CADA UM DE NÓS DE GUSTAVO MORENO
Fotografia digital sobre compensado 140 X 160 cm, de 2012
Sempre que viajo , ando de metrô ou mesmo nas ruas de uma grande cidade tenho a sensação do anônimo. Do indivíduo só na multidão onde os olhares dos outros não lhe fitam e você anda, corre e senta tranquilamente sem o incômodo de um olhar ou mesmo da aproximação indesejável. Esta inclusive é uma vontade de toda pessoa que torna-se famosa, a exemplo dos artistas de televisão, cantores e jogadores de futebol, que preferem as cidades como Londres, Nova Iorque,Paris e outras, onde podem ir e vir sem qualquer dificuldade ou assédio.
Agora o jovem artista baiano Gustavo Moreno parte do registro fotográfico para manipulando as imagens criar esta sensação de anonimato , retirando a identificação das pessoas fotografadas.Realmente cria uma sensação de busca, de surpresa e leva a gente a imaginar como são essas pessoas e em que circunstâncias suas imagens foram captadas e agora formam outras completamente distanciadas do real.
Marcus Lontra que apresenta a exposição fala do "silêncio do tempo". Digo mais o silêncio do tempo e, também o anonimato que nos conduz a ausência. Esta ausência nos transporta a pensamentos os mais variados possíveis. Rostos invisíveis de pessoas que perderam suas identidades na manipulação das fotografias, mas que na realidade existem, vivem , adoecem e enfrentam dificuldades. Lembrei agora de uma frase da festejada escritora brasileira Nélida Piñon que disse numa entrevista recente "Tenho pena do ser humano, que sofre muito para sobreviver".
Essas pessoas que serviram de modelo-base para as obras que Gustavo Moreno expõe a partir do próximo dia 8 de novembro na Paulo Darzé Galeria de Arte devem neste momento estarem em lugares e em situações inimagináveis.
A ausência de pessoas numa paisagem urbana ou rural não ficam totalmente inalteradas, porque há sempre algo que provoca alguma alteração. Um canto de um passarinho, um outro animal que sai para comer e principalmente o tempo, que sempre está a desgastar tudo que existe.
Na verdade essas figuras manipuladas agora ganham outra dimensão e passam ser identificadas tais como se apresentam com seus rostos vazados ou manchados.Com esta nova identidade que lhe concedeu Gustavo Moreno eles ganham outra existência e vão povoar as salas de residências e escritórios, convivendo em outras situações. Serão vistas por muita gente, mesmo com seus rostos envoltos em mistérios.
Esta mostra intitulada "Cada um de nós, também os outros", de Gustavo Moreno contém 20 trabalhos, feitos com base em fotografias que ele fez ao longo dos anos em Londres merece ser vista e comentada.
Nascido em Salvador, Bahia, em 1969, Gustavo Moreno graduou-se em artes visuais pela Universidade Católica de Salvador (UCSAL) em 1992. Com várias exposições, participação em mostras e em bienais e em salões de arte. Em 2008, na Itália, participou da exposição coletiva “Arauto de Santos”, no Instituto Cultural Brasil (IBRITI), em Milão, e na Clínica Psiquiátrica San Parco dei Giovani, em Trieste, e na Alemanha, da Feira de Artes Visuais, em Cologne.
Ao lado fotografia digital e esmalte sintético sobre aço 175 cm X 115 cm, 2012.
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