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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

SETE ARTISTAS PINTARAM MURAL NO RIO VERMELHO


JORNAL A TARDE SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 05 DE SETEMBRO DE 1983

SETE ARTISTAS PINTARAM MURAL NO RIO VERMELHO

Uma visão geral do mural. Da esquerda para direita: Bel Borba, Zivé, Luiz Tourinho, Florival Oliveira, Chico Diabo, Hans Peter e Ângela Cunha.

A falta de incentivo por parte dos órgãos oficiais não constituiu obstáculo para que um grupo de jovens artistas realizasse um projeto, que considero da mais alta importância. Trata-se de levar a arte às ruas, para o público, que normalmente não frequenta as galerias e outros locais que abrigam as obras de arte. O uso do muro como espaço alternativo merece, portanto aplauso de todos nós. Particularmente, acho que uma maneira da própria Escola de Belas Artes exercitar seus alunos poderia ser com a utilização de espaços alternativos, embelezando a cidade. Evidente, que os espaços teriam que ser bem escolhidos para que os trabalhos tivessem uma durabilidade razoável, atendendo assim ao objetivo de alcançar um número cada vez maior de pessoas.
Neste detalhe acima podemos examinar melhor , da esquerda para a direita os  trabalhos de Chico Diabo,Hans Peter e Ângela Cunha.
Esta manifestação através dos muros já existe em muitas cidades da Europa e Estados Unidos, e sempre é bem recebida pela comunidade. E, como estamos numa cidade tropical, de um sol de verão em pleno inverno, temos é que colorir os muros e arranjar locais para instalar painéis com trabalhos de artistas emergentes.
Aí também, é bom salientar que seus autores são beneficiados porque ficam conhecidos e passam a conquistar seu próprio público. Por estas e outras razões considero que os trabalhos a serem inseridos num projeto deste porte têm que ser muito bem feitos, muito criativos. Erra quem relaciona: o mural vai desaparecer e estragar rápido e assim o artista deixa de lado o cuidado na elaboração. Esta postura é totalmente errada e quem assim pensa deve ser afastado, sob pena de prejudicar todo o grupo.
Mas, vamos falar do painel do Rio Vermelho. Ele foi idealizado e executado por sete artistas, entre os dias 26 e 27 de agosto último, com o apoio da família. Tambou, que cedeu o muro para que pudesse trabalhar. As tintas foram doadas pela Politintas- Suvinil e os andaimes pela Comam. Coloco propositadamente os nomes dessas empresas, para que o exemplo seja imitado por outras, e assim possamos dar um colorido especial a esta cidade, para contrabalançar com o descaso municipal e a lixeira a que foram transformadas muitas ruas. Pelo menos o colorido e a plasticidade dos trabalhos, que tenho certeza, serão inseridos em vários outros locais, vão de certa forma aliviar a nossa visão, além de contribuir para a educação artística do nosso povo.
Os sete artistas Bel Borba, Zivé, Luiz Tourinho, Florival Oliveira, Chico Diabo, Hans Peter e Ângela Cunha demonstraram amor por esta cidade, tão cantada em verso e prosa, e tão abandonada por quem deveria zelar, para que se transformasse numa capital limpa e bela.
O grupo não tem nome, não tem rótulos. Apenas os artistas estão unidos para aproveitar os espaços alternativos dentro de seus processos individuais.
Assim, se você passar pelo Rio Vermelho terá oportunidade de ver e reagir diante dos trabalhos produzidos espontaneamente e com bons propósitos por estes artistas que representam uma parcela significativa do que existe de melhor nesta nova geração, que está emergindo. Particularmente, conheço o trabalho de todos eles e tenho certeza que muita coisa boa ainda está por vir.

O RECONHECIMENTO TARDIO DA OBRA DE MILTON AVERY

O “Whitney Museum” de Nova Iorque, ao organizar a exposição retrospectiva da obra de Milton Avery, ofereceu realmente ao público possibilidade de conhecer e avaliar o trabalho deste grande mestre americano. A obra de Milton Avery, na verdade, permaneceu por longo tempo ignorada pela crítica contemporânea, uma vez que o artista sempre foi um pensador livre, dificilmente afeito a etiquetas.
Durante toda a sua vida Avery perseguiu o seu ponto de vista estético, freqüentemente discordante do estilo dominante na época. Não sendo um intelectual, a teoria modernista das diferentes fases de seu tempo pouco lhe interessava. Durante os anos 30, quando nos Estados Unidos florescia o entusiasmo pelo realismo social legado da própria vida americana, a sua obra era então considerada muito abstrata, enquanto que nos anos 50, quando o abstracionismo teve maior aceitação, Milton Avery, a quem os críticos haviam simplesmente ignorado, mantinha as suas preferências naturalistas.
Assim é que, a cada ano, enquanto os nomes de Pollock, Rothko, de Kooning, Gottlieb e Newman chegava a uma ponta a outra do Atlântico, crescia o número daqueles que conheciam o nome de Milton Avery, então já trazia em seus ombros uma carreira artística bem mais longa que a de seus famosos contemporâneos.
E, pensar que muitos desses artistas, direta ou indiretamente, foram bastante influenciados pela sua extraordinária qualidade de pintor! Infelizmente, a crítica do pós-guerra não foi capaz de entender a mensagem de AverY, sendo que sua retrospectiva de 1960, em Nova Iorque, no “Whitney Museum”, permaneceu ignorada, deixando que ele morresse, em 1965, sem ver reconhecido o seu valor.
Naquele período, porém, alguns marchands notórios como Paul Rosemberg e Durand-Ruel, de Nova Iorque, colecionadores como Phillips de Washington e, sobretudo artistas como Rothko, Gottlieb e a mais jovem geração de pintores da “Color Field School” passaram a reconhecer e estimar o trabalho de Avery. Para eles, era o mestre, “uma figura solitária que trabalhava contra a corrente”.
Os tempos mudaram e muitas das teorias críticas sobre a arte que predominaram naqueles anos caducaram, passando daí em diante a levar em conta, acima de tudo, a opção do artista, mesmo que não fosse à última palavra, só então, pôde a arte de Milton Avery ser plenamente apreciada e dada o seu justo valor.

Seria bom lembrar aqui uma frase pronunciada por Mark Rothko, quando de uma solenidade por ele realizada logo após o desaparecimento de Milton Avery: “O que representa a obra de Avery? A sua sala de estar, o Central Park, sua esposa Sally, sua filha March, as folhas e as montanhas onde eles passaram o verão; as vacas, os peixes, o vôo dos pássaros; seus amigos e tudo e que foi extraviado do mundo para seu atelier: as figuras domésticas e comuns retratadas nos seus quadros. A partir delas foram pintadas grandes telas, as quais fugindo das implicações casuais transitórias do tema, sempre apresentaram um forte lirismo e muitas vezes um acabamento que se aproximava da monumentalidade do Egito.
Deste modo, o cotidiano banal que acompanhou a existência de Milton Avery, tal qual o de qualquer um de nós, foi captado pelos seus olhos, suas mãos e suas cores, juntamente com a luz que não se poderá mais negar ou confundir. É a luz da arte de Milton Avery. (Traduzido de um texto em italiano de Claudio Bruni Sakraichic, especialmente feito para a Grande Exposição Milton Avery, em Roma, na “Galleria La Medusa”, 1983).

                   UMA NOVA GALERIA NA CIDADE

Estava trabalhando no fechamento da edição do jornal do último sábado quando por volta das 22 horas recebo um telefonema de Gil, da Galeria Época.“Estou abrindo a minha galeria no Boulevard 161. Acontece que os convites estão muito mal impressos e resolvi adiar a abertura que a princípio estava marcada para o dia 8. Mas, não posso abrir uma galeria começando a oferecer ao público um convite de péssima qualidade. Como estava assoberbado de serviço, respondi que só vindo pessoalmente. Minutos depois surge Gil, trazendo alguns convites.Realmente, muito mal impressos.
Ao lado uma obra de autoria de Vauluizo Bezerra.
Assim, a coletiva da nova Galeria Art Boulevard, com trabalhos de: Anísio Dantas, Britto, Calasans Netto, Capelotti, Carlos Bastos, Carybé, César Romero, Eduardo Carvalho, Fernando Coelho, Floriano Teixeira, Jenner Augusto, José Maria de Souza, Justino Marinho, Lev Smarcewsky, Lygia Milton, Mirabeau Sampaio, Rescala, Vauluizo Bezerra, Washington Sales e Zivé Giudice, está transferida para o dia 15 do corrente mês, quando Gil já terá distribuído os novos convites.
Por outro lado, na Época Galeria de Arte, dirigida por seus pais, estão expondo Vauluizo, Justino Marinho e Eckenberg.


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