ARTE E O PODER (II)
Na atualidade a consagração dos
movimentos vanguardistas é a introdução ou aceitação através de convite, ou
mesmo seleção, entre os expositores de uma bienal, como as de Veneza ou mesmo de São Paulo, e mais ainda, presença no badalado Centro das Artes Georges Pompidou
(Beaubourg), exatamente organizados pelo Estado. Portanto, as vanguardas também
são cúmplices dos sistemas, e aceitam inclusive com muita alegria e
desprendimento os prêmios e as medalhas generosamente conferidas pelos
organizadores de tais eventos ou pelos burocratas que administram os museus e
galerias oficiais.
Isto vem demonstrar que a
liberdade total de muitos vanguardistas acaba adormecida no berço do Estado, e
por ele é embalada e institucionalizada no decorrer do tempo. Sempre as
vanguardas lutaram contra as chamadas forças reacionárias da cultura, sempre as
superaram, mas depois passam a ser aceitáveis, perdem o caráter vanguardista e
ficam institucionalizadas.Exemplo dos impressionistas.
Quando surgiram, tiveram o seu papel vanguardista.
Mas, é bom deixar claro que
defendo a existência das vanguardas para inovação da própria arte. Só que não
posso entendê-los como os donos absolutos da verdade e que ficarão na linha de
frente eternamente.
Nada na arte é perene. Tudo está
em perfeita transformação, quer seja através dos conceitos e do próprio tempo,
que vai deixando suas marcas através das mutações estabelecidas nas técnicas e
materiais utilizados e, também, a maneira de ver e analisar a obra de arte. Em
seu livro a “Cultura de Massa no Século XX”, Edgard Morin chama, a atenção que
“nos ditos sistemas socialistas, o Estado é senhor absoluto, censor, diretor,
produtor. A ideologia do Estado pode, portanto, desempenhar um papel capital.
No entanto, mesmo nos Estados Unidos, a iniciativa privada nunca foi
inteiramente entregue à sua própria evolução. O Estado é pelo menos, polícia”.
E, quando assim não ocorre, os
vanguardistas bradam aos ventos querendo incentivos e apoio do Estado. Venho
assim reforçar o que escrevi no artigo anterior quando passei a discutir este
tema palpitante. A princípio, fiquei surpreso com a repercussão, tendo recebido
vários telefonemas de pessoas que se diz, vítimas no jogo da primazia das benesses
do Estado.E, também de pessoas que
gostariam de falar sobre o assunto e não dispõem dos canais.
Estamos no final de um século XIX e
quando examinamos o mercado de arte notamos ainda algumas relações que podemos
tomar como parâmetros com o comportamento do mercado de arte em séculos
anteriores. Antes o que predominava era a relação entre o Rei, Papa ou grande
comerciante e o artista. Velásquez era o pintor de Felipe IV; Michelangelo de
Júlio II, Holbein para Henrique VIII e assim por diante. Hoje, temos esta mesma
relação com artistas sendo financiados por órgãos governamentais, grandes
capitalistas ou detentores do poder político. O surgimento de galerias e
marchands ainda não conseguiu acabar com esta relação porque os donos de
galerias e marchands também os procuram para vender seus produtos culturais.
Portanto a relação continua mesmo de uma forma indireta.
Além disto, quando olhamos o
surgimento de centros culturais, administrativos ou novas praças em qualquer
parte do mundo, o que acontece? Pessoas influentes nas comunidades atuam como
intermediárias de maneira que sejam convidados a colocar trabalhos de arte nas
paredes, nos salões o nas áreas livres os seus artistas amigos. Portanto, a
influência é responsável por esta ligação com o Estado que se estabelece em
relação ao artista de maneira indireta. Outras vezes é o próprio artista que
sugere a presença de um trabalho seu aqui ou ali. Perguntarão alguns, o que eu
quero dizer como este discurso? Esclarecer aos apressados que não concordo com
a falsidade e os destemperamentos de total independência. Não vejo. Não consigo
entender como essas pessoas conseguem enganar tanta gente.
“Os discursos que determinam o
estatuto e o objeto das artes não são unânimes nem constantes”, afirma Jorge
Coli.Completo dizendo que, quando
falamos de arte a unanimidade não é um dado necessário. A unanimidade acontece
no processo da chamada indústria cultural quando tudo é repetido. Fabricado em
série e assim assimilado, mas, muitos conceitos tornam-se unânimes, quando
existem elementos que desaguam numa lógica. Mas, os que agora contesto são
visionários e camuflados pelas palavras grafadas nos ofícios dos burocratas e
nos empenhos emitidos pelos órgãos pagadores do Estado.
SENEGAL QUER EXPOR GRAVURAS
BRASILEIRAS
Uma grande oportunidade para os gravadores
baianos. É que o embaixador do Brasil no Senegal, pretende realizar uma
exposição de gravuras sobre motivos afro-brasileiros. O embaixador do Brasil, Renato
Denys está solicitando endereços de gravadores para que possam ser iniciados os
contatos.
Ele fez uma consulta a Jorge
Amado, e este me transmitiu a informação para que possa ser concretizado este
projeto. Para tanto, os artistas devem escrever para: Ambasse Du Brasil, Boite
Postale, 136, Dakar, Senegal. O nome do embaixador é Renato Denys.
Este contato também, poderia ser
feito através do Museu de Arte Moderna da Bahia. Aí seriam estabelecidos outros
elementos para que a gravura feita na Bahia possa ser vista pelos africanos, e
quem sabe, uma mostra semelhante de gravuras africanas possa ser aqui
realizada.
CARNAVAL E O CIRCO NA OBRA DE
GRAÇA RAMOS
O Carnaval e o circo predominam
entre os 45 trabalhos a óleo e aquarela que a artista plástica Graça Ramos
escolheu para a sua exposição individual que comemora os 15 anos de atividade
artística e não foi apenas a euforia e as cores que lhe motivaram. Segundo
explicou, “quis através deste tema, expulsar de mim as imagens captadas durante
toda minha vida de artista e folia”.
A exposição terá início no dia
25, às 21 horas, no Museu de Arte da Bahia e ficará até o dia 31 de outubro.
Dando vazão a sua criatividade,
graça mostra em seu catálogo que tem a apresentação do secretário da Educação
Edivaldo Boaventura, a sua veia poética quando fala dos trabalhos sob a forma
de poesia. E, diz, sobre o Carnaval: “É o brilho de cada um na multidão, é o
sacrifício do ano inteiro em forma de estrelas de todas as cadências de sambas
frevos e trios elétricos.”
Graça é formada em Artes Plásticas ,
Desenho e tem mestrado em Arte/Educação pela Universidade da Pensylvânia,
ocupando hoje a fundação de professora-assistente de pintura e Composição na
escola de Belas-Artes da UFBa. Arte/Educação,, inclusive, é uma de suas grandes
preocupações e junto com uma colega está escrevendo um ensaio sobre o assunto.
Ao lamentar que a bibliografia brasileira sobre Arte/Educação seja pequena, ela
lembra que a arte è inerente ao ser humano e mesmo assim existe pessoas alheias
a ela.
“O MUNDO DA COR” NO NÚCLEO DO DESENBANCO
“O MUNDO DA COR” NO NÚCLEO DO DESENBANCO
O Núcleo de Artes do Desenbanco
está organizando uma exposição sobre “O Mundo da Cor”, dirigida à criança e a
todos aqueles que se interessam pela educação através da arte. Além de toda uma
parte teórica sobre a cor, vai desde a percepção através do órgão visual, para
chegar às cores-luz e cores-pigmento (opacas e transparentes), e daí a formação
das cores secundárias e terciárias, quentes e frias, e cores complementares.
Os diversos discos de misturas
ópticas mostrarão as diferenças de tons, enquanto que as mutações cromáticas
serão amplamente percebidas através dos trabalhos de Israel Pedrosa. E daí
prossegue até a cor inexistente.
Além da parte teórica, haverá
outras abordagens, tais como: a cor na linguagem infantil, a cor na heráldica
(através dos brasões e bandeiras), a cor na música e a representação da cor, no
mundo animal através da arte plumária e mineral (amostras de vários minerais,
inclusive aqueles que são utilizados pela indústria química para extração de
pigmentos).
A exposição será inaugurada no
dia 26 deste mês, sendo que será antecipada por duas palestras (dias 24 e 25)
de Israel Pedrosa, no horário das 17 horas, no Núcleo de artes do Desenbanco.
MOSTRA LEMBRA ILSE
A Fundação Hansen Bahia está
promovendo três exposições em homenagem póstuma a Ilse Hansen Bahia: “Ternura,
no museu que tem o nome do artista alemão, “Gratidão”, no SPHAN- Pró Memória, e
o III Salão Internacional de Fotografia, na Galeria de Arte Amanda Costa Pinto.
O objetivo da Fundação Hansen
Bahia, com sede em cachoeira, é o de incentivar a cultura junto à comunidade
valorizando a obra de arte. A diretora executiva da Fundação, Noelice Costa
Pinto, lembra que o Projeto Hansen Bahia não é somente o Museu Hansen Bahia
que, por si só, já é o único do mundo no gênero.
O Projeto Hansen Bahia, na
realidade, está voltado para a educação, a cultura, doação de alimentos,
telhas, tijolos e blocos para os mais pobres entre os pobres.
Segundo a museóloga Marinaide
Santana, a Fundação Hansen Bahia realmente atua na comunidade que Hansen Bahia
transformou em sua herdeira.
Em 76, ele doou, em testamento, à
Fundação, suas obras e propriedades doadas é uma chácara que está sendo
transformada em um grande centro cultural produtor de arte e da cultura.
Um momento que emocionou todas as
pessoas presentes, a abertura da exposição. Pela primeira vez foi ouvida a
gravação das vozes de Hansen Bahia e de Ilse. É o seu testamento gravado entre
cânticos e músicas brasileiras.
Entre os quadros de Ilse expostos, está a V Estação de
Hansen Bahia, a Via Crucis que é um grito humano contra a guerra, composta de
15 estações e três mil xilogravuras.
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