A ARTE E O PODER
Tenho lido e meditado sobre a
relação arte e poder, a acompanhado os brados de independência de muitos
artistas de vanguarda ou não. Em todos esses brados sempre parece uma ponta de
reclamação de que o Governo não está ajudando, que o governo não incentiva ou
que o governo não se preocupa com a cultura. Na realidade, é uma reclamação que
rompe o tempo e pela característica reformadora e inconformista do artista isto
vai continuar sendo martelado. Mas quando observo os vanguardistas querendo
romper os cânones preestabelecidos, e uns até contestando ou pedindo a mudança
de estruturas, não consigo entender a atitude paradoxal de pedir ajuda ao
Estado que estão contra.
E isto acontece sob um manto de
independência cultural e consciência política. O que se apresenta neste quadro,
são pinceladas desconexas e que só agradam aos ingênuos e aqueles que não acompanham
toda a trajetória do movimento de arte no mundo.
O Estado, como estrutura de
poder, sempre canaliza suas potencialidades para campos onde pelo menos tenha
uma resposta positiva, ou, melhor dizendo, a seu favor, porque não é lógico que
os dirigentes ou mantenedores do sistema venham financiar movimentos contra sua
própria sobrevivência. Aí seria mais paradoxal. No entanto, é isto que reclamam,
muitos artistas que contestam as estruturas do poder, querendo que este mesmo
poder financie suas ideologias que sejam de direita ou esquerda, na variedade
de ismos que existem por aí.
Não podemos esquecer que os
consumidores de arte, em sua grande maioria, são formados da classe mais
favorecida das sociedades. Quando pensamos nos clássicos lembramos, de imediato
dos grandes mecenas que foram os reis, os papas e os grandes negociantes da
época.
Estes incentivavam e assim
dispunham do que existe de mais importante na produção de arte. E os Médices
tiveram um papel muito significativo nesta relação íntima entre o poder e a
arte. Hoje, em menor escala, pela própria diversificação das sociedades
modernas, esta relação ainda existe através dos organismos oficiais e privados
que incentivam as artes e, evidente, são os beneficiados. Infelizmente, isto
tem determinado quase uma linha imaginária que separa a arte produzida pelos
artistas engajados neste processo e a arte popular produzida informalmente pelo
povo sem obedecer a qualquer norma estética e outros elementos que são
transmitidos de geração a geração, através dos mestres e das escolas de arte
espalhadas por todo o mundo.
Quando olhamos os artistas que
trabalham com obras monumentais, aí a relação com o poder tende a aumentar quer
seja com o poder do Estado ou com o poder econômico, no caso dos regimes
capitalistas. Portanto, não vejo esta independência com a mesma clareza de
alguns que bradam contra os ventos como um Dom Quixote montado num cavalo de
ferro. O que vejo é a necessidade de abandonar os pedestais já corroídos pelo
tempo e olhar o que se passa à sua vida.
Em todos os regimes esta relação
entre arte e poder sempre vai existir. Nos regimes de força socialistas ou
comunistas, são estabelecidos mecanismos de ação e ditado o que pode ou não ser
feito, o que deve ou não ser criado. Nos regimes capitalistas o que determina é
o mercado tão reclamado e tão procurado por aqueles que desejam sobreviver na
produção da arte.
Ao crítico cabe clarear e mostrar
o que realmente está acontecendo. Dizer, mesmo, que não agrade aos ajustados e
desajustados dentro desta relação arte e poder que sua independência é muito
relativa. O que precisamos é continuar criando livremente e através da própria
qualidade do trabalho ser reconhecido e procurado espontaneamente. Trabalhar
sob encomenda ou mesmo sugerir coisas às vezes revela um comprometimento bem
maior.
Não cabe ao crítico ditar normas
de comportamento, e, sim, falar sobre o mercado dentro de toda sua abrangência.
Na atividade jornalística, muitas
vezes no calor de uma entrevista, o repórter destaca declarações bombásticas,
tidas pelos ingênuos como geniais. Mas, no fundo, nada revelam de geniais. São
emocionais e desprovidas de um maior conteúdo quando as analisamos
demoradamente. Está, portanto aberta a discussão sobre a relação arte e poder e
estou disposto a ouvir sugestões para que possamos entender melhor a produção
de arte neste país, que tropeça entre as exigências do FMI e a busca incansável
de modelos fabricados em série, nas avenidas das grandes capitais, sob as luzes
desgastadas das vítimas do consumo.
OS GESTOS DE SÉRGIO RABINOVITZ
SERÃO MOSTRADOS
NA GALERIA MAB
NA GALERIA MAB
Após três anos sem expor em
salvador, Sérgio Rabinovitz mostrará, de 14 a 31 deste mês, na MAB Galeria de
Arte, Rua Guanabara 187, Pituba, suas mais novas pinturas e desenhos,
caracterizados na superfície da tela ou do papel por uma tônica fundamental: a
emoção.
“Acredito numa pintura
espontânea, gestual, que traduza o ritmo e a velocidade de nosso tempo e de
nossa vida. A emoção de viver expressa na emoção de pintar. É o gesto
acompanhado e traduzindo a própria dinâmica da vida e a intensidade de nossos
mais puros sentimentos. O artista tem de traduzir à emoção de seu tempo”.
Sérgio Rabinovitz é pintor,
gravador e desenhista, com bacharelado em artes plásticas pela Cooper Union For
The Advancement Of Science and Art, em New York.
Já fez exposições individuais em
Salvador (Galeria ACBEU, 1975; Museu de Arte Moderna, 1979; Museu de
Arte,1980), São Paulo (Museu de Arte, 1980; Galeria Paulo Figueiredo, 1981;
Galeria Arte Sobre Papel, 1982); e New York (Houghton Gallery, 1978).
Entre as coletivas, sobressai a
“International Graphics 77” ,
no Alternative Center For The Arts, em New York ; a “Variations 77” , na Harkness House Gallery,
em New York ,
o IV Salão Nacional de Artes Plásticas, no Rio de Janeiro, em 1981; e a III
Mostra do Desenho Brasileiro, em Curitiba, 1981, onde é um dos vencedores,
destacando-se como um dos melhores desenhistas brasileiros. Seus trabalhos
podem ser encontrados em coleções como a da Davison Print Collection, Ewsleyan
University, USA; Museu de Arte Moderna da Bahia; Fundação Cooper Union, New
York, USA; e Window South Collection, Califórnia, USA.
Iniciando autodidatamente seu
aprendizado, estimulado por Calazans Neto, Sérgio Rabinovitz criou suas
primeiras gravuras. Quando do começo da década de setenta, passa a trabalhar no
atelier do escultor Mário Cravo Jr., fazendo uso do equipamento ali existente
para a prática da gravura. É durante este período que vem a desenvolver um
extenso material em xilogravuras, despertando a atenção sobre o seu trabalho, e
disto resultando na nomeação para uma bolsa de estudo em arte, nos Estados
Unidos, patrocinada pelo Instituto Internacional de Educação e Comissão
Fullbright.
Com a viagem para os Estados Unidos em 1975, onde
estuda na Universidade de Wesleyan, em Connecticut, e na Cooper Union Arts
School, graduando-se, e sendo aluno de Hans Haacke e Krishna Reddy, mantém, uma
intensa atividade criativa e profissional, além de prosseguir suas pesquisas
nas mais diversas maneiras de gravuras, desenvolvendo extensamente seu
vocabulário gestual em desenho e pintura, a volta para a Bahia, sua terra natal, as pinturas adquirem grande porte, partindo da linha gestual e caligrafia, que são, pode-se dizer, a sua marca registrada.
As técnicas, bem variadas, vão da
direta, de transferência de pintura, sempre procurando dar uma forma à textura. Às cores, substancialmente puras,
explodem diante dos olhos, sem uma procura de embelezamento, mas como um
elemento ativo de toda a construção. Quanto aos desenhos, imediatos,
instantâneos, integram-se ao espaço do papel, numa forma de registrar sua
vivência, desenvolvidos pela tensão dos signos.
É um mundo da pintura, um mundo
dentro da pintura, um universo da pintura, com esta traduzindo a vida e o
viver, focando o espectador, ativamente, a se posicionar com um relacionamento
direto, no ressaltar abertamente da dimensão e da cor, numa tradução do mundo e
dos nossos sentimentos sobre este, lembrando a cada momento da-a-própria-ação
do homem sobre a natureza e dos dois sobre os muros, rochas e paredes,num
trampolim para o sonho e a imaginação.
DUAS OPINIÕES
Mário Cravo Neto e Belchior, dois
artistas de agora, falam sobre o trabalho de Sérgio Rabinovitz, e mostram por
que este é considerado um dos mais versáteis e atuantes representantes da mais
nova geração de artistas brasileiros.
De Mário Cravo Neto: “No
desenvolvimento do trabalho de Sérgio Rabinovitz, venho observando a procura e
do domínio da forma, ao invés de deixa-la perder-se em nuanças e texturas.
Traços caligráficos, símbolos visuais de uma intensa claridade definem a forma
de expressão e comunicação. O uso da cor no seu trabalho acentua e separa os
elementos primordiais no campo visual. A simbologia encontrada por Sérgio traz
ao espectador, tão quanto ao artista, uma foram de prazer e descanso,
mostrando-nos como devemos aprender a ler e interpretar nossos símbolos.
Pertence a ele essa procura de contemporaneidade”.
De Belchior: “Em Sérgio, o
presente pinta a cada gesto, aquele presente que só se pode apreender com a
liberdade, a espontaneidade, a naturalidade do olhar realmente descondicionado
das convenções que impedem o livre trânsito e o livre gozo da pintura como
prática de depuramento e elevação da vida dos homens”.
A ARTE PLUMÁRIA
A exposição “Arte Jovem na
Alemanha”, que pode ser vista atualmente na Galeria Nacional de Berlim, dá a
jovens artistas, que já receberam vários prêmios de incentivo, a oportunidade
de apresentarem seus trabalhos a um publico mais amplo.
Este arranjo de penas, que se
abre mecanicamente nun círculo, é uma contribuição de Rebecca Horn. A artista,
de 35 anos de idade, que já se tornou conhecida em 1977, na “Documenta” de
Kassel (República Federal da Alemanha), estudou desenho e escultura na Academia
de Hamburgo. Ambos ainda desempenham um papel nas suas criações atuais, embora
ela se tenha decidido por materiais leves como poliéster, tecido e pernas. Seus
objetos não são para serem vistos como “esculturas” soltas, mas têm seu sentido
na sua utilização. Só assim é possível notar os pormenores, as perspectivas especiais,
os ritmos e os efeitos de cor dos objetos.
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