JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA , 12 DE OUTUBRO DE 1987.
DEPOIS DO MURO DE BERLIM , BEL BORBA PINTA EM NOVA IORQUE
O artista baiano Bel Borba colocando o seu painel num tapume da cidade de Nova Iorque |
Certamente
a produção de bel é uma das mais importantes desta geração 70, que chegou e já
faz presença no mercado de arte e nas galerias. A sua temática é muito atual e
enfoca problemas urbanos e conflitos sociais vividos por este mundo conturbado.
Não importam as fronteiras, pois, hoje, estamos irmanados, de mãos dadas mesmo,
enfrentado toda espécie de pressões, discriminações e intoxicações. Vejam vocês
quem imaginava que a distante Chernobyl tivesse a ver com a gente? Mas agora,
já em Goiânia, em pleno centro deste Brasil imenso, várias pessoas são vítimas
da irresponsabilidade e estão contaminadas com o tal do Césio 137, o que
significa estar sob efeito de radiações.
Portanto,
a comunicação é responsável pela união dos elos e diminui as distâncias.
Talvez, por isto que Bel tenha viajado para Berlim e lá deixado o seu protesto
contra aquele muro infeliz que separa uma nação e que é guardado por pobres
homens com suas metralhadoras prontas a disparar. Sai de Berlim, e volta a
Salvador e, de repente, o inquieto Bel vai para Nova Iorque, em pleno coração
da cidade, protestar com seu painel contra o apartheid e o intitula de “O
Dominó da África do Sul. Um jogo de peças pretas”. A mensagem serve também para
os norte-americanos porque lá também o racismo é uma presença muito forte,
principalmente nos estados do sul.
Ele
pintou o painel em grandes folhas de papel e depois descobriu um tapume e
copiou para que os habitantes de Nova Iorque pensem um pouco sobre esta
discriminação.
Bel
está com um grande projeto de colocar vários painéis de costa a costa do País,
começando por São Luís e indo barrar em Porto Alegre.
Ele
pretende cobrir pelo menos uma dez capitais mas, antes, vai expo-los aqui.
Antes
de concretizar este projeto, para o qual está procurando patrocínio, ele vai
expor trabalhos de grandes dimensões de 3 x 2 metros; de 1,5 x 1,5 metros; de 5,80 x 2,10
metros, na galeria do Teatro Municipal de Ilhéus a partir de 13 de outubro. Uma
boa oportunidade dos ilheenses apreciarem a obra de Bel Borba.
NOVAS
PROMESSAS OFICIAIS NA ÁREA DAS
ARTES PLÁSTICAS.
ARTES PLÁSTICAS.
Chegou
tarde. Porém, como diz o povo, “antes tarde do que nunca”. Espero que o nunca
seja afastado. Na realidade, o projeto que tardiamente o Secretário de Cultura
do Estado assegura que colocará em prática, ainda estar no plano dos sonhos e
das promessas. Como neste país planejamento a longo prazo significa que a obra
nunca será executada; tenho muita desconfiança que a bienal baiana será
revitalizada, que haverá mapeamento e apoio ás produções do interior, que será
criado um Centro de Referência de Artes Plásticas no Solar do Unhão, e,
finalmente, que vão ser realizadas grandes exposições coletivas de arte
contemporânea produzida aqui. Projetos necessários e reclamados por todos nós
que acompanhamos o movimento de arte na Bahia. Nada disso é novidade.
Lembro
que denunciei a discriminação com relação às artes plásticas em detrimento de
outras manifestações, principalmente a música, da qual o atual secretário é
integrante, quando do lançamento do Projeto Feira de Arte. Agora recebo um
release com estas promessas. Mas o protesto valeu, porque foi um alerta. Quanto
ao apoio à produção de arte originária no interior, infelizmente, tenho quase
certeza que serão premiados os peemedebistas, petistas e outros em detrimento de outros artistas, que antes eram
governo, e, portanto, beneficiados, e agora serão esquecidos. São lados de uma
mesma moeda e a arte vira política e gangorra nas mãos de pseudos intelectuais.
A
prioridade do Departamento de artes Plásticas da Fundação Cultural, segundo
Zivé Giudice, é para ações mais coletivas.
Como
afirma ele, poucos eventos significativos no campo das artes plásticas se
realizaram na Bahia depois das bienais, a não ser alguns salões esporádicos,
mas que não tiveram continuidade.
Assim, a produção contemporânea, especialmente
a partir da década de 70, se ressente da falta de intercâmbio com os outros
centros, a não ser alguns casos esporádicos de artistas individuais que tentam
esse diálogo por iniciativa própria. O que nós precisamos é estabelecer o
diálogo com os outros centros e com a própria comunidade de forma mais incisiva
e com certa regularidade para o próprio desenvolvimento das artes plásticas.
A
realização de exposições coletivas para permitir uma amostragem da nossa
produção, assim como o intercâmbio com outros centros não significa que o
artista individualmente, não tenha vez no Departamento de Artes Plásticas,
conforme esclarece o diretor. “nós vamos atender, dentro do possível, às
solicitações individuais. O departamento, inclusive, realizará regularmente
concursos de projetos para exposições individuais”. Independentemente desse
concurso, todos os artistas podem participar, dar sugestões e contribuir com as
ações coletivas do Depap, inclusive participando das exposições coletivas. Para
isso, ocorrem reuniões quinzenalmente, às terças feiras, às 17 horas, no
terceiro andar da Biblioteca Pública, barris, aberta aos artistas plásticos
interessados.
O
MUNDO SOLITÁRIO DE FERNANDO LISBOA
Foto de Arestides Baptista |
Essa
temática tem muito a ver com o próprio artista, que se diz uma pessoa inquieta,
na busca incessante de novas descobertas e ao mesmo tempo marcada pelas
dificuldades, pela tristeza e também pela solidão. Ela afirma que sabe dos
problemas que irá enfrentar ingressando definitivamente na vida artística. Mas
entende que com esforço e vontade os empecilhos poderão ser superados.
“Na
verdade, não conheço bem o mercado de arte da Bahia.Imagino
que terei dificuldades. Todavia, tenho também pleno desejo de vencer e quando a
persistência é mais forte, acabamos por ultrapassar as barreiras. Lembra. Ele
vai expor dia 22 na Galeria de Arte Viva do farol Praia Center.
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