JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA
FEIRA, 19 DE MARÇO DE 1984
MAMB TEM CATÁLOGO DEPOIS DE 25
ANOS DE FUNDADO
Capa do catálogo que chega atrasado |
Realmente
é um momento importante para o MAMB, mas que demonstra o descaso dos dirigentes
que se sucederam na Fundação Cultural do Estado e outros órgãos que a
antecederam e também, aqueles que diretamente estiveram à frente do MAMB.
Este
acontecimento não deveria nem ser
comemorado porque é o maior estado de descaso público para com o seu patrimônio
cultural e artístico.
Lembro
que até há pouco tempo não havia no <AMB nem um livro onde as obras
estivessem tombadas. O livro original desapareceu por encanto. Hoje, este
trabalho já foi refeito estando catalogadas cerca de 480 obras de arte. Também
denunciei o perigo que ronda o Solar do Unhão, um conjunto arquitetônico
tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN),
devido a quantidade de fios expostos. O desgaste natura, acrescido da
proximidade do mar poderá provocar um curto circuito com seqüências
imprevisíveis. As coisas praticamente continuam como se nada disto fosse
importante. É assim o MAMB vem atravessando estes vinte e cinco anos sem muitas
razões para comemorações. Criado em julho de 1959, tendo como sua primeira
diretora a arquiteta Lina Bo Bardi, O Museu de Arte Moderna da Bahia teve uma
fase áurea como relembra o crítico Wilson Rocha, que apresenta o catálogo.
Foi
uma fase marcada por um grande movimento com a realização de muitas exposições
de artistas de renome nacional e internacional. Funcionava no foyer do Teatro Castro
Alves e em 1963 foi transferido para o conjunto do Solar do Unhão, onde hoje se
encontra.
Quando
passei a participar mais ativamente dos movimentos de Arte da Bahia já
encontrei o MAMB em mudança e sua decadência era visível. As dificuldades
financeiras e de acesso ao museu são fatores sempre presentes que contribuem
para afastar o público de seus salões. Não havendo motivação, como a realização
de grandes exposições o seu acervo também sofreu o desgaste do tempo e
principalmente a má conservação. Certa feita tive a oportunidade de ver quadros
de Portinari, Djanira, Volpi e Tarsila do Amaral, dentre muitos outros,
largados dentro de um armário umedecidos e corroídos pelo salitre. Nunca seu
acervo teve uma ambientação própria que permitisse uma boa conservação!
Mesmo
assim o MAMB vem atravessando este quarto de século como um Dom Quixote,
teimoso e valente, querendo impor-se como uma instituição que merece respeito e
que deve estar acima de qualquer querela pessoal. É preciso que o MAMB tenha
uma presença mais ativa no meio artístico baiano. Sei que sua diretoria tem
todos os predicados para que realize um trabalho gratificante, mas sei também
que os recursos carreados para o MAMB são insuficientes. Preferem muitas vezes
gastar milhares de cruzeiros com edições de livros de poetas ou cronistas que
não merecem figurar em qualquer biblioteca de uma escola primária.
Esta tela de Djanira integra o catálogo do Mam-Ba. |
Por
outro lado, este fato demonstra a iniciativa de Francisco Liberato, seu diretor
e da artista plástica Zélia Nascimento que trabalharam a fundo para que este
desejo de todos artistas e estudiosos da arte fosse realizado. Eles têm ainda
que fazer muito pelo MAMB. Têm que reintegrá-lo à comunidade, têm que
proporcionar uma maior participação dos baianos e envolver empresas públicas e
privadas em suas atividades para que assim possa receber donativos e recursos
que lhes garantam uma sobrevivência. Não entendemos o museu como uma coisa
estática, parada, um mero salão que expõe seu acervo e obras de outros artistas
que lá aparecem. Não é necessário um trabalho mais dinâmico.
Conheço
as oficinas de arte que lá funcionam e já falei nesta coluna da sua
importância. Mas, não bastam as oficinas. É preciso trabalhar mais e para isto
o MAMB precisa de recursos, porque ele pode transformar-se num núcleo
impulsionador do mercado de arte, através de uma produção orientada, através da
realização de grandes exposições, de seminários e debates sobre assuntos
ligados a arte.Quando
recebo a programação de museus de outros estados fico triste ao comparar com as
programações de nossos museus.As
exposições são rarefeitas e muitas até insignificantes. Espero que este
catálogo, que a meu ver, é o maior atestado de descaso público para com a
instituição, que ficou durante 25 anos sem um catálogo do seu acervo o que seja
o início de uma nova fase, uma retomada das atividades do MAMB.
DUAS
CIDADES NA VISÃO DE GLADYS MALDAUM
Viaduto do Chá na visão da artista paulista Gladys Maldaum |
Mas,
além de São Paulo, Gladys Maldaun nos traz imagens de Salvador.Não
o Pelourinho, o Elevador Lacerda e outros elementos cartões-postais. Não! Ela
observou outros ângulos de nossa Salvador. São imagens fixadas e vividas, não
por uma turista que chega e fica enamorada. Mas por uma artista sensível que
busca captar instantes da paisagem urbana por onde muitas vezes nós passamos e
não paramos para observar. O importante disto tudo é que Glayds domina a
técnica e este resultado de sua produção de trabalhos de São Paulo e salvador
nos permite um confronto temo.
São
dois momentos de alegria, dois momentos que revelam a sensibilidade. Sua
exposição será aberta na próxima terça-feira, dia 20, no Solar do Unhão, Museu
de Arte Moderna da Bahia, a qual recomendo aos que gostam e curtem arte.
NIKITA
ESTÁ EXPONDO NA GALERIA DA ACBEU
O
artista Nikita está expondo na galeria da ACBEU, na Vitória e tem apresentação
de Ivo Vellame que fala de sua arte.Vejamos:“Nikita
concentra a sua energia criadora na figura humana.Não
trabalha com modelo vivo, enche os espaços com as figuras da sua imaginação,
acredito, nascidos dos sonhos. Toda a sua pintura é dominada por um personagem,
inquestionavelmente um personagem, a aparência da realidade.
Tamanha
experiência somente se apanha nos grandes mestres da arte. Suas formas, suas
jovens mulheres, sem contornos nítidos,
porque entregues à sua luz e sombra sensíveis, definem-se muito mais como
manchas, uma vez que, o artista não tem a preocupação de mostrar as estruturas
anatômicas das usas figuras. São formas picturais, definidas pela cor.
Permitam-se acrescentar, trata-se de uma pintura tonal, porém na consciente
colonista que dignifica os neutros, que explora o Henri Matisse. Suas mulheres
quase sem rostos, de corpos sem volume palpáveis não tomam conhecimento de nós,
espectadores que somos dos seus múltiplos gestos e posturas, visões fantasmas
particular maneira de sentir Nikita, pleno vitalismo bergsoniano, onde a
intuição e o sentimento justificam tudo.
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