MIGUEL DOS SANTOS ESTÁ NA GALERIA
MULTIPLUS
O pintor, escultor e ceramista, Miguel dos Santos retorna à Bahia com uma
nova exposição, desta vez na Galeria Multiplus. Conhecido dos baianos, Miguel
trás a sua arte cheia de marcas da cultura popular na qual sabe andar por entre
os caminhos misteriosos e os enigmas das manifestações religiosas.
O
artista carrega consigo a marca de sua gente na medida em que vai colocando nas
telas, nas paredes de suas cerâmicas e mesmo na sua escultura, elementos que
deságuam necessariamente nesta interrelação.
As
deformações das figuras são a prova de sua maturidade, do conhecimento do
desenho e calcado em dragões e outros bichos que povoam as lendas sertanejas,
das quais Miguel é um intérprete plástico, transformando essas histórias em
elementos de sua obra. É, portanto, uma arte que está intimamente ligada ao
povo, este povo que senta no chão na grande feira de Caruaru, em Feira de
Santana e outros locais e ali expõe o pouco que produz para em seguida comprar
o mínimo para garantir-lhe a sobrevivência. É este povo que dança e canta nas
festas dos padroeiros de suas localidades e ali exprime o que de mais terno e
verdadeiro possui. É esta gente que sofre com o descaso dos governantes que
acorrem empolados na época de eleições. A arte de Miguel dos Santos tem cheiro
de povo e no próprio sobrenome ele traz esta identidade, o que demonstra uma
relação maior.
Sua
exposição está na Galeria Multiplus, que fica no Morro do Gavaza, na Barra.Analisando
a arte de Miguel, Clarival do Prado Valladares disse:
“Todas
as imagens que concebe e faz são tiradas no fundo da alma coletiva que por ele
passa, e prossegue. Sua escultura, modelada em cerâmica pintada, porém, se
submete a uma outra solução plástica. É a depuração de sua pintura, realizada
com um mínimo de elementos para a composição formal.
Não
foge do compromisso arquetipal que é atendido, sempre através da síntese. Para
a nossa interpretação, Miguel Domingos dos Santos é um intérprete do comportamento
arcaico brasileiro, resultante do sincretismo católico-africano, iniciado com a
colonização e ainda hoje aparente em determinadas áreas e em certos grupos
sociais.
Ariano
Suassuna, um dos maiores entusiastas da obra de Miguel, refere-se sobre sua
pintura como “algo que entusiasma, povoando seus quadros a óleo, ou cerâmicas,
de bichos estranhos: dragões, metamorfoses, cachorros endemoniados, santos,
mitos e demônios- uma obra tão ligada ao romanceiro e por isso mesmo, tão
expressiva da visão tragicamente fatalista, cruelmente alegre e miticamente
verdadeira que o povo brasileiro tem do real”. E Walmir Ayala que “as mãos que
hoje amoldam o barro ou pintam a convulsão sensual de um animal impossível
transmitem o prazer e o domínio de uma vocação consciente e autodirigida.
Com
ele, com Espídola, com Pindaro Castelo Branco, com João Câmara e Siron, com
alguns outros jovens mestres da pintura enraizada no sonho (ou pesadelo) do
povo, se faz a grande pintura brasileira
de hoje, em seu momento de mais inquietante resistência”.
Miguel
dos Santos nasceu em Caruaru, Pernambuco, em 3 de novembro de 1944, mas desde
1960 reside em João Pessoa ,
que considera como sua terra de adoção e onde fez toda sua formação artística.
Seus trabalhos já representaram o Brasil na Bélgica, Nigéria, Estados Unidos,
Chile e Colômbia.
CARMEM PENIDO TEM OS CHAPÉUS COMO TEMA
O
chapéu foi no século passado e no início deste uma peça indispensável na
indumentária de homens e mulheres. Existe uma variedade infinita de chapéus,
tanto masculinos como femininos. Na maioria das vezes o homem utiliza como
proteção contra o sol e a chuva e as mulheres preferem usá-lo como elemento de
enfeite. O certo é que o chapéu está presente na nossa cultura de várias
formas. Lembremos do vaqueiro com seu chapéu de couro, do gaúcho com o de abas
largas, o lavrador com seu inseparável chapéu de palha e assim por diante. Nas
sociedades industrializadas o chapéu foi substituído nas fábricas e outros
locais de trabalho por resistentes capacetes de fibra e plástico. Por falar em
capacete, lembremos dos militares que não esquecem os seus quepes e também seus
capacetes. Este elemento tão presente nas sociedades que Carmem Penido escolheu
como temática. Carmem e seu Álbum de Família.
Só que seus chapéus são aqueles utilizados nas casas de famílias abastadas e que são presença indispensável nas cabeças das pessoas que aparecem nas fotografias amareladas dos álbuns de família. Carmem pinta apenas os elementos principais e dá destaque aos chapéus. Uma pintura sóbria e tenho certeza que no decorrer do tempo vai perder um pouco da figuração, como forma de mostrar sua determinação em busca de uma arte mais identificada com o seu tempo.
Só que seus chapéus são aqueles utilizados nas casas de famílias abastadas e que são presença indispensável nas cabeças das pessoas que aparecem nas fotografias amareladas dos álbuns de família. Carmem pinta apenas os elementos principais e dá destaque aos chapéus. Uma pintura sóbria e tenho certeza que no decorrer do tempo vai perder um pouco da figuração, como forma de mostrar sua determinação em busca de uma arte mais identificada com o seu tempo.
Carmem
enxerga por trás dos rostos sorridentes dos integrantes das fotos de álbum de
família os dramas escondidos, as tristezas contidas, enfim a individualidade
destes personagens distantes. Ela está expondo na Galeria do Aluno.
AS
FRUTAS “VIVAS” DE JOCELMA BARRETO
Sob
o impulso de sua juventude Jocelma Barreto empunha o pincel e começa a ocupar
os espaços vazios da tela com movimentos gestuais onde a espontaneidade
prevalece. È um diálogo mudo, mas acima de tudo colorido e que transmite vida.
As cores variadas estão perfeitamente de acordo com o gesto. Suas frutas não
estão simplesmente em estado de repouso numa cesta ou em cima de uma mesa. Elas
parecem movimentar-se no intuito de ocupar todos os espaços disponíveis. Ao lado Jocelma e suas pinceladas gestuais.
“Eu
sinto tão vivas estas trutas!”, reage Jocelma quando alguém lhe sugere que seus
trabalhos são naturezas-mortas. Através das frutas ela pensa no cotidiano e na
ocupação dos espaços por estes elementos que vibram na sua expressividade. A
princípio pintava telas pequenas, mas as frutas exigiram espaços maiores, e
agora, já querem até ultrapassar estes espaços, quem sabe, em busca da
tridimensionalidade.
Jocelma
quer fazer livremente o seu trabalho, dando ênfase ao seu gesto. Nesta relação
com as frutas ela transcende em busca de motivações da sua própria existência.
Jovem, certamente vai deparar-se com outros elementos, que igualmente vão lhe
sensibilizar, e quem sabe até, possibilitar novas formas de expressar as suas
emoções.
A
exposição de Jocelma chama-se “Pomares”, e está aberta a partir do dia 30 até
10 de outubro, na Mab Galeria de Arte, que fica na Rua Guanabara, 187, na
Pituba. É mais uma programação da Galeria do Aluno, porém, como os funcionários
da UFBa, Vão entrar em greve, ela resolveu levar suas obras para a Mab. Uma boa
opção, por sinal.
A
UNIÃO DA MÚSICA COM A PINTURA
Ainda é tempo de visitar a exposição de Túlio Resende no Museu de Arte da Bahia, a qual vai até amanhã, onde ele mostra algumas telas concebidas recentemente. Ele apareceu na redação, acompanhado de seu irmão que é músico, um violinista de mão cheia. Túlio é mais falante, enquanto Roberto Rezende, um pouco mais moço, é meio caladão. Sentou-se defronte a mim e só falou quando foi provocado. São bons dois artistas, ainda jovens, com grande futuro pela frente. O que é preciso é muito trabalho para desenvolver cada vez mais suas potencialidades, plástica e musical, respectivamente. Ao lado uma obra de Tulio Resende.
As
cores de Túlio são fortes e quentes. Ele pinta quase sempre figuras humanas ou
animais em momentos de solidão. Suas telas recentes também nos dão idéia de que
túlio pretende resgatar momentos do cotidiano das pessoas sem a preocupação em
documentá-los, mas acima de tudo de passar a sua visão de plasticidade.
Pinta
dentro de um estilo que lembra os grandes mestres, inclusive mostrando bons
conhecimentos de desenho.
Para
ele “o pintor é mais companheiro da solidão que o próprio vento e além disso
percorre a intimidade do espaço, perfura-o, maculando-o até revelar a sua
ambigüidade”. Estas palavras de Túlio, vem exatamente comprovar a sensação que
sentir ao fazer uma leitura da sua obra. Esta sua solidão não é afetada com a
presença do irmão, porque Roberto é um músico, e pelo que deixa transparecer é
um intimista que conversa com as cordas do seu violão.
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