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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

ACADEMISMO E SEUS MODELOS EXPOSTOS NO SOLAR DO UNHÃO -06 DE ABRIL DE 1987


JORNAL A TARDE SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 06 DE ABRIL DE 1987

ACADEMISMO E SEUS MODELOS EXPOSTOS 
NO SOLAR DO UNHÃO
Descanso da Modelo, do paulista Almeida Júnior.
 O segundo módulo do Projeto Arte Brasileira, que o Instituto Nacional de Artes Plásticas está desenvolvimento, está aberto ao público no Museu de Arte Moderna da Bahia, no Solar do Unhão. Agora é uma parte da panorâmica da arte brasileira, ou seja o Academismo.
A exposição é apresentada em painéis ilustrativos e textos crítico conceituais de cada obra, oferecendo ao expectador os exemplos mais significativos da arte brasileira, de modo que ele mesmo possa deter e examinar cada módulo observando as passagens e desenvolvimentos da linguagem da arte.  
Deixo com vocês parte de um texto inserido no catálogo, intitulado “A Academia e seus modelos”, de Elizabeth Carbone Baez, que explica detalhadamente o relacionamento dos acadêmicos com seus modelos vejamos:
“Não se trata de nenhuma novidade que a pintura acadêmica teve como principal influência a pintura oficial francesa, conhecida como pompier. No entanto, sente-se ainda necessidade de sistematizar esse estudo. A fim de que o trabalho não fique restrito á simples identificação de modelos, torna-se necessário fazer uma relação dessa forma de representação plástica com o processo histórico, assim como verificar até que ponto esta representação foi institucionalizada e incentivada a se perpetuar por ir ao encontro das necessidades, afirmação de um sistema social e político em formação.
O tipo de representação proposto pelo Neoclassicismo, e deformado pelo Academismo, encontrou no Brasil um campo fértil para se enraizar e desenvolver, uma vez que seu universo simbólico supria os anseios políticos, sociais e culturais da classe dominante.
Conseqüentemente, era a uma única forma de representação ensinada e divulgada no Brasil no século XIX.
O Neoclassicismo vai usar, grosso modo, o mesmo sistema de representação dos objetos no espaço do Renascimento, quando o homem passa a ser o centro do universo. O artista terá o poder de controlar o espaço a partir de leis científicas, a natureza emancipa-se da ordem divina.
Não será, porém, uma simples imitação, mas uma volta ao passado em busca de novos valores para expressar uma outra visão do Cosmos. O Neoclassicismo recolocou em questão os princípios da arte, ou seja, colocou inteiro o problema do Renascimento, ampliando a compreensão dos tempos modernos e dando condições para que, mais tarde, surgisse uma nova maneira de captar, perceber e ler o mundo.
O universo vai representar a reforma moral contida no ideal da Revolução de 1789. A verdadeira moral se encontrava na antiguidade grega, na medida em que representava um mundo idealizado, construído a partir de seus próprios padrões, sem ajuda divina, suficientemente, rígido e severo para se tornar aceito no mundo ávido por reformas. Um mundo controlado pelo homem e guiado pela razão, cuja ética ou padrões morais deveriam ser modificados pelo homem a partir de um trabalho sério e disciplinado.
O ideal revolucionário do Neoclassicismo, que era autêntico e correspondia a uma realidade, vai cedendo terreno e finalmente será substituído pelo realismo napoleônico. Daí para a codificação sumária do universo renascentistas será um passo.
Ao ser transplantado para o Brasil, o Neoclassicismo perde em essência e significativo para transformar-se num processo de afirmação de prestígio e poder, foi implantado a partir da Missão Artística Francesa e alguns artistas que a compunham traziam em si o espírito que dominou essa forma de expressão artística. Não conseguiram, entretanto, transmitir muito mais além da técnica e das normas impostas e adotadas pelo Neoclassicismo. Assim fala Wilson Coutinho sobre Debret, em recente trabalho em que trata da relação entre arte/instituição:“Debret é então um homem oco, mas objetivo.
Cúmplice do mito da Razão de sua geração bonapartista, ele constrói uma obra que é, trabalho da técnica e de um saber objetivado: o da classificação racional, evidente, que será disposta em séries, á maneira de uma taxiodermia do século que o educou, o XVIII”.
Os bolsistas da Academia Imperial de Belas Artes seguiam para os ateliês de alguns desses pintores com instruções rígidas e específicas que limitavam e empobreciam a criação artística: copiavam seus mestres mesmo quando se inspiravam em temas racionais.

  O CASARIO COLONIAL NA OBRA DE FERNANDO PINTO

Fico satisfeito em saber que Fernando Freitas Pinto continua pintando e tentando cada vez mais melhorar o seu trabalho. Agora ele vai expor no V Salão Nacional de Artes Plásticas Genaro de Carvalho, que é um evento promovido pela União Nacional dos Artistas Plásticos e a Secretária de Esportes de Turismo de São Paulo, que está sendo realizado até o dia 11 de abril no Bahia Othon Palace Hotel, em Salvador. Ele está mostrando as arcadas do velho prédio, que hoje abriga a Câmara dos Vereadores, localizado na Praça Municipal.
Fernando gosta do ofício e trabalha com cuidado. Espero que prossiga e que procure ler, ver outras exposições, buscar novas informações para que sua arte tenha também um suporte informativo.
 Quanto ao Salão, que ele está participando, já tive oportunidade de tecer algumas considerações, por discordar do método utilizado para congregar os artistas expositores.Mas, o que importa para mim, neste momento, é que Fernando continua pintando e com qualidade.

                   IVONETE VAI A BRASÍLIA MOSTRAR O SEU NORDESTE
 
O Nordeste vai desembarcar em Brasília, mais especificamente na Praça dos Três Poderes, levando o sofrimento representado nas cores e formas criadas por Ivonete Dias. A exposição será realizada no dia 13, na Câmara dos Deputados e os parlamentares sulistas e visitantes terão oportunidade de ver a gente simples que ainda existe no interior nordestino como as lavandeiras, com suas bacias de roupas, as caboclinhas com potes cheios de água na cabeça, o majestoso mandacaru em seu tempo de flores e frutos, que aliás está sendo uma presença constante na maioria dos trabalhos que ela vai expor, Ivonete ainda apresenta árvores arbustos da caatinga; as figuras de beatos rezando nas estradas poeirentas, violeiros em noite enluaradas, paisagens agrestes ricas em vegetação e a mulher nordestina diante do seu fogão á lenha. São imagens fixadas na mente desta mulher nordestina, desta artista que constrói a sua obra na simplicidade do traço e da forma. As cores são quase as mesmas que saem dos tubos, puras, fortes, como o sol deste sertão, que tanto ela retrata.
No seu depoimento me diz: “Enfim, pinto tudo aquilo de puro que ainda teimo em querer reter na minha cabeça, pois neste mundo onde vivemos atualmente, difícil é pensar e viver no Nordeste”
 Não existe lugar para a violência nas suas obras. Tudo é tranqüilo, calmo. São as vilazinhas do interior, onde se respira um ar ainda puro e as noites são perfumadas pelo cheiro que vem da caatinga. Pessoas á beira do riacho, caudaloso durante o inverno ou mesmo nas trovoadas, o juazeiro com seu ver de exuberante, são temas que despertam interesse de Ivonete Dias. É o Nordeste dos bons tempos, onde viveu e como ninguém sabe e conhece o sofrimento de seus irmãos de infortúnios.


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