A TARDE SEGUNDA-FEIRA, 23 DE
FEVEREIRO DE 1987.
UM BAILE E A DECORAÇÃO
É tempo de Carnaval. O Brasil
está quebrado e quase ninguém se incomoda. Isto porque a grande maioria tem o
Carnaval como um grande momento de alegria e até mesmo como único remédio para
esquecer a fraqueza das finanças do País e até a sua própria.
Mesmo nos morros, nas favelas e
em todos os bairros da periferia, todos estão fazendo suas fantasias e torcendo
para que chegue a hora de invadir as avenidas com seus sonhos e emoções reprimidos.
E aqui na Bahia, principalmente na velha Salvador, não dá outra. Chova ou faça
sol, esteja o Brasil com dólar ou não para pagar seus pepinos, o baiano não
dispensa os cinco dias de reinado do Morro e deixa cair na avenida a sua
alegria. Como ainda consegue ter tanta alegria, com os salários avaliados, os
preços dos produtos subindo às alturas e ainda por cima faltando vários gêneros
de primeira necessidade dos mercados e feiras, ninguém sabe.
Este ano o baiano é obrigado a
brincar um Carnaval com os olhos voltados para a década de 60. Um carnaval que
está literalmente comandado pelo pessoal da Tropicália. Retornaram à Bahia como
que aqui é o ponto de partida para o futuro vôo mais alto! E, chegando,
ocuparam os espaços, jogaram para fora do círculo colorido do tropicalismo
todos aqueles que tentavam mostrar o seu talento.
Primeiro, foi o baile do Solar do
Unhão. Para organizá-lo chamaram o competente Guilherme Araújo. Carnavalesco de
quatro costados e pessoa sensível. Porém, colocaram o Guilherme numa fria.
Alguém sem poder de decisão permitiu que os ingressos fossem confeccionados,
que a decoração fosse iniciada e o baile ganhou as páginas dos jornais e os
noticiários das televisões e rádios. O sucesso estava garantido, especialmente
porque por trás estaria o Guilherme. Só que se esqueceram de comunicar o tal
baile a D. Olívia Barradas. E, assim todos foram barrados na porta do Solar do
Unhão por alguns soldados da Polícia Militar.
O velho Conselho da Fundação
Cultural provou também, com a sua decisão, que mais parece uma sentença e está
precisando de uma renovação. É preciso que as pessoas envolvidas com a cultura
acompanhem o próprio desenvolvimento. O baile poderia ter sido realizado no
estacionamento, quase sempre entregue às moscas, sem qualquer prejuízo para
aquele belo e intocável conjunto arquitetônico. Isolando o prédio não tinha por
que proibir o tal baile!
O que é preciso,é acabar com o
provincianismo e também com este falso cuidado. Enquanto os imóveis do
patrimônio histórico estão caindo aos pedaços, gastam-se muitos dólares para
assistir peças do século XVIII na esfuziante Paris. Desconfio muito desses que
vivem cheios de tique-tiques, enclausurados em coordenações, museus e fundações
com as costas voltadas para o povo e suas manifestações. Estas instituições
vivem ou pelo menos devem viver em função do povo.
Quanto à decoração, repetiu-se a
tática condenável da escolha pessoal. Não discuto a competência e dedicação do
artista convidado. Discuto e questiono as idéias postas em prática pelo todo
poderoso “coordenador” do Carnaval. Ele retorna a Salvador querendo reviver a
Tropicália e este método é contra qualquer administração democrática. O
concurso público teria que ser feito. Esta conversa que sairá mais barato não é
aceitável. Ninguém terá condições de saber realmente quanto está sendo gasto. O
salário do pessoal convocado não deve ser desprezível, porque ninguém sairia de
sua cidade para vir a Salvador por qualquer dinheiro fazer decoração de
Carnaval. Este argumento de que sairá mais barato não tem fundamento. O que
existiu foi o apadrinhamento, o qual está se estendendo a vários órgãos
culturais da própria prefeitura. Sabe-se, por exemplo, que uma ex-mulher de um
cantor recebe um alto salário, além de vários outros, sem grandes aptidões, só
porque pertencem ao bando de “Soy loco por ti”... É preciso moralizar este
segmento tão importante da cultura baiana e mostrar a esta gente que chega com
a falsa idéia de “redescobrir” a Bahia, que aqui tem gente competente, tem
artistas plásticos em condições de executar uma decoração de nível, desde que
haja uma concorrência pública, limpa.
COMPUTADOR DESCOBRE COLAR E
MONTANHAS
NA OBRA MONA LISA
Chicago (AFP)- Uma análise do
famoso retrato de Mona Lisa, por meio de computador, mostra que Leonardo da
Vinci inicialmente pintou um colar em torno do pescoço da modelo e uma cadeia
de montanhas a sua esquerda, que foi borrada no transcurso das sucessivas
restaurações. “Depois de mais de 450 anos de deterioração, a Mona Lisa já não
passa de uma pálida caricatura do original”, declarou o autor deste estudo
perante a Associação Norte-Americana para o Progresso da Ciência.
John Asmus, um especialista em
laser da Universidade de San Diego, Califórnia e trabalha no projeto de
iniciativa de Defesa Estratégica (IDE), preparou uma técnica muito sofisticada
há 10 anos para ajudar os historiadores em seu trabalho de restauração.
Submetendo os negativos do quadro
Mona Lisa ao mesmo tratamento informático que as fotos de Júpiter e Saturno
obtidas pela administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (NASA), Asmus
conseguiu identificar pequenos pontos em torno do pescoço de Mona Lisa, além de
vestígios de algumas montanhas pintadas inicialmente à esquerda de sua cabeça
e, depois, recobertas.
Mais grave ainda, o famoso
sorriso enigmático de Mona Lisa, segundo Asmus, também teria sido retocado
várias vezes como demonstram as diferentes camadas de pintura e de verniz
identificadas pelo computador.
ARTISTAS USAM O COMPUTADOR COMO
SUPORTE
Que tipo de reação um computador
pode despertar na imaginação de um artista plástico? Uma carcaça de computador
pode ser transformada numa obra de arte? A resposta está nas folhas do calendário
87 que uma empresa está distribuindo a seus clientes e amigos.
Produzido com impecável cuidado
editorial e gráfico, o calendário é ilustrado com fotos de alguns dos trabalhos
expostos na mostra. – Doze Artistas e Um Computador -, realizado em outubro do
ano passado no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo. Essa
exposição promovida foi resultado de um projeto da empresa que uniu tecnologia
e arte. Para tanto, doze artistas plásticos brasileiros foram convidados a
criar livremente sobre a estrutura do computador Solution 16.
Trabalhando com os mais
inusitados materiais, os artistas imprimiram na máquina o gesto, o traço, a
cor, a linguagem, a técnica, enfim, a sensibilidade de cada um, transformando
os computadores em surpreendentes obras de arte. Antônio Peticov, por exemplo,
usou peças de madeira de todos os tipos além de sucata de material de
escritório. Iwald Granato pintou a carcaça do computador com cores muito fortes
e Tomoshigue Kusumo resolveu dar-lhe uma roupagem renascentista cobrindo-o até
com aplicação de ouro. O Solution 16, o mais recente lançamento é um micro
computador da classe IBM PC , compacto, e fácil de transportar – o teclado
transforma-se numa tampa para o vídeo – e foi projetado especificamente para
profissionais liberais. Seu design criado
pelo artista plástico Luciano Deviá, havia sido anteriormente premiado pelo
Museu da Casa Brasileiro, o que levou a CP transformá-lo num verdadeiro objeto
de arte.
O Calendário foi mais uma forma
que a empresa encontrou para registrar e divulgar as obras criadas para a
exposição – Doze Artistas e Um Computador -, ele está sendo distribuído a
clientes, artistas plásticos, galerias de arte, museus, imprensa e até para
algumas localidades dos Estados Unidos e Europa.
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