10
menções honrosas.
No
dia seguinte vieram os executivos do Pólo Petroquímico, composto de Carlos
Mariani (Pronor), Erick Rechia (Metacril), Otávio Ponte (CPCCr) e Dirceu Eloy
(Copenor) que escolheram também 10 artistas para menção honrosa, pela
participação no salão, e premiaram um artista. O curioso é que a premiação do
júri especializado formado de críticos e professores da Escola de Belas Artes foi
completamente diversa da premiação dos executivos do pólo. Isto demonstra
exatamente o nível de leitura, os parâmetros diversos e o conhecimento técnico.
É
de se esperar também que o júri que será formado por todos os visitantes do Salão, e que também vai premiar um dos artistas, seja também diferente.
Espera-se que algum mais figurativo ou um abstrato de cores fortes seja o
preferido. Vamos aguardar para a gente fazer exatamente este confronto salutar.
Os nomes dos premiados serão conhecidos posteriormente.
Frederico
de Morais me dizia que o ideal é que existisse uma concordância na escolha,
porque nós não temos uma intenção de nos sobrepor à visão popular. O que a
gente, como crítico procura sentir é o processo comunicativo das cores das
linhas, das formas, da capacidade de comover. Há uma aproximação entre a
opinião do júri e da massa, mesmo que para alguns pareça destoante.
“Gostaria
que coincidisse”. A esta altura Frederico não sabia do resultado do júri,
formados pelos executivos. A coincidência houve apenas em alguns escolhidos
para menção honrosa e destoou exatamente nos primeiros lugares. O júri do pólo
eliminou os dois premiados pelo júri especializado.
Quero
aqui ressaltar o trabalho de Fiorella Fatio , da Inform, porque graças a ela e alguns
de seus auxiliares como Magda, Adamastor, Nilza e Cristina Barude o Salão vem
trilhando o caminho do sucesso.
Vocês
não podem imaginar o trabalho por trás de um evento deste porte! São muitos
obstáculos que estão sendo vencidos com muito fôlego e amor ao que realizam.
EDGARD
OLIVA ESTÁ NO ESPAÇO DO BOM VIVANT
Um novo espaço para as artes plásticas que merece incentivo é do Bom Vivant, restaurante e bar, que está agora expondo os trabalhos do artista Edgard Oliva, de 26 anos.
Ele
é natural de Jequié e cursa Artes Plásticas na Escola de Belas Artes, da UFBA.
Já participou de algumas coletivas no Panorama Galeria de Arte, no Pianus Bar,
Ipac, Biblioteca Central do Estado, Gabinete Português de Leitura, Canizares e
até no foyer do Teatro Castro Alves. Fez até uma individual no Hotel Méridien.
A exposição será aberta hoje e ficará até o dia 28 do corrente e tem ainda o
apoio do Grande Hotel de Caldas de Cipó, que é outro detalhe interessante. Quem
não conhece este hotel, fica na cidade Caldas de Cipó, uma estância hidromineral,
que dista cerca de uns 200
quilômetros de Salvador. É uma boa opção para um fim de
semana. Mas esta é conversa para o caderno de turismo. O que nos interessa é o
patrocínio à arte e é por isto que destaco. A arte precisa de mais espaço
porque dela depende o desenvolvimento da nossa cultura, o aumento da nossa
sensibilidade e percepção.Não
é à toa que se educa através da arte.
FOTOJORNALISMO
DE FÉLIX MAN ESTÁ EXPOSTO NO ICBA
Um
dos mais interessantes destaques da programação deste mês do Instituto Cultural
Brasil-Alemanha é a exposição de Félix H. Man, um pioneiro do Fotojornalismo. A
mostra será inaugurada nesta segunda-feira, 15/09/86, na Galeria do ICBA,
ficando aberta à visitação pública até 11 de outubro, das 9 as 12 e das às 21
horas.
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