O arquiteto, artista plástico e professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, Jamison Pedra está de volta. Retorna dos Estados Unidos onde fez um curso de mestrado
Jamison e logo prepara uma
exposição que será aberta no próximo dia 17, na Art Boulevard Galeria, onde
teremos a felicidade de ver e sentir a sua obra, que é a própria tese de
Mestrado que defendeu em março deste ano na School of Design Art, Architecture
and Planning.
A mostra é composta de duas
séries, com tiragem de uma cópia, o que dá o caráter de obra única, apesar de
ser uma técnica de reprodução. Cuidadoso, calmo, o Jamison construiu uma obra
através dos anos que lhe permite agora, trabalhar com muito mais força e
qualificação. Nesta mostra aborda dois temas: a pedra e o jornal diário.
“Objetos simples, comuns e únicos. A pedra encontrada em toda parte, possui a
sua individualidade. Cada uma possui sua forma própria”.
Portanto, a sua sensibilidade
aguçada permite que retire de uma pedra inerte a sua essência, dando-lhe
grandiosidade, ressaltando sua textura e volume. Outras vezes, transformando-a,
quase em signos, que são confundidos com mensagens extraterrenas ou com pegadas
perdidas no tempo. É nesta transposição para a gravura que ele ressalta a
individualidade de cada uma delas dando-lhe o caráter atemporal.
O segundo tema, fragmentos de
jornal, “nos dá o limite do cotidiano. São trechos colhidos com cuidado,
destacados e transportados fotograficamente para o papel”. Diz Jamison que “o
diário, fugaz e temporário ao ser transportado para a gravura toma o caráter
atemporal”. Na verdade os motivos a primeira vista pareçam distantes, se
relacionam no tempo e no espaço e foi assim que Jamison desenvolveu os estudos
para sua tese. As litografias, desenhos e fotogravuras do artista foram feitos em papel Arches , com
100% de algodão.
Jamison Pedra Prazeres. Este é o
verdadeiro nome deste artista criativo que sempre busca várias formas de
expressão. A pedra incorporada a sua própria identificação ganha forma
expressiva quando ele a retira da frieza e da total falta de identidade
dando-lhe força e destacando a suas formas texturas variadas.
Arrumadas, como que num jogo, ele
as coloca em posições diversas. Enfileiradas, sobre um fundo mais claro ou
escuro. O que lhe interessa é realçar a sua plasticidade dentro de uma visão
lúdica.
Depois da pedra, que transparece
frieza e imobilidade chegamos aos prazeres, onde transparece toda a carga de
emotividade e essencialmente a presença humana. Portanto, uma junção de
palavras que identifica e resulta nesta figura pacata, criativa e visionária.
Criando espaços, formas e contrastes Jamison Pedra Prazeres nos leva a um mundo
de emoções onde seus objetos gravitam entre espaços claros e escuros e o fugaz
torna-se perene, a frieza torna-se emoção. Ligando a elaboração de jornal,
todos os dias, posso testemunhar que esta coisa passageira e contínua do jornal
diário emociona e deixa transparecer reflexões. É o espelho da própria
sociedade. Se estamos vivendo num momento de crise e de escalada de violência o
jornal reflete exatamente isto, porque a nós jornalistas não é permitido
inventar, entrar no reino da fantasia como acontece com o escritor e o próprio
artista plástico, que a exemplo de Jamison pode sonhar. Nós jornalistas
reportamos o que acontece ou vai acontecer, dando pinceladas do nosso
testemunho, dentro das informações que conseguimos captar, Jamison, utiliza da
notícia pronta como matéria prima para a sua própria arte.
E, assim retira o fato do seu
tempo para dar-lhe o caráter atemporal.É verdade também que enxergo
laços de união entre o artista e o jornalista. Entre Jamison que se apossa da
notícia ou da ilustração jornalística para criar sua obra, e o repórter que
colhe as informações codificando os detalhes ou o fotografo que registra com
sua máquina os flagrantes de um acontecimento. Existem pontos de referências.
Jamison também foi chamado à
atenção aquela leitura muitas vezes pela curiosidade contida no próprio texto
ou ilustração. Selecionou e criou em cima deles, portanto o jornalista
conseguiu o seu objetivo que era o consumo da informação. Não apenas, foi mais
longe, quando Jamison deu-lhe caráter de atemporalidade. É esta visão e este
fazer, esta relação que veremos nesta exposição de Jamison que é o seu retorno,
vitorioso e criativo ao movimento artístico baiano. Ele nos brindará com obras
recheadas de informações contemporâneas para serem consumidas, depois é claro,
de uma discussão mais ampla. É isto exatamente que Jamison deseja uma discussão
para uma compreensão maior da própria criatividade inerante às suas
litografias, desenhos e fotogravuras.
O artista plástico Rubem Grilo é
um dos bons gravadores deste país. Um caipira de cidade pequena, como ele mesmo
se define, nasceu em
Pouso Alegre , há 37 anos. Formado em Agronomia em 1969,
trabalha com o irmão arquiteto, na Fundação Beatriz Gama, em Volta Redonda.
Tentando vencer um certo torpor
que aquela atividade lhe provocava, começa por conta própria, a trabalhar com o
barro.
Modela um busto do papa João
XXIII, uma Pietá “bem mulher de rua, segurando uma criança pobre”, e mais duas
obras menores para as crianças da fundação. Neste mesmo ano, descobre os
primeiros segredos técnicos da xilogravura, freqüentando, por mais ou menos
dois meses, as aulas do Prof. José Altino, da Escolinha de Arte do Brasil, RJ. Em
1971, matricula-se na Escola de Belas
Artes, mas desiste logo no início. De 1971 a 1973, trabalha com o pintor Lênio Braga
e freqüenta o ateliê de Iberê Camargo, aprendendo a técnica de gravura em
metal: no mesmo período faz curso de Litografia no Parque Lage, sob a
orientação do Prof. Antônio Grosso. Em 1972, participa do IV Salão de Verão do
MAM-RJ. Em 1973, do V Salão de Verão do MAM-RJ e do XXI Salão Nacional de Arte
Moderna, MEC-RJ. De 1973 a
1975, publica seus trabalhos no Semanário Opinião; de 75 a 78, colabora no Semanário
Movimento; de 78 a
79, no Versus, Jornal do Brasil, O Globo, Pasquim e Artefato; de 79 a81, no
Folhetim, Suplemento da Folha de São Paulo. Em 1981, expõe na Escola de Artes
Visuais, RJ. Em 1982 no MAM-RJ, “Universo do Futebol”; no VI Salão Carioca de
Arte, RJ; na V Mostra Anual de Gravura, em Curitiba, PR e no V Salão Nacional
de Artes Plásticas do MAM-RJ. Há dez anos, é professor de xilogravura para
adolescentes, no Centro Educacional de Niterói, RJ. Desde 1980, realiza trabalhos
de paisagismo, com a arquiteta Maria da Assunção-Teresópolis, RJ, e colabora no
caderno Especial do Jornal do Brasil.
Falando sobre a sua opção pela
gravura, Grilo disse: “A xilo é uma arte popular. Eu nem falo sobre o poder
comprar, por ser mais barato. A linguagem em si da xilogravura, dentre todas as
técnicas, acabou sendo a que me respondeu ao apelo do tosco, do rudimentar. Ela
resiste bastante ao refinamento. O meio-tom, na verdade, são tramas de preto e
branco, ela não permite o degradê, não aconselha determinado tipo de acréscimo
de elementos. Ela é sempre resultado de uma gravação, de uma incisão da
ferramenta sobre um material resistente. Não é uma coisa elástica, que você faz
dela o que quer. Depois de um certo limite, ela não aceita mais a quebra.
Então, há um caráter áspero, que
se aproxima um pouco de uma visão dramaticamente mais popular. Não é uma coisa
refinada, não é toda xilogravura que cai bem com qualquer sofá”. E com relação
a escolha da madeira: “No começo, eu não me importava muito, trabalhava com o
que me cala nas mãos. Mas, com o tempo, observei que cada madeira me
possibilitava diferentes resultados. Então eu vou mais ou menos procurando
selecionar algum material que me facilite a realização de um trabalho. Mesmo
com madeira resistente, você pode fazer nela uma gravação, uma gravação sem
requintes talvez, mas que você consiga tirar dela tudo aquilo que ela possa dar
de preciso, de refinado. Nesse caso, é evidente que a madeira, o material tem
que ser selecionado.
A melhor madeira seria aquela que pudesse ser macia de corte e consistente.A gravação não é um gesto de força, tem que ser natural como a escrita. Se você faz força, é queda-de-braço, não é gravação.
A melhor madeira seria aquela que pudesse ser macia de corte e consistente.A gravação não é um gesto de força, tem que ser natural como a escrita. Se você faz força, é queda-de-braço, não é gravação.
A coisa tem que ser espontânea,
não se pode proibir o gesto. Na medida em que você faz força, o corte se
altera. Portanto, ela tem que ser macia e deixar que a ferramenta corra o mais
suavemente possível por ela, mas com certa consistência. Não pode ser muito
porosa, nem frouxa. Tem que ter fibras mais ou menos juntas, mas essas fibras
não devem impor muita resistência, têm que ser como a carne, como um corpo só.
Existem algumas madeiras que se aproximam disso: o mogno, a maçaranduba, o
louro-vermelho, alguns tipos de caneta. De qualquer forma, o melhor é gravar o
mais naturalmente possível. A conformação do fio da madeira, você terá que
descobrir e trabalhar sempre a favor dele.Caso contrário, estará exigindo,
da ferramenta e da sua mão, um esforço maior”.Trabalhou no Opinião, de 78 a 78, no Suplemento da
Folha de São Paulo, , chamado Folhetim, de 79 a 81.
. Fez, também, alguns trabalhos para o
Pasquim, Versus, O Globo e no Caderno Especial do Jornal do Brasil, mas
esporadicamente. Acha importante atuar nesse campo, porque o jornal é um espaço
não codificado, um espaço sem vício, é um veículo de massas, onde você não tem
aquelas coisas do artista que gosta de botar regra em tudo e, essas regras não
levam a nada, acha que o terreno da arte é um campo minado. Existem regras
demais para tão pouca produção. “A gente tem que fazer o máximo, fazer duas
vezes antes de pensar; se não prestar, dane-se, ninguém vai sair perdendo nada
com isto”.
Ele usa o jornal como um veículo
de libertação dos dogmas da arte. “Tentei procurar um caminho que desse sentido
ao meu trabalho. Essa atitude é, na verdade, um pequeno gesto de uma
preocupação maior que é procurar viver, dentro dessa vida que eu acho abstrata,
com um sentido dado por mim. Tenho plena consciência de que o ‘eu’ tem uma
profundidade existencial muito grande, é uma coisa única. É uma patente que
ninguém reproduz, e só existe enquanto eu estiver vivo. O homem tem mais de 40
milhões de anos, e uma evolução inteiramente inexplicável, que deu origem a uma
personalidade que está aqui, porque é natural que esteja, mas as probabilidades
são infinitamente grandes para que não estivesse. Então, realizar esta
entidade, realizar este ‘eu’, é possível quando você cria princípios nos quais
acredita. Porém ser princípios religiosos, acho fantástico que muitas pessoas
tenham, ou digam que têm, e levem isso ao extremo. Mas, mesmo sem Deus, acabo
sendo religioso, porque tenho fé”.
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