JORNA A TARDE SALVADOR,
TERÇA-FEIRA, 05 DE DEZEMBRO DE 1983
OS PÁSSAROS NOTURNOS DO ABAETÉ DO MESTRE CALÁ
Recolhido no território Livre de
Itapuã, como seu amigo Vinícius de Moraes costumava chamar o espaço ocupado por
Calazans Neto, ele vai criando uma fauna bela e original, numa mistura de
magia, realidade e fantasia. Surgiram as cabras e depois as baleias, que
enchiam as praias de magia. Agora são os pássaros noturnos que sobrevoam a
misteriosa Lagoa do Abaeté. Este é o mundo onírico de Calazans Neto, este
sujeito que sempre está rodeado de gente atenta ao seu riso largo e sua
capacidade indiscutível de contar estória.
Inclusive na apresentação que
Zélia Amado faz do seu novo álbum lembra as várias vezes que já ouviu de Calá
anedota da “baleia enorme, de peito
cinzento com bolinhas brancas, que surgiu um dia nas águas do Rio Subaé, em Santo Amaro da
Purificação, na Bahia, botou a cabeça para fora e, numa lapada, abocanhou e
engoliu de vez um canavial inteiro...” Aliás, uma das muitas do seu alegre repertório.
Mas, deixando as anedotas, vamos falar um pouco da obra de Calá.
É certo que Calá reina nas terras
apinhadas de coqueirais beijadas por um mar azul e calmo onde se escondem
sereias e mistérios. Dizem que Iemanjá tem morada certa nas imediações do seu
atelier, no fim de linha de Itapuã. E que Oxum, toda formosa, habita as águas
do Abaeté também dentro do território deste senhor absoluto e paradoxalmente
democrata. Amante da natureza ele nos trouxe várias cabras e bodes para habitar
as pedras e enfrentar aquele mesmo sol ardente que faz de Itapuã uma das praias
mais deliciosas e procuradas deste país. Elas mostravam-se elegantes, pastando
de um lado para o outro sem serem importunadas! Ao lado das cabras, surgiram as
grandes baleias, mansas e carinhosas que pulavam e dançavam encantando todos
aqueles que tiveram a sensibilidade de admirá-las com mais cuidado. Essas
baleias não comem canaviais, como aquela que surgiu na estória que ele conta
com tanta graça, nas margens do Subaé.
Evidente que depois das cabras
que andam em terra firme, das baleias que habitam o mar, seria necessário que o
senhor de Itapuã também povoasse o céu com sua imaginação. Isto acontece no
terceiro dia da Criação quando Calá aparece com seus pássaros noturnos, doces e
ternos.
Isto é bom ressalvar porque
quando falamos de pássaros noturnos lembramos algo amedrontar. Mas, os pássaros
de Calá vieram para povoar e dar mais beleza às noites enluaradas de Itapuã e
da Lagoa do Abaeté. Eles não metem medo, ao contrário, dão prazer e surgem tão
logo começa o escurecer.Assim Calazans, como um
estrategista da Criação, fecha o cerco por terra, mar e ar, dominando
totalmente sua capitania hereditária...
Fechado o cerco, vamos aguardar
outros personagens, que surgirão belos e ternos dos cores seguros e misteriosos
que Calá costuma dar na madeira de suas matrizes.
Isto porque o vôo noturno de seu
pássaro vermelho significa que não haverá interrupção. Ao contrário, este vôo é
anunciador de novas incursões do mestre Calá, disposto que está a povoar suas
terras de uma fauna cada vez mais rica e diversificada.A exposição de Calá será aberta
no próximo dia 16, às 21 horas, na Art Boulevard Galeria, no Shopping Boulevard
161.
MASO E OS DETALHES CHEIOS DE
SENSUALIDADE FEMININA
Maso é um artista que busca a
presença cada vez maior da própria realidade que lhe cerca em sua obra. Ele
recria a fotografia, no momento que transfere para tela as imagens prefixadas
por sua máquina fotográfica. Uma transposição que é presença constante nas
mostras de arte contemporânea em todo o mundo.
Detalhando a figura humana Maso
chama atenção para as formas com excepcional sensualidade. O espanto de algumas
pessoas, não muito ligadas á arte diante de um quadro de sua autoria, chegando
a confundi-los com fotografias é suficiente para demonstrar a qualidade do seu
trabalho.
Maso e alguns trabalhos que vai expor na Forma , no bairro da Barra.
A mesma reação foi observada várias vezes antes dessa mostra quando
ele trabalhou as possantes motos que passam barulhentas entrecortando o tráfego
de carros pelas ruas das metrópoles. Aí os detalhes aparecem fortes, com maior
luminosidade e brilho, propositadamente, para destacar os volumes e as formas.
Há dez anos que Maso vem pintando
e realizando exposições. Ele estar sempre disposta a ensinar a outras pessoas a
técnica que usa no seu trabalho. É uma pessoa aberta ao diálogo, como
demonstra, aliás, a sua pintura impregnada de gestos de tranqüilidade. Seu
trabalho é fundamentado no jogo de luz e transparências onde vai acentuando e
ressaltando as formas e os volumes dos objetos ou das figuras humanas. Isto
provoca um impacto visual indiscutível e muitas vezes, até comentários
maliciosos sobre a sensualidade estampada nos detalhes de seus modelos.
Maso, inclusive aceita com
resignação de um artista voltado para a sua obra as palavras de exaltação dos
observadores de sua arte.
O nosso querido Wilson Rocha
falando sobre seu trabalho chama atenção dizendo: “Uma pintura viril e bela,
que exalta a imagem obsessiva da mulher como paisagem consumida no plano
ardente e apaixonado da vida e da recriação”.
É verdade que não podemos pensar
em recriar, em melhorar a imagem da própria vida sem a presença da mulher.
Sabedor da importância da mulher ele a introduz com grandiosidade no seu
repertório iconográfico, destacando a sua sensualidade e as formas curvas e
suaves onde deságuam muitas paixões e onde os gestos reprimidos explodem.
A exposição de Maso será
inaugurada no próximo dia 7, na Forma Móveis e Objetos de Arte, na Rua Barão de
Itapuã, 60, loja, 1, na Barra.
O ATELIER CLAROESCURO REABRE COM
UMA
EXPOSIÇÃO COLETIVA
O Atelier Claroescuro Será reaberto, no dia 6 deste mês, às 21 horas, em novas instalações, na Rua São
Luís, número 5, Jardim Brasil. Fundado no ano de 1981 pelos artistas plásticos
Alain Pigot, Liane Katsuki, Manoel Neto e Sérgio Sampaio, o atelier funcionou
por um período de dois anos na Rua Euclides da Cunha (Graça), que depois se
tornou pequeno para o trabalho desenvolvido.
Agora, o Claroescuro conta com
mais quatro componentes (Célia Alves, Sônia Márcia, Yolanda Silva e Vera
Franco), além dos artistas que criaram o atelier. A festa de reabertura vai ser
marcada pela inauguração de uma exposição dos novos trabalhos produzidos pelos
artistas do grupo e algumas obras feitas pelos alunos, no decorrer do ano
letivo.
Liane estará mostrando uma nova
coleção de jóias (ouro, prata e pedras preciosas), esculturas em bronze,
pintura a óleo e espelhos. Sérgio Sampaio vai participar com esculturas em
ferro; Alain, com escultura em resina de poliéster e madeira; Célia apresentará
xilogravura a cores e pintura em porcelana. Já os alunos que tiveram trabalhos
selecionados vão expor obras em diversas técnicas.
NÃO É GALERIA
Conforme explicou Liane, o
atelier não tem qualquer pretensão de ser uma galeria de arte. O espaço é
destinado preferencialmente aos integrantes do grupo e aos alunos das oficinas
de arte; entretanto, se algum artista que não pertence à equipe deseja expor,
“o relacionamento dele conosco será diferente do clássico relacionamento
marchand e artista, e sim artista mais artista”.
Os trabalhos dos artistas do
Claroescuro também não ficam limitados à exposição no próprio atelier.
“Expusemos durante esse tempo todo em outras galerias”, lembram eles. Os
artistas têm sempre, em mostruário, os trabalhos feitos pelo grupo, os quais
são muitos apreciados por “clientes “que nos visitam, adquirem peças e fazem
encomendas especiais”, tanto para salvador como para o interior do estado. Ao lado foto de Liane Katsuki.
Junto com a Escola Bahiana de
Arte e decoração (Ebade), filiada ao atelier, o Claroescuro promove cursos nas
mais variadas técnicas, entre elas pintura, desenho, escultura, serigrafia
(corte e fotográfico), xilogravura, porcelana, modelagem, jóias e decoração. Os
cursos podem ser freqüentados pelo interessado por mais leigo que seja em
matéria de arte, conforme ainda esclareceu Liane Katsuki.
Segundo Sérgio Sampaio, a
proposta de ensino é cumprida. Todas as condições materiais e técnicas são
oferecidas, afirmou, enquanto uma aluna presente à entrevista ressaltava um
aspecto importante nas oficinas: o fato de se poder aprender, tendo como
professores artistas de renome.
A atelier Claroescuro está instalado num amplo imóvel, dispondo de várias salas de aulas para o ensino das
técnicas, além de dependências destinadas à exposição continua do trabalho
produzido pelos artistas, entre outras. O atelier foi criado pelos quatro
artistas cada um com uma técnica diferente - na intenção de poder juntar forças
e vencer os obstáculos encontrados do desenvolvimento de suas atividades (de
Graça Filadelfo)
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