WASHINGTON ENOBRECE OBJETOS
ABANDONADOS
Estava
envolvido com os problemas da próxima edição do jornal quando surge na minha
frente Washington Santana trazendo nas mãos uma velha moldura carcomida pelo
tempo e pelos cupins.Fiquei
alguns instantes, atônito a espera que ele me explicasse o que representava
aquela moldura.
Excitado,
foi logo dizendo, “acabei de achar esta moldura na frente de um edifício na
Ladeira da Barra e vim lhe mostrar! Estou recolhendo do lixo alguns objetos e
com eles vou montar uma exposição”. Daí passei a entender o porquê de sua
excitação ao ponto de sair da Ladeira da Barra e vir à redação
do jornal, que fica afastado ou seja na Avenida tancredo Neves. É que
Washington estava naquela fase eufórica da criação onde as idéias se atropelam.
Alguns preferem ficar trancados e outros procuram logo um interlocutor para
contar o que pretendem fazer.
Agora
reencontro a moldura e num lugar nobre. É a mesma co belo cartaz que anuncia a
sua exposição, já aberta no Solar do Unhão, na Avenida Contorno. A exposição
tem o título geral de Mutações. Explica o artista que “os recentes trabalhos
que tenho feito, com elementos que busco no lixo, no meu dia-a-dia, me alimenta
e excita, numa constante troca de energia. Essas formas viajadas no tempo,
perdidas nos espaços em constantes mutações e desdobramentos, passaram por
processos de adulterações da forma, cormatéria, mas mantém em sua volta uma
área muito forte, acentuada e, às vezes, disforme pelo seu próprio processo de
ser e estar em transmutação constante”.
Canabrava
é o palco do seu trabalho, local onde o lixo da cidade é jogado e que
Washington classifica como um lugar que retrata o verdadeiro holocausto de
miséria em que vivemos.
Tudo
serve para o artista criar a sua arte: um pedaço de madeira parcialmente
queimado, um cepo, uma velha gaiola, uma mão de pilão, uma tábua dessas que as
mulheres usam para cortar carne.
A Rainha, 1985,um dos trabalhos expostos |
O
agrupamento de formas, de diferente origem material, juntas em uma só emitem a
força cósmica vivida da comunhão.
Os
elementos que ora uso em meus recentes trabalhos não tem tradição histórica na
elaboração de um trabalho de arte. Portanto, há uma resistência das pessoas em
reconhecer esses trabalhos que ora faço.
Eu,
pensando bem, não sei como agradecer à sociedade de consumo por todas essas
coisas (produtos) engenhosas dadas a mim gratuitamente. Acredito até que pode
ser obra dos deuses.
A
atmosfera do local onde busco esses elementos tem para mim algo de mórbido e,
ao mesmo tempo, fascinante. Este universo de coisas espalhadas por locais
diversos aumenta a minha sede de ir, na esperança de encontrar algo que me
alimente, que me encha. O contato com aquela gente, que vagueia o tempo
necessário para sair dali carregado de esperança para o amanhã.
A
ENERGIA DE “ASTRAIS BANANAIS ETC E TAIS”...
Artistas
Bananais Etc e Tais... com esta denominação alegre e jocosa cinco alunos da
Escola de Belas Artes sob a coordenação da professora e também artista
plástica. Maria Adair estão expondo na Galeria Cañizares, que retoma assim a
sua função de possibilitar que novos artistas tenham espaço para expõe as suas
obras.
Partículas Elétricas, lápis de cera em papel, de Saulo |
Diz
a professora que “foi um trabalho gostoso integrado de produção e
companheirismo. Encontrávamos não só na escola, mas às vezes também na Lavagem
do Bonfim, na Festa do Rio Vermelho, atrás do trio elétrico, em minha casa, ou
saindo por aí ao mesmo tempo fruindo e recebendo desta cidade e seu povo”.
A
exposição foi aberta no dia 12 e será encerrada hoje, e abriu o ciclo de
exposições da EBA deste ano.
Sem Título, técnica mista sobre papel de Márcio |
Emília
está entusiasmada com os símbolos e nós que vivemos numa sociedade onde os
símbolos tendem a ser uma linguagem cada vez mais presente, temos que prestar
atenção a sua obra. Desde os primórdios que os homens buscam seus símbolos.
Uma
simples taça de metal, hoje, como ontem, é disputada a ferro e fogo porque é um
símbolo do poder e da conquista. Uma medalha de latão ou cobre consegue que
homens e mulheres suem e se digladiem nos campos de futebol, nos ringues e
assim por diante. O símbolo está em nossas vidas, nas ruas através os sinais de
trânsito, no dedo em riste do interlocutor, enfim em todos os momentos.
E
Emília tornou o símbolo como uma linha para sua obra. “Todo cosmo é repleto de
símbolo... Em arte, de uma forma ou de outra, consciente ou inconscientemente,
por acaso ou intencionalmente, me vejo em símbolo”;
Para
Saulo o seu trabalho é inspirado na energia. Tudo que nos rodeia está carregado
de energia positiva ou negativa.
Exatamente
aí “nas energias que circulam no espaço, no fogo, na luz e na força interior
dos homens e mulheres é que ele encontra a sua inspiração. Já Hedilamar está
voltada para as situações implícitas e explícitas na relação amorosa de um
casal e mostra através de uma trama que não agride quem olha.
O
Márcio Abreu trabalhando numa técnica mista sobre papel apresenta as bananas
com suas formas semicirculares envolvidas nos traços sinuosos revelando “o que
está oprimido, escondido, o que é desconhecido”. Realmente ele se refere ao seu
próprio interior. Finalmente, o Paulo Carvalho é um desenhista que flagra
momentos. São flashes de sua intimidade. Diz ele que “talvez os tais etecéteras
de um mesmo astral”...
ESCRITÓRIO
DE ARTE ABRE LEILÃO
Com
obras dos mais importantes artistas brasileiros e trabalhos de Picasso, Miró e
Salvador Dali, o Escritório de Arte da Bahia promove hoje a partir das 21
horas, no Salão Monte Pascoal, do Salvador Praia Hotel, na Avenida Presidente
Vargas, Ondina, um dos maiores e melhores leilões já presenciados pelo público
baiano. São cerca de 120 trabalhos, além de imagens sacras e tapetes orientais,
numa visão abrangente da história contemporânea das artes plásticas
brasileiras.
A
mostra, que está aberta para visitas desde o dia 22, das 10 às 20 horas,
apresenta quadros de Antônio Parreiras até a época atual da Bahia com o grupo da
Geração 70, e sobressai pela quantidade e qualidade das obras e nomes,
podendo-se citar entre tantos, os de Presciliano Silva, com um óleo datado de
1912, Manabu Mabe; Raimundo de Oliveira, Antônio Bandeira, Rescala, Djanira
(foto) a grande artista do modernismo, Carybé, Aldemir Martins, Fernando
Coelho, Floriano Teixeira, Jenner Augusto, Carlos Bastos, Jaime Hora, Calasans
Neto, Carlos Bracher, Gilberto Salvador, José Maria, Jamison Pedra, e relevos
de Emanoel Araújo.
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