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quarta-feira, 10 de outubro de 2012

ARTE E PODER (II)

JORNAL A TARDE SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 17 DE OUTUBRO DE 1983

              ARTE E O PODER (II)

Na atualidade a consagração dos movimentos vanguardistas é a introdução ou aceitação através de convite, ou mesmo seleção, entre os expositores de uma bienal, como as de Veneza ou mesmo de  São Paulo, e mais ainda, presença no badalado Centro das Artes Georges Pompidou (Beaubourg), exatamente organizados pelo Estado. Portanto, as vanguardas também são cúmplices dos sistemas, e aceitam inclusive com muita alegria e desprendimento os prêmios e as medalhas generosamente conferidas pelos organizadores de tais eventos ou pelos burocratas que administram os museus e galerias oficiais.
Isto vem demonstrar que a liberdade total de muitos vanguardistas acaba adormecida no berço do Estado, e por ele é embalada e institucionalizada no decorrer do tempo. Sempre as vanguardas lutaram contra as chamadas forças reacionárias da cultura, sempre as superaram, mas depois passam a ser aceitáveis, perdem o caráter vanguardista e ficam institucionalizadas.Exemplo dos impressionistas. Quando surgiram, tiveram o seu papel vanguardista.
Mas, é bom deixar claro que defendo a existência das vanguardas para inovação da própria arte. Só que não posso entendê-los como os donos absolutos da verdade e que ficarão na linha de frente eternamente.
Nada na arte é perene. Tudo está em perfeita transformação, quer seja através dos conceitos e do próprio tempo, que vai deixando suas marcas através das mutações estabelecidas nas técnicas e materiais utilizados e, também, a maneira de ver e analisar a obra de arte. Em seu livro a “Cultura de Massa no Século XX”, Edgard Morin chama, a atenção que “nos ditos sistemas socialistas, o Estado é senhor absoluto, censor, diretor, produtor. A ideologia do Estado pode, portanto, desempenhar um papel capital. No entanto, mesmo nos Estados Unidos, a iniciativa privada nunca foi inteiramente entregue à sua própria evolução. O Estado é pelo menos, polícia”.
E, quando assim não ocorre, os vanguardistas bradam aos ventos querendo incentivos e apoio do Estado. Venho assim reforçar o que escrevi no artigo anterior quando passei a discutir este tema palpitante. A princípio, fiquei surpreso com a repercussão, tendo recebido vários telefonemas de pessoas que se diz, vítimas no jogo da primazia das benesses do Estado.E, também de pessoas que gostariam de falar sobre o assunto e não dispõem dos canais.
Estamos no final de um século XIX e quando examinamos o mercado de arte notamos ainda algumas relações que podemos tomar como parâmetros com o comportamento do mercado de arte em séculos anteriores. Antes o que predominava era a relação entre o Rei, Papa ou grande comerciante e o artista. Velásquez era o pintor de Felipe IV; Michelangelo de Júlio II, Holbein para Henrique VIII e assim por diante. Hoje, temos esta mesma relação com artistas sendo financiados por órgãos governamentais, grandes capitalistas ou detentores do poder político. O surgimento de galerias e marchands ainda não conseguiu acabar com esta relação porque os donos de galerias e marchands também os procuram para vender seus produtos culturais. Portanto a relação continua mesmo de uma forma indireta.
Além disto, quando olhamos o surgimento de centros culturais, administrativos ou novas praças em qualquer parte do mundo, o que acontece? Pessoas influentes nas comunidades atuam como intermediárias de maneira que sejam convidados a colocar trabalhos de arte nas paredes, nos salões o nas áreas livres os seus artistas amigos. Portanto, a influência é responsável por esta ligação com o Estado que se estabelece em relação ao artista de maneira indireta. Outras vezes é o próprio artista que sugere a presença de um trabalho seu aqui ou ali. Perguntarão alguns, o que eu quero dizer como este discurso? Esclarecer aos apressados que não concordo com a falsidade e os destemperamentos de total independência. Não vejo. Não consigo entender como essas pessoas conseguem enganar tanta gente.
“Os discursos que determinam o estatuto e o objeto das artes não são unânimes nem constantes”, afirma Jorge Coli.Completo dizendo que, quando falamos de arte a unanimidade não é um dado necessário. A unanimidade acontece no processo da chamada indústria cultural quando tudo é repetido. Fabricado em série e assim assimilado, mas, muitos conceitos tornam-se unânimes, quando existem elementos que desaguam numa lógica. Mas, os que agora contesto são visionários e camuflados pelas palavras grafadas nos ofícios dos burocratas e nos empenhos emitidos pelos órgãos pagadores do Estado.

SENEGAL QUER EXPOR GRAVURAS BRASILEIRAS

Uma grande oportunidade para os gravadores baianos. É que o embaixador do Brasil no Senegal, pretende realizar uma exposição de gravuras sobre motivos afro-brasileiros. O embaixador do Brasil, Renato Denys está solicitando endereços de gravadores para que possam ser iniciados os contatos.
Ele fez uma consulta a Jorge Amado, e este me transmitiu a informação para que possa ser concretizado este projeto. Para tanto, os artistas devem escrever para: Ambasse Du Brasil, Boite Postale, 136, Dakar, Senegal. O nome do embaixador é Renato Denys.
Este contato também, poderia ser feito através do Museu de Arte Moderna da Bahia. Aí seriam estabelecidos outros elementos para que a gravura feita na Bahia possa ser vista pelos africanos, e quem sabe, uma mostra semelhante de gravuras africanas possa ser aqui realizada.

   CARNAVAL E O CIRCO NA OBRA DE GRAÇA RAMOS

O Carnaval e o circo predominam entre os 45 trabalhos a óleo e aquarela que a artista plástica Graça Ramos escolheu para a sua exposição individual que comemora os 15 anos de atividade artística e não foi apenas a euforia e as cores que lhe motivaram. Segundo explicou, “quis através deste tema, expulsar de mim as imagens captadas durante toda minha vida de artista e folia”.
A exposição terá início no dia 25, às 21 horas, no Museu de Arte da Bahia e ficará até o dia 31 de outubro.
Dando vazão a sua criatividade, graça mostra em seu catálogo que tem a apresentação do secretário da Educação Edivaldo Boaventura, a sua veia poética quando fala dos trabalhos sob a forma de poesia. E, diz, sobre o Carnaval: “É o brilho de cada um na multidão, é o sacrifício do ano inteiro em forma de estrelas de todas as cadências de sambas frevos e trios elétricos.”
Graça é formada em Artes Plásticas, Desenho e tem mestrado em Arte/Educação pela Universidade da Pensylvânia, ocupando hoje a fundação de professora-assistente de pintura e Composição na escola de Belas-Artes da UFBa. Arte/Educação,, inclusive, é uma de suas grandes preocupações e junto com uma colega está escrevendo um ensaio sobre o assunto. Ao lamentar que a bibliografia brasileira sobre Arte/Educação seja pequena, ela lembra que a arte è inerente ao ser humano e mesmo assim existe pessoas alheias a ela.

           “O MUNDO DA COR” NO NÚCLEO DO DESENBANCO


O Núcleo de Artes do Desenbanco está organizando uma exposição sobre “O Mundo da Cor”, dirigida à criança e a todos aqueles que se interessam pela educação através da arte. Além de toda uma parte teórica sobre a cor, vai desde a percepção através do órgão visual, para chegar às cores-luz e cores-pigmento (opacas e transparentes), e daí a formação das cores secundárias e terciárias, quentes e frias, e cores complementares.
Os diversos discos de misturas ópticas mostrarão as diferenças de tons, enquanto que as mutações cromáticas serão amplamente percebidas através dos trabalhos de Israel Pedrosa. E daí prossegue até a cor inexistente.
Além da parte teórica, haverá outras abordagens, tais como: a cor na linguagem infantil, a cor na heráldica (através dos brasões e bandeiras), a cor na música e a representação da cor, no mundo animal através da arte plumária e mineral (amostras de vários minerais, inclusive aqueles que são utilizados pela indústria química para extração de pigmentos).
A exposição será inaugurada no dia 26 deste mês, sendo que será antecipada por duas palestras (dias 24 e 25) de Israel Pedrosa, no horário das 17 horas, no Núcleo de artes do Desenbanco.

                                 MOSTRA LEMBRA ILSE

A Fundação Hansen Bahia está promovendo três exposições em homenagem póstuma a Ilse Hansen Bahia: “Ternura, no museu que tem o nome do artista alemão, “Gratidão”, no SPHAN- Pró Memória, e o III Salão Internacional de Fotografia, na Galeria de Arte Amanda Costa Pinto.
O objetivo da Fundação Hansen Bahia, com sede em cachoeira, é o de incentivar a cultura junto à comunidade valorizando a obra de arte. A diretora executiva da Fundação, Noelice Costa Pinto, lembra que o Projeto Hansen Bahia não é somente o Museu Hansen Bahia que, por si só, já é o único do mundo no gênero.
O Projeto Hansen Bahia, na realidade, está voltado para a educação, a cultura, doação de alimentos, telhas, tijolos e blocos para os mais pobres entre os pobres.
Segundo a museóloga Marinaide Santana, a Fundação Hansen Bahia realmente atua na comunidade que Hansen Bahia transformou em sua herdeira.
Em 76, ele doou, em testamento, à Fundação, suas obras e propriedades doadas é uma chácara que está sendo transformada em um grande centro cultural produtor de arte e da cultura.
Um momento que emocionou todas as pessoas presentes, a abertura da exposição. Pela primeira vez foi ouvida a gravação das vozes de Hansen Bahia e de Ilse. É o seu testamento gravado entre cânticos e músicas brasileiras.
Entre os quadros de Ilse expostos, está a V Estação de Hansen Bahia, a Via Crucis que é um grito humano contra a guerra, composta de 15 estações e três mil xilogravuras.


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