JORNAL A TARDE, SALVADOR, 19 DE
MAIO DE 1986.
COMO A VANGUARDA É VISTA PELOS
BUROCRATAS RUSSOS
Uma obra vanguardista de artista russo |
Moscou
(UPI)- O mundo das artes de Moscou está dividido, mas não por uma batalha,
revolucionária, entre funcionários insensíveis e artistas alternativos. Os
alternativos já não são rebeldes.Agora
são dóceis e aceitam as regras oficiais do jogo.
O
Estado comunista, que supervisiona todas as exposições, publicações e críticas,
absorveu os estilos vanguardistas dos artistas alternativos e lhes deu status
oficial e espaço para exposições.
Numa
estreita rua de Moscou, uma fila imensa serpenteia até um exíguo porão onde se
realiza uma exposição de 20 artistas “não-oficiais”.
Um
velho artista que vive num moderno edifício por trás da estação ferroviária
Kiev não foi a nenhuma das exposições, preferindo a privacidade de seu
apartamento, onde formas livres de mulheres são vistas sentadas, deitadas, em
pé por entre sugestivos e fantásticos murais.
As
duas exposições e a atitude do velho artista, membro do Sindicato Oficial de Artistas, caracterizam a relação que se desenvolveu, desde 1974, entre a
comunidade das artes e o estado soviético.
Naquele
ano, tratores e carros equipados com canhões de água arrasaram uma exposição
não oficial ao ar livre, chamando a atenção da consciência internacional para o
problema dos artistas soviéticos.
O
governo reagiu ao protesto internacional e deu aos artistas status oficial,
permitindo que fossem admitidos no Sindicato dos Artistas Gráficos. Alguns se
recusaram a aceitar o oferecimento e emigraram. Os que aceitaram ganharam o
espaço em que hoje se exibem.
“Nós
ficamos e somos agora membros do sindicato. Mas as autoridades não nos deixam
fazer exibições em outro local senão aqui, disse Igor Snegur, apontando o
porão.
As
pinturas em exibição vão desde detalhadas a amadorísticas imitações de Salvador
Dali e incluem espirituosas misturas de elementos abstratos e realísticos.“Agora
nós temos o espaço e, este ano, eles até permitiram que imprimíssemos cartazes.Também
não temos dificuldades para adquirir material. Mas as relações ainda não são
boas”, disse Snegur.
Obra de Igor Snegur, artista vanguardista |
Com
o status e o controle oficial, veio a censura. No princípio, os artistas se
rebelavam contra a censura. Este ano, a aceitaram docilmente que fosse retirada
uma tela que apresentava o presidente Reagan e o líder soviético Mikhail
Gorbachev, na reunião de Genebra em novembro do ano passado.
A
razão alegada é a de que Gorbachev não quer seu retrato espalhado pela cidade.
Mas ninguém explicou porque um grande retrato do líder está na entrada da
grande exposição dos artistas oficiais.
A
exposição oficial apresenta milhares de pinturas, esculturas e cartazes. Uma
grande tela mostra uma mulher sem cabeça, dançando, com abstratos borrões de
tinta em locais sugestivos para produzir uma frenética qualidade sexual. Poucos
anos atrás, este estilo não seria permitido.
Obra de Vadim Sidur |
A
mistura dos estilos abstratos, impressionista e realista, ilustra a outra
maneira como o Estado absorveu o vanguardismo: tornando oficial o estilo
alternativo, o governo tornou comum o vanguardismo.
As
autoridades soviéticas, contudo, ainda se mostram arrependidas com o que se
denomina os três “E”, pinturas com motivos eróticos, estranhos e espirituais.
Artistas
adeptos destes estilos não têm permissão para exibições públicas.
Um
destes artistas é Vadim Sidur, de 61 anos, veterano da Segunda Guerra Mundial e
membro do Sindicato dos Artistas. Embora ele tenha duas grandes esculturas em
Moscou, muitas na Alemanha Ocidental e uma em Chicago, não tem permissão para
expor suas obras desde 1956.
O
Estado lhe fornece material e um estúdio. Mas ele continua produzindo
esculturas eróticas e pinturas ao estilo dos três “E”. Só que suas obras não
saem de casa.
GALERIA
SOLAR FERRÃO EXPÕE QUARENTA OBRAS
Até
o dia 5 de junho deste ano, a Galeria Solar Ferrão, do Instituto do Patrimônio
Artístico e Cultura da Bahia (IPAC), estará apresentando ao público visitante
40 trabalhos entre pinturas, gravuras, desenhos, modelagens e esculturas nas
mais diversas técnicas, que fazem parte do seu acervo. Mas o destaque demostra
fica por conta dos 17 estudos produzidos no período de 1898 a 1930 pelo artista
plástico Presciliano Silva, cujo aniversário de nascimento transcorreu
anteontem.
Os
estudos de Presciliano (desenhos a carvão e pastel em papel jornal), juntamente
com outros três que não constam da mostra, foram doados ao instituto pela
Secretaria da Educação, em 1983. Os trabalhos, autenticados pela filha do
pintor, Maria Silva, foram identificados pelo IPAC, que, em seguida, procedeu à
limpeza mecânica e à emolduração adequada dos estudos, e restaurou o desenho
que retrata o interior da Sala do Capitólio.
Obra de Presciliano Silva |
Além
dos trabalhos de Presciliano, integram a exposição obras de vários artistas que
realizaram individuais ou participaram de coletivas na Galeria Solar Ferrão,
entre 1982 e 1986. Ao todo são 18 quadros, três esculturas e duas modelagens em
diferentes técnicas. Situada à Rua Gregório de Mattos, 45, Pelourinho, a
Galeria Solar Ferrão funciona de segunda a quita-feira, das 9 às 12 h e das 14
às 17h30min, e, às sextas-feiras, das 9 às 14h. No Museu Abelardo Rodrigues
(Rua Gregório de Mattos, 45, Pelourinho), está em exposição a imagem de Nossa
Senhora do Leite, que serviu para ilustrar o cartaz da campanha do aleitamento
materno deste ano, desenvolvida pelas Voluntárias Sociais. Moldada em cera de
abelha e policromada, esta imagem do século XVIII, de autor desconhecido, foi
completamente restaurado pelo IPAC.
Representando
a figura de Nossa Senhora amamentando a Jesus, a imagem despertou muito
interesse dos restauradores. A exposição didática objetiva divulgar o processo
de restauração da imagem e consta de fotos que registram os passos da
intervenção, materiais e instrumentos utilizados, depoimentos sobre a
importância da peça, e uma análise iconográfica e a própria imagem.
O
público interessado em conhecer a imagem e ver o trabalho realizado pelos
restauradores, pode visitar o museu de segunda instância da peça, e uma análise
iconográfica e própria imagem.
O
público interessado em conhecer a imagem e ver o trabalho realizado pelos
restauradores, pode visitar o museu de segunda a sexta-feira, das 9 às 12 h e
das 14 às 17h30min, com exceção das terças-feiras, quando o local é fechado
para serviços de manutenção. Aos sábados e domingos funciona somente das 14 às
17 horas.
O
GROTESCO VISTO POR LUIZ MOTA
Para ele importa mais a mensagem inserida na
obra do que o perfeccionismo do desenho. Porém, é preciso que Luiz Mota atente
também para a necessidade do desenho como base, como fundação para a estrutura
do trabalho plástico. Para se conseguir-se uma boa deformação das figuras é
preciso que saiba como elas são na realidade e assim desenhá-las. A deformação
deve ser sempre um passo à frente para que as formas tenham uma expressividade
lógica, mesmo quando o artista está trabalhando com o grotesco.
Filho
de desenhista, Luiz mota, afirma ter sofrido grande influência deste ambiente e
desde cedo auxiliou seu pai nos trabalhos de desenho artístico, publicitário e
até em montagens de exposições. Estudava Administração de Empresas e passou a
se dedicar à arte. Em 1981 entrou para a Escola de Belas Artes.
Ele
considera seu trabalho muito ligado tragicômico. Luiz Mota mostra figuras
angustiadas, sofridas e até agressivas com as deformações necessárias a essas
expressões. É uma pintura que para os menos informados pode ser classificada
como feia, porque expressa exatamente situações humanas que normalmente não
gostamos de cultivar. A Galeria do Aluno está expondo suas obras.
MURAL
DE 450 METROS
EM PORTO ALEGRE
Um
imenso mural de 450 metros quadrados
retratando cenas da “Revolução Farropilha”, do artista plástico Clébio Soria, é
responsável pela chegada a Porto Alegre do Projeto de Arte Muralista que o
Banco Nacional vem desenvolvendo pelo País.
A
pintura de grandes dimensões ocupará a parede externa da estação mercado no
metrô de superfície no centro da cidade.
Carga de Cavalaria da Revolução Farroupilha está no Mercado Central de Porto Alegre |
Recentemente,
no salão Rio Grande do Sul, do Hotel Everest em Porto Alegre , foi
apresentado o projeto e assinado o contrato de execução da obra entre Soria,
Trensurb e o Nacional.
Tudo
começou quando em janeiro de 1984
a Lapa, no Rio de Janeiro, recebeu de volta, via traço
do artista plástico Ivan Freitas, o mar. Explica-se: o artista paraibano pintou
na parede do prédio da Escola Nacional de Música uma continuação do próprio
prédio, iludindo a visão e devolvendo ao local o mar, hoje afastado.
Depois
foi a vez de São Paulo.
Lá,
em convênio com a Empresa Municipal de Urbanização, foi executado o mesmo
trabalho dentro do projeto São Paulo Mais Bonita. Tomie Ohtake e Alfredo
Volpi foram os artistas escolhidos.
O
mural de Tomie, na Ladeira da Memória, é o maior de todos com 1.400 metros
quadrados , o de Volpi, chamado Vela, está localizado
nas esquinas das avenidas Consolação e Paulista. De volta ao Rio, em abril do
ano passado, o projeto teve andamento com o mural Pássaros, de Roberto
Magalhães, na rua da Quitanda.
Em
junho, São João foi homenageado com a pintura “Revoada de Balões” de autoria de
Aluísio Carvão, localizada nas esquinas das ruas Buenos Aires e Uruguaiana.
Em
setembro de 85, o projeto chega a Belo Horizonte que recebeu na parede da
Biblioteca Estadual o traço geométrico de Amilcar de Castro. Este ano, o
projeto começa bem com a homenagem que a empresa presta, em conjunto com a
Trensurb, ao povo gaúcho através do mural de Clébio Soria, no Rio de Janeiro,-
a Apoteose Tropical do também gaúcho Grauco Rodrigues.
O
Projeto de Arte Muralista é de grande alcance pois permite a um público maior,
não freqüentador de galerias e museus, a oportunidade de conhecer o trabalho de
artistas famosos.
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