ESQUEÇA O CORPORATIVISMO E AJUDE A ARTE DA BAHIA
Tenho acompanhado há
vários anos a produção de artes na Bahia e tenho conhecimento das pessoas que
realmente se interessam, discutem, compram ou questionam. Não tenho presenciado
com freqüência a atuação de determinadas profissões, as quais deveriam estar
acompanhando este processo passo a passo, ligadas ao setor. Muitos ficam presos
aos parâmetros acadêmicos ou discussões corporativistas, esquecendo da
renovação e da pulsação da criatividade. Não conheço alguma leitura da produção
artística contemporânea da Bahia feito por esse pessoal, mas tenho visto e
ouvido o barulho que fazem na disputa de cargos e nas fileiras que formam
através de manifestos. Tem gente que treme quando vê um manifesto de categoria.
Eu, não. Vejo com certo respeito, mas também com cuidados.
Isto é fruto do trabalho
de quase 20 anos como jornalista e dos quais mais de 10 como chefes de
reportagem de A Tarde. Recebi e examinei durante este período centenas e
centenas de abaixo assinados e manifestos. Daí a minha posição com relação a
eles, longe do emocional. O barulho é comum nas minorias. Não têm estrutura,
não têm base, mas são barulhentas. Impressionam pelo grito. Muitas vezes agente
falando baixinho é muito mais ativo, criativo e vence facilmente. O barulho
passa a tornar inócuo. Aliás, é inócuo desde o nascedouro.
Agora volta o barulho com
a nomeação de um artista plástico para um cargo na coordenação dos museus. Não
sei por que tanta exclamação. É um artista competente, vibrante, polêmico, eu
sei. Mas isto é bom para a arte baiana e espero que este seu jeito polêmico
abale estas estruturas arcaicas e passivas. Esperemos que ele leve para trás da
poltrona onde vai sentar, se é que vai conseguir, a sua criatividade e
inquietude. O inovador sempre provoca polêmica. Veja você que agora que
cobriram um trabalho de sua autoria no mural que o grupo fez recentemente no
Rio de Vermelho. Ele ficou bravo.
Esbravejou, gritou,
reclamou. É o próprio espírito.
É preciso abrir o riso
para uma presença e comportamento bem criativo, imposições à parte. Vamos dar
as mãos e fazer força para que exista realmente um movimento de arte digno de
registro e atenção nos quatro cantos deste país. Vamos deixar este espírito de
corpo, porque isto é muito comum em corporações militares. Criticam tanto o
autoritarismo e vêm com exigências autoritárias.
O que é preciso é defender
que o corpo técnico dos museus deve ser necessariamente ocupado por museólogos
e outras profissões afins. Quanto aos cargos de direção é outra conversa. Assim
conclamo os artistas, museólogos, restauradores, administradores, antropólogos
e outras profissões que dêem as mãos. Vamos balançar e mostrar a produção da
arte feita na Bahia e incentivar um trabalho de releitura dos acervos.
SÉRGIO RABINOVITZ ESTÁ DE
VOLTA
Os mais recentes desenhos
de Sérgio Rabinovitz estarão expostos, a partir de 28 próximo, na Galeria
Multiplus, na Rua Lemos de Brito, 10, no Morro do Gavazza, na Barra. Também ele
mostrará algumas pinturas, abrangendo um pequeno levantamento de sua produção
dos últimos anos. O artista expõe mais em São Paulo e Rio de Janeiro. Há três anos que não
realiza uma individual em
Salvador. Segundo ele este “é um momento de fusão na minha
arte, um momento que vem desde o atelier de Mário Cravo e passa por New York,
um momento que percorre o aspecto minimalista, a preocupação com o espaço, a
força do desenho, e chega a te a Bahia.
Chega ao caligráfico, a
São Paulo, a brasilidade dos signos e todos os seus estímulos visuais. É uma
fusão na fora de caminhar New York e caminhar a Bahia o minimalismo e o
conceitual com a explosão de cor num equilíbrio entre o visual, o estético, o
conceitual e a razão.
Sérgio Rabinovitz é
pintor, gravador, e desenhista, e apesar de ter iniciado autodidatamente seu
aprendizado, estimulado por Calazans Neto, criando seus primeiros trabalhos, e
posteriormente trabalhado no atelier de Mário Cravo Júnior, possui bacharelado
em Artes plásticas pela Cooper Union For the Advancement of Science and Art, em New York , onde morou no
período de 1976/79. Hoje, residindo na Bahia, Sérgio prossegue nas suas
pesquisas nas mais diversas maneiras da gravura, além de desenvolver
extensamente um vocabulário gestual em desenho e pintura, que se constituem
atualmente nos seus principais meios de expressão.
Com exposições individuais
em Salvador, Rio, São Paulo, New York e coletivas como a “International
Graphics 77” ,
a “Variations 77” ,
“Five From Bahia” em New York ,
“Conte,; porany Brasilian Lithographs”, em Washington, IV Salão Nacional de
Artes Plásticas, III Mostra do Desenho Brasileiro, O Panorama da Arte
Brasileira no Museu de Arte de São Paulo, o Popular como Matriz no Museu de
Arte Contemporânea de São Paulo, e Artistas Baianos em Brasília, Sérgio
Rabinovitz têm como premiações a Viagem de Estudos para os Estados Unidos pelo
Institute for International Education, á Bolsa de Estudo da Wesleyan
University, Connecticut, Estados Unidos, a Bolsa de estudo da Cooper Union Arts
School, New York, e o Prêmio Secretaria de Educação n II Mostra do Desenho
Brasileiro, em Curitiba.
VARIADAS TENDÊNCIAS NO
MURAL DO RIO VERMELHO
Impossível não ser notado.
Fica exatamente na curva da Paciência, no Rio Vermelho. É o mais novo mural da Cidade, com 13 painéis assinados por alguns dos mais atuantes artistas
plásticos de Salvador, Iniciado há pouco mais de uma semana, o mural agora está
pronto e exposto à curiosidade dos que cruzam pelo local.
Pela quarta vez, nos
últimos cinco anos, o grupo voltou a trabalhar no muro de uma das casas da
Curva da Paciência. Cada um oferece vários motivos para o engajamento do
projeto, chamado de “Mural do Rio Vermelho. ”Mas há, pelo menos, dois pontos de
convergência: a busca de um espaço alternativo às galerias de arte e a
experiência de um contato direto com o grande público, desde o processo de
elaboração dos murais.
REFLEXÃO SOBRE O REAL
Embora sejam quase todos
de uma mesma geração, os autores do mural se expressam dentro das mais variadas
tendências estéticas e temáticas presentes na arte atual. E não temem a
diversidade de interpretações a que o trabalho possa dar margem. Só ficam
incomodados alguns ferozmente indignados, quando os murais são vistos
simplesmente como objetos de decoração para a Cidade. “Queremos é mexer com a
percepção de cada um que passa pelo local”, provoca Hans Peter, que tomou parte
na empreitada. “Decorar não é o preponderante”, acrescenta Leonardo Celuque,
frisando que cada espaço expressa a “mensagem pessoal do artista”. Outros
realçam o caráter político da iniciativa, como é o caso de Otávio. “Nosso
trabalho pode provocar uma mera observação prazerosa no espectador” admite o
artista. “Mas também pode instigar uma reflexão sobre a realidade”.
Foi exatamente a difícil
realidade do País, que inspirou Otávio em seu painel. Dominando o canto
superior, um grande “olho” tem na mira a Nova República, estilizada nos volumes
de cores verde e amarela.Aproveitando a existência
de um cano para a saída de água, no muro,Otávio o deixou
estrategicamente colocado no canal lacrimal. “Aberto para a realidade social e
política do País, o olho chora”, insinua.
De pouca conversa “Chico
Diabo” avalia o trabalho como uma oportunidade para se quebrar a rotina no
círculo das artes plásticas em Salvador, quase que encerrado nas galerias. “É mais um movimento na praça”, observa o artista. No seu espaço, linhas, cores e
formas registram uma mensagem sobre o “apartheid”, o condenado regime de
segregação racial, na África do Sul.
CONTANDO HISTÓRIAS
Um equilibrista, tentando
se segurar na corda bamba, é a figura central do painel executado por Murilo,
outro artista incorporado ao grupo. Definindo-se como um “contador” de
histórias, o que fez através de sua arte, Murilo declara que se fixou nesse
trabalho, na vida dos que “caem”. Sobre a iniciativa do mural, acha que pode
ser vista, entre as muitas maneiras, como um presente dos artistas à Cidade.
“Fiz com que esse espírito”, observou.
Ângela Cunha, a única
mulher do grupo, preocupa-se com a continuidade do trabalho em outros espaços.
“Basta que os empresários nos dêem uma força”, afirma. No caso do muro da
Paciência além do apoio integral do proprietário da casa, o grupo teve o apoio
de um comerciante de tintas e pincéis, enquanto um outro, cedeu os andaimes.
Outra questão destacada
pelos artistas, diz respeito no aspecto desmistificador nesse tipo de
realização, quando o atelier passa para calçada. O artista também pode ser
visto por outro ângulo, senão daquele que o mostra como um sujeito “genial” e
que “bola” suas criações sem qualquer relação com o mundo exterior. Partiu de
Hans Peter uma outra observação: o caráter didático dos murais. “Nele estão
novas informações para o público, sem acesso ás galerias”, afirmou
É prova de que o público
incorporou a proposta dos murais, segundo Peter, está na mudança de atitude com
relação a sua preservação. Nos primeiros anos, os murais eram atingidos por
toda sorte de agressão, dos cartazes colados sobre o trabalho ás pichações.“Todos aqui, neste grupo,
já sofreram com essa incompreensão”, diz o artista, bendizendo os novos dias.(Gorethe Brandão)
Nenhum comentário:
Postar um comentário