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terça-feira, 16 de outubro de 2012

OS PÁSSAROS NOTURNOS DO ABAETÉ DO MESTRE CALÁ - 05 DE DEZEMBRO DE 1983


JORNA A TARDE SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 05 DE DEZEMBRO DE 1983

OS PÁSSAROS NOTURNOS DO ABAETÉ DO MESTRE CALÁ


Recolhido no território Livre de Itapuã, como seu amigo Vinícius de Moraes costumava chamar o espaço ocupado por Calazans Neto, ele vai criando uma fauna bela e original, numa mistura de magia, realidade e fantasia. Surgiram as cabras e depois as baleias, que enchiam as praias de magia. Agora são os pássaros noturnos que sobrevoam a misteriosa Lagoa do Abaeté. Este é o mundo onírico de Calazans Neto, este sujeito que sempre está rodeado de gente atenta ao seu riso largo e sua capacidade indiscutível de contar estória.
Inclusive na apresentação que Zélia Amado faz do seu novo álbum lembra as várias vezes que já ouviu de Calá anedota da  “baleia enorme, de peito cinzento com bolinhas brancas, que surgiu um dia nas águas do Rio Subaé, em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, botou a cabeça para fora e, numa lapada, abocanhou e engoliu de vez um canavial inteiro...” Aliás, uma das muitas do seu alegre repertório. Mas, deixando as anedotas, vamos falar um pouco da obra de Calá.
É certo que Calá reina nas terras apinhadas de coqueirais beijadas por um mar azul e calmo onde se escondem sereias e mistérios. Dizem que Iemanjá tem morada certa nas imediações do seu atelier, no fim de linha de Itapuã. E que Oxum, toda formosa, habita as águas do Abaeté também dentro do território deste senhor absoluto e paradoxalmente democrata. Amante da natureza ele nos trouxe várias cabras e bodes para habitar as pedras e enfrentar aquele mesmo sol ardente que faz de Itapuã uma das praias mais deliciosas e procuradas deste país. Elas mostravam-se elegantes, pastando de um lado para o outro sem serem importunadas! Ao lado das cabras, surgiram as grandes baleias, mansas e carinhosas que pulavam e dançavam encantando todos aqueles que tiveram a sensibilidade de admirá-las com mais cuidado. Essas baleias não comem canaviais, como aquela que surgiu na estória que ele conta com tanta graça, nas margens do Subaé.
Evidente que depois das cabras que andam em terra firme, das baleias que habitam o mar, seria necessário que o senhor de Itapuã também povoasse o céu com sua imaginação. Isto acontece no terceiro dia da Criação quando Calá aparece com seus pássaros noturnos, doces e ternos.
Isto é bom ressalvar porque quando falamos de pássaros noturnos lembramos algo amedrontar. Mas, os pássaros de Calá vieram para povoar e dar mais beleza às noites enluaradas de Itapuã e da Lagoa do Abaeté. Eles não metem medo, ao contrário, dão prazer e surgem tão logo começa o escurecer.Assim Calazans, como um estrategista da Criação, fecha o cerco por terra, mar e ar, dominando totalmente sua capitania hereditária...
Fechado o cerco, vamos aguardar outros personagens, que surgirão belos e ternos dos cores seguros e misteriosos que Calá costuma dar na madeira de suas matrizes.
Isto porque o vôo noturno de seu pássaro vermelho significa que não haverá interrupção. Ao contrário, este vôo é anunciador de novas incursões do mestre Calá, disposto que está a povoar suas terras de uma fauna cada vez mais rica e diversificada.A exposição de Calá será aberta no próximo dia 16, às 21 horas, na Art Boulevard Galeria, no Shopping Boulevard 161.

MASO E OS DETALHES CHEIOS DE SENSUALIDADE FEMININA

Maso é um artista que busca a presença cada vez maior da própria realidade que lhe cerca em sua obra. Ele recria a fotografia, no momento que transfere para tela as imagens prefixadas por sua máquina fotográfica. Uma transposição que é presença constante nas mostras de arte contemporânea em todo o mundo.
Detalhando a figura humana Maso chama atenção para as formas com excepcional sensualidade. O espanto de algumas pessoas, não muito ligadas á arte diante de um quadro de sua autoria, chegando a confundi-los com fotografias é suficiente para demonstrar a qualidade do seu trabalho.
                                             Maso e alguns trabalhos que vai expor na   Forma  , no bairro da Barra.

A mesma  reação foi observada várias vezes antes dessa mostra quando ele trabalhou as possantes motos que passam barulhentas entrecortando o tráfego de carros pelas ruas das metrópoles. Aí os detalhes aparecem fortes, com maior luminosidade e brilho, propositadamente, para destacar os volumes e as formas.
Há dez anos que Maso vem pintando e realizando exposições. Ele estar sempre disposta a ensinar a outras pessoas a técnica que usa no seu trabalho. É uma pessoa aberta ao diálogo, como demonstra, aliás, a sua pintura impregnada de gestos de tranqüilidade. Seu trabalho é fundamentado no jogo de luz e transparências onde vai acentuando e ressaltando as formas e os volumes dos objetos ou das figuras humanas. Isto provoca um impacto visual indiscutível e muitas vezes, até comentários maliciosos sobre a sensualidade estampada nos detalhes de seus modelos.
Maso, inclusive aceita com resignação de um artista voltado para a sua obra as palavras de exaltação dos observadores de sua arte.
O nosso querido Wilson Rocha falando sobre seu trabalho chama atenção dizendo: “Uma pintura viril e bela, que exalta a imagem obsessiva da mulher como paisagem consumida no plano ardente e apaixonado da vida e da recriação”.
É verdade que não podemos pensar em recriar, em melhorar a imagem da própria vida sem a presença da mulher. Sabedor da importância da mulher ele a introduz com grandiosidade no seu repertório iconográfico, destacando a sua sensualidade e as formas curvas e suaves onde deságuam muitas paixões e onde os gestos reprimidos explodem.
A exposição de Maso será inaugurada no próximo dia 7, na Forma Móveis e Objetos de Arte, na Rua Barão de Itapuã, 60, loja, 1, na Barra.

O ATELIER CLAROESCURO REABRE COM UMA 
EXPOSIÇÃO COLETIVA

O Atelier Claroescuro Será reaberto, no dia 6 deste mês, às 21 horas, em novas instalações, na Rua São Luís, número 5, Jardim Brasil. Fundado no ano de 1981 pelos artistas plásticos Alain Pigot, Liane Katsuki, Manoel Neto e Sérgio Sampaio, o atelier funcionou por um período de dois anos na Rua Euclides da Cunha (Graça), que depois se tornou pequeno para o trabalho desenvolvido.
Agora, o Claroescuro conta com mais quatro componentes (Célia Alves, Sônia Márcia, Yolanda Silva e Vera Franco), além dos artistas que criaram o atelier. A festa de reabertura vai ser marcada pela inauguração de uma exposição dos novos trabalhos produzidos pelos artistas do grupo e algumas obras feitas pelos alunos, no decorrer do ano letivo.
Liane estará mostrando uma nova coleção de jóias (ouro, prata e pedras preciosas), esculturas em bronze, pintura a óleo e espelhos. Sérgio Sampaio vai participar com esculturas em ferro; Alain, com escultura em resina de poliéster e madeira; Célia apresentará xilogravura a cores e pintura em porcelana. Já os alunos que tiveram trabalhos selecionados vão expor obras em diversas técnicas.

NÃO É GALERIA

Conforme explicou Liane, o atelier não tem qualquer pretensão de ser uma galeria de arte. O espaço é destinado preferencialmente aos integrantes do grupo e aos alunos das oficinas de arte; entretanto, se algum artista que não pertence à equipe deseja expor, “o relacionamento dele conosco será diferente do clássico relacionamento marchand e artista, e sim artista mais artista”.
Os trabalhos dos artistas do Claroescuro também não ficam limitados à exposição no próprio atelier. “Expusemos durante esse tempo todo em outras galerias”, lembram eles. Os artistas têm sempre, em mostruário, os trabalhos feitos pelo grupo, os quais são muitos apreciados por “clientes “que nos visitam, adquirem peças e fazem encomendas especiais”, tanto para salvador como para o interior do estado. Ao lado foto de Liane Katsuki.
Junto com a Escola Bahiana de Arte e decoração (Ebade), filiada ao atelier, o Claroescuro promove cursos nas mais variadas técnicas, entre elas pintura, desenho, escultura, serigrafia (corte e fotográfico), xilogravura, porcelana, modelagem, jóias e decoração. Os cursos podem ser freqüentados pelo interessado por mais leigo que seja em matéria de arte, conforme ainda esclareceu Liane Katsuki.
Segundo Sérgio Sampaio, a proposta de ensino é cumprida. Todas as condições materiais e técnicas são oferecidas, afirmou, enquanto uma aluna presente à entrevista ressaltava um aspecto importante nas oficinas: o fato de se poder aprender, tendo como professores artistas de renome.
A atelier Claroescuro está instalado num amplo imóvel, dispondo de várias salas de aulas para o ensino das técnicas, além de dependências destinadas à exposição continua do trabalho produzido pelos artistas, entre outras. O atelier foi criado pelos quatro artistas cada um com uma técnica diferente - na intenção de poder juntar forças e vencer os obstáculos encontrados do desenvolvimento de suas atividades (de Graça Filadelfo)

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