KANTOR MORREU LONGE DA BAHIA QUE TANTO AMOU
Esta foto à direita foi feita em 1976 na redação do jornal A Tarde, em Salvador, Bahia. Ao lado o auto retrato, de 1930, ressai a dedicação do grande artista.
Ao folhear o segundo caderno da edição de “O Globo”, do último dia 8, à procura de matérias sobre arte, deparei com uma foto que logo identifiquei ser de um quadro do meu amigo Manoel Kantor. Foram segundos de satisfação! Interrompido logo
La Marcha Hacia El Este, 1941, crítica ao nazismo.
Porém, o corre corre de minha vida profissional não permitiu que ficássemos mais tempo conversando sobre suas andanças e experiências. Sim, porque Kantor, além de um excelente pintor, era um grande viajante.
Porém, o corre corre de minha vida profissional não permitiu que ficássemos mais tempo conversando sobre suas andanças e experiências. Sim, porque Kantor, além de um excelente pintor, era um grande viajante.
Natural da Argentina, onde nasceu
em 1911, Manoel Kantor foi morrer em Jerusalém, Israel, longe de sua terra
natal e da Bahia que tanto amou. Desde 1947 que fez sucessivas viagens ao
Brasil, pois foi aqui que realmente explodiu sua grande vocação de pintor.
Durante a guerra, sendo judeu,
participou ativamente da condenação das atividades do Estado nazista com suas
charges bem feitas e fortes denunciando a opressão e a matança.Suas caricaturas foram publicadas durante,
anos em jornais argentinos e uruguaios, e depois reunidas num livro intitulado “Kantor,
Disgni”, editado na Itália, do qual tenho um exemplar com uma dedicatória
amável: “Para Reynivaldo, mui querido amigo. Em recuerdo de esta temporada de reencontro
com La antigua Y La Nueva
Bahia ”
Diria que Kantor era um pintor
viajante, onde as paisagens e ambientes das cidades o prendiam por algum tempo.
Ao esgotar os contatos e o gosto
pela paisagem, arrumava as malas e partia em busca de novos horizontes, levando
em sua bagagem desenhos que depois, transformavam-se em belos quadros, os quais
normalmente integravam nova exposição.Kantor realizou exposições nas
principais capitais e cidades de vários países. Só ao Brasil ele fez dezoito
viagens durante trinta anos.
SUA VIDA
Aos 15 anos, ou seja, na segunda metade da década de 20, Manuel Kantor iniciou uma atividade variada no campo da criação artística, que começou com a caricatura. Mas, ao lado da caricatura foi também um grande registrador de viagens, onde com naturalidade, e em poucos minutos conseguia com seus traços leves e por vezes vigorosos captar o essencial de uma paisagem transformando-os numa obra de arte. Em 1947, conheceu Cândido Portinari de quem se tornou amigo.
Foi através de Portinari que
conheceu alguns críticos e intelectuais brasileiros. Apresentação, esta, feita
sob a recomendação: “um pintor de talento”. Realmente, apresentação do mestre
serviu para lhe abrir caminhos e assim pôde realizar numerosa série de desenhos
e retratos, ligando-se a seguir ao mundo social e cultural carioca. Depois
desta época, passou a residir em Buenos Aires , Rio de Janeiro e outras cidades que
despertavam interesse estético.
Em 1978 fez sua última grande
exposição no Brasil no Museu Nacional de Belas-Artes, comemorando seus 50 anos
de atividades artísticas. Ali, elegantemente, como sempre gostava de fazer,
recebeu grande número de amigos e artistas brasileiros. Uma retrospectiva,
organizada a partir de obras criadas durante os longos períodos, que viveu no
exterior.
O que mais me chamava atenção em
Kantor, era que embora fosse um homem sexagenário tinha um vigor extraordinário
e uma sensibilidade à flor da pele. E, pintava as paisagens baianas e cariocas
com o mesmo entusiasmo de um artista estrangeiro que acabava de desembarcar.
Na retrospectiva que fez no Rio
de Janeiro ele montou de tal forma que o primeiro trabalho era “Filha -de-
Santo”, pintado assim que chegou ao Brasil, entusiasmado com a Bahia e
terminava com outro de Nininha Nabuco, amiga de família, feito em 1978. Os 35
quadros restantes mostravam as cidades onde viveu e trabalhou como Lima,
México, Rio, Salvador, Buenos Aires, Nova Iorque, Paris, Roma, Toledo, Mallorca
e Jerusalém. Kantor nunca desembarcou em qualquer cidade na condição de
turista. Ao contrário sempre chegava e partia em busca de trabalho, de locais
apropriados para criar seus desenhos. Ele mesmo afirmou, em 1978, que “quando
chego num lugar, fico muito tempo, vivo intensamente o ambiente para poder
trabalhar. É interessante notar, no entanto, que apesar dos temas diferentes,
eu apresento uma retrospectiva que começa e termina com telas basicamente
semelhantes em termos de proposta. A continuidade, e conseqüentemente a
unidade, são por isso, mais características do meu trabalho do que a própria
variedade de motivos ou cenário de inspiração. A busca constante de novos
caminhos acabou me devolvendo à minha essência de artista. Mesmo aqueles que
observarem rapidamente, notarão.
UMA ENTREVISTA
Em 1978 estive pela segunda vez
com Kantor e de lá para cá sempre estivemos em contato, quer através de cartas
ou de seus catálogos de exposições, que me enviava de onde estivesse. Da última
vez que aqui esteve, ficou hospedado no Hotel Vila Romana, no Morro do Gavazza,
na Barra, de onde descia para ver o mar, quando o dia começava a raiar ou o sol
começava a esconder-se no horizonte. Sempre teve uma paixão especial pelo mar.
E, como todo homem de sangue espanhol, costumava apaixonar-se pelas coisas que
gostava. Suas discussões sobre determinados temas e pessoas eram acaloradas e
quando estava mais aborrecido gesticulava muito. Era uma pessoa sensível, doce
e amável. Tão amável que na procura de agradar, manter contatos e sedimentar
amizades era muitas vezes incompreendido e até evitado. Lembro de algumas
destas cenas, que por vezes ele veio a mim queixar-se.
Ao contrário, enxergo-o com seus
defeitos, naturais em todo nós. Mas, por estar trabalhando sem hora marcada,
por ser dono do seu próprio tempo e destino, o que não acontece com a maioria
de nós, em determinados momentos tornava-se muito insistente e as pessoas que
tinham outros afazeres e compromissos evitavam maior contato com ele.
Kantor era, repito uma pessoa
muito sensível, um artista que vindo de Buenos Aires soube captar o ambiente e
o jeito baiano. Amava a Bahia e falava de Salvador com palavras cheias de
ternura.
Oscar Niemeyer, falando sobre
ele, disse: Não é apenas sua pintura que me comove e a vocês recomendo, mas o
amigo fraterno que tantas vezes encontrei pela vida afora, abraçado às suas
telas, otimista e generoso com o mundo e os homens. Exatamente, generoso e
otimista e foi esta imagem que ficou.
Para Carlos Drummond de Andrade: “Kantor invade o país dos
signos e deles faz sua mansão”. É curioso que este artista ao chegar numa
cidade se instalava de tal forma, se preocupava com os detalhes, como se fosse
morar ali por muitos e muitos anos. Lembro que ao chegar ao Hotel Vila Romana
arrumou o seu quarto, transformando-o num atelier.
Num atelier de um artista que não esperava nunca mais sair
dali.
Mesmo longe, acredito que o velho Kantor estivesse assim
instalado em Jerusalém, onde morreu.
A notícia publicada em “O Globo”, não diz se Kantor morreu
no dia 7 e se estava em companhia de sua esposa Ana Maria, uma boa poetisa, com
quem se correspondia quase diariamente trocando impressões e palavras de afeto.
Olá... percebo que este blog foi piblicado em 2012 e talvez minha mensagem nao seja lida, mas tenho esperança. Procuro alguém com conhecimento em Kantor, pois tenho um quadro original dele de 74. Gostatia muito de vende-lo e acredito que vale uma boa quantia. Você pode me ajudar me orientando onde posso oferecer este quadro pra venda? Agradeço a atenção e fico na esperança de um rettorno. Meu mail para contato é: marciasuely@hotmai.com
ResponderExcluirAbraços.
Márcia o mercado dele é argentino. Não sei avaliar. Sei que era um grande pintor. Veja em leilões de arte na internet.
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