JORNAL A TARDE , SALVADOR, 26 DE MARÇO DE 1984.
RAMIRO FIXA NAS GRAVURAS SEUS MOMENTOS PSÍQUICOS
O artista Ramiro ao lado de uma gravura de sua autoria, durante sua exposição na Galeria MAB. |
A
obra de Ramiro é uma busca constante, uma demonstração da cobrança cotidiana
que ele faz de si próprio. São muitos questionamentos, inclusive, sobre o papel
do artista numa sociedade onde ele enxerga grandes desníveis e outras
necessidades mais urgentes, e também, sobre a função da arte. Ramiro não está
preocupado simplesmente com a parte técnica ou estética do seu trabalho. Deseja
o reconhecimento público da sua obra, mas que aconteça como uma coisa natural,
e tendo por base a qualidade.
É
preciso que o artista carrega consigo um grande peso por ser filho de artista
famoso e ter escolhido a mesma profissão do pai. Aliás, isto tem provocado
muitos problemas em jovens filhos de pessoas famosas, porque a sociedade passa
a fazer cobranças e exigências absurdas. Muitos inclusive têm renegado sua
própria paternidade ou maternidade procurando um distanciamento da família.
Ramiro
tem uma grande virtude. Embora seja filho de Carybé, que é um artista
consagrado, e que tem um estilo inconfundível e forte,não sofreu influência de
seu pai. Ao contrário, seu trabalho segue por outro caminho e não existe
qualquer relacionamento quer seja no traço, temática ou técnica. Ramiro, embora
carregue consigo alguns problemas existências, procura superá-los através de
sua arte que tem a marca de sua própria personalidade. Ao meu ver, este é um
dado importante, porque está buscando a sua própria identidade artística.
Como
disse acima, é difícil ser reconhecido profissionalmente quando já se tem um
pai famoso.Mas, perto de nós está o exemplo dos Cravo.Mariozinho, o fotógrafo,
é tão reconhecido no mercado de arte quanto seu pai,. Mário, o escultor. E isto
vem demonstrar que Ramiro pode, e certamente será reconhecido se continuar
insistindo e trabalhando com afinco em suas gravuras. Os obstáculos, quer sejam
de mercado e de técnica, serão superados, porque posso afiançar, que não lhe
falta talento.
Ele
ainda está descobrindo materiais para o seu trabalho artístico. Tem uma
preocupação com o artesanal, com a
impressão bem feita,com o resultado final de tudo que faz.Usa vários tipos de
materiais, alguns até encontrados nas ruas e no lixo industrial, os quais são
levados para seu atelier como um achado importante. Ali estuda a textura e os
imprime várias vezes em busca de resultados mais emocionantes. E, quase sempre,
surgem no papel impressões curiosas e que funcionam perfeitamente. É a procura
do seu estilo próprio, e também, da função, que determinados objetos,
considerados por nós imprestáveis, tem e que ele realça. Assim esses objetos
ganham a nobreza de uma matriz, de um elemento importante dentro de uma
composição plástica. São pedaços de pneus velhos, de eucatex, tecidos, lixas e
tudo que realmente ele seleciona pela textura, com bons resultados ao serem
impressos.
Existem na obra de Ramiro altos e baixos. Evidente que isto depende dos momentos psíquicos. Mas, estes altos e baixos são também presença constante na obra de muitos artista que já estão consagrados. Em qualquer exposição onde são apresentados 30 quadros, quase sempre encontramos dois ou mais que fogem totalmente em qualidade do conjunto. Muitas vezes até destoam, e os espectadores quase sempre são unânimes em reconhecer este fato. Em Ramiro esta ocorrência dá-se como reflexo de sua perplexidade, que se estabelece diante das muitas perguntas que faz a si próprio. O artista é muito exigente com seu trabalho e quando não tem uma resposta que lhe satisfaça ou o reconhecimento imediato, fica mais inquieto.Mas, é preciso que entenda que o reconhecimento público é coisa que demanda tempo, e é um processo um pouco demorado, e que depende além do talento, que não lhe falta, e muito trabalho e muitas circunstâncias. É preciso cuidar da organização, da divulgação e, principalmente, trabalhar muito. Se trilhar por este caminho, dentro de alguns anos sua obra será reconhecida e festejada.
Existem na obra de Ramiro altos e baixos. Evidente que isto depende dos momentos psíquicos. Mas, estes altos e baixos são também presença constante na obra de muitos artista que já estão consagrados. Em qualquer exposição onde são apresentados 30 quadros, quase sempre encontramos dois ou mais que fogem totalmente em qualidade do conjunto. Muitas vezes até destoam, e os espectadores quase sempre são unânimes em reconhecer este fato. Em Ramiro esta ocorrência dá-se como reflexo de sua perplexidade, que se estabelece diante das muitas perguntas que faz a si próprio. O artista é muito exigente com seu trabalho e quando não tem uma resposta que lhe satisfaça ou o reconhecimento imediato, fica mais inquieto.Mas, é preciso que entenda que o reconhecimento público é coisa que demanda tempo, e é um processo um pouco demorado, e que depende além do talento, que não lhe falta, e muito trabalho e muitas circunstâncias. É preciso cuidar da organização, da divulgação e, principalmente, trabalhar muito. Se trilhar por este caminho, dentro de alguns anos sua obra será reconhecida e festejada.
LASAR
SEGALL E SONIA BRUSCKY NO SOLAR DO UNHÃO
Lasar
Segall – 1891-1957 – O escultor não é menos notável que o pintor e o gravador; esse é, decerto,
extraordinário em todas as técnicas., Segall não foi um pintor que gravava –
como Malfatti ou mesmo Portinari – e sim um gravador autêntico, alguém que, em
todos os momentos de sua carreira, bem compreendeu as leis peculiares à
gravura, e soube elaborar , obediente a elas, uma obra pessoal.
Quantitativa
e e qualitativamente, essa obra gravada é importante. Acrescente-se a tal a
circunstância de ter sido Segall, cronologicamente , dos primeiros a fazer
gravura no Brasil – entregando-se com idêntica maestria à litografia, à
xilografia e à gravura em metal – e se há de chegar à conclusão lógica de
que,na história da gravura brasileira, esse artista merece lugar no primeiro
plano.
Sonia Von
Brusky é carioca , pintora,escultora e desenhista. Sobre o seu trabalho a
crítica se manifestou através de nomes como : Adonias Filho, José Roberto
Teixeira Leite, Frederico Morais, Carlos Drummond de Andrade , dentre outros.
Sonia e alguns de seus trabalhos no Solar do Unhão |
AINDA
ESTÁ PARA SER IMPRESSO O VERDADEIRO CATÁLOGO DO MAMB
Sei que
este comentário pode gerar alguns problemas pessoais com alguns artistas.Mas
ele traduz o que as pessoas ligadas à arte na Bahia estão falando nos museus,
nas galerias e em todos os locais onde é lembrado o catálogo do MAMB, que chega
com 25 anos de atraso e não reflete o conteúdo do seu acervo como deveria.
Alguns irão perguntar: por que o Reynivaldo não falou logo sobre isto?
Exatamente porque não adiantaram meus esforços em conseguir antes uma prova
para que pudesse fazer uma avaliação. Só consegui a capa que publiquei na
coluna na semana passada. Agora, de posse do catálogo, verifico que houve
manipulação, prejudicando-o.
O
verdadeiro catálogo do MAMB ainda está para ser feito! Enfocando e ilustrando
com as principais obras dos artistas que tiveram importante papel no movimento
artístico baiano e participaram ativamente da fase áurea do Museu de Arte Moderna
da Bahia. Faltou critério e principalmente, isenção de ânimos para relevar
outros interesses em benefício da própria cultura. Não desejo polemizar. Mas
registro aqui a minha discordância para não pecar por omissão.
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