JORNAL A TARDE SALVADOR, 20 DE OUTUBRO DE 1986.
VINTE ANOS DE FOTOGRAFIA REUNINDO
42 PROFISSIONAIS
Uma
iniciativa que merece aplausos a do Núcleo de Arte do Desenbanco em promover
uma exposição de fotografia reunindo 42 profissionais que enfocaram, com suas
lentes, situações, objetos e paisagens as mais diversas. Predomina a figura
humana com toda a sua expressividade. Porém, acho que deveria ter havido uma
melhor seleção porque no meio de fotos excelentes encontrei algumas muito
comuns, sem maior grandeza de técnica e expressão. Fotos que foram feitas,
algumas, por profissionais de reconhecido talento, mas, parece que escolheram
sem muito critério o que iam expor.
Não
se trata de uma retrospectiva e sim de um levantamento dos trabalhos produzidos
por alguns dos mais inventivos profissionais que surgiram nas duas últimas
décadas e a mostra integra os 20 anos da instituição promotora do evento.
Foto de Arestides Baptista do meu amigo e saudoso mestre Pastinha jogando sua Capoeira de Angola.
Um
dado muito positivo foi a homenagem prestada a quatro fotógrafos que atuaram
antes deste período:
Vavá,
o homem que documenta a socialite baiana há algumas décadas; Voltaire Fraga; o
arquiteto-fotógrafo Sílvio Robatto e o nosso querido Anízio Carvalho, um homem
que tem presença assegurada na história da imprensa baiana. Anízio é uma lição
viva para aqueles profissionais da fotografia que começam, pela sua
simplicidade e sagacidade. Quando vejo alguns que mal sabem segurar uma câmara
se arvorando de “grandes profissionais” penso em Anízio Carvalho , em Romualdo Bahiense ,
Djalma Carvalho e no Zé Cavalvanti. Digo aos iniciantes que procurem conhecer a
obra desta gente e tenham mais humildade e procurem trabalhar cada vez mais.
Informa a organizadora Maria Sampaio que procurou valorizar o trabalho
cotidiano dos profissionais no seu dia-a-dia.
Vale
a iniciativa porque é um grande painel de estilos e tendências com temas muito
variados e alguns até banais. Aplausos para o catálogo que tem a coordenação
visual de Washington Falcão.
ADAUTO
MACHADO EXPÕE 20 TELAS
Ao
abrir o catálogo lembrei-me do velho e saudoso Teruz. Os cavalos em disparada e
ao fundo as manchas amareladas e avermelhadas do firmamento. São imagens como
esta, cheias de poesia, que estão reunidas em 20 quadros onde o artista
sergipano Adauto enfoca poeticamente a paisagem sergipana. Morei muitos anos em
Sergipe, exatamente numa cidadezinha chamada Riachão do Dantas, a qual revi à
pouco tempo, e continua pequenina e inexpressiva do mesmo jeito. A exposição é
na Ludus Artis Galeria, em Aracaju, e traz no catálogo a apresentação de Walmir
Ayala, que destaca a luminosidade e a simplicidade das composições.
Evidente
que no decorrer do tempo estas composições tendem a ganhar mais força, porém,
destaco as grandes manchas onde o horizonte se destaca.
O
crítico carioca lembrou os versos da Cecília Meirelles: “Eu canto porque o
instante existe/ e minha vida está completa”. Certamente, que a vida de Adauto
não está completa, está se completando a cada instante e desejo que ele
continue com seus cavalos cavalgando as belas paisagens sergipanas, vencendo os
prados e suaves montanhas. Que explode outras temáticas, e que as composições
ganhem novos elementos plásticos.
IMAGENS
DO UNIVERSO DE CELUQUE
Suas
telas exprimem imagens que se multiplicam aos milhões nas áreas insondáveis das
galáxias. Uma arte que alguns classificariam de realismo científico, porque se
assemelha a movimentos ou reflexos de astros ou lembram as moléculas que surgem
nos microscópios e as cédulas que se movimentam, depois de coloridas, por um
investigador. É uma arte nova, embora já tenhamos visto nos livros e revistas
científicas imagens semelhantes, mas as de Celuque são criadas dentro de sua
visão e emoção. O colorido é exuberante e nos dá uma ideia muito forte da
pequenez do homem diante da grandeza do Universo. Do ponto de vista estético as
telas são muito agradáveis aos olhos e nos dão ideia que Celuque se apossou de
um grande telescópio e passou a gravar num papel fotográfico as imagens
coloridas das galáxias. São estrelas que nascem, que se movimentam, que
explodem e que mudam de cores de acordo com os reflexos de outros astros. Diria
que é uma mistura de ciência e arte, onde os limites inexistem em sua obra.
Celuque trocou o pincel e passou a vasculhar os céus com seu telescópio
eletrônico e captou aquilo que mais o sensibilizou, aquilo que mais se identificou
com o seu próprio universo de reconhecimento.
Neste
contato entre o homem e o desconhecido surge a arte de Celuque.
A
GEOMETRIA DE UM PINTOR SEM ESTILO
Está
expondo na Galeria do Aluno, na Escola de Belas Artes, Crispim, que deixou um
tranqüilo cargo de Diretor de Arte de uma agência publicidade para trilhar o
caminho da academia. “Sou um pintor sem estilo”, confessa o artista, que é
mineiro de nascimento e traz uma obra marcada pelo geometrismo. O curioso é que
dentro desta sua linguagem, ele introduz outros elementos como a Lua, o Sol,
peixes e até figuras que lembram seres humanos. Mas, o que fica é a geometria
das formas retas e ponteagudas. Elas sobressaem em cores fortes e alegres. Para
Ivo Vellame, vindo das serras e dos montes de Minas Gerais, Crispim radicou-se
na Bahia e viu o mar e encantou-se. Nas suas telas figuram barcos cujas velas
invadem ousadas formas de peixes que interferem nas configurações dos barcos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário