JORNAL A TARDE SEGUNDA-FEIRA, 17
DE AGOSTO DE 1987
ÂNGELO ROBERTO EXPÕE DIA 21 NA
GALERIA CAÑIZARES
O artista Ângelo Roberto fazendo um desenho do rosto de Carlos França, chargista de A Tarde , foto de Geraldo Ataíde |
Para
anunciar sua exposição Ângelo esteve na Redação, acompanhado do seu amigo, e
“grande fornecedor” do néctar dos deuses, o não menos boêmio Franco Barreto, do
Quintal e Raso da Catarina. Juntas estas duas figuras singulares promovem a
quatro mãos esta exposição resgatando uma dívida de Salvador para com a arte de
Ângelo Roberto.
O
convite traz uma carta que Floriano Teixeira, enviou para o artista. Como
sabemos, o mestre Floriano é bamba no desenho em bicos-de-pena, ilustrador de
alguns livros de Jorge Amado, e reconhecido em todo o País. Nesta carta atesta
a qualidade do trabalho de Ângelo Roberto quando diz:
“Poucas
vezes vi, por estas bandas, desenhos a bico-de-pena, tão bem inspirados e
executados como os que vais expor (vi as fotografias de todos eles, pelas mãos
de Franco Barreto, teu amigo-irmão). O cruzamento das linhas, enriquecendo e
criando tonalidades diversas, faz desses desenhos peças de qualidade e beleza
plásticas surpreendentes”.
Portanto,
atestada por um mestre do desenho a qualidade de suas obras, só resta a este
filho de Ibicaraí, ex-povoado de Palestina, continuar o seu caminho que começou
desde a infância sob a influência de sua mãe.
“É
a linha que está me preparando para a cor”, confessa Ângelo, e, de repente,
lembro-me várias caricaturas suas que vi nas mãos de Franco onde ele capta com
perfeição os detalhes dos traços físicos de seus amigos como Guido Guerra,
Sílvio Lamenha, Gey Espinheira, Cotrim, Franco, Clarindo Silva e muitos outros.
Todos, figuras do primeiro time da noite e da boêmia baiana.
O
nosso Ângelo reside em Salvador desde 1944, quando aqui chegou com apenas cinco
anos de idade. Lembra-se ainda da primeira vez que viu o mar, azul e grandioso,
em sua frente provocando momentos de fantásticas imaginações. Aquela imensidão
de água a mover-se em várias tonalidades de azuis e verdes ficou marcada na sua
retina e na imaginação da fantasia de criança. “Confessa que esta sua
exposição, tem muito a ver com a sua infância, com minha vida toda e com a
minha vida social, nos bares desta cidade varando as noites”.
LEONARDO
ALENCAR EM RECIFE
Recebo uma comunicação do meu amigo Leonardo Alencar que estará expondo a partir do dia 20 de agosto na Galeria Metropolitana de Artes Aloísio Magalhães com o apoio da Fundação de Cultura da Cidade de Recife – Fundesc. O catálogo-convite da exposição é simples, diante da grandiosidade da obra de Leonardo Alencar, que precisa ser melhor trabalhada por parte das galerias baianas e vista com mais atenção pelos colecionadores.Conheço a trajetória pictórica de Leonardo há mais de 20 anos, sei da facilidade do seu desenho, da sua formação e da bagagem de informação que carrega , e isto tudo não está sendo compensado materialmente,como deveria .
Tanto
os desenhos com grandes manchas de cores suaves ou quentes entrelaçadas por
linhas que se curvam, que se cruzam e se encontram possibilitando o
aparecimento de figuras muito bem definidas, como os óleos ricos em técnica e
temática atestam ser Leonardo um dos bons artistas nesta terra e um dos mais
injustiçados em determinados segmentos do mercado de arte.
Dificuldades
sempre foram presença em sua vida profissional e individual. Ele vem como um
daqueles cavalos elegantes e possantes que costuma desenhar, pulando as barreiras
em busca de um porto onde possa arriar seus instrumentos de trabalho e criar
com tranqüilidade. Leonardo sabe das coisas. As pombas que surgem com muita
intensidade em seus desenhos e óleos são um símbolo da sua própria figura.
Sempre
com um riso nos lábios e uma palavra de carinho para seus amigos. Desta forma
este pintor, gravador e desenhista, que inclusive já expôs em várias galerias
do País, é uma face da grandeza deste sergipano, que sai e vence fora de suas
pequenas fronteiras.
AGLAIA
EXERCITA SUA LIBERDADE NA GALERIA BONINO
As
criações mais recentes da artista Aglaia estão sendo mostradas na Galeria
Bonino, no Rio de Janeiro, até o próximo dia 22 do corrente mês, e espelham o
universo humanístico em que se movimenta o pincel da artista. A apresentação é
do ex-ministro Eduardo Portella e atual secretário de Cultura do Governo do
Estado do Rio de Janeiro, que destaca: “ A pintura de Aglaia constitui um
permanente exercício de liberdade”. Trata-se, no entanto, de uma liberdade
relacional, em que a cena, ou a contracena, vive e se sustenta de contatos
previsíveis, porém, amplamente reveladores”. Nos trabalhos de Aglaia, Eduardo
Portella descobre o jogo da vida, “ op luminoso espetáculo de homens e coisas ,
de situações cotidianas, não raro rústicas, frequentemente emocionais”.
Carioca,
formada em Pintura e Comunicação Visual pela Escola de Belas Artes da UFRJ,
Aglaia Peltier dos Santos realizou exposições individuais em 1980 (Caesar Park
Hotel do Rio); 1982 ( Galeria Brasiliana de São Paulo); 1983( Galeria Charting
do Rio) e em 1985, pela primeira vez, na Galeria Bonino. Seus trabalhos foram
vendidos em leilões na Galeria Concorde, sendo que um dos seus quadros foi
publicado na primeira página da edição de Natal de O Globo, em 1986.O nome de
Aglaia consta do Dicionário de Arte, de Walmir Ayala, do Guia Internacional dos
Artistas Plásticos, de Leo Christiano, e da Enciclopédia do Banco Bozzano
Simonsen sobre Arte Brasileira, de Walmir Ayala.
EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL DE DIRAJARA NO
PRAIAMAR HOTEL
PRAIAMAR HOTEL
A
cachoeirana Dirajara, que tem nome indígena, vai apresentar 21 obras com forte
tendência cubista na sua primeira exposição individual no saguão do Praiamar
Hotel. Desde 1963 que ela vem trabalhando nas horas disponíveis. O curioso é
que a artista é contadora de profissão, portanto, lida com números e carrega
consigo este lado poético artístico.
Ela
acompanha a trajetória de seus trabalhos. “São como pedaços de mim que se
espalham por esta cidade e outros lugares. É uma grande emoção cada quadro que
as pessoas levam para suas casas. Tenho tudo anotado, porque entendo que cada
um deles é um pouco da minha história de vida, da minha própria existência”.
Evidente, que uma emoção carregada de sensibilidade do artista, aliada a sua
condição de mulher, que quase sempre é mais terna e se emociona com mais
facilidade. Afirmo , que não é uma
visão, dentro do contexto machista da nossa própria cultura.
Suas
cores são suaves e muitos dos trabalhos trazem figuras de aves, e
principalmente de pessoas envolvidas por formas geométricas que mudam de
tonalidade permitindo composições equilibradas. Dirajara é uma artista disposta
a enfrentar as dificuldades que virão nesta trajetória iniciada em 1963, e que
agora começa com o pé direito ao realizar sua primeira exposição individual com 21 telas de boa qualidade.
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