SALVADOR, JORNAL A TARDE , 2 DE
JUNHO DE 1986.
A MAGIA DA COR
Estamos
envolvidos pela magia da cor. O verde amarelo invade nossos lares, ruas e os
carregamos orgulhosos em nossas vestes. Cada um quer mostrar que é mais
patriota que o vizinho na medida em que aumenta a intensidade na utilização da
cor. Na verdade a cor é uma presença marcante na vida da gente. Nos emocionamos
com o vermelho, entristecemos com o preto e vibramos neste momento com o verde
e amarelo.
Assistimos
no País uma certa repulsa ou descaso pelas cores da nossa bandeira diante do
“nacionalismo” caolho da repressão que durante 20 anos castrou as lideranças e
outras manifestações populares do País. Com a Nova República reacendeu o
respeito e o amor pelas cores deste País gigante que balança mas não cai, que
canta e dança no Carnaval, que corre driblando a inflação e vibra com os gols
da nossa Seleção. A presença dos brasileiros no México serve como uma válvula
de escape para a gente gastar nas emoções contidas e no grito pela vitória
diante de outra equipe revela esta busca do troféu. Todos querem vencer e as
cores aparecem tremulando nas bandeiras ou nas camisas suadas dos jogadores e
torcedores.
A
cor é a própria luz. O branco pode ser decomposto num arco-íris onde surgem o
verde e o amarelo como marcas indiscutíveis de nossa nacionalidade. Pode-se
distribuir a cor, pode-se misturá-las e conseguir várias outras cores, mas
sempre tendo por base o branco e o preto. Não existem regras estabelecidas para
a harmonia das cores. Cada um gosta da cor que mais lhe agrada de acordo o seu
temperamento.
Existe
toda uma simbologia mágica por trás de cada cor. Enquanto em determinados
momentos o preto pode significar um elemento de tristeza em outros, pode
tornar-se chic, como nas vestes da socialite em instantes de grande gala,
quando predomina o preto.
Portanto,
existe uma variação tanto na harmonia como na própria simbologia e muitas vezes
é a própria moda que impõe a combinação de cores, tidas como contrastantes e
que de repente passam a ser vistas como harmoniosas. Até a harmonia sofre uma
dinâmica, como a própria linguagem, que vai se amoldando às novas situações.
Os
pintores e os decoradores vivem diante de cores que se multiplicam na busca de
traduzirem suas emoções. Mas, neste instante ninguém está muito interessado nas
cores estudadas dos artistas. Todos estão mesmo é voltados para a magia do
verde e amarelo que contaminou este País desde ontem. Vestidos com estas cores
os brasileiros correm atrás de uma bola de couro que traz, as cores branco e preto,
que são a síntese das demais.
E
o futebol já serviu de inspiração para muitos artistas plásticos que conseguem
captar a sua essência. Quantas fotos sensacionais já foram feitas de grandes
jogadores como de inesquecível Pelé socando o ar com corpo suspenso?.
Deixemos
que nestes dias, independentes dos resultados, reinem o verde e o amarelo.
Vamos derramar as nossas emoções neste jogo de luz e cor, de alegria e
tristeza, porque afinal de contas se o Brasil fosse todos os anos o campeão não
haveria mais significado na existência da Copa do Mundo. É esta incerteza que
enche os estádios porque na cabeça de cada espectador quem vai ser o vitorioso
é o time ou o seu candidato. Agora, neste período mistura-se tudo. Futebol,
eleições e até a Constituinte. Mas, tudo tem que parar porque a paixão pelo
futebol é mais forte. Viva o verde e o amarelo, e que nossos jogadores consigam
dominar aquele círculo de couro pintado de branco e preto.
UMA
VISÃO CONTEMPORÂNEA
O público baiano terá a oportunidade de ver, no Museu Costa Pinto, a partir de quinta-feira, dia 5 de junho, a exposição Cranbook Academy of Art: Uma Visão Contemporânea, que focaliza a interrelação entre arte e design, conforme demonstra claramente uma das mais importantes escolas de ensino superior de arte dos Estados Unidos.
A
Academia de Arte Cranbrook, de Blomfield Hills, Michigan, foi criada em 1925
pelo arquiteto Eliel Saarinem e é considerada, hoje um modelo em seu campo. Sob
a influência de Saarinen, a Academia Cranbook atraiu para si artistas de renome,
que nela não só exercitaram seu talento e suas técnicas, como os transmitiram a
seus alunos, estabelecendo uma tradição que continua vigorosa nos dias de hoje.
Os artistas residentes buscam seus objetos nos estúdios da escola e, além de
criarem, fazem exposições e palestras.
Ao
mesmo tempo, esses artistas são professores que trabalham intimamente com os
alunos, preparando-os os rigores de uma carreira profissional. Entre os mais
destacados artistas formados pela Academia Cranbrook, estão nomes importantes
como os da projetista e fabricante de móveis Florence Knoll e do desenhista e
industrial de tecidos, Jack Lenor Larsen.
O
extraordinário impacto dos professores e alunos de Academia Cranbrook no design
americano contemporâneo atesta a validade do projeto da escola de combinar, ao
invés de separar, artesanato e belas-artes.
Uma
exposição chamada “Design in América”, apresentada em 983 no Instituto de Artes
de Detroit, no Museu Metropolitano de Nova Iorque e em cidades da Europa,
destacou os primeiros 50 anos da tradição da Academia Cranbrook.
Num
certo sentido, esta mostra do Museu Costa Pinto que está sendo realizada em
colaboração com o Serviço de Divulgação e Relações Culturais dos Estados Unidos
(USIS) é uma atualização daquela. Nela, o passado de Saarinem é ilustrado e
posto em contraste com o design contemporâneo de Katherine e Michael McCoy. O
presidente da Academia Canbrook, Roy Slade, exemplifica a tradição do artista
professor. O desenhista têxtil Gerhardt Knoll e o ceramista Jun Kanebo são artistas
reconhecidos internacionalmente cujos trabalhos, juntamente com os de sete
outros membros do corpo docente da escola, constituem uma amostra muito
representativa das obras originais e inovativas que mantêm vivas as tradições e
filosofias da comunidade Cranbook.
A
exposição Cranbook Academy of Art: Uma Visão Contemporânea consiste de 43
trabalhos e sete fotopainéis.Além
disso, nove outros painéis fazem uma retrospectiva da Academia Cranbook.
A mostra será inaugurada ás 20h30min do dia 5
e ficará franqueada ao público até o dia 27 de junho, exceção das
terças-feiras. Daqui seguirá para o Rio de Janeiro e posteriormente será
apresentada em Buenos
Aires , Santiago, Caracas e Cidade do México.
NÃO
TEM VERNISSAGE NUMA MOSTRA DE ARTISTA POBRE
O pintor Jaime Leite com dois quadros de sua autoria |
Sua
pintura é fruto de um longo aprendizado observando os mestres italianos de
restauração de pinturas e quadros em igrejas e palácios. Esse aprendizado lhe
proporcionou o desenvolvimento da técnica tridimensional sobre vidro com
superposição de imagens. As figuras são pintadas em Três vidros que são, no
final, superpostas uma às outras dando uma ideia de tridimensionalidade.
Seu
aprendizado aconteceu durante trabalhos de restauração, na maioria vitrais, com
os mestres italianos Rossi e Ciconi. Com Rossi ele participou, por exemplo, os
vitrais da Igreja da Vitória, além dos vitrais e pinturas, internas do Palácio
Rio Branco e do Palácio da Aclamação durante o segundo governo de Juracy
Magalhães. E com Cicone, fez a restauração do Salão Nobre da Faculdade de
Medicina. Depois começou a trabalhar como restaurador por conta própria.
Sua
iniciação como expositor foi no dia 13 de maio do ano passado na Cantina da
Lua. Expôs depois, em outubro, no Iguatemi, em seguida na Sandiz, no Museu
Afro-Brasileiro fez a primeira exposição deste ano, no mês de Janeiro, e, no
dia 13 de maio, expôs na Cantina da Lua em comemoração ao primeiro aniversário
da sua atividade como pintor. A pintura tridimensional de Jaime Leite Pereira,
assemelhando-se a vitrais, tem como tema geral a paisagem de Salvador. Em seus
quadros estão casarios, a cidade vista do mar, marinhas e fachadas de igrejas.
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