JORNAL A TARDE, SALVADOR, 30 DE ABRIL DE 1984.
OS SETENTA ANOS DO HOMEM QUE SABE CANTAR A BAHIA
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Caymmi volta à Lagoa do Abaeté muitos anos depois em 1978 , levado por mim, que o fotografei |
Cabelos
brancos, fez morena e barriga saliente. Quando fala deixa fluir o dengo e a
magia desta Bahia que sabe cantar como ninguém nos seus versos enaltecendo o mar,
os jangadeiros, a morena e o João Valentão. Este é um retrato do Dorival Caymmi
que estamos acostumados a ver e ouvir nos seus discos e nos programas de rádio
e televisão.
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João Valentão, de Caymmi |
Porém,
quando o conhecemos pessoalmente passamos a amá-lo e surge a vontade de preservá-lo
como uma figura mágica, um homem que espalha felicidade e principalmente
doçura. E Caymmi é isto! Lembro-me que em 1979 tive a felicidade de juntos
percorrer os pontos mais tradicionais de Salvador: Itapuã, Abaeté, Bonfim,
Amaralina, Mercado Modelo e a praça com seu nome em Itapuã, quando ele
reencontrava a gente simples que lhe cumprimentava com um carinho especial. Não
era a abordagem pura e simples de um fã que encontrava um cantor de sucesso do
momento. Mas, abordagem era diferente. Doce e fraternal! E o velho de cabelos
brancos, com sua tradicional camisa listrada, na horizontal, salientando mais
ainda sua vasta barriga, abraçava-os e conversava como conhecesse há muito
tempo àquela gente que lhe estimava.
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Milagre, de Caymmi |
Embora
tenha quase vinte anos de jornalismo e tenha entrevistado e convivido com
muitas personalidades artísticas, políticas, etc., aquele dia que encontrei
Caymmi ficou marcado como um dia terno e gratificante. Suando muito ele
cantarolava, ficava aborrecido com os maus tratos que estava relegada a sua
lagoa do Abaeté, que tornou-se famosa graças a seus versos “Na Bahia tem uma
lagoa escura/ arrodeada de ária branca”. Falou da puxada de rede, do xaréu que
vinha em grandes cardumes beijar a praia e eram presas fáceis dos pescadores.
E, reencontrou Biriba, ex-jogador do Bahia que naquele dia estava em seu
trabalho diário ajudando a tirar a rede do mar. De violão em punho não se
conteve e cantou para aqueles que tanto lhes inspiraram em seus versos
inesquecíveis.
Mas,
vamos falar de Caymmi setentão. È seu aniversário e devemos apagar
simbolicamente as setentas velas com carinho e torcer para que continuemos por
muitos anos festejando o dia 30 de abril. Sua doçura e dengo geralmente
confundidos com preguiça, pode ser atestado se olharmos a sua produção musical.
E, agora, mais recentemente, a sua decisão de pintar, de passar o papel as
imagens daqueles personagens como a morena Marina, musa pele morena e o João
Valentão, que existe em cada esquina de malandragem.
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Auto-retrato de Caymmi |
Evidente
que o executivo tipo paulista de gravatinha surrada e pasta 007, com segredo,
não tem tempo de conviver com este mundo. Ele está mais preocupado com o
horário do escritório e com o sanduíche e um suco de laranja que vai consumir
na hora do almoço. Caymmi é de outro mundo, de um mundo de paz onde se tem
tempo suficiente para olhar as estrelas e construir personagens eternos e
puros! Caymmi é de um mundo de poesia. E é por isto que atendendo a um apelo de
Jorge Amado todos foram abraça-lo...”Venham todos pois o dia é de festa, de festa
maior. Traga os atabaques, convoque os afoxés, os mestres de capoeiras, os
ogans e os ekedes e as Yaôs, o povo dos candomblés, os nagôs e os gêges , os
angolas e os congos, não se esqueça dos malés!. O dia é de festa. Vamos saudar
o nosso poeta, aquele que cantou o raiar da aurosa, o deslumbre de Janaína e a
força do povo pobre!”.
E
diz mais Jorge Amado : “É a festa de Bento, de João Valentão e Chico Ferreira,
hoje é a festa daquele que chama o vento e comanda os saveiros do mar, do
namorado de Inaê e de todas as moças da Bahia, aquele que as fez mais belas e
dengosas”.
Portanto,
Caymmi é o homem que conversa com o mar, com os peixes e ama os pescadores. Um
homem que tem 44 anos de vida conjugal com a sua Stela, e desta união surgiram
mais três artistas: nana, Dori e Danilo. Além de cantor, compositor, artista
plástico, o velho Caymmi ainda brindou este país com seus filhos, três
excelentes artistas.
LEILÃO DE 120 OBRAS NO SALVADOR
PRAIA HOTEL
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Paisagem Campestre, de Alberto Valença |
|Cento e vinte obras de artistas brasileiros
representantes da pintura contemporânea, serão leiloados hoje pelo Escritório
de Arte da Bahia, no Salão Monte Pascoal
do Salvador Praia Hotel. Será o terceiro Grande Leilão de Arte da
Temporada, e marcará o primeiro ano de
existência da galeria, conforme informou seu proprietário Paulo Darzé.
O
pregão está marcado para as 20 horas, numa noite única, com lances livres. Mais
uma vez afirmam os promotores do leilão,
estarão reunidos os mais importantes nomes da pintura nacional, colocando-se
lado a lado diversos estilos e os mais variados quadros de tradicionais
pintores baianos.
Entre
os nomes da Bahia estarão Rescála, Alberto Valença, Emídio Magalhães, Carybé,
Jayme Hora e Raimundo Oliveira, todos pertencentes a colecionadores baianos e
que vem despertando grande interesse como “ Marinha” e “Paisagem Campestre”, de
Alberto Valença, avaliados em cerca de três milhões cada tela. “Estarão
reunidos qualidade e bons preços”, comentou Louis Caetano Queirós encarregado
de realizar o pregão.
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Marinha, também do professor Alberto Valença |
O
próprio Luís Caetano tem se mostrado empolgado com o leilão do Escritório de
Arte da Bahia . No seu entender , a reunião destes artistas nacionais “ é algo
para se ver independente da compra, diante da diversidade de estilo que vai do
clássico ao moderno, passado pelo acadêmico”. O leilão foi antecedido de uma
exposição ontem “ é uma verdadeira coletânea da pintura contemporânea
brasileira”, completou.
A
exposição começou às 10 horas do domingo, dia 29, indo até às 23 horas no Salão
Monte Pascoal.
Também
durante o pregão as 120 obras ficarão expostas .Entre elas, pinturas de Alberto
Valença. Raimundo Oliveira, Rescála, Jayme Hora, Carybé, João Alves, Jenner
Augusto, Lobianco, Aldemir Martins, Carlos Bastos e muitos outros.
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