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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

WASHINGTON ENOBRECE OBJETOS ABANDONADOS - 24 DE MARÇO DE 1986.

JORNAL DA TARDE , SALVADOR, 24 DE MARÇO DE 1986.
 
WASHINGTON  ENOBRECE OBJETOS ABANDONADOS
Estava envolvido com os problemas da próxima edição do jornal quando surge na minha frente Washington Santana trazendo nas mãos uma velha moldura carcomida pelo tempo e pelos cupins.Fiquei alguns instantes, atônito a espera que ele me explicasse o que representava aquela moldura.
Excitado, foi logo dizendo, “acabei de achar esta moldura na frente de um edifício na Ladeira da Barra e vim lhe mostrar! Estou recolhendo do lixo alguns objetos e com eles vou montar uma exposição”. Daí passei a entender o porquê de sua excitação ao ponto de sair da Ladeira da Barra e vir à redação do jornal, que fica afastado ou seja na Avenida tancredo Neves. É que Washington estava naquela fase eufórica da criação onde as idéias se atropelam. Alguns preferem ficar trancados e outros procuram logo um interlocutor para contar o que pretendem fazer.
Agora reencontro a moldura e num lugar nobre. É a mesma co belo cartaz que anuncia a sua exposição, já aberta no Solar do Unhão, na Avenida Contorno. A exposição tem o título geral de Mutações. Explica o artista que “os recentes trabalhos que tenho feito, com elementos que busco no lixo, no meu dia-a-dia, me alimenta e excita, numa constante troca de energia. Essas formas viajadas no tempo, perdidas nos espaços em constantes mutações e desdobramentos, passaram por processos de adulterações da forma, cormatéria, mas mantém em sua volta uma área muito forte, acentuada e, às vezes, disforme pelo seu próprio processo de ser e estar em transmutação constante”.
Canabrava é o palco do seu trabalho, local onde o lixo da cidade é jogado e que Washington classifica como um lugar que retrata o verdadeiro holocausto de miséria em que vivemos.
Tudo serve para o artista criar a sua arte: um pedaço de madeira parcialmente queimado, um cepo, uma velha gaiola, uma mão de pilão, uma tábua dessas que as mulheres usam para cortar carne.
A Rainha, 1985,um dos trabalhos expostos
Enfim tudo que consegue excitá-lo. Fica sensibilizado com as pessoas em que determinados momentos disputam com ele os restos do lixão”. As criaturas que sobrevivem nesta área, vão desde crianças até mulheres, homens, urubus e cachorros. Todos lutando pela sua sobrevivência, e olhando o vaivém dos caminhões  trazendo o lixo da esperança.
O agrupamento de formas, de diferente origem material, juntas em uma só emitem a força cósmica vivida da comunhão.
Os elementos que ora uso em meus recentes trabalhos não tem tradição histórica na elaboração de um trabalho de arte. Portanto, há uma resistência das pessoas em reconhecer esses trabalhos que ora faço.
Eu, pensando bem, não sei como agradecer à sociedade de consumo por todas essas coisas (produtos) engenhosas dadas a mim gratuitamente. Acredito até que pode ser obra dos deuses.
A atmosfera do local onde busco esses elementos tem para mim algo de mórbido e, ao mesmo tempo, fascinante. Este universo de coisas espalhadas por locais diversos aumenta a minha sede de ir, na esperança de encontrar algo que me alimente, que me encha. O contato com aquela gente, que vagueia o tempo necessário para sair dali carregado de esperança para o amanhã.

A ENERGIA DE “ASTRAIS BANANAIS ETC E TAIS”...

Artistas Bananais Etc e Tais... com esta denominação alegre e jocosa cinco alunos da Escola de Belas Artes sob a coordenação da professora e também artista plástica. Maria Adair estão expondo na Galeria Cañizares, que retoma assim a sua função de possibilitar que novos artistas tenham espaço para expõe as suas obras.
Partículas Elétricas, lápis de cera em papel, de Saulo
O grupo começou a ser formado sob a luz do Verão baiano.Foi no Verão que passou que Maria Adair decidiu trabalhar com um grupo de alunos com uma proposta básica de preservar, as individualidades e a independência do trabalho de cada um. No início chegou a reunir 11 alunos, um de Arquitetura, e outro de Física, também se apresentaram todos demonstrando muita vontade em trabalhar. Porém, somente cinco conseguiram ir adiante, organizando os seus horários, e ao mesmo tempo abrindo mão de algumas das delícias do Verão baiano.
Diz a professora que “foi um trabalho gostoso integrado de produção e companheirismo. Encontrávamos não só na escola, mas às vezes também na Lavagem do Bonfim, na Festa do Rio Vermelho, atrás do trio elétrico, em minha casa, ou saindo por aí ao mesmo tempo fruindo e recebendo desta cidade e seu povo”.
A exposição foi aberta no dia 12 e será encerrada hoje, e abriu o ciclo de exposições da EBA deste ano.
Sem Título, técnica mista sobre papel de Márcio
Desta forma Emília, Paulo Carvalho, Hedi Lamar, Márcia Abreu e Saulo mostraram aos calouros o que se faz na escola.
Emília está entusiasmada com os símbolos e nós que vivemos numa sociedade onde os símbolos tendem a ser uma linguagem cada vez mais presente, temos que prestar atenção a sua obra. Desde os primórdios que os homens buscam seus símbolos.
Uma simples taça de metal, hoje, como ontem, é disputada a ferro e fogo porque é um símbolo do poder e da conquista. Uma medalha de latão ou cobre consegue que homens e mulheres suem e se digladiem nos campos de futebol, nos ringues e assim por diante. O símbolo está em nossas vidas, nas ruas através os sinais de trânsito, no dedo em riste do interlocutor, enfim em todos os momentos.
E Emília tornou o símbolo como uma linha para sua obra. “Todo cosmo é repleto de símbolo... Em arte, de uma forma ou de outra, consciente ou inconscientemente, por acaso ou intencionalmente, me vejo em símbolo”;
Para Saulo o seu trabalho é inspirado na energia. Tudo que nos rodeia está carregado de energia positiva ou negativa.
Exatamente aí “nas energias que circulam no espaço, no fogo, na luz e na força interior dos homens e mulheres é que ele encontra a sua inspiração. Já Hedilamar está voltada para as situações implícitas e explícitas na relação amorosa de um casal e mostra através de uma trama que não agride quem olha.
O Márcio Abreu trabalhando numa técnica mista sobre papel apresenta as bananas com suas formas semicirculares envolvidas nos traços sinuosos revelando “o que está oprimido, escondido, o que é desconhecido”. Realmente ele se refere ao seu próprio interior. Finalmente, o Paulo Carvalho é um desenhista que flagra momentos. São flashes de sua intimidade. Diz ele que “talvez os tais etecéteras de um mesmo astral”...

           ESCRITÓRIO DE ARTE ABRE LEILÃO

Com obras dos mais importantes artistas brasileiros e trabalhos de Picasso, Miró e Salvador Dali, o Escritório de Arte da Bahia promove hoje a partir das 21 horas, no Salão Monte Pascoal, do Salvador Praia Hotel, na Avenida Presidente Vargas, Ondina, um dos maiores e melhores leilões já presenciados pelo público baiano. São cerca de 120 trabalhos, além de imagens sacras e tapetes orientais, numa visão abrangente da história contemporânea das artes plásticas brasileiras.
A mostra, que está aberta para visitas desde o dia 22, das 10 às 20 horas, apresenta quadros de Antônio Parreiras até a época atual da Bahia com o grupo da Geração 70, e sobressai pela quantidade e qualidade das obras e nomes, podendo-se citar entre tantos, os de Presciliano Silva, com um óleo datado de 1912, Manabu Mabe; Raimundo de Oliveira, Antônio Bandeira, Rescala, Djanira (foto) a grande artista do modernismo, Carybé, Aldemir Martins, Fernando Coelho, Floriano Teixeira, Jenner Augusto, Carlos Bastos, Jaime Hora, Calasans Neto, Carlos Bracher, Gilberto Salvador, José Maria, Jamison Pedra, e relevos de Emanoel Araújo.







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