JORNAL A TARDE SALVADOR, 25 DE
AGOSTO DE 1986
A LIÇÃO DO MESTRE LEONARDO COM
SUAS PINTURAS RECENTES
Retorna
efetivamente em grande estilo o artista Leonardo Alencar com uma exposição na
Época Galeria de Arte para alegria de colecionadores e especialmente de seus
inúmeros amigos. Leonardo saiu de
Salvador há alguns anos num momento de transtorno e em Aracaju soube dar a
volta por cima, numa prova da sua obstinação e aqui desembarca com malas e
bagagens para continuar a sua trajetória pictórica. Sem fazer qualquer exagero
este cidadão é um dos mais importantes artistas ainda em atividade na Bahia.
Sempre com um sorriso largo nos lábios e uma barriga saliente, que adquiriu
degustando os grandes e louvados caranguejos da nossa tão querida Praia de
Atalaia.
Esta
exposição é um reencontro com seu próprio universo porque “a Bahia ainda é o
melhor lugar para o artista trabalhar”, afirma em tom enfático. Mas lamenta que
“as pessoas não estão atentas quanto a Bahia representa e por isto participam
ou assistem esta demolição desenfreada da própria história desta terra”. Lembra
ainda que realmente “existe uma áurea de simpatia lá fora por esta terra. Fora
daqui senti-me ilhado”.
“Aqui
é meu lugar para trabalhar e criar”. Estas palavras expressam exatamente o seu
amor a esta terra que resulta em azuis, só encontrados neste mar da Bahia que
beija ternamente a nossa costa num vaivém de carícias. De repente a gente mira
um peixe e também os personagens que sobem e descem estas ladeiras e com os
quais o mestre Leonardo tem intimidade.. Ora são os gatos diante de frutas
tropicais pintadas em cores fortes. É este clima cheio de sol e com a alegria
que só a Bahia tem que tocam de perto na sensibilidade de Leonardo Alencar.
Sua
pintura está mais solta com pinceladas ricas em efeitos de luminosidade numa
harmonia de cores nunca vista. Sinto em sua arte um renascer, um gosto afinado
pela vida, uma alegria que transborda e que reflete em nós que temos a
felicidade de gozar da sua amizade e de poder contemplar a sua obra.
Conheço
Leonardo Alencar há muitos anos. Sei do seu talento e também das dificuldades
que enfrentou, e, da sua tenacidade em vencê-las e procurar o seu verdadeiro
caminho que é a arte.
Não
vejo a sua obra distanciada deste nosso mundo baiano, preguiçosamente derramado
de deboche.
As
expressões dos animais e principalmente das figuras humanas demonstram
exatamente estes momentos do realismo que nos cerca. Leonardo Alencar dentro de
sua visão plástica-poética, com uma boa estrutura de desenho, vai criando este
mundo rico em qualidade.
Meu
amigo Ivo Vellame pergunta no catálogo:
“Afirmar
que esta exposição marca a volta de Leonardo Alencar à Bahia, que significado
tem? Respondo discordando. Tem, Ivo! Leonardo com uma tela recente.
Tem exatamente porque quando fala na volta
de Leonardo estou me referindo a volta de um artista que daqui saiu enfrentando
uma crise existencial muito profunda, que não mais lhe permita conviver com
seus peixes e seus pássaros. Esta volta está impregnada de um renascer para a
vida, para sua arte, para seus familiares e amigos.
Ganha
a Bahia com sua volta, e eu, particularmente, fico muito feliz quando o vejo de
pincel na mão disposto a desenvolver uma temática fundada neste realismo baiano
rico e luminoso. Diria que Leonardo não só voltou rejuvenescido para brincar
com seus arlequins e pierrôs neste Carnaval baiano que vara o tempo de janeiro
a janeiro, sempre no ritmo cadenciado dos instrumentos afros. Agora é hora de
expectativa, de acompanhamento e vamos todos dar as mãos a este cidadão que só
tem dado a esta terra alegrias e lições de criatividade.
ESTÃO
ABERTAS INSCRIÇÕES PARA O 9º SALÃO NACIONAL
Estão
abertas as inscrições para o 9º Salão de Artes Plásticas que será realizado no
Rio de Janeiro entre 18 de dezembro deste ano a 20 de fevereiro de 1987 com a
participação das obras dos 30 artistas premiados nos cinco salões regionais, a
saber: Norte, Sudeste, Centro-Oeste, Sul e Nordeste. O salão apresentará
manifestações paralelas através de uma sala especial.
As
inscrições estão abertas até o dia 12 de
setembro e você poderá encontrar a ficha de inscrição na Escola de Belas Artes
da UFBa. Ou na Fundação Cultural, podendo participar artistas brasileiros ou
estrangeiros residentes no País. Os trabalhos devem ser de pintura, escultura,
desenho, gravura, tapeçaria, fotografia e em mídias contemporâneos, que são
instalação, performance, videotape, filmes de 16 milímetros e super-oito, audiovisual,
objeto, neon, laser, holografia, entre outros. Casa candidato pode inscrever
três trabalhos, os quais não devem ultrapassar um espaço superior a dois metros
de altura por dois de largura. Os que vão executar instalação devem apresentar
em escala, desenhos, indicativos, maquete ou foto, além de memorial descritivo,
para evitar problemas. E será de sua responsabilidade toda a montagem,
operação, desmontagem e transporte das obras, bem como a obtenção, o
funcionamento, preservação, manutenção e operação de equipamentos. O tempo de
duração não deverá ultrapassar 10 minutos.
OS
PRÊMIOS
Para
os efeitos de seleção e premiação a Comissão Nacional de Artes Plásticas,
instituirá, no regimento de cada salão, uma subcomissão composta de dois
membros indicados por ela e mais, em cada região dos eleitos pelos artistas
inscritos, além do diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas/Funarte,
que a presidirá com direito a voto de qualidade. Sendo que os 10 membros
eleitos pelos artistas inscritos indicarão entre si dois representantes que
escolherão e premiarão, juntamente com dois membros indicados pela Comissão
Nacional de Artes plásticas e do diretor do INAP/Funarte, as obras que
participarão da mostra final do salão.
Serão
concedidos os seguintes prêmios: a) 30 aquisições de obras de 30 artistas
selecionados para a mostra final, cada um receberá CR$50 mil; b) um prêmio de
viagem ao exterior, constando de passagens de ida e de volta a países
escolhidos pelo artista, de forma a cobrir o valor máximo de CR$ 40 mil; c) um
prêmio de viagem ao País, constando de passagens de ida e de volta a estados
brasileiros escolhidos pelo artista no valor máximo de CR$20 mil.
ALBANO NEVES RECORDA SUA ANGOLA
A
decantada ligação cultural em
ter Angola e Bahia tem uma comprovação definitiva: são as
telas do artista plástico português (há 11 anos radicado em Salvador), Albano
Neves e Souza, que desde o dia 20 expõe, desta vez no Museu de Arte da Bahia,
no Corredor da Vitória- Avenida Sete de Setembro, 2.340.
É
uma retrospectiva comemorativa aos 50 anos de carreira desse artista de 65 anos
e uma vida inteiramente dedicada a flagrar o cotidiano do povo angolano. Sempre
com admirável sensibilidade e um sentido estético que lhe tem garantido papel
de destaque no cenário artístico.
Não
será exagero dizer, inclusive, que Albano Neves e Souza é mais conhecido na Europa do
que no Brasil, País que escolheu para morar por identificar uma proximidade
muito grande com sua querida Angola. “Eu vim à procura da África que existe
aqui e foi trazida pelos imigrantes involuntários, os escravos”, costuma ele
dizer, uma forma clara de justificar sua paixão por Salvador e pelo povo
baiano, a qual acaba refletida na maioria dos seus trabalhos.
Neles,
a figura humana encontra um espaço de destaque. Foi a partir dela que neves e
Souza construiu o seu mundo de lembranças e percepções, muitas delas marcadas
fortemente pela sensualidade. Seus quadros são, na verdade, a expressão real de
usos e costumes da África que conheceu e admira, no sentido documental de
abordagem artística.
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