OS BRASILEIROS NA BIENAL DE SÃO
PAULO (1)
Acabo
de retornar de São Paulo onde visitei demoradamente a 19ª Bienal Internacional.
Fiquei impressionado com alguns artistas latino-americanos, os quais não devem
nada em termos de qualidade e contemporaneidade aos mais famosos e destacados
estrangeiros convidados. Quanto á representação brasileira, composta de 23
artistas, não encontrei nada de sensacional. Não sei que critérios nortearam a
comissão de arte e cultura da Bienal. Senti uma preocupação muito grande com a
inovação ou com o tema Utopia versus Realidade e grandes falhas na execução. A
instalação do Juracy Dórea, por exemplo, ficou muito mal produzida, dando a
impressão de uma porção de posters espalhados, sem muito critério.
Acho
que se o Juracy levasse à Bienal os painéis coloridos, os originais, sua obra
estaria melhor representada. Quanto ao Ivens Machado, catarinense que reside e
trabalha n Rio de Janeiro, apresenta oito peças escultóricas de proporções
feitas em cimento, pedras, óxido de ferro. Ivens é um conceituado artista
brasileiro, já tendo exposto em várias galerias do Rio e São Paulo. Seu
trabalho, no entanto, não sensibiliza a maioria dos visitantes, como tive
oportunidade de constatar com as diversas pessoas que conversei.
Já
o Rogério Nazari e Telmo Lanes, do Rio Grande do Sul, com sua instalação
composta de 25 pinturas feitas segundo processo e imagens tradicionais,
calcadas em elementos do absurdo, demonstram que conhecem bem a técnica da
pintura e souberam jogar todos os elementos, inclusive com um fundo musical
perfeitamente enquadrado à proposição.Na
realidade, os dois conseguiram estabelecer um discurso místico com o público
que procurava entender a cada passo o naturalismo romântico ali explicitado na
sua obra. Rogério é arquiteto e Telmo tem fundamentação no estudo das Letras.
Karin
Lambrecht, também de Porto Alegre, apresenta uma pintura registrando o gesto,
não como representação gráfica, mas como captação da energia, do movimento e do
momento da matéria e ganha a tridimensionalidade ao formar um mesmo conjunto
com objetos de madeira e sucata.
Luiz
Hermano, com sua visão lúdica do mundo, materializa imagens que mantém um
parentesco próximo com as do desenho animado e da história em quadrinhos.São
quadros de grandes dimensões com espaçonaves que vagueiam de um lado para o
outro em meio a constelação de estrelas e astronautas que flutuam em espaços
azuis, entremeados de pontos brancos, indicando estrelas.Um
trabalho agradável, bem próximo dos quadrinhos que tanto encantam as crianças.
Márcia
Grostein, de São Paulo, reside e trabalha em Nova Iorque , apresenta
uma instalação intitulada Os 7 Continentes com pinturas utópicas sobre partes
imaginárias da Terra.
Iran
Espírito Santo, de Mococa, São Paulo, ironiza com suas pinturas, desenhos,
objeto e instalações os modos tradicionais de representação.
César
Brandão, Minas Gerais, apresenta Spurbeuyflycheckmate contra o canto das
sereias, onde há comentários sobre as pesquisas plásticas e estéticas de Marcel
Duchamp, Leonardo da Vinci, Josef Beuys, Drummond e Titãs etc. Ele utiliza
materiais como o mel, o couro, a cera, barbantes e discute a sedução exercida
pela utopia em contraste com a realidade.
Geórgia
Creimer, paulista, residente em Viena, Áustria, mostra pinturas feitas em 1987
e integram uma instalação simbólica onde a força individual de cada trabalho, o
seu funcionamento, dependem intrinsecamente da relação entre si e o espaço que
ocupam. As peças adquirem uma quantidade específica em função da posição, canto
ou altura onde foram colocadas para que atuem em ralação ao público em uma
outra dimensão.
Cássio
Michalany, também paulista. Como podemos observar, há uma prevalência quase
absoluta de paulistas entre a representação brasileira. Ele mostra quatro
trabalhos com uma tendência de sintetizar os elementos componentes,
concentrando atenção em questões específicas a pintura como o espaço, a cor, sempre
livres de qualquer tipo de significado e representação. Cássio explora as
relações entre superfícies monocromáticas e texturizadas.
Dudi
Maia Rosa, São Paulo, nos anos 70, seus trabalhos se caracterizam por
transcrever objetos e cenas cotidianas com traçados livres, cores vibrantes e
atmosfera luminosa. Observa-se no decorrer dos anos 80 uma progressiva diluição
destas imagens e sua transformação em zonas de cor, grafismos cromáticos e
inscrições sobrepostas em camadas sucessivas. No início de 84, Dudi intenciona
com sua obra banir conceitos, idéias, significados e de concentrar na obra com
existência em si mesma, definida somente em suas qualidades físicas: formas
geométricas simples, cor, estrutura e oposição opaco-translúcido.
Afirma
ele que em seus trabalhos sua ação acontece no interior da pintura, por usar
pigmento envolvido em poliéster sob uma camada de fibra de vidro.
Artur
Lescher, São Paulo, com seu Aerólito discute o espaço do edifício da Bienal
projetado por Niemeyer. Lembra um Zepelim, todo feito de cor, Lâminas de metal
com cor prateada que ficam flutuando. São dois. Um do lado de fora e outro
dentro, separadas pela vidraça do prédio.
Ângelo
Venoso, de São Paulo, apresenta quatro esculturas de grandes dimensões, usando
madeira e tecido gomado e pintado.Suas
esculturas se configuram em formas orgânicas e zoomórficas, aludindo ao arcaico
e a vivências primárias.
Cynthia
Vasconcelos, Porto Alegre, mostra oito pinturas.
Ana
Maria Tavares, de Belo Horizonte, sua instalação ocupa 228m² e compreende
painel com desenho e pintura, esculturas em aço e vidro. Trata-se de um
trabalho que revela colisão, desarmonia e influência da “baixa cultura”
característica das novas gerações.
Tunga, Palmares, pernambucano, mora e trabalho no Rio. O arquiteto Tunga chama a atenção de todos que visitam a Bienal. Sua instalação está bem no centro do edifício e uma imensa cortina de limalha de ferro pesando duas toneladas pende do teto e no chão chapas de ferro servem de piso para o resto da instalação que ainda utiliza ímãs. O seu trabalho é coerente com tudo que Tunga vem mostrando desde 74, quando iniciou sua trajetória como artista plástico. Muitos não gostam do seu trabalho. Mas é intrigante e ninguém consegue ficar imune com sua presença.
Tunga, Palmares, pernambucano, mora e trabalho no Rio. O arquiteto Tunga chama a atenção de todos que visitam a Bienal. Sua instalação está bem no centro do edifício e uma imensa cortina de limalha de ferro pesando duas toneladas pende do teto e no chão chapas de ferro servem de piso para o resto da instalação que ainda utiliza ímãs. O seu trabalho é coerente com tudo que Tunga vem mostrando desde 74, quando iniciou sua trajetória como artista plástico. Muitos não gostam do seu trabalho. Mas é intrigante e ninguém consegue ficar imune com sua presença.
Sérgio
Romagnolo, paulista, trouxe sete esculturas em fiberglass, com tamanho variando
entre 120 e 270cm, configurando imagens vindas da cultura de massa. Esses
trabalhos são cheios de humor e crítica, e discutem as questões da
representação emergentes da pintura.
Eliane
Prolik, de Curitiba, é a atual diretora do Museu Alfredo Anderson e Atelier de
Arte, em Curitiba. Com
sua instalação “Lúmen”, ela utiliza as características de iluminação do
Pavilhão da Bienal, trabalhando com luz e sombra e as metamorfoses ocasionadas
pelo papel heliográfico.
Alexander
Pilis, Rio de Janeiro, reside e trabalha do Canadá. Sua tese “memória Coletiva,
o território da morte” sugere que os locais, construções, os objetos e símbolos
ligados à morte obedecem aos mesmos códigos e procedimentos empregados na
“Cidade dos Vivos”. Sendo arquiteto, sua instalação Architecture Ego: Codes of
Disruption, discute exatamente esta região.
Milton
Macahdo, carioca, com sua instalação Hi-Fi” (alta fidelidade) consiste no
empilhamento de macotecas de aço sobre estrutura tubular e música eletroacústica
de autoria de Rodolpho Caesar. Ele
mostra ainda o “Semáforo” que consiste no empilhamento de 25 lâminas de vidro
planos, pintadas de vermelho, amarelo e verde e fonte luminosa que projeta as
cores no ambiente e nos visitantes. Mas, sem dúvida, que a “Hi-Fi” é que tem
mais força e impressiona, principalmente com a perfeita coordenação com sons
metálicos. As mapotecas são pintadas de preto e o ambiente fica apropriado para
imaginações.
Heloísa
Pini, outra paulista. Sua instalação mede 108m², usa aço carbono e tecido
emborrachado de ar.
Luiz
Zerbini - com três instalações Solimões com o Negro, com 30m² azulejados em
preto e mármore, com iluminação artificial e um sofá onde flutua um boto.Tempestade
em copo d’água, onde uma imensa cortina torcida desemboca em um copo. O
Sistema, formada por 50 carrinhos de feira contendo objetos encaixados
formando um círculo, de modo que ao movimentar um todo o círculo se move.
Falei
propositadamente, com certa rapidez, sobre todos os brasileiros para que
aqueles que não verão a Bienal tenham pelo menos uma idéia da nossa
representação. Muita coisa exposta, mesmo em nome do nosso país, é passível de
muita discussão. Os critérios subjetivos
de escolha e concepção correm por linhas e caminhos paralelos e que muitas vezes se encontram em locais
indefinidos.Se
é que se encontram...
As criativas fachadas nordestinas enfocadas por Ana Mariani.
Mas não posso deixar de registrar aqui a minha satisfação em encontrar na Bienal, fotografias de fachadas de casinhas da cidade onde moram meus pais e onde passei minha infância. É a querida Ribeira do Pombal, enfocada pela sensibilidade de Ana Mariani, que é baiana, e reside
Ela
enfoca cores fortes, as formas curiosas das fachadas das casas nordestinas.
Cruzou o sertãozão nordestino e foi captando as fachadas multicoloridas que
trazem o traço da cultura nordestina. Em algumas surgem verdadeiros signos,
abstratos outras vezes figurativos. E algumas fachadas de casinhas pombalenses
estão lá fora para todo visitante admirá-las.
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